Walcyr Carrasco adianta o que público pode esperar de O Outro Lado do Paraíso

Publicado em 22/10/2017

Walcyr Carrasco iniciou a carreira profissional como jornalista e trabalhou nas redações de grandes jornais e revistas. Aos 28 anos, publicou seu primeiro livro, ‘Quando Meu Irmãozinho Nasceu’. Depois, escreveu ‘Vida de Droga’, ‘Em Busca de Um Sonho’, ‘Anjo de Quatro Patas’ e ‘Juntos para Sempre’, entre outros títulos. Como dramaturgo, assinou peças de sucesso como ‘Batom’ (1995) e ‘Êxtase’ (1997), pela qual recebeu o prêmio Shell de melhor autor. Em 2008, Walcyr ingressou na Academia Paulista de Letras e, em 2010, ganhou o prêmio da União Brasileira dos Escritores pela tradução e adaptação de ‘A Megera Domada’, de Shakespeare. Para a TV, começou a escrever no final da década de 1980. A primeira novela na Globo foi ‘O Cravo e a Rosa’ (2000), dirigida por Walter Avancini, com quem repetiu a parceria em ‘A Padroeira’ (2001). As novelas ‘Chocolate com Pimenta’ (2003), ‘Alma Gêmea’ (2005), e ‘Êta Mundo Bom!’ (2016), dirigidas por Jorge Fernando, consagraram o autor no horário das seis. A estreia na faixa das sete foi com a comédia romântica ‘Sete Pecados’ (2007). Depois, escreveu ‘Caras & Bocas’ (2009) e ‘Morde e Assopra’ (2011). A primeira novela das nove foi ‘Amor à Vida’ (2013), grande sucesso de crítica e público. Para o horário das onze, Walcyr escreveu ‘Gabriela’ (2012), ‘Verdades Secretas’ (2015), que conquistou o Emmy Internacional no ano seguinte, além do Troféu APCA e do Prêmio Extra de Televisão como Melhor Novela. Agora, com ‘O Outro Lado do Paraíso’ repete a bem-sucedida parceria com o diretor Mauro Mendonça Filho com quem também trabalhou em ‘Verdades Secretas’.

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Que história ‘O Outro Lado do Paraíso’ vai contar? 

É uma novela com todos os elementos clássicos de um folhetim, com uma grande história de amor e com outras tramas muito modernas. Com emoção, sentimento e, ao mesmo tempo, vai discutir temas profundos dos dias de hoje.

Dentro das temáticas que a novela vai tratar há violência contra a mulher, a homofobia, o racismo, entre outros. Por que você resolveu abordar esses temas?

São temas modernos e importantes. O primeiro assunto fundamental é a violência contra a mulher. Um número imenso de mulheres sofre hoje, em seus lares e fora de casa também. É uma forma de alertar e mostrar para elas que podem ir adiante e enfrentar a situação. A homofobia, no caso, é daquela pessoa que tem ódio de si mesma por ser gay.  A história fala que existem gays que ainda hoje sentem vergonha desta condição e acabam vivendo uma mentira. Quando abordo o racismo, é um tema que precisa ser sempre lembrado. É necessário mostrar que o racismo é um crime e assim por diante. Vamos tratar de muitos outros assuntos.

A história conta a saga da heroína Clara e apresenta outras personagens femininas muito fortes.  Quais as características de cada uma delas?

Clara é uma grande heroína. É uma moça simples, que sofre violência dentro de casa. A mulher não deve aceitar a violência, mas muitas vezes aceita porque tem medo, porque não sabe lidar. Ela descobre que pode enfrentar e dar o troco. A novela fala também da lei do retorno: tudo o que a gente faz, volta pra gente. A figura feminina em ‘O Outro Lado do Paraíso’ é muito forte. Além da Clara, temos a Raquel (Erika Januza), uma negra que veio do quilombo, sofre racismo, mas consegue estudar e conquista uma posição de poder. Temos Mercedes (Fernanda Montenegro), que não é exatamente uma vidente, mas ouve vozes e vive em função daquilo, porque prevê que o fim do mundo está chegando. Uma outra personagem fortíssima é a Elizabeth (Glória Pires), uma mulher que sofre no lar por ser de outra classe social. Ela acaba dando uma reviravolta. Uma mulher que vai reconstruindo sua vida. Ela cai fundo e depois consegue se reerguer. Temos a grande vilã, Sophia (Marieta Severo), que para ter o que ela quer, que são as esmeraldas, fará de tudo. Há ainda Lívia (Grazi Massafera), que é um pouco “fora da casinha”, cujo sonho é ter um filho, mas ela não pode engravidar. Ela se torna uma vilã, porque quer ser mãe. O filho muitas vezes dá um sentido para a mulher e essa personagem vai retratar isso.

Você fez uma viagem de férias ao Jalapão no ano passado. Foi daí que surgiu a ideia de ambientar a história na região? O que mais chamou a sua atenção e porque resolveu ambientar a novela por lá?

No ano passado, fui entregar um prêmio do MEC (Ministério da Educação) a educadoras que se destacaram por projetos culturais. Uma delas havia criado uma biblioteca em um quilombo, no Jalapão, e me contou que aprendeu a ler com um livro de minha autoria. Criamos uma relação forte, e ela me convidou para conhecer o quilombo. Fui estudar sobre o Jalapão, visitar o quilombo e aí comecei a me encantar por essa região extraordinária. Esse foi o motivo da viagem, mas durante todo o tempo a ideia da novela foi surgindo e amadurecendo.

‘O Outro Lado do Paraíso’ é mais uma parceria com Mauro Mendonça Filho com quem você trabalhou em ‘Gabriela’ (2012), ‘Amor à Vida’ (2013) e ‘Verdades Secretas’ (2015). Qual a sua expectativa para este trabalho?

Cada trabalho é único. Eu não construo expectativas maiores ou menores. Apenas me entrego, assim como acredito que o Maurinho, sua equipe e o elenco se entregam. Nós amamos criar juntos e o trabalho vai surgindo a partir desta troca de ideias.

Para esta novela temos alguns atores vindos de ‘Verdades Secretas’, ‘Êta Mundo Bom!’ e outros veteranos com os quais você trabalha pela primeira vez. Como foi a escalação para a novela?

Foi maravilhoso saber que atores com quem amo trabalhar e outros que já admirava estavam dispostos a se unirem a nós para contar uma nova história. A escalação é sempre um processo complicado, trabalhoso. A gente fica pensando sobre quem é a pessoa certa para cada personagem. Em ‘Êta Mundo Bom!’, eu tinha alguns atores que funcionaram demais e que eu não queria perder, como o Sergio Guizé,  Bianca Bin, além da Eliane Giardini. Enfim, os atores que eu tenho admiração pelo trabalho, que deram certo. Agora, eu também sou fã. Tem também aquelas pessoas de quem eu sou fã há muito tempo como Fernanda Montenegro, Gloria Pires. Marieta, que trabalhou em ‘Verdades Secretas’, está comigo novamente. E tem os que chegam agora e que estão tendo a primeira oportunidade. Aí junta tudo isso num caldeirão de talentos e temos ‘O Outro Lado do Paraíso’.

Em suas obras, você também costuma abordar temas e levantar questões sociais através de alguns personagens. Em ‘O Outro Lado do Paraíso’ temos a Estela, uma anã com um perfil que foge do estereótipo cômico. Como surgiu a ideia de ter uma anã na história?

Nas minhas novelas, em geral, eu trato de assuntos que não estão na ordem do dia. Em ‘Amor à Vida’ eu falei do autismo; já falei do menino paraplégico, em ‘Êta Mundo Bom!’. Agora tenho uma personagem anã. Eu vou contar porque eu tenho essa personagem: quando eu era criança, conheci uma família que era muito amiga dos meus pais e a sobrinha deles era anã, numa família de pessoas de estatura comum. E essa menina anã cresceu, casou-se duas vezes – uma vez com anão, outra vez, não. Resolvi, então, colocar uma personagem anã na novela como a Estela, mas não é para rir. É para mostrar os sentimentos dela, a dificuldade dela até para ir a um restaurante. Porque eles chegam a um restaurante e às vezes não conseguem nem usar o toillete. O mundo não está preparado para integrar essas pessoas. É isso o que eu quero mostrar.

O que o público pode esperar de ‘O Outro Lado do Paraíso’?

O público pode esperar emoção, sentimento, humor e no meio disso uma reflexão sobre o mundo moderno. Mas, acima de tudo, e como eu sou uma pessoa que acredito em alguma coisa além desse mundo, na lei do retorno. O que a gente faz aqui volta pelo bem ou pelo mal. E esse é o grande tema de ‘O Outro Lado do Paraíso’. Podem ter a certeza da minha entrega total, única e emocional ao escrever essa história.

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