Vivendo personagem inspirada na Madonna em Verão 90, Danni Carlos comenta: “Eu fiz ela bem alegre”

Publicado em 22/04/2019

A estrela internacional La Donna chegou para movimentar a novela Verão 90, da Globo. Interpretada por Danni Carlos, a cantora irá despertar o interesse de Ticiano (Ícaro Silva), que no momento está encantando por Dandara (Dandara Mariana).

Entrevista ao Observatório da Televisão, Danni conta que a oportunidade de participar da trama surgiu com um convite do diretor artístico Jorge Fernando. Ela também revela como se inspirou na icônica Madonna para compor sua personagem. “Eu fiz ela bem alegre, leve, na juventude, tudo está borbulhando e bom”, detalha.

Também cantora na vida real, a atriz fala durante a conversa sobre projetos de sua carreira musical e novos singles. Com um espírito aventureiro dentro de si, Danni também relembra o período em que viveu num convento na cidade de Assis, na Itália, durante uma viagem aos 19 anos. “Foi uma experiência forte espiritual”.

Confira a entrevista a seguir:

Como você está com essa participação especial em Verão 90?

Eu estou muito feliz porque foi um convite do Jorginho, e eu adoro, amo o Jorginho. Quando eu penso no Jorginho, abro um sorriso instantaneamente. Ele é pura energia! Já tinha trabalhado com ele antes no especial de Natal aqui na Globo muito anos atrás. E ele lembrou de mim para fazer um personagem em que a referência é a Madonna. Um ícone, uma rainha eterna. Eu tenho o meu primeiro disco dela de vinil, ‘Like a Prayer’. Eu ouço vinil até hoje. Então, assim, está sendo maravilhoso. Estou muito contente e feliz”.

O que a La Donna vai aprontar na trama?

Ela chega no Brasil e se encanta pela comida, pelas pessoas, pela simpatia do povo e pelo Ticiano, um pedaço de mau caminho. Ela fica bem encantada, e eles têm um encontro musical e também amoroso, um affair”.

Você usou outras cantoras como referências para compor a La Donna?

Não. Eu fui nela mesmo (Madonna), não tinha como. E um pouquinho de mim. Acho que rir de si mesmo, lógico que não levei a seríssimo. Para mim a Madonna inalcançável e eu sou muito fã. Então é não se levar a sério, fazer uma homenagem. E não era uma cabeça muito cabeça, era ela mais jovem. Então eu fiz ela bem alegre, leve, na juventude, tudo está borbulhando e bom. Não fiz ela mais cabeça e ativista, fiz ela leve, jovem e naquela época criativa de dançar. O diferente é que a gente dançou com bailarinos, eu nunca tinha feito isso porque sou roqueira. A gente (roqueiros) não tem bailarinos (risos)”.

Como será o figurino dessa estrela?

Vai ter surpresa. Tem um figurino que é clássico dela. Vai ter dois shows e, provavelmente, a gente volta no final. O Jorginho comentou que a gente volta no final da novela para fazer o show finalzão”.

Como é trazer o lado sensual da Madonna para a sua personagem?

Eu tive que trazer o que tinha dentro de mim. A gente não pode criar o que não existe dentro da gente, eu acredito nisso. Eu acho que a gente só pode liberar o conteúdo que existe dentro da gente. Tentei buscar uma sensualidade que já tenho um pouquinho dentro de mim, mas sem querer chegar perto porque não tem como. Ela (Madonna) é acima do bem e do mal, então a gente faz uma homenagem”.

A La Donna vai virar amiga da sensitiva Madá (Fabiana Karla). A Dani acredita em tarô, visões, entre outras coisas?

Eu jogo tarô desde os meus 13 anos de idade. E o que eu achei mais louco é que quando a Madá foi colocar, era o baralho que eu jogo. Eu tenho uns 25 baralhos, mas o que está em atividade é o baralho que a Madá jogou para mim na primeira cena, e eu fiquei: ‘meu Deus… é a sincronicidade das coisas’. Também estudei astrologia dois anos. Eu tenho um lado muito místico, esotérico”.

Como é chegar para participar de uma novela onde a produção já está a todo vapor?

Claro que a gente ficar nervoso, é normal. Mas, assim, não tem problema pegar o trem andando. A gente sai correndo, pula para dentro dele e entra, se diverte. Para mim está sendo muito divertido. Conheci e trabalhei com pessoas maravilhosas, tanto na equipe como os atores. A energia é ótima, o astral da novela é uma delícia. E aprender, aprender sempre. Porque estamos sempre aprendendo na vida, e cada experienciazinha que acontece, que você tem a oportunidade, até desprevenidamente, é um aprendizado. Eu gosto muito de aprender tudo, fazer tudo. Não me importo se não comecei lá no início. Ela (La Donna) chega no meio (da trama), mas com explosão”.

A lambada é um ritmo forte dentro do universo de Verão 90. Você gosta desse ritmo?

Eu ia na Ilha dos Pescadores dançar lambada. Eu dançava. A La Donna não fez feito não. Ela é gringa, mas nem tanto (riso). Teve a época da lambada, e eu dancei lambada. A gente se azarava na lambada, formava casais, era importante para a gente nessa época”.

 A novela resgata um clima de nostalgia dos anos 90. O que você mais se lembra e tem saudades dessa década?

Eu gostava muito de um rock mais underground, mais punk do Nirvana. Gosto também, lógico, das cantoras todas: Cyndi Lauper, Sinead O’Connor, Madonna. Eu acho que o rock brasileiro teve um momento muito forte nos anos 90 também, onde se produziu muita música e muita banda: Kid Abelha, Ultraje à Rigor, Biquíni Cavadão. Acho que foi uma época muito frutífera musicalmente, artisticamente. Também as roupas, as cores. Tinha muitas cores fluorescentes, saia balonê – acho que 80, mas pega os 90 também. Eu curti muito os anos 90, e a gente não estava completamente vigiado. Não que eu não ache ruim as mídias sociais – óbvio, faz parte da vida -, mas a gente tinha uma vida diferente. A gente não era tão vigiado, era menos julgamento. Agora, você piscou e está na mídia social. Então era uma época que tinha uma maior liberdade também e um contato mais pessoal com as pessoas, do que esse contato amigo de internet”.

Você acha que antes as pessoas tinham uma relação afetiva mais presente?

“As pessoas saíam mais, conversavam mais. Hoje elas não saem, ficam com preguiça. Veem Netflix e conversam pelo WhatsApp. Antes a gente saia, ia para o bar conversar sobre a vida mesmo. Eu acho que, principalmente, essa questão que revolucionou o mundo que estamos vivendo hoje. De chegar em casa e esperar aquela luzinha piscando da máquina, secretária eletrônica. Piscava só duas vezes e a gente ficava arrasada. Era o nosso like da época, era quantas piscadinhas vermelhas davam na secretária. Era uma época em que éramos mais corajosos. Se a gente pensar nas loucuras que fazíamos nos anos 90, e ninguém sabia onde a gente estava. Hoje somos apavorados. Ficar sem GPS, a gente já congela. A gente não lembra o quanto éramos corajosos. A gente rodava tudo e ninguém sabia onde estávamos, nem mãe e nem amigo. E a gente marcava e tinha que estar lá. Hoje a gente marca e não vai”.

Retorno à TV

As pessoas cobravam a sua volta à TV?

Os fãs sim, os meus amigos não. Eu também me cobrava porque me formei em teatro, foi a carreira que eu escolhi. Eu não sabia que ia ser música, eu achei que ia ser atriz. Eu comecei a pensar em música porque os meus amigos me convenceram. Eu tocava em acampamento, ia para Ilha Grande acampar. Eles falavam que eu tinha uma voz afinada, pediam para cantar Legião (Urbana), e eu cantava. A música acabou me afastando desse lado (atriz), e eu estava com muita saudade. E o universo correspondeu porque foi uma ligação que eu recebi, não esperava. O universo correspondeu a uma saudade que eu estava sentindo dessa profissão, desse ambiente que é. E também, eu acho que essa profissão é muito boa porque damos um tempo da gente. Porque é muita convivência com a gente mesmo. Então a gente dá uma relaxada, vive outros dramas, outros problemas, se apaixona. Eu acho uma delícia”.

Como está sendo contracenar com uma nova geração de atores?

É fantástico. Eu acho que a gente não tem a idade que temos. A gente tem todas as idades que já fizemos. A gente carrega todas as idades junto com a gente. Quando tomamos um sorvete temos 12 anos. Cada situação da nossa vida vai fazendo a gente viver uma idade. Então conhecer a nova geração me faz ficar na minha própria nova geração, dentro de mim, porque esse arquivo existe. Aí você aciona o arquivo, é muito bacana”.

Carreira musical de Danni Carlos

Como está sua carreira musical?

Eu estou com dois shows. O ‘Dani Carlos Rock Tour’, que é de rock and roll e continuo até hoje com as versões. Acabei de lançar um show de jazz, fiz o ‘Blue Note’ no Rio, Teatro Rival. Vou fazer no Tetto Lounge, lá em São Paulo. E depois Blue Note com a banda toda. Também estou indo para essa área do jazz que eu adoro, que na verdade um resgate da minha infância com os discos de jazz do meu pai. Paralelo a isso, eu estou produzindo um disco chamado ‘Danni-C’. Vai ser meu próximo disco, totalmente autoral e produzido por mim. Tem uma pegada mais eletrônica, onde eu toco alguns instrumentos e canto. Já lancei dois singles, o ‘Witch’ e o ‘Bateu’, mas está bem discreto. Eu vou lançando os singles e quando chegar nos sete singles, eu lanço o ‘Danni-C’. Para fazer a La Donna, eu apertei um pouquinho a voz, não cantei como Danni Carlos. Eu dei uma apertadinha na voz porque ela tinha uma voz mais aperta, um pite mais apertadinho. E eu tenho uma voz mais aveludada, mais grave um pouquinho. Então quem for ver a personagem não vai ver a Danni Carlos cantando, vai ver a interpretação da Danni Carlos numa referência a Madonna. Que é uma voz diferente, nem eu conhecia essa voz”.

Você gosta de passear por diversos estilos musicais ou tem algum gênero que se identifica mais?

Eu tenho feito até o show de rock um pouquinho mais pop. O meu novo show é um pouquinho mais pop sim. Mas o rock and roll tem uma coisa de você ligar uma moto e acelerar, e o vento vem na cara. Essa sensação de aceleração, de uma coisa selvagem, só o rock dá. Eu estou indo mais para o pop por uma questão do feminino. O pop trabalha mais a sensualidade. É importante também a gente trabalhar isso. O rock é mais andrógeno e o pop é mais feminino. Com a idade a gente também quer viver outras coisas”.

Na sua música também tem uma referência do estilo folk?

Eu tenho uma coleção de discos onde o rock and roll vai mais para o folk. A música nova vai mais para o pop rock. O disco ‘Livre’ já pega um rock. Está tudo no Spotify. Inclusive o último lançamento, que vai ser do ‘Danni-C’, que é a música chamada ‘Witch’ que eu lancei no Dia das Bruxas. Eu toco todos os instrumentos e ela é eletrônica, mais para o pop eletrônico também. Eu gosto de pesquisar e tenho tédio facilmente também. A gente tem sempre que estar se reinventando para a vida continuar divertida, para a gente não ficar preso num quadradinho por muito tempo. Se faz a pesquisa e depois a gente parte para outra”.

Você está numa fase “dane-se”?

Estou! (risos). O nome (do álbum) é ‘Danni-C’, é uma brincadeira. O ‘Danni-C’ é porque eu não estou mais respeitando regras. Antigamente a gente fazia discos, e disco era todo um processo. Tinha antes o lado A e o lado B, eu não peguei porque sou mais jovem. As pessoas pensavam quase oito meses sobre o lado A e o lado B, qual vai seria a segunda faixa. E quando você fazia um disco, a ordem era muito importante. O disco todo tinha que ter uma cara. A gente vive agora a era da playlist. É liberdade! Você faz a sua playlist de acordo com o que você está sentindo. Não é mais alguém que impõe uma ordem musical para você porque são os seus sentimentos que irão ditar essa ordem. Então o meu ‘Danni-C’ é em relação a isso. Se eu estiver a fim de fazer uma música eletrônica e outra romanticazona, eu vou fazer porque é a playlist de como eu estou me sentindo. E eu não estou a fim de ficar me justificando”.

Danni Carlos pelo mundo

Você é uma pessoa que gosta de viajar?

Eu já fiz isso muito na minha vida. Com 19 anos, eu fui ser artista de rua pelo mundo. Eu comecei por Londres e fui parar na Grécia. Eu fui sozinha e tocava nas ruas por comida, por estadia. Não para ficar rica, óbvio, mas para sobreviver esse momento. Foi a minha primeira experiência e foi aí que eu decidi que queria ser música. Por quê? Porque eu passei tanta necessidade e era feliz. Eu tocava nas praças, nos navios, nas estações de trem. Essa é uma outra história da minha vida, eu também um dia irei contar. Eu viajei bastante, sempre viajei”.

Teve algum acontecimento que te marcou durante esse período?

Assis, na Itália, onde eu fiquei num convento. Eu também amo São Francisco (de Assis, o santo), e fui convidada pelas irmãs a morar com elas. Eu fiquei lá um mês com elas, vivendo de uma forma franciscana e marcou muito. Acordando muito cedo, comunidade, a gente dividia tudo. Aprendi muitos valores”.

Você tocava rock escondido dentro do convento?

Elas (as freiras) nunca dormiram tão tarde na vida delas, e bebiam sempre mais uma taça de vinho. E quando eu fui embora, elas falaram: ‘agora a gente vai voltar a dormir no nosso horário normal’ (riso).

Como você foi parar nesse lugar?

Eu sair do Brasil já com a intenção de algum momento dessa viagem parar em Assis, pela ligação com os animais que eu tenho muito forte e, portanto, a ligação com o padroeiro dos animais. Minha relação muito com a natureza, e essa forma de São Francisco chamar o vento de irmão e que todo mundo é irmão. Eu tenho uma ligação com ele e essas coisas a gente não explica. Então isso já estava marcado na minha cabeça. Mas para você ficar num mosteiro, você tinha que escrever uma carta e ser aprovada. Quando eu vi, eu já estava na Europa e não escrevi carta nenhuma. Então eu tive uma experiência mística em São Damiano, que foi a igreja onde São Francisco se converteu, onde eu chorei 30 encarnações de lágrimas não sei como. Foi uma experiência forte espiritual. Elas (as freiras) perceberam que eu estava tendo uma situação mística e, espontaneamente, me convidaram para ficar com elas. Elas me chamavam de ‘Clarinha’, Santa Clara, porque eu tinha loiro e comprido na cintura. Eu estava em um hotel e elas falaram: ‘você vai pegar as suas coisas agora e você vai com a gente’. E eu fui na hora. Claro que essa história tem detalhes, vários e loucos não vou contar agora”.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

Assuntos relacionados:

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade