Cavalo de Aço: 45 anos da única novela das oito de Walther Negrão

Publicado em 08/02/2018

Em 24 de janeiro de 1973, mesmo dia de O Bem-amado, de Dias Gomes, às 22h, estreava às 20h na Rede Globo uma nova novela: Cavalo de Aço, que marcava a estreia de Walther Negrão neste horário na casa. Na ocasião ele vinha de grandes sucessos àás 19h na TV Tupi – Antônio Maria e Nino, o Italianinho, escritas com Geraldo Vietri entre 1968 e 1970 – e na própria Globo – O Primeiro Amor (1972), infelizmente marcada pela morte do protagonista Sérgio Cardoso a 20 capítulos do final.

O título Cavalo de Aço aludia à estilosa motocicleta que o protagonista Rodrigo (Tarcísio Meira) utilizava para se locomover pela região da pequena Vila da Prata, cidade do interior do Paraná na qual ele se instala a fim de descobrir a verdade sobre a morte do seu pai. Rodrigo se envolve com duas mulheres: a masculinizada, corajosa e rude Miranda (Glória Menezes), neta do passivo Inácio (Mário Lago); e Joana (Betty Faria), usuária de drogas, filha do todo-poderoso da região, o velho Max (Ziembinski), grande latifundiário.

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Walther Negrão teve muitos problemas na condução da novela, que foi dirigida por Walter Avancini e David Grinberg. Inicialmente a campanha antidrogas que ele tentou desenvolver teve todo o apoio das autoridades – eram tempos de Censura institucionalizada e em plena atividade, lembremos –, mas uma disputa entre ministérios para ver quem sairia como “pai da criança” que era a campanha levou ao veto da abordagem do tema. Antes dos tóxicos, foi a reforma agrária que recebeu o veto do governo e não pôde ser abordada na história. Entre idas e vindas e reformulações durante as quais a novela se concentrava em romance num clima de faroeste, passaram os primeiros três meses.

Até que veio o ultimato do diretor geral do núcleo de novelas, Daniel Filho: ou a novela melhorava seus resultados artísticos e de audiência, ou terminava no capítulo 100, bem antes do previsto, especialmente naquela época de produções que chegavam facilmente a dez meses ou mesmo um ano no ar. Surgiu então a ideia de matar o personagem que concentrava todos os ódios da história, o velho Max, e criar em torno de sua morte o mistério do “quem matou?”, que em geral dá bons resultados. Ziembinski não gostou da solução, segundo o próprio Negrão, porque estava fazendo muito sucesso com o papel, que tinha um quê de Dom Corleone (Marlon Brando) de O Poderoso Chefão, filme de Francis Ford Coppola.

Outros personagens de destaque eram os amigos de Rodrigo, que o auxiliam em sua empreitada: Santo (Carlos Vereza), Professor (José Lewgoy), Sabá (Dary Reis) e Brucutu (Stênio Garcia); Aurélio (Cláudio Cavalcanti), piloto do avião particular de Max, que era usado para transportar drogas; Atílio (José Wilker), homem de confiança do velho criminoso; o caminhoneiro Carlão (Milton Moraes); e Lucas (Edson França), outro mau-caráter. No elenco ainda as presenças de Renata Sorrah, Elizângela, Maria Luiza Castelli, Sônia Oiticica, Mirian Pires, Fábio Sabag, Castro Gonzaga, Suzana Gonçalves, Paulo Gonçalves e Fúlvio Stefanini, entre outros.

Ao final, com os devidos desenlaces, a grande revelação: Max havia sido morto por Lenita (Arlete Salles), a filha bastarda do velho, que foi para Vila da Prata a fim de defender seus direitos, que lhe eram sonegados.

E por que Walther Negrão, talentoso e hábil novelista, nesses 45 anos nunca mais escreveu uma novela das oito na Globo? Não foi apenas em razão dos problemas do processo de Cavalo de Aço. O próprio escritor declarou que não faz nenhuma questão de escrever para a faixa nobre; seja das seis ou das oito, seu salário é o mesmo, mas as pressões em torno do produto, não, além de não carregar consigo qualquer vaidade que leve em consideração a posição de “autor das oito”. Faz todo o sentido.

Por Fábio Costa

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