Suely Franco sobre a desvalorização da arte no Brasil: “vamos ter que lutar muito porque a coisa está feia”

Publicado em 14/05/2019

Suely Franco será Marlene, uma professora aposentada, e principal amiga de Maria da Paz (Juliana Paes) em A Dona do Pedaço, nova novela das 21h. Na trama, a personagem lidará com a paixão recolhida pelo vizinho e amigo Antero (Ary Fontoura), e com seus novos e bagunceiros vizinho, a família de Eusébio (Marco Nanini)

Aos 79 anos de idade, a veterana conversou com o Observatório da Televisão durante a festa de lançamento da trama, e contou sua expectativa para a personagem. Ela ressaltou ainda a parceria com o autor Walcyr Carrasco, e como os autores atualmente escrevem com olhar atento à terceira idade. Confira:

Como é para você estar em A Dona do Pedaço?

É uma alegria enorme trabalhar em uma novela do Walcyr Carrasco, porque só tenho grandes satisfações em novelas que já fiz com ele, tanto que O Cravo e a Rosa está novamente reprisando.

Como é a sua personagem?

Marlene é uma professora aposentada, e o primo dela que mora longe e é padre pede que ela ajude uma pessoa (Maria da Paz – Juliana Paes). Ela ajuda a moça a conhecer os lugares em São Paulo, e nosso núcleo além disso é muito engraçado. Rosi Campos, Tonico Pereira, Marco Nanini, Betty Faria, todos loucos varridos. Eles invadem a casa ao lado da casa da minha personagem, e acabam tomando conta de tudo. Fico horrorizada (risos).

Você sempre foi essa mulher que ajudou o outro tal qual sua personagem?

Eu procuro fazer isso. Estou muito alegre, e costumo fazer de um limão, uma limonada sempre.

Oportunidades de trabalho

A Marlene inicia na primeira fase da trama, e depois continua?

Sim. Depois que a filha da Maria, a Josiane cresce e fica com 20 anos, nós ainda estamos lá juntos. 

Como é para você participar de uma trama dessa? É muito difícil conseguir trabalhos na melhor idade?

Eu tenho vários colegas produtores que nunca pararam de trabalhar e estão sem conseguir fazer nada atualmente. A nossa profissão está assim, vamos ter que lutar muito porque a coisa está feia. É muito triste a gente ver isso, começar a luta, conseguir fazer as coisas e de repente ser apagado.

Chega numa certa idade que o ator tem dificuldade conseguir trabalhos?

Acontece. Se bem que agora os autores têm escrito muito para pessoas mais velhas, porque em toda família tem pessoas mais velhas. Está ficando uma coisa mais de vivência.

Antes da trama você já estava contratada pela Globo?

Não. Eu não sou contratada. Sou contratada por obra. Graças a Deus eu nunca parei de trabalhar, pouquíssimas vezes. Sempre emendei uma peça de teatro com a outra. Tive uma benção de Deus porque não é todo mundo que consegue isso mesmo famoso, apesar de que não sou tão famosa assim…

Mas você nunca acreditou na fama, não é?

Acredito só no meu trabalho.

Parece que esse advogado pelo qual a Marlene é apaixonada tem uns segredinhos. Saiu uma nota falando que ele, o personagem do Ary, é um homem trans, e nunca ninguém desconfiou.

Eu vou contar uma coisa para vocês, a gente não sabe de nada. Isso daqui [Telefone celular] para mim é igual a fixo, é só para atender e ligar, de resto não sei mexer. Estou por fora de tudo que é fofoquinha que sai. Na televisão eu vejo umas coisinhas, mas vocês estão me contando uma surpresa.

Empoderamento

O que podemos esperar dessa novela?

O Walcyr tem muita ideia na cabeça e as coisas nunca param. É uma notícia nova em cima da outra, uma coisa maravilhosa para qualquer novela. Um autor que escreve O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta, O Outro Lado do Paraíso, Verdades Secretas, ele vai de um lado para o outro.

A senhora se orgulha por sobreviver do seu trabalho? Porque a gente sabe que é complicado até pagar o plano de saúde…

Sim, o meu custa 5 mil, mas é junto com o do meu filho. E tem mais, no dia que precisei fazer um procedimento porque tive uma queda e fiquei com um calombo na cabeça precisei ir a três hospitais porque estava tudo quebrado. Não quero falar sobre isso.

Você chegou onde você sempre sonhou?

Eu nunca sonhei. Sempre fui vivendo, nunca fiz planos.

A novela trata de mulheres empoderadas. A sua personagem também é assim?

Claro que é. Ela é sozinha, aposentada, ajuda todo mundo, resolve suas situações. Ela chega no hospital numa cena, vão botar ela no chão, ela grita e esperneia tanto que arranjam logo um lugarzinho para ela.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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