Kubanacan, novela de Carlos Lombardi, terminava há 14 anos

Publicado em 23/01/2018

No dia 23 de janeiro de 2004, a Globo exibia o último capítulo de Kubanacan. A ousada novela de Carlos Lombardi, que muitos classificaram como “confusa”, teve um último capítulo ainda mais ousado, deixando muitos espectadores sem entender direito o que se passou. Mas foi uma trama que manteve o espírito anárquico das novelas de Lombardi, além de imprimir alguma novidade ao seu currículo.

Kubanacan se passava numa ilha paradisíaca do Caribe de mesmo nome, e começava no final dos anos 1940, quando o General Carlos Camacho (Humberto Martins) dá um golpe militar e assume o comando do local, anteriormente comandado por Rubio Montenegro (Stenio Garcia), que morre misteriosamente. A primeira-dama de Kubanacan, Mercedes (Betty Lago), muito querida pela população, é, na verdade, amante de Camacho, seguindo como primeira-dama após o golpe.

Enquanto La Bendita, capital de Kubanacan, vive dias intensos, coisas misteriosas acontecem em Santiago, uma vila de pescadores do país. Num dia de tempestade, um homem nu e desmemoriado cai do céu. Acolhido pelo povo que ali vive, ele se lembra apenas do nome Esteban (Marcos Pasquim). Ele desperta o interesse de Marisol (Danielle Winits), que é casada com Enrico (Vladimir Brichta), e os dois acabam disputando o amor dela. Esteban leva a melhor e Enrico deixa Santiago, partindo para La Bendita. Esteban e Marisol se casam e têm um filho, Gabriel (Pedro Malta).

Sete anos depois, Carlos Camacho segue como presidente de Kubanacan, mantendo uma vida ao lado de Mercedes e seus filhos. Às voltas com muitos problemas conhecidos, como corrupção e cabide de empregos, Camacho, certo dia, conhece Marisol e se encanta pela moça. E como a jovem sempre sonhou em ir à capital e se tornar uma estrela da música, acaba aceitando o convite do presidente para ir embora.

Esteban, então, acaba indo à La Bendita atrás da esposa, e lá conhece Lola (Adriana Esteves), uma humilde dona de casa que vive num cortiço com o marido, sua mãe Dolores (Nair Bello) e sua irmã Rubi (Carolina Ferraz). Esteban e Lola acabam se envolvendo, para desespero de Enrico, nada menos que o marido de Lola, e que agora é um gigolô que posa de bom moço mas leva uma vida de boemia no hotel-cassino. E, na cidade, Esteban passa a ser perseguido por desconhecidos, que procuram uma bomba chamada de Fênix. Conforme vai reencontrando pistas sobre seu passado, Esteban começa a se dar conta de que era um bandido, e este “lado mal” dele passa a vir à tona de vez em quando, e o “pescador parrudo”, como é conhecido, mostra uma dupla personalidade.

Apesar de ser uma típica comédia lombardiana, Kubanacan serviu, sobretudo em sua fase inicial, como uma crítica aos governos ditatoriais da América Latina. Além disso, brincava com situações do abandono social e o despreparo das autoridades. Logo no início, por exemplo, Camacho se envolve num escândalo político e, para distrair o povo, decide, do nada, declarar uma guerra aos EUA. Entretanto, quando o exército de Kubanacan se prepara para a batalha, descobre-se que os EUA nunca receberam a declaração de guerra, já que os correios de Kubanacan estavam em greve.

Com poucos personagens e situações, a trama de Kubanacan se desenvolveu como uma espécie de seriado, com personagens entrando e saindo a todo o momento, sempre trazendo algo do passado de Esteban. Por conta disso, a novela bateu recorde em número de participações especiais, maior do que o número de atores que compunham seu elenco fixo. Nomes como Ana Rosa, Daniela Escobar, Cristiana Oliveira, Carolina Kasting, Gabriela Duarte, Joana Fomm, Luiz Carlos Tourinho, Claudia Rodrigues e Regina Duarte, entre muitos outros, passaram por Kubanacan. Além disso, Marcos Pasquim se desdobrou em quatro personagens: Esteban, “dark Esteban” (quando Esteban mostrava seu lado mau), Adriano (irmão gêmeo de Esteban) e Leon (filho de Esteban).

Pasquim, aliás, mostrou excelente química com Adriana Esteves, que imprimiu humor à sua Lola e fez uma adorável e divertida mocinha. Carolina Ferraz também roubou a cena como Rubi, uma mulher meio masculinizada, mas que escondia um grande romantismo dentro de si. Rubi era secretamente apaixonada pelo cunhado Enrico, um tipo impagável vivido por um inspirado Vladimir Brichta. Fechando o núcleo havia Nair Bello, sempre hilária como a mal-humorada Dolores, que vivia às turras com a vizinha Isabelita (Lolita Rodrigues).

Carlos Lombardi queria Letícia Sabatella como Lola, mas a atriz não pode participar da novela. Mas o autor ficou plenamente satisfeito com sua substituição por Adriana Esteves, revelando que sempre quis trabalhar com a atriz, e que Adriana foi a primeira atriz cotada para viver Babalu, uma das protagonistas de Quatro por Quatro, papel que consagrou Letícia Spiller.

Já Humberto Martins se afastou da novela, alegando precisar resolver problemas pessoais. A saída do ator deu margem a fofocas, que afirmavam que Humberto estava enciumado com o espaço de Marcos Pasquim na obra. Mas a fofoca foi logo negada, e Humberto retornou tempos depois ao folhetim, participando do desfecho da obra. Enquanto Carlos Camacho desapareceu da história, entrou em cena seu irmão Celso Camacho, vivido por Marco Ricca. Outra baixa foi Angela Vieira, que vivia a cantora alcoólatra Perla Peron. Incomodada com o rumo da personagem, a atriz pediu para deixar o elenco. E, por fim, o diretor Wolf Maya passou o bastão para Roberto Talma, para poder assumir a direção de núcleo de Senhora do Destino. Com a saída do diretor, saiu de cena também seu personagem, Don Diego.

Kubanacan ousou em sua reta final, quando finalmente resolveu explicar a origem de seu protagonista. Num determinado momento da obra, Esteban e Rubi têm um breve caso, e a jovem engravida dele. Ela dá a luz Leon. Logo em seguida, Esteban passa a ter flashes do futuro e se lembra: na verdade, ele não é o Esteban, o homem que todos procuravam em razão da bomba Fênix, e sim filho dele. O verdadeiro Esteban vivia escondido numa mata de Kubanacan, e Rubi se encontrou com ele uma única vez, engravidando dele. Portanto, este Esteban que todos conheciam, e que caiu desmemoriado em Santiago era, na verdade, Leon, que veio do futuro em busca de explicações sobre o pai e sobre a Fênix. No entanto, a viagem no tempo gerou um efeito colateral que fez com que ele perdesse a memória, absorvesse a história do pai e, ainda, desenvolvesse dupla personalidade. Ficou confuso?

Com 227 capítulos, Kubanacan foi escrita por Carlos Lombardi, Emanuel Jacobina, Margareth Boury, Tiago Santiago e Vinícius Vianna, com direção de Marco Rodrigo, Cláudio Boeckel e Edgar Miranda, direção geral de Wolf Maya, Alexandre Avancini e Roberto Talma,  e direção de núcleo de Wolf Maya e Roberto Talma.

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Relembre a abertura de Kubanacan:

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