Susana Vieira fala sobre ser considerada uma das melhores atrizes de sua geração “Fiz por merecer”

Publicado em 12/04/2017

A partir do dia 17 de abril o público verá Susana Vieira novamente na tela da Globo. A veterana atriz interpretará Cora na supersérie Os Dias Eram Assim, uma mulher falida e inescrupulosa que acaba adquirindo dívidas de jogo e fica nas mãos do agente Marcos, vivido pelo ator Julio Machado. Em entrevista ao Observatório da Televisão na festa de lançamento da supersérie, Susana conta sobre a personagem, relembra o passado, e fala dos momentos como atriz:

O que a gente pode esperar de você nesse trabalho?

Pode esperar uma maravilha porque eu me supero como atriz (risos). A Cora é aquele tipo de mulher chique que fala absurdos mas na frente dos outros ela tem um comportamento mais social. Ela foi rica, e mesmo sem dinheiro ela consegue apostar em corridas de cavalo. O texto é muito bom e ajuda o personagem, mas a sorte é que dou um produto muito bom com meus personagem. Eu estava fazendo teatro mas adoro fazer televisão.

Como é fazer uma série?

Eu brinco que é cinema novo. É tudo muito diferente, as câmeras, os trilhos, a luz. A gente entra no estúdio e parece que está muito escuro mas ao ver na tela é tudo colorido, lindo.

Na época em que você começou existia muito preconceito?

Na minha época havia preconceito a respeito de trabalhar na televisão porque era considerado um ambiente imoral, havia o preconceito dos nossos pais porque meu pai por exemplo teria um infarto se soubesse que eu iria trabalhar na televisão. Eu era bailarina no teatro municipal, e numa viagem dele a minha mãe me deu todo o estímulo para começar. O medo do meu pai era que eu namorasse alguém da televisão e lógico que cheguei lá e o Hamilton Fernandez que era um galã se apaixonou por mim e eu por ele.

O público também tinha preconceito?

O preconceito era da classe média porque a classe menos favorecida sempre gostou da gente que era da televisão. Se tinha preconceito ficou lá pra trás e não fomos afetados. Não tenho nada de ruim pra contar.

A supersérie se inicia na década de 70. O que você se lembra dessa época?

Lembro do início da Bossa Nova e que eu frequentava a casa do Vinicius de Morais e do Tom Jobim. Foi tudo muito rico na nossa carreira, por isso tenho lembranças de 60 e 70 somente em matéria de profissão. Estávamos mais ligados à profissão do que a esses movimentos políticos. Claro que cada um deveria achar o que era bom ou não para o país mas não nos afetava tanto. Vencemos qualquer tipo de preconceito ou politicagem.

Susana, você é considerada uma das melhores atrizes de sua geração. Esses rótulos te incomodam?

Claro que não me incomodam (risos). Se eu fosse a pior atriz eu não teria nem chegado aqui. Acho que a melhor atriz da minha geração se chamava Marília Pera mas se estou nesse grupo eu fiz por merecer: Eu trabalhei sem parar, eu fiz teatro, eu fiz comercial, eu fiz patins no gelo com 60 anos de idade no Faustão, então aceito coisas que nem imagino. Miguel (Falabella) me chamou pra fazer um monólogo e eu aceitei sem achar que ia dar certo, mas fez sucesso. Se sou considerada uma das melhores eu fiz por onde, nada veio de graça, aliás minha vida foi muito fácil nesse sentido. Não tem aqueles depoimentos em que as pessoas falam “foi tudo muito difícil”? Mentira! Foi fácil, sucesso de cara, felicidade e até hoje é assim. Não passei fome, não tive que comprar casa pra minha mãe e não tenho loja de nada, não tenho produto nenhum. Meu produto é meu talento!

Você sente saudade daquela geração de 70?

70 era a época do morro da Gal, do Caetano começando, Leila Diniz barriguda na praia com a gente. Não existia essa historinha de tomar sol só até as 10 da manhã, a gente ficava até as 5. Ninguém tinha câncer de pele ou se preocupava em não comer glúten, porque isso é tão americanizado. Nós éramos um povo livre.

Como foi a composição da personagem?

Eu ainda não estou perfeita. Precisei da ajuda dos diretores porque foi assustador viver essa mulher meio vilã por ser outra época. Se fosse nos dias de hoje seria uma mulher no estilo da Branca Letícia (Por Amor), mas por ser de época eu não podia gesticular e nem falar alto. Pensei “chama outra atriz” (risos).

Na história sua personagem gosta de jogar e adquire uma dívida, e daí nasce um romance com o personagem Marcos (Julio Machado) que é quem cobra a dívida?

Na verdade ela o seduz para que ele não cobre a dívida. Eu estou no quarto com ele e tiro a roupa, ele fica pelado e eu vou pra cima. Ele vai fazer o quê? Dizer “Não senhora, pague minha dívida?” Claro que não, faz outra.

O Julio Machado, que foi quem fez essa cena contigo disse que ficou sem graça ao fazê-la.

Tirar a roupa em novela pra um homem é muito mais difícil. Eu não sei qual o problema do homem de tirar a roupa no estúdio, porque eles ficam muito mais sem graça que as mulheres. Existe uma vergonha de mostrar os órgãos, eu acho. Ele (Julio Machado) nunca fez uma cena assim, mas se ficou constrangido não pareceu. 

Você é considerada extremamente carismática. A quê você atribui isso?

Existem pessoas que foram sorteadas e as que não foram sorteadas. E eu fui por ter esse temperamento de nascença. É muito melhor falar com todo mundo, falar tudo o que pensa, e fazer tudo o que quer assim como eu.

André RomanoEntrevista realizada pelo jornalista André Romano

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