No Dia do Índio, relembre representações do indígena na teledramaturgia brasileira

Publicado em 19/04/2018

Há 518 anos, quando o navegador Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, encontrou aqui os primeiros habitantes da nossa terra, os indígenas, que ao longo desses séculos foram escravizados, dizimados, aculturados e segregados. A teledramaturgia brasileira já representou os indígenas em diversos trabalhos, passados em diferentes épocas da nossa História. Seja de maneira estereotipada ou com a preocupação de ilustrar a riqueza cultural e étnica dos índios, alguns personagens merecem ser rememorados. Vamos a eles.

O índio Robledo (Cláudio Marzo) foi um dos personagens mais marcantes na trama de A Rainha Louca (1967), escrita por Glória Magadan para a Globo. Alvo do amor de Aurora (Nathália Timberg), a sósia da imperatriz Charlotte (também Nathália), Robledo vivia na fazenda de Fernando Moreno (Jayme Barcellos) e acabou se casando com a filha do fazendeiro, Maria de Las Mercés (Theresa Amayo).

O romance maior de Érico Veríssimo, O Tempo e o Vento, já ganhou duas adaptações para a televisão: uma em novela, pela TV Excelsior, com texto de Teixeira Filho, no ano de 1967; e outra como minissérie, de Doc Comparato, exibida nas comemorações dos 20 anos da Rede Globo, em 1985. Um personagem indígena que aparece pouco, mas tem bastante importância no enredo, é Pedro Missioneiro (David José em 1967 e Kasé Aguiar em 1985), o grande amor de Ana Terra (Geórgia Gomide/Glória Pires) e pai de seu filho, a quem ela também dá o nome de Pedro (Hemílcio Fróes/Ivan de Albuquerque).

 Pedro Missioneiro (Kasé Aguiar) na minissérie O Tempo e o Vento
Pedro Missioneiro Kasé Aguiar na minissérie O Tempo e o Vento Reprodução

No ano seguinte, 1968, Aimbé (Stênio Garcia), mameluco agregado da família de Dom Braz Olinto (Mauro Mendonça), marcou presença em A Muralha, novela de Ivani Ribeiro baseada na obra de Dinah Silveira de Queiroz para a TV Excelsior. Numa versão em minissérie feita no ano 2000 pela Globo, em adaptação de Maria Adelaide Amaral, Enrique Diaz interpretou Aimbé e Stênio Garcia fez uma participação como o Caraíba, líder da tribo da qual Apingorá (André Gonçalves) era membro. Outra personagem a destacar na minissérie é Moatira (Maria Maya), que se apaixonou pelo jesuíta Padre Miguel (Matheus Nachtergaele), no processo de catequização.

Uma das personagens que vêm logo à lembrança quando o assunto são os índios nas novelas é Potira (Lúcia Alves), de Irmãos Coragem (1970/71), escrita por Janete Clair. Pairava a dúvida de que ela fosse filha bastarda do patriarca da família Coragem, Sebastião (Antonio Vitor), mas não era, e por isso podia viver livremente sua paixão pelo irmão de criação Jerônimo (Cláudio Cavalcanti). Quer dizer, nem tão livremente assim, porque devido à dúvida ela acabava se casando com o promotor Rodrigo César (José Augusto Branco). Na segunda versão da história, exibida em 1995, Dira Paes foi Potira; Ilya São Paulo, Jerônimo; e Giuseppe Oristânio, Rodrigo César.

Jerônimo (Cláudio Cavalcanti) e Potira (Lúcia Alves) em Irmãos Coragem
Jerônimo Cláudio Cavalcanti e Potira Lúcia Alves em Irmãos Coragem Reprodução

As duas versões de Bicho do Mato – em 1972 pela Globo, com texto de Chico de Assis e Renato Corrêa de Castro, e em 2006/07 pela Record, escrita por Cristianne Fridman e Bosco Brasil – trouxeram o protagonista Juba (Osmar Prado/André Bankoff) tendo como amigo o índio Iru (José de Arimateia/Raphael Vianna). No final da década, a Rede Tupi dedicou sua novela das 20h à questão indígena com Aritana (1978/79), de Ivani Ribeiro. O personagem-título (Carlos Alberto Riccelli) lutava contra a posse ilegal das terras habitadas por sua tribo. O grande inimigo era Lalau (Tony Correia), cuja noiva Estela (Bruna Lombardi) se apaixonava por Aritana.

Carlos Alberto Riccelli na abertura da novela Aritana
Carlos Alberto Riccelli na abertura da novela Aritana Reprodução

No ano de 1982, Janete Clair escreveu a novela Sétimo Sentido, que trazia a jovem Uiara (Neuza Caribé), criada pela família Mendes e que se envolvia com Tony (Paulo Guarnieri), caçula dos ricos Rivoredo. Em 1986/87, Ivani Ribeiro mais uma vez inseriu numa de suas histórias um personagem indígena e uma discussão sobre o tema: em Hipertensão, novela das 19h, Chico (Stênio Garcia) era alvo da implicância da prepotente Donana (Geórgia Gomide), cujo falecido marido havia doado as terras onde o índio vivia. Ele estava na cidade de Rio Belo, onde a história se passava, para encontrar uma machadinha sagrada que havia sido roubada pelos brancos.

A Rede Manchete levou ao ar em 1991 a minissérie O Guarani, escrita por Walcyr Carrasco a partir do clássico literário de José de Alencar, que trata do amor entre a nobre branca Ceci (Angélica) e o índio Peri (Leonardo Brício), no século 18. No final do mesmo ano a emissora lançou o audacioso projeto de Amazônia, que pretendia reviver o êxito de Pantanal (1990) ambientando agora o enredo no Norte do Brasil e dividindo-o em duas épocas: o final do século 19 e o princípio do 21.

Em 2000, a minissérie A Invenção do Brasil, projeto de Guel Arraes e Jorge Furtado, exibiu em uma semana uma versão bem-humorada da chegada do homem branco às nossas terras, com o romance de Caramuru (Selton Mello) com a bela índia Paraguaçu (Camila Pitanga). Também foi quando Adriano (Cláudio Heinrich) fora reencontrado por seu avô Nikos Karabastos (Lima Duarte) após muitos anos desaparecido, período durante o qual vivera com os índios em Uga Uga, novela de Carlos Lombardi.

Em 2005 a minissérie Mad Maria, de Benedito Ruy Barbosa com base no romance de Márcio de Souza, trouxe o ator Fidélis Baniwa na pele de Joe Caripuna, um personagem que demonstrou bem a crueldade a que o homem branco submeteu o índio no Brasil – e isso já em tempos mais modernos, uma vez que a minissérie se passava no início do século 20. Ao ter descobertos os roubos que praticava no alojamento dos operários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o índio teve as mãos amputadas violentamente. No mesmo ano dois outros personagens indígenas marcaram presença: a Índia (Bumba), que trabalhava na casa da família de Ademilde (Arlete Salles) em A Lua me Disse, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa; e José Aristides (André Gonçalves), apaixonado por Serena (Priscila Fantin), protagonista de Alma Gêmea, de Walcyr Carrasco.

Serena (Priscila Fantin) em Alma Gêmea
Serena Priscila Fantin em Alma Gêmea Reprodução

Walther Negrão desenvolveu em Araguaia (2010/11) a história de uma família marcada por uma maldição. A índia Estela (Cléo Pires) acaba se apaixonando por Solano (Murilo Rosa), de quem se aproxima por ser filho de seu marido Fernando (Edson Celulari) e para se certificar de que a maldição que envolve sua tribo e a família de Antoninha (Regina Duarte), mãe de Fernando, se cumpra.

No ano passado, a novela Novo Mundo, estreia de seus autores Thereza Falcão e Alessandro Marson como titulares, traçou um rico retrato dos índios no Brasil à época em que a trama se passava – antecedentes da Proclamação da Independência, que ocorreu em 1822. O bonito romance entre Piatã (Rodrigo Simas) e Jacira (Giullia Buscacio) alinhavava a abordagem dos costumes dos índios e sua posição diante da tomada de seu território pelos europeus. O padre Olinto (Daniel Dantas) era um personagem interessante – embora branco e português, ao se revoltar com a postura da Igreja Católica em relação aos índios passou a viver junto deles, na floresta.

Graças a anos e anos de visões parciais e erradas, os brasileiros não sabem muito a respeito dos povos indígenas, possuindo a seu respeito em geral uma visão deturpada. Com a importância da teledramaturgia, é fundamental que ela aborde sempre que possível temas históricos como a formação do Brasil como nação, para que os espectadores conheçam mais a fundo, ainda que sob o manto da ficção, a História de seu País.

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