Relembre Sarita, a controversa personagem de Explode Coração

Publicado em 22/06/2017

Na novela das nove, A Força do Querer, Nonato (Silvero Pereira) é um homossexual que se traveste e tem o sonho de se tornar uma grande cantora, Elis Miranda, nome que ele escolheu em homenagem à Elis Regina e Carmen Miranda. Antes dele, outro travesti fez grande sucesso, Sarita Vitti, interpretado por Floriano Peixoto na novela Explode Coração, em 1995.

Até então, nenhum travesti havia sido mostrado em novelas brasileiras senão para fazer rir, ou em situações vexatórias, e a autora Gloria Perez, resolver abordar o tema em sua novela de forma séria, revelando ao público uma personagem que levava uma vida comum na vizinhança em que vivia num bairro do  subúrbio carioca.

Sarita marcou a estreia do ator Floriano Peixoto na televisão e levantou discussões sobre as características da personagem entre grupos gays existentes na época. Em matéria publicada no jornal Folha de São Paulo em 26 de  novembro de 1995, militantes da causa afirmavam que Sarita não tinha identidade definida pois fazia shows à noite como uma drag queen, mas tinha em seu cotidiano vestes de mulher como um travesti, embora preservasse muitos trejeitos masculinos. Na ocasião, Isabelita dos Patins, contou que foi procurada pela autora da trama para ajudar na construção da personagem, mas não gostou do que viu na tela: “Não fico 24 horas de patins e cílios postiços. No meu prédio, sou o ‘seu’ Jorge. Parece uma bicha louca, está afetado demais, agressivo e grotesco. É mais um travesti, porque se veste de mulher durante o dia”.

Logo no primeiro capítulo, Sarita chamou a atenção dos seus vizinhos ao aparecer vestida com roupas femininas numa lanchonete local, gerando piadas entre um morador e revidando com um soco. A cena que foi elogiada por muitas pessoas, mas claro, não agradou a todos.

“Do jeito que está, não se sabe se é um travesti ou uma drag queen. Parece uma bicha principiante, que ainda se incomoda com piadas. A gente já tira isso de letra”, disse Norberto David, ator transformista que vivia Laura de Vison em boates do Rio em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo.

A intenção de Gloria Perez era construir uma personagem que não ficasse à margem da sociedade, e fosse vista como um exemplo de conduta sem julgamentos devido a sua sexualidade. Ela era uma boa pessoa, gostava de ajudar os amigos, vizinhos e estava sempre disposta a agir como conselheira das mulheres à sua volta, sobretudo mulheres de rua. Sarita só tinha mesmo problemas com a vizinha Odaísa (Isadora Ribeiro) pelo comportamento irresponsável da moça que acabou vivendo o drama de ter o filho desaparecido.

A personagem Rose (Paula Burlamaqui) inclusive chegou a se apaixonar por Sarita, tentando dissuadi-la de sua orientação sexual, forçando uma tentativa de beijo entre as duas. Para Rose, Sarita só acreditava ser uma mulher por nunca ter tido relações sexuais com uma, um ignorante pensamento replicado por muitas mulheres e homens até hoje. Decepcionada, Rose deixou o bairro de Maria da Graça, e se transformou em sex simbol posteriormente. No último capítulo, Sarita montou seu show para se apresentar no centro do Rio de Janeiro, torcendo para que logo conseguisse fazer sucesso também na zona sul, e encontrou um grande amor, o produtor de seu espetáculo.

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