Globo confirma vazamento de e-mail interno do chefão do jornalismo

Publicado em 11/04/2018

A Globo confirmou, nesta quarta-feira (11), ao Observatório da Televisão, que o e-mail enviado aos seus colaboradores do jornalismo sobre manifestações políticas é mesmo de Ali Kamel, diretor-geral do jornalismo da emissora, e foi vazado para a imprensa.

De acordo com a reportagem do site Notícias da TV, o alerta de Kamel ocorreu depois de Chico Pinheiro, âncora do Bom Dia Brasil, ter um suposto áudio seu circulando em um grupo fechado de uma mídia social. O conteúdo era em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi preso no sábado (7). A avaliação é de que o episódio não agradou à cúpula da Globo.

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“Realizaram o fetiche. O fetiche deles era Lula na cadeia. Não foi feito do jeito que eles queriam, mas o Lula foi. E agora? O que vão fazer agora? Como é que fica? Qual é o próximo passo? Que o Lula tenha calma e sabedoria, inspiração divina para ficar quieto onde ele está”, afirma o áudio atribuído a Chico no WhatsApp, segundo a publicação.

Confira, abaixo, a íntegra da mensagem de Ali Kamel.

“Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não podem fazer publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumprem esse preceito.

Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos.

Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.

Como entrevistar candidatos, se preferências reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito.

A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):

“A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas de internet como blog pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos:

(…) 3 – os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.”

É com isso em mente que envio esse e-mail.

Ali”

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