Tony Ramos elogia Novo Mundo: “É uma grande responsabilidade substituir”

Publicado em 01/08/2017

Após dar vida a Abel Zebu na série Vade Retro, Tony Ramos será visto na telinha em breve na pele do rico, José Augusto, na próxima novela das 18h, Tempo de Amar. Em entrevista coletiva realizada no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, o ator contou detalhes sobre a novela e sua percepção sobre as obras atuais:

Leia também: Da mesma ‘escola’ de Regina Duarte, Fafá de Belém chega para somar em A Força do Querer

Como você define Tempo de Amar?

O folhetim é um grande conflito em que as pessoas torcem no dia seguinte para aquilo o que vem. Temos aqui folhetim, comédia e reflexão sobre o amor. Eu acho que tem uma frase que diz muito que é: “Ah se ela adivinhasse, se ela pudesse ouvir o meu olhar”. Estou recorrendo a poesias, não que tenham a ver com meu personagem, mas tem a ver com Tempo de Amar.

Como é o seu personagem?

Meu personagem se chama José Augusto, e é um rico proprietário de vinícolas, que possui oliveiras e outras plantações, e tem negócios internacionais. Possui uma filha única, e com o falecimento da esposa, ele cria essa filha sozinha com a ajuda de Delfina (Letícia Sabatella), e vai vivendo sua vida até o dia que sua filha resolve dizer que está apaixonada, por alguém que ele não concorda. As pessoas hoje podem pensar “Que coisa mais antiga”, mas vamos abrir o portal do início do século 20, e mergulhar nele. Vamos esquecer nossos raciocínios modernos para entender a visão deste personagem. Eu jamais faria isso na minha vida, mas cada novela conta uma história de seu tempo.

Você leu algum livro para a construção do seu personagem?

Eu não li nada, apenas me atenho ao texto que me chega e nas entrelinhas desse texto. Na minha última novela de aventura, que foi A Regra do Jogo eu não fui em nenhum presídio visitar ninguém, eu fazia o que estava escrito. Sou muito atento ao que vem escrito, às rubricas do autor que vêm escritas do lado esquerdo do texto e às entrelinhas. As vírgulas muitas vezes falam mais que abertura e encerramento de uma frase.

Você acredita que uma história de amor como essa pode fazer as pessoas se esquecerem um pouco dos problemas que estamos vivendo na política e economia?

Durante a primeira e a segunda guerra mundiais, a Broadway era um grande sucesso, não que ela hoje não seja, mas as pessoas buscavam um respiro em plena época de guerra, as pessoas precisavam disso. Refletir sobre o amor é algo que acontece em todas as épocas. As pessoas buscam amor há milênios não importando o que está acontecendo à sua volta, não que fiquem absortas ignorando o mundo. De alguma forma as pessoas estão sempre a discutir seus problemas, mas o amor tem que permear isso. Muita gente brinca comigo porque não tenho redes sociais, mas eu quero tempo, para amar, para brincar com os cachorros, para conversar. Discutir o amor é um balsamo e o público clama por isso, por fantasia.

O jeito de fazer novela está mudando. Você acha que uma história açucarada ainda tem espaço?

Desses 53 anos que estou ininterruptamente na televisão, me lembro da minha saudosa TV Tupi onde fiz TV ao vivo, e teleteatros, e desde aquela época contávamos histórias onde havia a ingenuidade do amor impossível, como o romance da empregada apaixonada pelo patrão, ou do motorista apaixonado pela milionária. Passamos pela ditadura miliar, e em 70 as pessoas diziam que as novelas românticas estavam com os dias contados. Quando a censura diminuiu no fim da década de 80, diziam que as novelas estavam fortes demais. Tudo o que instiga e causa discussão acalorada também existirá sempre. O que muda hoje é o tempo de contemplação porque vem tudo mastigado e bem editado, como num videoclipe. Mudou-se o jeito de fazer televisão, mas vamos pegar como exemplo A Força do Querer, que está batendo 40 pontos, mesmo em dose homeopática existe espaço para histórias bem contadas. Eu não abro mão de 3 pontos principais em uma história: amor, paixão e suspense. Assisto várias séries, como Breaking Bad, e é teledramaturgia assim como novela. Eu adoro fazer telenovela e nunca tive um olhar blasé para a telenovela porque ela é a maior identidade cultural brasileira. Uma história bem contada vai ter sempre espaço, o que muda é o local onde você assiste.

Você enxerga a renovação dos atores, como prejudicial para os atores mais experientes?

A renovação não é renovar porque esqueceram dos outros, porque deixaram os outros de lado. As novelas ainda vão precisar do titio, do vovô, do bisavô. O fato de eu ainda ter contrato fixo é que enquanto a Globo quiser, eu vou ficando. A minha vida é o meu trabalho. O importante do ser humano é saber entender suas idades, seus momentos. Como não tive crise aos 30, 40, 50, aos 60 nem pensar, então a vida segue. Com a idade, se você consegue trabalhar, já é uma benção. O jovem que chega é muito bem-vindo e o tempo é quem vai dizer se ele vai ficar ou não. Nós por acaso temos aqui uma dupla de jovens atores, realmente muito boa. Ela faz a minha filha e parece que ela já está atuando há 10 anos. A pessoa pode não ter experiência, vivência, mas todo talento é bem-vindo. Os mais antigos também estarão trabalhando e posso lhe garantir isso.

Essa novela vai ter a responsabilidade de substituir Novo Mundo…

Novo Mundo é um grande sucesso, uma novela adorável e com interpretações deliciosas. Caio Castro fazendo um Dom Pedro maravilhoso, Ingrid Guimarães, Guilherme Piva e Vivianne Pasmanter fazendo aquela parte cômica, Letícia Colin que faz um trabalho lindo. Não dá pra falar de todo mundo aqui, mas é um elenco inteiro afiadíssimo e com uma direção brilhante. Óbvio que temos uma responsabilidade grande nas mãos mas acreditamos na nossa história. Alguém me perguntou se era uma novela contemplativa ou não. Nós todos somos contemplativos. Num capítulo da novela das 18h, que tem 40 minutos de duração, é possível contemplar por 1 minuto e meio se colocado no lugar certo e na hora certa.

Como o senhor ainda tem tempo para assistir às novelas?

Eu assisto tudo, e tenho 4 HDs em casa. Então eu gravo o que não posso ver. Outro dia eu estava trabalhando e não pude ver A Arte do Encontro, que é um programa que estou gravando e que está no segundo ano que eu apresento. Eu gravei, e vi depois. Eu acompanho, quero saber, vejo tudo. Essa série Sob Pressão me encantou. Sou um homem antenado com meu tempo, com meu trabalho. Vou ao cinema, saio com minha mulher, namoro, beijo meus netos, beijo o cachorro, vida normal. O ator tem que saber o que rola, tem que estar atento a isso.

Você acha que a Globo está numa boa maré de novelas? Porque houve um tempo em que as novelas estavam perdendo força.

Há um grande acerto do Silvio de Abreu que é um observador, um homem que tem um olhar sobre a telenovela, um olhar realmente critico quando tem que ser, e iluminado. Ele tem esse dom. Começa por aí, por um acerto de homem que sabe colocar bons produtos no ar. E os autores estão sendo estimulados, nós por exemplo começamos a gravar com 40 capítulos nas mãos. Isso também é uma medida acertada. Você tem tempo de mexer, observar, olhar. Sempre tem alguém dizendo que a telenovela acabou e sempre terá alguém para desmentir. Se a história for boa, ela vai se impor.

Tony, tem espaço para política dentro dessa novela?

Você está falando de política atual certo? Quando você mostra a ganância do ser humano, o ódio do ser humano, você está falando de política atual. Basta ter bons olhos, então nunca subestime o público. O público quando vê ficção, ele diz “caramba, parece aquele caso lá”. Não se iluda, quando a história se preocupa em ser política, ela fica didática e chata. Quando ela narra dores e dramas, em algum momento você vai identificar.

*Entrevista realizada pela jornalista Núcia Ferreira

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade