Retorno

Luciana Braga avalia personagem em Éramos Seis: “Uma mulher massacrada pela sociedade”

Atriz volta às novelas da Globo após 11 anos

Publicado em 18/02/2020

Nos últimos capítulos de Éramos Seis, na TV Globo, Zulmira apareceu para atormentar a vida de Felício (Paulo Rocha) e Isabel (Giullia Buscacio). Interpretada pela atriz Luciana Braga, que na versão de 1994, no SBT, deu vida à Isabel, a personagem representa a fúria de uma mulher traída, que na época da trama, era capaz de tudo para manter a aparência de um casamento.

Em entrevista ao Observatório da TV, Luciana Braga falou sobre a personagem e sua participação na novela de Ângela Chaves com direção artística de Carlos Araújo. A atriz também comentou sobre a carreira e o retorno à Vênus Platinada após 11 anos fora da emissora. Confira:

Como você avalia sua chegada a Éramos Seis?

“Tô pegando um trem em movimento né. Uma coisa complicada, uma novela lindíssima, que tem um ritmo maravilhoso, atores incríveis, uma novela linda, enfim. Um pouco nervosa de pegar esse trem em movimento, mas animada também, principalmente por já ter feito uma versão anterior, então eu tenho um envolvimento grande com a obra e eu tô muito feliz, tô muito contente. Em 94, fiz a Isabel e agora venho fazer a rival da Isabel, a Zulmira. É quase Isabel contra Isabel”.

Conte sobre a Zulmira, que já chegou querendo se impor…

“Zulmira é dona encrenca. Ela vem pra encrencar aí a história de amor, clássico dos folhetins. Mas o que eu acho mais interessante na Zulmira é que ela é uma legítima representante do tempo. É uma mulher que já não ama, já não é verdadeiramente casada, mas ela não quer abrir mão do casamento por uma questão de situação social. Naquele tempo, uma mulher desquitada era uma mulher mal vista na sociedade, era uma mancha que ela levava. Então eu acho que é um tema interessante pra gente discutir, porque em alguns casos isso ainda é, infelizmente, uma realidade de pessoas que mantêm seu casamento pra agradar a sociedade e não têm uma vida verdadeira e a Zulmira tá aí pra isso: é bem a representante de uma época em que a mulher na verdade era mais valorizada por ser casada. Um homem separado nunca foi tão mal visto quanto uma mulher separada”

Você acha que se o Felício estivesse sozinho, a Zulmira assinaria o desquite?

“Não. Na verdade, o que mexe com ela é a separação dele estar sendo exposta. Se ele é visto com outra na rua é porque sabem que o casamento é uma mentira. Não acho que seja por ciúmes, mas especialmente pela situação social. Ela não quer que ele se case com outra mulher. Não porque goste dele, mas porque não quer perder o status de mulher casada.”

Você acha que ela vai até as últimas consequências ou ela deve desistir?

“Acho que ela vai até as últimas consequências. Ela tem todo o jogo pra ganhar. Embora eu já fui Isabel e vou defender Isabel também.”

Todas as versões da novela foram sucessos. Queria saber como você está vendo essa versão de agora. Tem assistido, acompanhado?

“Eu comecei a assistir no comecinho, mas não podia ver com muita frequência. Agora tô procurando ver o máximo que posso, até porque tô entrando na novela. Mas assim, eu acho que essa novela tem uma coisa muito bonita, porque é uma novela muito afetiva. Trata dos afetos. O tempo todo está falando dos afetos. E é muito lindo como isso passa pros bastidores também. Quando eu cheguei, eu fui recebida num oceano de afetos e a outra versão que eu fiz tinha essa mesma característica. Era uma novela que tratava de afeto e a gente tinha um ambiente de muito afeto também. E eu acho que isso transborda da telinha e chega no colo das pessoas em casa.”

Em relação à Giullia Buscacio, que faz a Isabel. Ela teve alguma curiosidade pra falar contigo?

“Ela foi uma coisa mais doce. Antes dela começar a novela, ela mandou uma mensagem pra mim pelo Instagram, uma espécie de pedido de bênção, como se ela precisasse disso. Ela não precisa, ela tá fazendo um trabalho lindo. Depois a gente se conheceu logo no meu primeiro dia de gravação e ela é uma atriz encantadora.”

Você e Giulia ficaram muito parecidas de Isabel, não acha?

“Tem uma certa semelhança física né. Nós duas somos miudinhas, o cabelo mais ou menos a mesma cor, é interessante isso.”

E quando você faz maldade com a Isabel de hoje, não te dói um pouquinho no coração?

“Ah, eu defendo minha personagem. Ela tem os seus motivos pra isso, coitada! É uma mulher massacrada pela sociedade do seu tempo. Também tô com peninha da Zulmira também. Mas não, acho que o trabalho do ator é esse. É tão interessante eu poder estar fazendo a mesma novela, mas do outro lado. É muito rico isso. É uma experiência bem interessante, inédita pra mim. Muito bom!”

Sua entrada na novela acabou parando a Internet, porque as pessoas têm muito carinho por você. Você sentiu isso também?

“Fico muito feliz. Eu recebi um pouco nas minhas redes essa onda de amor. Eu só tenho a agradecer, fico muito feliz. Acho que tudo isso está dentro deste pacote que falei antes aqui, do afeto né, uma novela que fala de afetos. As relações das pessoas serem de afeto e o mundo estar precisando tanto disso. Esse amorzinho aí no ar é bom né?”

Você é uma atriz vocacionada desde muito tempo. Como você descreve essa involução no tempo que temos vivido?

“Infelizmente de um tempo pra cá a gente vem caminhando pra trás em algumas instâncias, mas a gente também caminhou pra frente em algumas outras e eu acho que a humanidade vai assim, a passo de formiguinha, anda pra frente, volta pra trás, mas vamos com fé, vamos adiante!”

Como você reagiu ao convite para a novela?

“Eu fiquei muito feliz, porque pra mim eu me sinto, não acho que seja, mas eu me sinto homenageada de ter sido convidada pra fazer essa personagem. Foi uma alegria. Por isso mesmo que tô falando pra você desse envolvimento que tive no passado e agora veio a novela e falei ‘que lindo e eu recebo um convite desses só dá pra ficar contente’, principalmente porque depois de 11 anos sem fazer nada na TV Globo eu volto com um trabalho desses, é pra ficar sorrindo de orelha a orelha.”

Como você avalia sua carreira?

“Eu tô sempre trabalhando. Há 35 anos. Eu posso dizer que eu trabalhei em quase todas as emissoras do meu tempo. Fora Bandeirantes, trabalhei na Manchete, SBT, TV Globo e Record TV. Então, eu tenho uma experiência bacana nesse sentido, porque você vive a televisão sob todos os aspectos e nesse tempo todo, tô sempre fazendo bastante teatro, pouco cinema, infelizmente, mas eu amo a coisa também. Enfim, é uma carreira sempre em mudança, em movimento, porque vida é movimento e o movimento agora é esse: Éramos Seis e TV Globo e sempre deixando as portas abertas. A gente não pode fechar as portas, tem que sempre abrir.”

E essa cara de menina? O tempo não passa para você não?

“Tem um bocado de genética, mas acho que tem um pouquinho de alegria de viver também. Eu gosto muito do que eu faço e eu tenho a felicidade e acho que o privilégio de ter vivido os últimos 35 anos exclusivamente como atriz. Isso num país que incentiva tão pouco a nossa profissão, a arte, a cultura, é um grande privilégio. Acho que eu tirei o bilhete azul.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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