Os Ossos do Barão: 45 anos de um clássico de Jorge Andrade

Publicado em 21/10/2018

Há 45 anos, em outubro de 1973, a Rede Globo lançou em seu horário das 22h Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade. Adaptada de textos teatrais do autor, a novela vinha com a responsabilidade de substituir O Bem-amado, de Dias Gomes.

Jorge uniu elementos de A Escada, de 1961, e Os Ossos do Barão, de 1963. Ambas as peças foram encenadas na fase histórica do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em São Paulo. A primeira trata do abandono de um casal idoso, Antenor e Melica, que perambula entre os apartamentos dos quatro filhos, num mesmo edifício, subindo e descendo a escada. Os Ossos do Barão trata do sonho de um imigrante italiano de ascender socialmente. Para tanto, ele deseja casar seu filho único e a neta de um barão do café, dono da fazenda onde morou na infância, quando chegou ao Brasil.

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A trama de Os Ossos do Barão

Convidado a escrever uma novela e aproveitar seu trabalho dramatúrgico dos palcos, Jorge Andrade expôs seu desejo de fidelidade a seu universo. Recebida a carta branca da parte do supervisor do projeto, Daniel Filho, ele se pôs a fundir os dois trabalhos. Sem esquecer que as linguagens de teatro e TV são distintas e possuem cada uma as suas necessidades e vicissitudes.

Egisto Ghirotto (Lima Duarte) chegou ao Brasil ainda criança, vindo da Itália. Cresceu na fazenda do Barão de Jaraguá e casou-se com Bianca (Lélia Abramo). Os dois são pais de um único filho, Martino (José Wilker), que dá muito orgulho ao pai, ao mesmo tempo que ocorrem discussões entre os dois, conflitos de gerações. Tendo enriquecido após a queda do café e a ascensão de um novo Brasil, urbano e industrializado, Egisto tem um sonho: possuir um título de nobreza e, assim, ser aceito pela elite paulista. Seu dinheiro só não basta para isso. Assim sendo, ele tenciona casar Martino com Izabel (Dina Sfat), de família tradicional.

Carmen Silva e Leonardo Villar em Os Ossos do Barão (CEDOC/TV Globo)
Carmen Silva e Leonardo Villar em Os Ossos do Barão CEDOCTV Globo

Izabel faz parte da família Parente de Rendon Pompeo e Taques. Descendentes dos primeiros paulistas, eles não são mais barões do café, mas mantêm a pose. O patriarca é Antenor (Paulo Gracindo), já senil e muito orgulhoso. Sua esposa Melica (Carmen Silva) é mais maleável e doce. Os dois são pais de Miguel (Leonardo Villar), pai de Izabel; Maria Clara (Neuza Amaral), uma costureira viúva; e Vicente (Edney Giovenazzi), jornalista. Vicente é casado com Lavínia (Bibi Vogel). Maria Clara é mãe de Lourdes (Renata Sorrah) e Zilda (Sandra Bréa). Miguel é casado com Verônica (Maria Luiza Castelli) e, além de Izabel, tem com ela também Ricardo (João Carlos Barroso).

O entrelaçamento dos núcleos e as marcas do passado no presente

Gracindo Júnior, José Augusto Branco e José Wilker em Os Ossos do Barão (CEDOC/TV Globo)
Gracindo Júnior José Augusto Branco e José Wilker em Os Ossos do Barão CEDOCTV Globo

Tanto quanto entre os Ghirotto, entre os Taques também existe o conflito de gerações. Mais ligado ao pensamento tradicionalista do pai, Miguel exerce sobre as sobrinhas uma ascendência dominadora. Todavia, as duas jovens se apaixonam por rapazes do desagrado do tio e do avô. Lourdes se encanta por Luigi (José Augusto Branco). Este nada menos é do que filho do melhor amigo de Egisto, Carlino (Paulo Gonçalves). Zilda, por sua vez, inicia um romance com Omar (Gracindo Júnior). Ele é filho de Senhorita (Chica Xavier), antiga escrava da fazenda do Barão de Jaraguá. E ainda há o caso de Martino e Izabel. Os dois são jovens modernos, antenados com seu tempo, e desejam ser respeitados por seus próprios méritos ao invés de se escorarem em tradições ultrapassadas.

Egisto deseja tanto ser aceito no seio da tradicional família paulista que comprou o patrimônio do Barão de Jaraguá. Inclusive a fazenda onde cresceu e, nela, a capela com a cripta mortuária que contém os ossos do barão. Seja como for, uma grande aliada sua na empreitada de unir as famílias é Dona Ismália (Elza Gomes). Prima de Antenor, ela vê no casamento dos jovens uma forma de sua família recuperar o que um dia foi seu, por meio da nova descendência.

Os destaques do elenco

Paulo Gracindo e Lima Duarte, bem como mais alguns atores, emendaram O Bem-amado e Os Ossos do Barão. Mas em personagens bastante distintos. O demagogo Odorico Paraguaçu deu lugar a Antenor, típico remanescente de uma São Paulo que ficou no passado. Já Lima Duarte, cuja escolha para o papel foi criticada por alguns, brilhou como o imigrante italiano Egisto Ghirotto. Houve quem defendesse que o papel deveria ter sido destinado a Otelo Zeloni, seu intérprete nos palcos. No entanto, caso isso tivesse ocorrido a novela seguramente teria outros rumos, uma vez que Zeloni faleceu em dezembro de 1973. Lélia Abramo, a saber, brilhou na novela com o mesmo papel que teve na montagem teatral, Bianca.

Ruth de Souza interpretou Elisa, descendente bastarda do Barão de Jaraguá, agregada dos Ghirotto. Henriqueta Brieba e Suzy Kirby foram as primas Lucrécia e Clélia, que encaravam com naturalidade a situação atual, ao contrário do primo Antenor. Neuza Amaral, após a dissimulada Walkíria de Selva de Pedra (1972/73), tinha com Maria Clara um papel totalmente diferente. Por outro lado, Dina Sfat não se sentia confortável em fazer uma personagem mais jovem do que era na época. Aos 35 anos, vivia na novela uma moça que girava em torno dos 20. Edney Giovenazzi também merece lembrança. Seu personagem Vicente, a saber, era uma espécie de alter-ego do autor Jorge Andrade. Jornalista e dramaturgo, ele lutava contra a decadência cuja sombra assolava a família. Não apenas entendia o pai, como também desejava adequar-se sem maiores problemas à realidade palpável. Servia assim como um contraponto a Miguel e Verônica.

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Em 1997, uma nova versão de Os Ossos do Barão – mas não na Globo

O SBT comprou os direitos sobre a obra de Jorge Andrade e em 1997 exibiu uma nova versão de Os Ossos do Barão. A adaptação e supervisão de texto couberam a Walter George Durst. Com ele, Duca Rachid, Marcos Lazarini e Mário Teixeira escreveram a novela.

Foram conjugadas as tramas centrais de Os Ossos do Barão e de outra novela de Jorge, Ninho da Serpente (Band, 1982). Ainda, a ação foi transportada dos anos 1970 para os anos 1950. Juca de Oliveira e Jussara Freire viveram Egisto e Bianca. Othon Bastos e Clarisse Abujamra interpretaram Miguel e Verônica. O casal Martino e Izabel ficou a cargo de Tarcísio Filho e Ana Paula Arósio. Cleyde Yaconis foi a escolhida para o papel de Melica. E Leonardo Villar, o Miguel da primeira versão, foi nesta Antenor.

Anteriormente, a própria Globo desejava refazer Os Ossos do Barão. No final dos anos 1980 surgiu a ideia de produzir um remake em formato de minissérie. O texto também seria de Walter George Durst. Lima Duarte, além de reviver Egisto, seria o diretor. No entanto, o projeto não vingou. Teria ido ao ar em 1990.

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