Castelo Rá-Tim-Bum: 25 anos de um dos maiores sucessos entre os infantis da TV brasileira

Publicado em 09/05/2019

Em 9 de maio de 1994, a TV Cultura de São Paulo estreou um dos programas infantis de maior sucesso de sua história. Criação de Flávio de Souza e Cao Hamburger, o Castelo Rá-Tim-Bum agradou à criançada em cheio desde o princípio. Um castelo mágico em meio à cidade grande, com humanos bruxos, animais e objetos supostamente inanimados que falam, era o cenário das aventuras dos personagens.

A trama básica e os personagens principais de Castelo Rá-Tim-Bum

Antonino, ou Nino (Cássio Scapin), era o protagonista do programa. Apesar de ser ainda criança, ele já conta 300 anos de idade e sofre com a solidão no castelo, já que seu tio Victor (Sérgio Mamberti) passa o dia fora, trabalhando, e a tia-avó Morgana (Rosi Campos) praticamente não sai da torre da edificação, onde vive na companhia de sua gralha de estimação, Adelaide. Tanto Victor quanto Morgana são feiticeiros, e esse dom também se transferiu a Nino, é claro. Fazendo uso de seus poderes ele enfeitiça uma bola e atrai para o castelo o dono do brinquedo, Zequinha (Fredy Allan), e seus amigos Pedro (Luciano Amaral) e Biba (Cinthya Rachel).

Embora os garotos “normais” estranhem um pouco Nino e o castelo no começo, eles se tornam grandes amigos e vão sempre brincar na companhia do garoto feiticeiro após as aulas na escola. Mas o dia a dia deles costuma ser muito atrapalhado pelo ambicioso Dr. Pompeu Pompílio Pomposo (Pascoal da Conceição), ou “Dr. Abobrinha”, como as crianças o apelidam. Ele deseja se tornar dono do castelo a qualquer custo. De tal forma que articula as mais inspiradas artimanhas para fazer com que algum dos moradores assine um termo que transfere para ele a propriedade. Ademais, ele sempre falha miseravelmente, ainda que se utilize de histórias mirabolantes e disfarces.

Amigos dos quatro amigos no Castelo Rá-Tim-Bum

Outros amigos dos quatro personagens centrais são o entregador de pizzas Bongô (Eduardo Silva) e a Caipora (Patrícia Gaspar), criatura do folclore que habita as matas. Ainda, o extraterrestre Etevaldo (Wagner Bello), sempre curioso em relação aos hábitos dos habitantes da Terra. E a repórter de televisão Penélope (Ângela Dip), que com seu charme e beleza conquista o coração de Nino. Uma curiosidade é que inicialmente Denise Fraga viveria a jornalista. A atriz foi fazer uma novela no SBT, Éramos Seis, que estreou no mesmo dia do Castelo Rá-Tim-Bum.

Outros personagens do Castelo Rá-Tim-Bum

Com efeito, aliadas às tramas de cada episódio, o Castelo Rá-Tim-Bum apresentava noções de diversas áreas do conhecimento humano. Todavia, sempre de maneira espontânea e lúdica. Na sala de música, uma caixinha não apenas tocava canções do mundo todo, como também eram mostrados dentro dela bailarinos que dançavam coreografias para os temas escolhidos. Na biblioteca, o Gato Pintado (com a voz de Fernando Gomes, que emprestou também sua voz ao Fura-bolos e ao Relógio do castelo) indicava livros para quem o visitava. Além disso, a cada episódio uma animação que ilustrava um poema era apresentada enquanto seus versos eram lidos por algum membro do elenco.

Mau e Godofredo viviam nos encanamentos do castelo. O segundo divertia a audiência com seu pânico ante eventuais punições que o primeiro, seu chefe e mentor, poderia aplicar-lhe. Mau soltava sempre sua “gargalhada fatal”, que não amedrontava ninguém. Tap e Flap compunham um par de botas falantes, que rimavam enquanto comentavam os acontecimentos. Celeste, a cobra cor-de-rosa que vivia numa árvore centenária em torno da qual o castelo foi erguido, era preguiçosa e melindrosa. Além de Fernando, davam voz aos muitos bonecos Cláudio Chakmati, Álvaro Petersen e Luciano Ottani.

A estratégia de grade da TV Cultura e os antecedentes do Castelo Rá-Tim-Bum

Os episódios do Castelo Rá-Tim-Bum eram exibidos três vezes ao dia: às 19h, em apresentação inédita; e às 10h e 15h30 do dia seguinte, em reprise. Especialmente o horário noturno chamou bastante a atenção do público infantojuvenil e a Cultura chegou a 8 pontos de audiência na estreia. Só para ilustrar, na época, em São Paulo isso equivalia a cerca de 320 mil domicílios. A fim de equiparar a índices atuais, hoje seria algo em torno de 580 mil. Posteriormente, apesar de as médias oscilarem entre 4 e 11 pontos, em diversas ocasiões a Cultura chegou à vice-liderança de audiência, ultrapassando o SBT com o noticiário TJ Brasil. Perdia apenas para a novela das 19h da TV Globo, que na época da estreia era A Viagem.

A apresentação inédita dos episódios obedecia a uma estratégia da Cultura, com um bloco dedicado às crianças e aos jovens. Com o propósito de levar o público de uma atração à outra, organizou-se essa sequência. Como resultado, bons índices de audiência para uma emissora pública. Às 18h, era apresentado o Fanzine, com Marcelo Rubens Paiva, sucessor do Matéria-prima de Serginho Groisman, que em 1991 virou o Programa Livre do SBT. Às 18h30 vinha o Glub Glub, com Carlos Mariano e Gisela Arantes. Depois do Castelo Rá-Tim-Bum, às 19h30, a série de animação As Aventuras de Tintin, seguida da querida Anos Incríveis, às 20h. Ainda em 1994 Tintin foi substituído pelas experiências científicas de O Mundo de Beakman. Com toda a certeza, uma época gloriosa da emissora, que deixou saudade em quem a viveu.

Um programa que acompanhou o crescimento de um público fiel da Cultura

Em 1994, a TV Cultura já celebrava seus 25 anos de operações, e a qualidade de seus programas infantojuvenis não era novidade. As gravações do Castelo Rá-Tim-Bum tiveram início cerca de um ano antes da estreia. A intenção era aprimorar a fórmula consagrada em Rá-Tim-Bum, estreado em 1990 e também criado por Flávio de Souza. No Castelo ele interpretava Tíbio, que com seu irmão gêmeo Perônio (Henrique Stroeter) compunha uma dupla de cientistas. Noções de artes plásticas, literatura, música e até culinária foram transmitidas no programa, direcionado a crianças de até 10 anos. Ou seja, quem até ali já via o Rá-Tim-Bum prosseguiria o aprendizado com entretenimento no Castelo. Deu certo.

Inicialmente o projeto do Castelo Rá-Tim-Bum, com 90 episódios, foi orçado em 1,2 milhão de dólares, cerca de 16 bilhões de cruzeiros, moeda brasileira na época. A saber, metade desse valor ficou por conta do Serviço Social da Indústria (Sesi), em parceria semelhante à já adotada anteriormente em Rá-Tim-Bum e Mundo da Lua.

Nesses 25 anos, o Castelo Rá-Tim-Bum se tornou livro, brinquedos e produtos licenciados de toda natureza, espetáculo de teatro, filme e foi celebrado numa exposição bastante concorrida, promovida pelo Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo. Atualmente o programa não é exibido pela TV Cultura, nem pela TV Rá-Tim-Bum, canal pago. No entanto, todos os episódios foram postados pela emissora em seu canal do YouTube. Abaixo, o primeiro deles.

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