A clássica Rainha da Sucata terminava há 27 anos

Publicado em 27/10/2017

No dia 27 de outubro de 1990, a Globo reapresentava o último capítulo de Rainha da Sucata, primeira incursão do autor Silvio de Abreu na faixa das 20 horas da emissora. A trama marcou com a rivalidade entre a popular Maria do Carmo (Regina Duarte) e a sofisticada, porém perversa, Laurinha Figueiroa (Gloria Menezes).

Maria do Carmo era uma mulher popular, herdeira do ferro-velho do pai. Acreditando no negócio, ela acabou expandindo seu ramo de atuação, tornando-se uma rica e poderosa empresária, mas sem perder seu jeito expansivo e alegre. Um de seus negócios é a lambateria Sucata, que ela inaugura num imponente prédio da Avenida Paulista. Quando ela reencontra o playboy Edu Figueiroa (Tony Ramos), por quem foi apaixonada na juventude e rejeitada por ele, decide, então, comprar o seu amor.

Edu pertence à família Figueiroa, um tradicional clã da elite paulistana, mas que está falida e vive de aparências. Seu pai, Betinho (Paulo Gracindo), e sua madrasta Laurinha, estão na mais completa pindaíba. Por conta disso, Edu vê na proposta de Maria do Carmo de realizar um sonho de bancar um projeto automobilístico, por meio da Do Carmo Veículos, um de seus mais importantes negócios. Assim, ele aceita se casar com ela, levando-a para morar na mansão dos Figueiroa. Ali, Maria do Carmo viverá às turras com Laurinha, que é completamente obcecada pelo enteado. Além disso, Edu deixa claro que não irá consumar o casamento com Maria do Carmo, já que o enlace foi apenas um negócio, deixando-a desesperada.

Além disso, Maria do Carmo tem outros problemas pela frente. Seu administrador, Renato Maia (Daniel Filho), é um homem inescrupuloso e corrupto, e que planeja um grande golpe para cima dela. Outra pedra no sapato da protagonista é Dona Armênia (Aracy Balabanian), que descobre que seu falecido marido tinha negócios escusos com o pai de Maria do Carmo e se vê com um documento que prova que o prédio na Paulista foi construído num terreno que seria dele. Assim, ela ameaça Maria do Carmo, querendo “botar a prédio na chon”, como ela costumava repetir.

Com Rainha da Sucata, a direção da Globo pretendia apostar numa novela das oito menos dramática e com mais tom de comédia. Assim, Silvio de Abreu, dono de grandes sucessos do horário das sete, propôs uma “novela das oito” com cara de “novela das sete”, com muito humor. No entanto, a proposta inicial não foi tão bem recebida pelo público, e Rainha da Sucata demorou um pouco para entrar nos trilhos. Percebendo o problema, o autor foi hábil ao aumentar a tensão e o drama no núcleo principal, e deixar os núcleos de humor mais bem definidos. Deu certo e Rainha da Sucata tornou-se um grande sucesso.

Outro problema de Rainha da Sucata foi o momento político do país. A trama trazia os chamados “novos ricos” em contraponto à falência das famílias tradicionais. Em entrevista, Silvio de Abreu afirmou que já tinha uns 30 capítulos gravados com personagens negociando em dólar e fazendo aplicações no over, quando aconteceu o famigerado Plano Collor, que mudou o cenário econômico brasileiro. Por conta disso, ele precisou reescrever vários capítulos e já incluiu menções ao novo momento do país. “No outro dia, os jornais publicaram que a Rede Globo já sabia do Plano Collor e não avisou o público, pois até a novela das oito falava no plano. Isso criou uma má vontade espantosa com a novela”, disse o autor.

Superados os problemas, Rainha da Sucata entrou nos trilhos com sua galeria de personagens antológicos. As protagonistas brilharam, com Regina Duarte fazendo uma nova-rica extremamente popular e espalhafatosa, em contraponto à sobriedade de Gloria Menezes, brilhante como Laurinha Figueiroa, considerada uma das melhores vilãs da teledramaturgia brasileira. Ficou famoso o bordão “coisas de Laurinha”, repetido pelo seu marido Betinho, e o final apoteótico da megera, que se jogou do edifício da Paulista para acusar Maria do Carmo de assassinato. Rainha da Sucata também fez rir com Adriana Ross (Claudia Raia), a “bailarina da coxa grossa”, uma moça estabanada que sonhava em estrelar um musical. Ela fazia par romântico com Caio (Antonio Fagundes), um tímido e gago professor. Num momento da história, os dois compunham um triângulo amoroso com Nicinha, personagem que marcou a estreia de Marisa Orth em novelas.

Mas a personagem mais lembrada de Rainha da Sucata, sem dúvidas, é dona Armênia. A estrangeira que tinha uma escola de paraquedismo era uma matriarca dura na queda, sempre mimando “suas filhinhas” Gera (Marcello Novaes), Gino (Jandir Ferrari) e Gerson (Gerson Brenner). Silvio de Abreu afirmou que a personagem, originalmente, seria uma matriarca italiana de nome Giovanna, e Nair Bello deveria vivê-la. No entanto, a atriz pertencia aos quadros do SBT, e Aracy Balabanian foi escalada. O autor, então, resolveu modificar a personagem, fazendo dela uma legítima Armênia, país de origem da família de Aracy. A personagem ficou tão popular que chegou a retornar em outra novela de Silvio de Abreu, Deus nos Acuda.

Rainha da Sucata também sempre será lembrada pela simpática abertura, na qual uma boneca feita de lixo dançava lambada com vários bailarinos, ao som de “Me Chama que eu Vou”, na voz de Sidney Magal. A trama, que tinha uma lambateria como um dos cenários principais, surfou na moda do ritmo, ajudando a consagrar a dança e a música de Magal, Beto Barbosa e outros “lambateiros” da época. A trama também fez grande sucesso no exterior, sendo vendida para Angola, Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Espanha, Costa Rica, Estados Unidos, Guatemala, México, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, entre outros países.

Rainha da Sucata foi escrita por Sílvio de Abreu, com colaboração de Alcides Nogueira e José Antônio de Souza. Contou com a direção de Fábio Sabag, Mário Márcio Bandarra e Jodele Larcher, com direção-geral e núcleo de Jorge Fernando. Teve 179 capítulos.

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Relembre a abertura de Rainha da Sucata:

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