Segunda Chamada

Em novo trabalho, Caio Blat soma terceiro personagem homossexual na TV e rechaça situação do ensino público no Brasil: “Momento dramático e de censura”

Ator diz que o ensino no Brasil vive um período dramático

Publicado em 07/10/2019

O ator Caio Blat, de 39 anos, se prepara para voltar ao ar na série Segunda Chamada, uma coprodução da TV Globo com a O2 Filmes, escrita por Carla Faour e Julia Spadaccini, e agendada para estrear nesta terça-feira (08).

Na produção, Blat viverá um professor de Literatura que se envolve com um aluno, sendo este, então, o seu terceiro personagem homossexual na televisão, já que em 2004 ele viveu o Abelardo Sardinha em Da Cor do Pecado e o também homossexual, André, de Liberdade Liberdade, em 2016.

Segunda Chamada marca a volta de Blat à televisão após O Sétimo Guardião, novela de Aguinaldo Silva, de 2018. Em entrevista ao Observatório da Televisão, o ator conta ter sido emocionante fazer parte de uma obra que aborda a alfabetização de adultos.

Meu professor é do turno diurno de manhã e de tarde, ele dá aula para adolescentes, e aí num determinado momento ele é convidado a cobrir o personagem da Débora [Bloch], a Lúcia, que está com uma crise. Ele é convidado a cobrir ela no turno da noite para dar aula para adultos, na alfabetização de adultos. Foi muito emocionante [estar na série], e aí ele passa lidar com uma realidade totalmente diferente, alunos com perfis totalmente diferente dos adolescentes que ele estava acostumado e tal, e as histórias surgem na sala de aula, ele precisa ouvir os alunos para aprender dar aula de uma outra maneira, a ganhar respeito de uma outra maneira, então, é muito forte“, afirmou.

Caio Blat em cena de Segunda Chamada (Reprodução: TV Globo)
Caio Blat em cena de Segunda Chamada Reprodução TV Globo

Sobre a imersão no universo da série, com todas as dores dos personagens que são o reflexo da sociedade, Caio Blat garante ser um dos trabalhos mais marcantes que já participou.

Sempre dei aula de teatro, sempre achei que a educação é a força mais transformadora que existe na nossa sociedade a única força capaz de transformar a vida das pessoas. Durante muitos anos eu trabalhei no telecurso, fiz várias matérias para o telecurso, uma das coisas mais emocionantes é quando as pessoas vem me dizer que através da televisão, do meu trabalho se formaram ou completaram um curso”.

Trabalhei no canal Futura vários anos apresentei programas lá então acho que essa dedicação essa busca de está sempre trabalhando em algo relacionado à educação sempre foi muito importante para mim, e fazer um professor de literatura portuguesa então é uma honra, eu pude falar de modernismo, falar de autores que eu gosto, pude ler um pouco, a série é um luxo, o contexto que é retratado aqui o elenco que foi formado aqui e que faz umas participações, os alunos, as histórias que são contadas são muito comoventes assim“, ressaltou o ator, que também afirma que Segunda Chamada é um produto da mais altíssima qualidade, dentro de sua profissão e dentre todos os trabalhos que ele fez na Globo. “É um dos trabalhos mais delicados, mais cuidadosos mesmo“.

Confira cenas de Segunda Chamada:

Para Paulo, foi totalmente [um choque a mudança de horário das aulas]. O personagem sempre dava aula durante o dia.

Ele tem filho pequeno tem mulher e ele não podia dar aula a noite, foi uma emergência que trouxe uma realidade nova“, explicou.

Sobre sua vida na escola, o ator afirma ter sido ter sido um bom aluno. “Eu tirava notas boas vamos dizer assim, bom aluno não é o termo exato, mas eu tirava boas notas que me garantiam”.

Caio diz que se inspirou em vários professores para construir Paulo. “Eu acho que vários, principalmente na faculdade de direito que era um curso muito politizado onde valia muito mais a conversa ali com o professor, há debate sobre atualidades, ter leitura de jornal, tem uma cena muito legal que eu vou estudar interpretação de texto com os alunos com notícias de jornais, e tal, como na realidade com matérias para estudo, e na faculdade isso era muito forte”.

Geandro (Caio Blat) em O Sétimo Guardião
Geandro Caio Blat em O Sétimo Guardião Reprodução

Quando o assunto é o lado emocional do personagem e como ele lida com as situações da história, Caio Blat explica que a carreira de professor é muito difícil. “Eu admiro muito porque eu acho que é uma vocação, é um sacrifício muito grande, dão aula em vários turnos e ainda tem muita prova para corrigir, trabalhos para fazer em casa, eu acho muito maluco quando eles estão passando por alguma crise emocional com alguma dificuldade na vida pessoal e eles tem que enfrentar essa rotina, enfrentar sala de aula e encarar 30 40 adolescentes, alunos ou adultos de qualquer idade enfim, durante 3 turnos e tocar esse ritmo alucinante de trabalho e viver sempre a frustração que é lidar com a educação pública, com a falta de recursos com o abandono, então eu acho impressionante como essas pessoas conseguem lidar com o desafio profissional, com a frustração e com a vida pessoal“.

Escola Estadual Carolina Maria de Jesus, cenário da série Segunda Chamada (Divulgação: TV Globo)
Escola Estadual Carolina Maria de Jesus cenário da série Segunda Chamada Divulgação TV Globo

Segunda Chamada tem a Escola Estadual Carolina Maria de Jesus como cenário. Sendo este ambiente marcado por muito drama de pessoas que enfrenta um longo dia de trabalho e chega às salas de aula lutando contra o cansaço. Entre lousas desgastadas, carteiras pichadas e ventiladores quebrados, se misturam os alunos de 17 a 70 anos, dos mais variados perfis e histórias.

Caio Blat aponta para extrema relevância a abordagem do assunto em um momento dos mais oportunos no sentido politico da situação.

Eu acho que é muito importante, acho que o Brasil todo acredita nisso, que a educação pública é um recurso fundamental, é o último refúgio de uma sociedade que é carente de tudo, que é carente de recursos, a educação pública é o mínimo é a única coisa que poderia transformar esse país, transformar a realidade desse país, então a gente vê como é ainda abandonado, o quanto ainda se faz o corte de recursos. Os professores tem que ser super-heróis para lidar com falta de materiais com falta de recursos e como a realidade invade a sala de aula o tempo inteiro, a realidade social, violência“.

Segunda Chamada é uma coprodução da Globo com a O2 Filmes, escrita por Carla Faour e Julia Spadaccini (Divulgação: TV Globo)
Segunda Chamada é uma coprodução da Globo com a O2 Filmes escrita por Carla Faour e Julia Spadaccini Divulgação TV Globo

“A educação pública de qualidade é o último recurso e a única forma de transformar um pais”, diz o ator

Eu acho que em um momento tão dramático como esse em que se busca censurar a liberdade dos professores ou sugerir que os alunos tem que denunciar professores, eu acho que o contrário, professor tem que receber todo o apoio e toda a liberdade para debater qualquer tema que ele achar pertinente dentro de sala de aula, só o professor sabe como lidar com os alunos, ele é preparado para isso, saber a realidade, todos os temas são importantes dentro de aula, política e educação sexual tem que ser falado dentro de sala de aula, então eu acho que a gente tem que estar sempre lutando por isso, pela liberdade de imprensa, de pensamento dos professores, realmente a gente está vivendo tempos sombrios. E não temos nem a liberdade de fazer séries, liberdade de tratar em temas em séries, então quer dizer a gente está sofrendo de novo uma tentativa de censura ou de corte em setores que são fundamentais, e a gente como sociedade tem de alguma maneira debater isso e defender que a educação pública de qualidade é o último recurso e a única forma de transformar um pais, de transformar realmente a realidade de um país, países que educaram, investiram pesadamente em educação nos últimos 20 anos, países que tinham realidade parecida com a do Brasil como a Coréia por exemplo tem hoje uma realidade totalmente diferente, uma geração totalmente diferente por causa de investimento pesado em educação, e a gente está sempre perdendo esse barco, tendo que sempre defender essa liberdade do professor como do artista, tomara que essa série revele isso, a importância que a educação tem para um bairro, como a sociedade como um todo, todos os problemas de um bairro de alguma maneira refletem dentro da escola e são de alguma forma resolvidos ali e geridos ali, e as pessoas amadurecem ali e as famílias se encontram ali“.

Caio Blat (Divulgação: TV Globo)
Caio Blat Divulgação TV Globo

Toda forma de você tentar ampliar o conhecimento, ampliar as possibilidades da educação com a possibilidade de ser cortada, é quase ver a Amazônia queimando, é a mesma coisa, são os nossos recursos mais fundamentais sendo em risco, é desesperador“.

Declarações de atores da série Segunda Chamada:

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