Há 24 anos, Globo estreava A Viagem, um dos maiores sucessos da emissora

Publicado em 11/04/2018

No dia 11 de abril de 1994, a Globo fazia uma estreia curiosa em seu horário das 19h, na ocasião já marcado havia mais de 20 anos por histórias românticas, marcadas por leveza, humor e alguma sofisticação de costumes e ambientes, especialmente com as muitas obras de Cassiano Gabus Mendes. Era A Viagem, novela que Ivani Ribeiro escreveu para a Rede Tupi em 1975/76 e que era revisitada, numa promoção de remakes das 18h para as 19h após o sucesso de Mulheres de Areia, da mesma autora, no ano anterior.

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A história inspirada na filosofia do espírita Allan Kardec começa quando o inconsequente Alexandre (Guilherme Fontes) mata um homem que o flagra numa tentativa de roubo ao cofre da empresa onde trabalha e pede a ajuda de um dos irmãos, Raul (Miguel Falabella), e do cunhado Téo (Maurício Mattar), para fugir da polícia. Ele acaba preso, e rumina na cadeia um forte desejo de vingança contra os dois e o advogado Otávio Jordão (Antonio Fagundes), que se recusa a defendê-lo ao ser procurado pela mulher de Téo, Dinah (Christiane Torloni). Otávio tem motivos pessoais para a recusa: além de seu apreço pela real justiça, ele era amigo do assassinado, Waldomiro (Nildo Parente), e padrinho de seus filhos pequenos.

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O casamento de Dinah e Téo vai mal, porque ela, mais velha do que ele, tem um ciúme doentio do marido e enxerga assédio de todas as mulheres que surgem no caminho dele. A insegurança de Dinah enfraqueceu a união, que rendeu a adorável Patrícia (Viviane Pinheiro) e sempre foi do desagrado da mãe do rapaz, Josefa (Tânia Scher). Apesar dos conselhos de toda a família, especialmente da mãe, Dona Maroca (Yara Cortes), e da irmã Estela (Lucinha Lins), Dinah acaba fazendo com que Téo se afaste dela. Ele se envolve com a ex-namorada de Alexandre, Lisa (Andréa Beltrão), e Dinah, quem diria, reencontra o amor justamente nos braços de Otávio, que é viúvo e tem dois filhos, Tato (Felipe Martins) e Dudu (Daniel Ávila). Eles iniciam um relacionamento que vai ficando cada vez mais forte com o passar do tempo, e encontram uma felicidade que não tiveram com Téo e Júlia (Rejane Goulart), a falecida esposa de Otávio – embora os tivessem amado muito também.

Alexandre acaba se suicidando na prisão e, após sua morte, seu espírito obsessor ainda apegado aos fatos e figuras do plano terrestre coloca em prática os planos declarados a todos, especialmente ao médico Alberto (Cláudio Cavalcanti), amigo da família: passa a se vingar de todos aqueles que julga responsáveis por ele ter ido parar na cadeia, ignorando o fato de que ele mesmo fez coisas que levaram a isso. Para atingir Otávio, influencia negativamente Tato, que de bom filho, estudioso, responsável, passa a ser rebelde, rude e se torna motivo de preocupação para todos. Téo também sofre a influência de Alexandre, e por isso cria muitos problemas para si mesmo, tanto no campo profissional quanto na vida privada, tumultuando seu romance com Lisa e prejudicando até a relação com Patrícia, que chega a maltratar e magoar. O irmão, Raul, passa de homem feliz e bem casado com Andrezza (Thaís de Campos) a infeliz, insatisfeito e alvo das críticas e aporrinhações da sogra Guiomar (Laura Cardoso), que antes o via e tratava como um filho. E é claro que as vidas de todos que se relacionam com eles acaba impactada.

Ao longo da novela, Otávio morre e, mais para o final, Dinah também. Mas eles passam a atuar no “Nosso Lar”, uma representação do Céu na qual a figura do Irmão André (Lafayette Galvão) é a de liderança, enquanto Alexandre estava no Vale dos Suicidas. O casal se reúne, e passa a neutralizar os atos do irmão dela sobre os vivos. Entre estes, o Dr. Alberto ajuda a todos, com orientações acerca do caráter obsessivo e maléfico do espírito de Alexandre.

Entre as tramas paralelas de destaque, havia a de Carmem (Suzy Rêgo), bela jovem que precisava se disfarçar para parecer feia a fim de que Dinah, sua patroa, não a demitisse da locadora onde trabalhava, já que poderia ser atraente aos olhos de Téo. Carmem havia sido noiva de um rapaz que desaparecera de sua vida, e que ela reencontra com o rosto marcado por cicatrizes decorrentes de um acidente e que ele cobre com uma máscara: é Adonai (Breno Moroni), o mascarado que alegra algumas pessoas e espanta outras nos arredores da vila onde mora Lisa. E também a história do casamento fracassado de Estela com o mau-caráter Ismael (Jonas Bloch), que havia abandonado a esposa e a filha, Bia (Fernanda Rodrigues), quando ainda criança. Já adolescente, a jovem agora sente muita falta do pai, o que a torna um prato cheio para o bandido, que reaparece e se reaproxima de Estela com a desculpa de recuperar o tempo perdido com a menina.

O núcleo de humor típico do horário – e não criado para o remake, já que constava da versão original – era liderado por Cininha (Nair Bello), a simpática dona de uma pensão que também ficava na vila e abrigava diversos personagens: o simpático Seu Tibério (Ary Fontoura), que conversava com seu guia espiritual que apenas ele via; a cabeleireira Fátima (Lolita Rodrigues); a jovem Naná (Keila Bueno); o empregado Padilha (Renato Rabello); e o bandido Geraldão (Cláudio Mamberti), entre outros. Também era possível rir das atitudes do boa-vida Agenor (John Herbert), pai de Lisa e do músico Zeca (Irving São Paulo), que não queria saber de trabalhar e desdenhava de ofertas de emprego feitas a homens de sua faixa etária, como porteiro, por exemplo.

No elenco ainda as presenças de Denise Del Vecchio, Eduardo Galvão, Ricardo Petraglia, Roberta Índio do Brasil, Myriam Pérsia, Leonardo José, Cibele Larrama, Maria Alves, Gésio Amadeu, Solange Couto, Léa Garcia, Antônio Pompeo, Mylla Christie, Kiko Mascarenhas, Danton Mello, Lúcio Mauro Filho, Jorge Pontual, Andréa Avancini, Walther Verve, Eduardo Felipe, Chris Pitsch e outros.

Na época da novela, a curiosidade em torno das questões ligadas ao espiritismo que eram abordadas no enredo fizeram com que a venda de livros relacionados aumentassem 50%. Os números de audiência foram bastante expressivos, e A Viagem acabou sendo a novela mais vista do horário das 19h em toda a década de 1990, com média geral de 52 pontos de audiência. É muito querida pelo público e já ganhou duas reprises no Vale a Pena Ver de Novo – uma em 1997 e outra em 2006 – e uma no Canal Viva, em 2014. Foi ainda lançada em DVD num box que resume seus 167 capítulos em 37 horas divididas em 14 discos, no ano passado. Uma nova reprise é muito solicitada por diversos telespectadores, e não é de espantar que de fato ocorra, num futuro próximo…

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