Para Globosat, futuro da TV paga passa por alianças com as multinacionais do conteúdo

Publicado em 02/08/2019

Nada mais sintomático do atual momento da programação nacional nos canais da TV por assinatura do que o fato de o dirigente da maior empresa brasileira de canais, a Globosat, abrir sua apresentação durante o PayTV Forum 2019 apresentando um vídeo da BBC News (marca subsidiária da rede pública de Reino Unido).

Para fazer uma analogia sobre a situação do conteúdo brasileiro diante do avanço das empresas gigantes multinacionais de tecnologia, Alberto Pecegueiro, diretor geral da programadora de canais da Globo para a TV por assinatura, falou da expectativa sobre o futuro enquanto o vídeo mostrava o salto de um homem sem paraquedas de um avião em pleno vôo a sete mil metros de altura, em Las Vegas. Ao final, a queda foi amparada por uma enorme rede de proteção.

Ele resumiu a metáfora, diante do que vem acontecendo no mercado internacional de conteúdo: a compra da Fox pela Disney, a aquisição da Time Warner pela AT&T, o avanço da Amazon no segmento de VOD, a presença global da Netflix etc: “Nós estamos pulando sem paraquedas e torcendo pra dar certo. Será que no fim vai ter uma rede?”, brincou.

Pico de audiência

A fala do executivo, que vem dirigindo por mais de 20 anos uma fábrica de canais de sucesso na TV paga (Multishow, GNT, SporTV, Viva e toda uma família de canais com parceiros internacionais, como a rede Telecine, Universal etc) é permeada por declarações que dão como certo ainda haver um enorme contingente da população que quer simplesmente sentar e ver o que a TV lhe oferece – da mesma forma que os mais jovens são menos atendidos pelos canais lineares (os convencionais).

“O objetivo é conseguir combinar os dois mundos”, diz Pecegueiro, que prossegue: “Já vi vários sintomas e iniciativas mostrando a possibilidade desses públicos se envolverem. Tem conteúdo que tem mais valor como o ao vivo o reality show.” Ele revela que, curiosamente, o momento é de pico de audiência dos canais da Globosat, o que seria até um contrassenso sobre tudo o que se fala do mercado.

Alberto Pecegueiro também chama a atenção ao fato de que cada vez há uma estimativa diferente sobre o verdadeiro tamanho da Netflix – a empresa não revela o número de clientes no país. “Hoje, a minha maior preocupação é mesmo a pirataria. Tem pelo menos 20 apps de live IPTV (TV por internet ao vivo), onde se pode assistir ao que quiser . Assim é até inacreditável que ainda há quem pague assinatura de TV”, espanta-se.

Conteúdo relevante

Para ele, o risco de o conteúdo relevante deixar os canais tradicionais é uma preocupação bastante legítima. Pecegueiro lembra que, há alguns anos, houve grande apreensão quando o grupo América Móvil lançou o serviço Claro Video, com alguns conteúdos de TV paga sendo oferecidos fora do ambiente da TV por assinatura:

“Você não segura o dique com o dedinho. Tem duas maneiras de enfrentar. Ou você entra em choque ou tem de se aliar. A gente sempre procurou fazer o negócio de conteúdo crescer”, e enumerou inovações da programadora na TV paga como o lançamento do 4K, apps dos Jogos Olímpicos, tudo mirando o crescimento do negócio como um todo, como um comprometimento.

Mas diz que o Grupo Globo não pode ficar parado, que as ameaças são para todos e os riscos, idem. “A oferta direta ao consumidor talvez apresente o melhor caminho para desarmar o empacotamento. Claro que a gente está engajado, mas sempre prefere a via do trabalho conjunto e uma solução agregadora do que o conflito”.

O dirigente diz que o desafio e objetivo da Globosat é se posicionar como uma mediatech company, uma empresa de tecnologia que, com foco no conteúdo, começa a investir na transformação digital. E ele extrapola isso para toda a marca Globo também: “Há muitos anos eu já defendo a tirada das três últimas letras da marca Globosat. O que o Grupo está fazendo é através da agregação das empresas ganhar mais competitividade contra a chegada dos dinossauros.”

Aliados

De qualquer forma, parece que a estratégia a ser adotada será uma aliança com tais ‘dinossauros’. “A Globo não vai embora do Brasil, vai continuar aqui, onde tem tudo em jogo. A gente tem muita relação com as empresas internacionais; o interesse deles no Brasil vai até o ponto em que enxergam um retorno razoável. A gente sempre vai ter um grau de esforço e comprometimento muito maior e acredita no resultado. Somos empresas familiares que se comprometem com ele. Como a Band também é”, diz Pecegueiro, salientando que as gigantes multinacionais estão num game global.

“Nessa guerra nucelar, eu já escolhi meu papel: eu vou vender armas. Os ‘dinossauros’ comem muito conteúdo; alianças serão feitas, é inevitável”, disse o executivo. Ele, a propósito, lembrou que a Globosat inclusive publicou um anúncio na mídia parabenizando a concorrente HBO no final da temporada de Game of Thrones – algo inimaginável no mercado brasileiro de payTV na primeira metade da década passada, época em que a exclusividade de canais era um diferencial competitivo entre as operadoras.

Viacom

Pela Viacom (canais MTV Brasil, Nickelodeon, VH1, Comedy Central e Paramount), o diretor geral Mauricio Kotait diz que o objetivo é construir novas propriedades: “A Viacom acredita muito no seu próprio conteúdo. Como brasileiro, também passo 24h por dia tentando entender o mercado”.

A Viacom, que é norte-americana, comprou recentemente a Pluto TV, que é um serviço de streaming com oferta de conteúdos gratuitos com veiculação de publicidade.

Box Brasil

Cicero Aragon, diretor geral da Box Brasil (canais PrimeBox, MusicBox, TravelBox e Fashion TV), conta a trajetória da sua empresa: “Nascemos como canal brasileiro independente há dez anos e nesse momento quando há questão de propriedade cruzada, a Ancine, a regulação de futuro do mercado, por sermos os peixes menores, temos de ter mais atenção no que fazemos”.

Ele diz que a Box Brasil faz parcerias, na busca por oportunidades para que rearranjos se tornem possíveis. Ele reitera a relevância dos canais brasileiros e necessidade de empenho para que se criem novos modelos de empacotamento que possam fazer sentido. Aragon lembra ainda da importância do agregador para organizar os apps e o VOD.

*Por Edianez Parente

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