A problemática Bang Bang estreava há 12 anos

Publicado em 03/10/2017

No dia 03 de outubro de 2005, entrava no ar a novela Bang Bang. Aposta ousada da Globo para a faixa das sete, a comédia que se passava no Velho Oeste dos EUA marcava a volta do novelista Mário Prata ao canal e ao horário no qual emplacara Estúpido Cupido muitos anos antes. Bang Bang acabou marcada por problemas de audiência, e também pelo afastamento de Prata e a convocação de Carlos Lombardi para concluir a história.

A história de Bang Bang começa num flashback, realizada em animação, que mostrava o pequeno Ben Silver, então com oito anos de idade, testemunhando um massacre que eliminaria a vida de seus pais. Único sobrevivente, o garoto nunca esqueceu do nome que determinou a matança: Paul Bullock. Ele cresce com este forte de sentimento de vingança. Os anos passam e o misterioso Ben Silver (Bruno Garcia) retorna à cidade de Albuquerque em busca de Paul, mas, no caminho, conhece a bela Diana (Fernanda Lima). Num ataque à diligência que os levava, Ben e Diana lutam juntos e percebem a imensa afinidade que os une. Porém, logo em seguida, ele descobre que a jovem é filha de Paul Bullock (Mauro Mendonça), o homem que ele planeja matar, e ele se vê dividido entre o amor e a vingança.

Além da trama principal, Bang Bang trazia várias tramas paralelas, a maioria regada à comédia, com personagens que povoavam a cidade de Albuquerque. Havia Viridiana MacGold (Joanna Fomm), viúva do xerife John MacGold (Tarcísio Meira), que assumia, com muita coragem, as rédeas da família após a morte do marido. Ela era a mãe da beata Úrsula (Marisa Orth), que vivia às turras com o marido Aquarius Lane (Ney Latorraca), um inventor meio amalucado, sempre às voltas com experiências. Eles eram pais da bela Penny Lane (Alinne Moraes), que se apaixona por Neon (Guilherme Berenger), filho de Paul Bullock, inimigo dos MacGold. A antiga rivalidade entre os Bullok e os MacGold esconde, na verdade, o fato de Paul nutrir uma paixão por Viridiana, e respingará no romance proibido de Neon e Penny Lane.

Havia ainda o herói Zorroh (Sidney Magal), que se aposentou e toca uma barbearia com o índio Tonto (Elieser Motta), e também as irmãs Henaide (Evandro Mesquita) e Denaide (Kadu Moliterno), na verdade os bandidos Jesse James e Billy The Kid disfarçados; e Dong Dong (Jairo Mattos), um homem amargurado que vive a ler um diário para a esposa em coma, Dorothy (Cris Bonna), e que acaba descobrindo que ela o traía com Pete (André Bankoff). Albuquerque ainda ficará mais agitada quando o bandido Gógol (Marco Ricca) assume a identidade do xerife, ao mesmo tempo em que a corista Vegas Locomotiv (Giulia Gam) chega à cidade com suas meninas Marilyn Conroy (Babi Xavier), Yoko (Danielle Suzuki) e Elga (Tatiana Monteiro).

A proposta inicial de Bang Bang era usar o cenário do Velho Oeste para fazer uma paródia do próprio Brasil, algo parecido com a proposta de Que Rei Sou Eu?. Assim, não faltava no cotidiano de Albuquerque referências à política nacional, com falas que envolviam “medidas provisórias” e pagamentos de propinas. Com um humor refinado, Prata recheou sua história com tipos hilários e muito non sense. Em suma, era uma trama extremamente pop, cheia de referências diversas, sobretudo aos anos 1960, e que tinha ares de cult. Mas a audiência não comprou a ideia, avaliando que Bang Bang era uma novela confusa, lenta e que os nomes em inglês dos personagens eram de difícil compreensão. Assim, Bang Bang patinava em baixos índices de audiência para a época, para a alegria da Record, que emplacava no mesmo horário a novela Prova de Amor.

Fernanda Lima, a estrela da obra, havia assinado contrato com a Globo naquele ano, ainda sem nenhum projeto à vista. Sua estreia foi à frente do Vídeo Game, do Vídeo Show, cobrindo a licença-maternidade de Angélica. Ao final deste trabalho, foi convidada pelo diretor de núcleo de Bang Bang, Ricardo Waddington, para ser a protagonista da história, mesmo sem experiência como atriz. Com isso, Fernanda acabou sendo alvo de muitas críticas. Mesmo assim, emplacou ainda uma segunda novela, Pé na Jaca, onde foi bem melhor.

Pouco tempo após a estreia, Mário Prata pediu afastamento do texto de Bang Bang, em razão de uma osteoporose, que causou um problema na articulação de seu ombro e o impedia de escrever. A princípio, a autora Márcia Prates, da equipe de colaboradores, assumiu as rédeas da história que, depois, foi entregue ao novelista Carlos Lombardi. Com a chegada de Lombardi, Bang Bang passou por uma série de modificações, apostando em cenas de ação, com heróis sempre envolvidos em missões e disfarçados, e um humor mais ácido e corrosivo. Nesta fase, Paul Bullock acaba se redimindo de seu passado de crimes, enquanto Vegas Locomotiv assume as vilanias da história, armando para se casar com Bullock e ficar com o seu dinheiro.

Além disso, Lombardi recorreu aos atores com quem costumava trabalhar, como Marcos Pasquim, que entrou para rivalizar com Ben Silver, e a saudosa Betty Lago, que viveu a bandida Calamity Jane, além de Nair Bello, que entrou dando vida à Dona Zorra, a mãe de Zorroh. Outra reforma do autor foi a eliminação de alguns personagens, como Dong Dong, e dar mais destaque a outros, como o mágico Zoltar (Rodrigo Lombardi) e o médico Harold (Ricardo Tozzi), marcando a estreia destes dois atores na Globo. Inclusive, Rodrigo Lombardi e Tozzi retornariam ao ar na emissora justamente em outra trama de Carlos Lombardi, Pé na Jaca e, a partir dali, galgariam importantes posições no canal.

Destaque para a simpática abertura, feita em computação gráfica e protagonizada por bonecos de aparência semelhante ao Playmobill. A vinheta mostrava situações típicas dos filmes de faroeste, com perseguições de bandidos e mocinhos, coristas dançando no saloon e um duelo final entre atiradores.

Com colaboração de texto de Ana Ferreira, Antonio Prata, Reinaldo Moraes, Chico Mattoso, Filipe Miguez e Márcia Prates, e direção de Paulo Silvestrini, Cláudio Boeckel, Ary Coslov e Carlo Milani, direção-geral de José Luiz Villamarim e núcleo de Ricardo Waddington, Bang Bang teve 173 capítulos. Teve média geral de 27 pontos no Ibope, considerada muito baixa para o horário que exigia 35 pontos, sendo a segunda pior audiência no horário das 19 horas da década de 2000, superior apenas a Três Irmãs de Antônio Calmon, com 24 pontos.

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Relembre a abertura de Bang Bang:

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