Renato Lombardi sobre vitórias contra a Globo: “Não mexe com meu ego”

Publicado em 27/03/2017

Renato Lombardi conversou com nossa reportagem e contou um pouco de sua trajetória profissional.

O comentarista de segurança do Balanço Geral está tirando o sono do pessoal do Vídeo Show.

Confira o papo:

Quem é o Renato Lombardi?

“Renato Lombardi é um jornalista que se especializou na área de segurança e Justiça. Nascido no sul da Itália, em Salerno, Nápoles, chegou ao Brasil com sete anos, entrou aos 14 na redação do extinto jornal Ultima Hora para ser contínuo e saiu repórter. Estudou em colégios do estado, formou-se em jornalismo na Escola de Comunicações e Artes – ECA, da Universidade de São Paulo, foi repórter especial da sucursal de O Globo, em São Paulo, do jornal O Estado de S.Paulo, o Estadão, trabalhou na rádio Bandeirantes e TV Bandeirantes, passou pela TV Cultura até chegar à Record TV. Gosta de música, também clássica, e de literatura. Posso me considerar um sonhador em querer que um dia o Brasil seja tão culto quanto os ingleses, educado quanto os japoneses, porque inteligentes nós brasileiros (sou naturalizado brasileiro) somos.”

Qual o balanço que o senhor faz de sua carreira até aqui?

“Ganhei um dos prêmios mais cobiçado pelos jornalistas brasileiros, o Prêmio Esso, com uma reportagem sobre corrupção no antigo Inamps, hoje INSS, pelo Jornal O Estado de S.Paulo. Ganhei o Primeiro Prêmio Jornal Estado de S. Paulo com uma entrevista com o juiz Nicolau dos Santos Neto condenado por ter desviado muitos milhões de reais na construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. Ele era foragido da Justiça, procurado pela polícia em todo o país, e fui o único jornalista a entrevistá-lo. Posso me considerar privilegiado por ter tido sucesso nas coisas que sempre me propus a fazer no jornalismo escrito, falado e televisado. Hoje além de comentar casos de segurança e Justiça, participo de um quadro de entretenimento, que chamam de fofoca, o que me deixa feliz pelo retorno que temos entre os telespectadores, do mais experiente ao mais jovem, chegando também às crianças.”

Você se arrepende de algo que não fez na vida?

“Não me arrependo porque ainda posso fazer o que gostaria muito: tocar piano como os noturnos de Chopin. Meu caminho não foi fácil, mas tudo que é mais difícil é excelente. Um dia um professor da ECA me disse que eu era um privilegiado porque tinha boa memória e era muito observador. Eu prestava muito a atenção nas aulas, o que me salvava nas provas, porque faltava muito. Eu trabalhava em O Globo e viajava muito.”

Você se orgulha de sua biografia?

“Muito. Meu pai era pintor de paredes. Minha mãe operária do Matarazzo. Viemos da Itália e fomos morar em Vila Maria, zona norte de São Paulo, numa casa sem água encanada, luz e saneamento básico. Saímos de uma pequena cidade no sul da Itália devastada pela Segunda Guerra Mundial. A viagem de navio durou quase um mês. Não tínhamos noção do que encontraríamos. Um amigo do meu pai falara de São Paulo, de uma cidade que crescia e precisava de mão de obra.”

O senhor trabalhou em redação de jornal. É tudo muito corrido. Se não está bom, tem que refazer. Isso o ajudou para ser quem você é hoje?

“Me ajudou. Sempre. Quando comecei no rádio tinha facilidade em falar porque a apuração para quem escreve, todos os dias, é mais detalhada, tem que ter novidades, porque vai ser publicada somente no dia seguinte, depois do rádio e da TV. Notícias exclusivas. Quando fui para a TV também não tive dificuldades porque nunca li telepromter, foi sempre no improviso. E ao vivo é melhor do que qualquer gravação. No Estadão eu escrevia em média três matérias por dia e ainda tocava matéria especial do final de semana. O trabalho sempre foi intenso. No começo, as matérias eram reescritas muitas vezes pelos subeditores. No dia seguinte ao ler, observava as modificações, e cuidava para não repetir os erros. E com o tempo escrevia uma página de jornal em menos de uma hora. Exatamente em cima do horário para o fechamento. Jornalista tem que ter a humildade de dizer que não sabe, que quer aprender, tem que ler o que escreve e reescrever.”

Você é comentarista de segurança pública do ‘Balanço Geral’. Qual foi a notícia que mais tocou você até hoje?

“Nestes anos de ‘Balanço’ tivemos muitas notícias que me deixaram triste. Como a recente chacina na qual um homem para se vingar da mulher que o deixara decidiu eliminá-la, matou também o filho de dez anos, outras dez pessoas da família dela e se matou. Mas durante toda a minha carreira sempre fiz um trabalho para que eu não perdesse a sensibilidade, não me ‘embrutecesse’, não achasse que a violência – seja ela da polícia, dos criminosos-, é uma coisa natural. Mas os casos como o da chacina me deixam triste e, claro, fico pensando quando chego em casa. Mas procuro aliviar a tensão pensando que no dia seguinte as coisas mudarão e fatos como aquele não deverão mais se repetir. Nestes anos cobri muita coisa. Houve uma época em São Paulo que ao mesmo tempo havia de cinco a dez pessoas em cativeiro. Um dos sequestrados, um publicitário, me fez chorar ao relatar para mim seus dias no cativeiro. Ele me disse que pensava nos filhos, nos pais, na esposa, contava todos os dias grão por grão do prato de arroz que lhe serviam para que o tempo passasse rapidamente e o libertassem. O sequestro de uma jovem, filha do dono de uma rede de lojas no Estado de São Paulo, que emagreceu 25 quilos no cativeiro, me deixou impressionado por causa da maneira como os criminosos agiam. Os pais, orientados pela polícia não pagavam o resgate, e davam a ela pão e água. Um dos sequestradores era um ex-empregado de uma das lojas. A garota ficou internada mais de um mês.”

Dia desses, eu (repórter) me emocionei muito com a história de um menininho que, após um problema de saúde, ele só queria conhecer o senhor. Como você recebe esse carinho?

“Quando disse que a gente no ‘Balanço’ atinge de gente experiente (mais velhos) a jovens, crianças, dá uma demonstração da responsabilidade que temos ao comunicar-nos com as pessoas em casa, no trabalho, na escola. Quando soube que Jhonatam de seis anos, depois de duas paradas cardíacas e muitos dias em coma, acordara e recusara batata frita e sorvetes e pedira para me ver na TV, fiquei emocionado. Fiquei mais ainda quando a mãe disse para uma vizinha, que entrou em contato comigo, que no aniversário dele o tema seria o Lombi com seu bigode – como passaram a me chamar por causa da ‘Hora da Venenosa’. E ele queria muito me conhecer. Foi em novembro do ano passado que fui procurado. Perguntei quando seria o aniversário: em fevereiro disse a mãe. Em fevereiro, a produção mandou elaborar um banner com a minha foto do meu tamanho e na tarde do aniversário fui à casa dele em São Bernardo. A alegria do menino me deixou quase sem fala. Enfrentei policiais raivosos por causa das matérias que escrevi, ameaças de criminosos, cobri chacinas, rebeliões como a do Carandiru com 111 mortos. Mas ao ver o sorriso daquele pequeno ao saber que era eu que lá estava atrás do banner me fez chorar. Abracei e perguntei do que mais ele gostava. E na sua inocência dos seis anos, ele disse. ‘Gosto de ver quando você joga as coisas no chão’. Comecei a jogar chapéus que a Fabíola teima em querer colocar na minha cabeça. Com o tempo joguei outras coisas, mas sempre aviso a garotada em casa para não fazerem aquilo. E ele disse que não faria.”

Ao lado de Fabíola Reipert e Gottino, você comenta sobre a vida dos famosos. Em muitas reportagens vocês falam de separações e traições dos artistas. Entretanto, você vive um casamento blindado. Qual é o segredo?

“Enfrento uma situação que não comento. Depois de 27 anos de um casamento quase perfeito, um problema com a minha mulher me deixou sem chão. Faz 12 anos que continuo tocando nossa vida, seguindo um caminho que me foi destinado. Ela é jornalista como eu. Brilhante. Mas acontecem coisas em nossa vida que somente Deus explica.”

Como é o assédio nas ruas em relação ao sucesso do programa?

“E sempre tive, graças a Deus, reconhecimento profissional nos meios policiais, na Justiça, no sistema carcerário, entre os advogados. Mas o sucesso do ‘Balanço’ e da ‘Hora da Venenosa’ explodiu de uma maneira que por onde ando sempre sou parado e chamado pelo sobrenome ou Lombi. Os que passam nos carros, os que passam de ônibus me chamam. Supermercados, feiras livres, shoppings, nas ruas, sempre me pedem selfies, conversam, do funcionário ao cliente. Os mais jovens dizem que seus pais assistem e gostam muito. Confesso que para mim foi uma agradável surpresa esse assédio.”

Vencer a Globo mexe com o ego?

“É gratificante, mas não mexe com meu ego. Acredito que quem faz um bom trabalho, com seriedade, como fazemos, alcança bons patamares. Afinal como o Gottino costuma falar, antes as pessoas procuravam a outra emissora. Agora procuram a Record TV e é o que tem acontecido. Passaram a nos ver mais, muito mais. É legal quando você ganha de um concorrente que sempre se acostumou a ganhar.”

Quais são as suas inspirações?

“Quero continuar alcançando mais e mais. Para mim, o reconhecimento do público é incrível. Fomos alcançando pouco a pouco todas as classes. Quero acrescentar cada vez mais, levar alegria “as pessoas, mais informação, fazer com que elas em suas casas se sintam como se estivessem ao nosso lado. Esse é o trabalho do jornalista, do repórter.”

A gente sente que você é um cara bem espiritualizado. Entretanto, o ‘Balanço Geral’ retrata a violência nua e crua em suas reportagens. O que você faz para se neutralizar dessa energia e voltar para casa leve?

“Acredito acima de tudo em Deus. Muitas vezes não dá para separar o jornalista de um assunto como a morte de crianças, de mulheres assassinadas pelos maridos, ex-companheiros, das tragédias. O caso Isabela Nardoni mexeu comigo. Não tenho filhos e fiquei pensando por muito tempo como um homem consegue jogar sua própria filha do prédio e continuar vivendo sem nenhum problema. Pelo que eu sei, ele cumpre a pena como se nada tivesse acontecido. Não volto para casa leve. Não dá!”

O politicamente correto incomoda você?

“Nós vivemos hoje numa situação que às vezes me incomoda. Não pode dizer isso, não dá para fazer um comentário daquilo, porque vai ferir esse ou aquele. Tenho uma fã page criada para mim por uma colega que em um ano já chegou aos 220 mil seguidores. Muitas vezes respondo a perguntas, explico coisas que questionam, tento mostrar que este ou aquele comentário foi para explicar sem ter o objetivo de criticar, de ferir. A maioria entende.”

Em sua opinião, o que considera como o mal desse século?

“A AIDS! No decorrer destes anos, perdi muitos amigos no jornal, no rádio e na TV por causa desse mal. O noticiário amplo alertou muito, mas parece que atualmente a juventude se esqueceu da prevenção e os casos, principalmente no Brasil, estão subindo muito. Ah, tem aqui no Brasil também a corrupção. Este é um mal que nós devemos combater sempre.”

Você se considera um cara abençoado?

“Não posso me queixar. Como disse, sou filho de um pintor de paredes e uma operária. Viemos da Itália – junto com uma irmã -, tem um irmão que nasceu aqui -, e fomos morar numa casa sem energia elétrica, água e saneamento básico. Tínhamos tudo isso de onde viemos. Nada foi fácil. Mas posso me considerar uma pessoa abençoada pela minha saúde, pela minha carreira, pela minha família, pela minha espiritualidade, mesmo com o problema que enfrento. E não me queixo. Foi o que Deus reservou para mim. Me deu a oportunidade de ser uma pessoa abençoada em todos os sentidos.”

Deixe um recado para os nossos leitores…

“As pessoas não devem desistir. Todos nós enfrentamos pequenos e grandes problemas. Mas devemos encará-los. Persistir. Li um texto, do escritor japonês Haruki Murakami, que traduz exatamente como devemos nos comportar. ‘E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido’. Enfim.”

Entrevista realizada pelo jornalista André RomanoAndré Romano

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