Emilio Dantas fala sobre o peso do protagonismo em Segundo Sol: “Se eu pensar nisso, vou acabar pirando”

Publicado em 26/04/2018

Emilio Dantas que saiu recentemente de um papel de destaque em A Força do Querer com o personagem Rubinho, agora irá encarar um papel um tanto inusitado. Ele interpretará Beto Falcão na próxima novela das 21h, Segundo Sol que estreia no próximo dia 14 de maio, um cantor de axé que terá uma reviravolta em sua vida, após ser dado como morto num acidente aéreo vendo sua carreira subir a nível estratosférico.

Em entrevista ao Observatório da Televisão durante um evento promovido pela TV Globo, o ator comentou as mudanças trazidas por um protagonista em sua rotina, as nuances de seu personagem, além do namoro com a atriz Fabíula Nascimento, que também está no elenco da trama. Confira:

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Depois daquele sucesso em ‘A Força do Querer’, o que mudou para você como profissional?

“Falando de trabalho, nada. Porque eu estava trabalhando pra caramba e agora continuo trabalhando bastante. O que mudou é só o universo, mudou bastante coisa. Eu estava mergulhado num universo completamente urbano da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, e agora estou indo para o sul da Bahia, para Salvador, uma outra coisa, outro colorido, uma outra história.”

Você tem tudo a ver com a música e está vindo com um personagem bacana. Nos fale sobre o Beto Falcão…

“O Beto é um cantor de Axé. Ele fez sucesso ali no meio da década de 90, e no finalzinho, ali por volta de 1999, ele já não está mais aquilo tudo, o trio dele já não dava mais tanta gente, ao menos três gatos pingados, o microfone já não funcionava muito bem, seu pai estava devendo dinheiro, o irmão estava ‘malocando’ na grana também. Então, ele começa buscar soluções financeiras para sustentar a família. E aí é nessa que ele vai fazer um show para levantar essa grana, acaba perdendo o voo, o avião cai, ele é dado como morto e a partir daí tem um boom, que a música dele estoura em qualquer lugar e começa a entrar mais dinheiro do que nunca, parafraseando-o ele, ele diz: ‘Pô entendi, estou valendo mais morto do que vivo’. E a coisa vai assim. É isso!”

Ele também participa dessa farsa?

“É, ele participa. A gente quando pensa na nossa família, quando pensa no extremo… É novela gente, não estou falando para vocês fazerem isso em casa não, mas quando ele chega num extremo, ele fala: ‘Por que não?’; porque a proposta é que ele fique um tempo só perdido e que depois revele tudo, mas aí as coisas descambam e não tem para onde ir.”

E o encontro amoroso que você tem com a personagem da Giovanna Antonelli na história?

“Sim. A Luzia é meio que o porto de todos os sonhos do Beto, porque o sonho dele era morar no Boiporã, era viver com uma esposa bacana, com filhos, na beira da praia, curtindo a vida do jeito que todo mundo já sonhou um dia, acredito eu. E aí de repente, com toda essa história da morte, ele vai viver justamente isso. Ele vai para Boiporã, conhece essa mulher que também é ligada a música, uma pessoa humilde, uma pessoa que não tem nem televisão em casa, que não está nem preocupada com o que está acontecendo no mundo, feliz com a vida que tem e isso meio que traz de volta o Beto do passado, o Beto artista, o Beto ser humano.”

E depois que entra a Karola?

“Não, Karola é uma namorada do Beto já de muito tempo. É que com ela já está rolando um ranço, naquela coisa de vai, não vai, termina ou não termina.”

E é aí que ela retorna?

“Isso, ela vai para a ilha e aí retorna na história. Ela retorna para bagunçar o negócio. Eu não sei também o que a gente pode falar. Karola chega lá para fazer isso, para acabar com a história toda, chega para dizer que está grávida e ter um filho também era um sonho do Beto, enfim, é essa maluquice aí.”

Ele é um cantor e a música sempre está nos seus caminhos…

“Sim, inclusive a música do Beto que é o grande sucesso dele é o Axé Pelô. Assim que eu recebi a música, eu liguei para o Musi, que é o nosso produtor musical e falei: ‘Musi, quero colocar voz hoje!’, o estúdio dele é na frente da minha casa e aí ele falou: ‘Tá bom, mas eu não tenho horário’. Eu falei que poderia ser de madrugada mesmo e aí ele falou: ‘então venha’. Música a gente sabe como é, todo mundo fica de madrugada mesmo trabalhando. Aí eu corri para lá, coloquei uma voz e está uma delícia.”

Para a TV e para os palcos foi a primeira vez na música?

“Para a TV sim. Eu tive contato na música antes com Cazuza, mas era teatro, era outro esquema. Agora a gente está colocando a música na TV, vamos ver como vai ser esse negócio aí.”

Pelo jeito que você está falando, estamos sentindo um sotaque. Então, o sotaque está mesmo regado?

“Tem que ficar. Sabe por quê? Eu vou lhe dizer, outro dia eu cheguei aqui para gravar e falei: ‘Tá bom, uma ceninha curta, tá certo, não preciso batalhar o sotaque não, na hora vai rolar’. Aí eu entrei e para falar uma frase já ficou difícil e aí eu falei: ‘Pô, eu tenho que chegar lá e já esquentar o motor, é a álcool o negócio, tem que dar uma esquentadinha antes’. Então,  quando eu chego aqui eu já começo no ‘baianes’, que já é para não sair mais.”

Quando você sai daqui, você continua falando com sotaque sem querer?

“Muitas vezes sim, porque eu chego em casa e a Fabiula está estudando texto, também falando ‘baianes’, meu cachorro já está falando ‘baianes’, porque ele foi para a viagem com a gente, então, está assim agora o negócio.”

Que referências você buscou assim nessa área do Axé? Você assistiu muita coisa?

“Cara, eu não sou referência para buscar referência não, viu? Minha primeira referência foi um grande amigo meu que é o Léo Pinheiro, que não é um cara conhecido da mídia, mas é um músico do Tocantins, que não tem nada a ver com a Bahia, mas ele tem um jeito que eu acho que tem a ver com esse personagem. A outra foi o Superman, porque qualquer coisa sobre identidade secreta a gente lembra do Super-Homem. Então, eu pensei: ‘O super-homem devia curtir as vezes ser Clark Kent’. Então acho que tem essa curtida. Raul que para mim é o baiano master,  e aí quando a gente assistiu o documentário do ‘Axé, o canto do povo’, que aliás é do caralho, quem puder ver, veja. Tem depoimento de todo mundo que passou pelo Axé, praticamente desde o início, então, um pouquinho de cada um ali, eu tentei pegar também.”

E quais são as dificuldades que você teve em fazer esse personagem? Teve alguma dificuldade?

“A maior dificuldade foi voltar da Bahia.”

Quantos dias vocês ficaram por lá?

“A gente ficou um mês. Eu fiquei acho que três semanas em Porto, entre Porto e Arraial. E mais duas semanas em Salvador.”

Mas você já curtia antes, já havia conhecido lá, ido passar férias?

“Não, então, o meu problema foi o seguinte, quando eu estava fazendo Cazuza, a gente girou muito. A gente fez duas turnês Brasil em dois anos, então, tinha muitos lugares que a Bahia foi um deles, que eu parava e falava: ‘Pô, aqui é legal né?’, e aí a pessoa falava: ‘A gente já está aqui pela quarta vez’. E eu achava que eu não conhecia ainda. Sempre foi de passagem, a gente chega lá correndo. Eu nunca tinha parado para ter uma onda em Salvador, não conhecia o Sul da Bahia também, que é maravilhoso.”

Você é bem visto no meio, as pessoas te elogiam muito e agora tem gente que rotula, ‘o seu primeiro protagonista de novela das nove’. Como é que está sendo? A única mudança é o trabalho que você quase não está tendo tempo para si ou tem outro tipo de mudança?

“Para mim, o que muda é que nem eu falei quando eu estava fazendo ‘Além do Tempo’, o que muda é que eu consigo assistir. Eu chego em casa e consigo ver a novela para ter um feedback do que está rolando. Mas eu nem quero pensar nisso. Primeiro, que se eu pensar nisso, eu vou acabar pirando, ficando cheio de receios e aflições. Segundo, que se eu parar para pensar nisso, eu vou perder tempo de pensar numa coisa melhor para dar qualidade ao trabalho.”

E você vem de dois vilões, agora você está se sentindo mais leve nesse personagem? Já tem uma diferença?

“Engraçado, foram dois vilões e eu nunca tinha feito vilão. Eu ficava falando que queria fazer vilão e aí vieram dois. Eu falei: ‘Pô, como que faz mocinho?’; fiquei tentando lembrar, mas no fundo, no fundo acho que hoje em dia a gente está abrindo essa coisa, cada vez os personagens apresentam um pouquinho dos dois lados. Acho que o fato do Beto aceitar essa ‘muquetragem’ toda, de fingir que está morto e tal, não deixa de ser um grauzinho de vilania também.”

Ou pelo menos mau caráter?

“Talvez não uma questão de caráter, porque se o que move ele é salvar a família, então, o caráter já está salvo, mas eu digo de falhar mesmo, de pecar no quesito do caráter.”

E ele faz isso por amor?

“Não, eu acho que ele está perdido. É um cara que passou por muita coisa, por muita turbulência, em muito pouco tempo. Em pouco tempo o cara fez sucesso, deixou de fazer sucesso, foi dado como morto, apareceu uma mulher grávida, ele se apaixonou por outra, pelos filhos da outra e por aí vai e eu não sei até onde a gente pode ir, mas enfim, é muita coisa para ele entender.”

Ele forjou isso para proteger a família de alguma forma? Porque parece que a família estava perdendo a casa.

“Foi. Isso mesmo!”

Ele sente algum remorso ou ele convive bem com essa decisão de enganar todo mundo?

“Não, ele convive com remorso. Mas aí entra esse lugar que a gente está falando. Ele convive com remorso, mas ao mesmo tempo ele está vivendo o grande sonho dele, isso que é o mais louco. Então, eu fico pensando: ‘Como é que seria isso?’; Ele está chateado com o irmão, ele quer resolver logo aquela coisa, mas ele também quer passar mais uns dias ali com a Luzia. Enfim!”

Mas na sua opinião, a mentira tem o seu papel? Ela se justifica em algumas ocasiões?

“Eu tenho para mim o seguinte, tenho uma frase que uma vez eu pensei assim: ‘acho que verdade e cuidado não caminham lado a lado’. Acho que você tem que ser honesto, mas ao mesmo tempo, você tem que ter cuidado com as coisas que você fala também. Eu por exemplo, tenho alguns amigos músicos, as vezes eles gravam um material e me mostram. Tem coisas que eu não gosto, mas se não dá mais para concertar, eu minto. Porque eu não vou fazer isso com um amigo que pagou um estúdio, se dobrou inteiro para fazer aquilo ali, se não dá para consertar, eu minto, falo: ‘tá ótimo’, agora se eu falo assim: ‘cara, você tem mais dias de estúdio para regravar isso aí?’, ‘tenho!’; ‘aí, eu falo: ‘cara, tá um lixo’. Então, depende, acho que o importante é o bom senso, tendo bom senso, as coisas se ajeitam.”

O Rubinho foi um personagem muito forte para o Brasil inteiro. Você acha que as pessoas vão tentar encontrar o Rubinho no Beto?

“Sempre, o twitter principalmente. Imagina a quantidade de meme que não vai dar? Agora mesmo já estão fazendo: ‘Olha o Rubinho lá no meio dos baianos, se entocou lá’. É isso!”

Mas isso te incomoda de alguma forma?

“Não, isso é natural. As pessoas acabaram de ver um trabalho e estão com essa figura na mente ainda.”

Como que você lida com essas questões da internet, dos comentários, das piadas?

“Eu acho divertido demais. Acho que virou um campo de guerra. Eu por exemplo, eu gosto de jogar joguinho de celular, tem gente que gosta de xingar. Então, é cada um por si, eu acho engraçado. Meme eu acho divertidíssimo, acho até que já é uma nova mídia, um novo estilo de se comunicar.”

Você não entra nessa pilha de por exemplo responder seguidores?

“Não, até porque quando você vê uma coisa muito ‘escabrosa’ no twitter não, mas no Instagram por exemplo, você fala: ‘quem é esse filho da puta’, e aí, você entra lá e o cara não tem nenhuma postagem, o cara não segue ninguém. E aí você fala: ‘vou responder para nada, não vale a pena’. É isso!”

Você está emendando um trabalho no outro, o que te fez aceitar esse papel? 

“Na verdade, foi só o João me ligar para falar sobre esse papel. A música sempre mexeu comigo, porque eu cresci sendo músico, comecei aos 15 anos, com a minha bandinha e tal, quando teve o ‘boom’ lá das gravadoras, do napster, dos mp3. E a fita demo? agora a gente entrega para quem? E aí eu falei: ‘meu Deus,  eu quero viver de arte e não vai rolar’, agora sempre que eu tenho papel com música, para mim, é sempre maravilhoso. O João não precisou falar muita coisa não, ele falou: ‘tem um cantor de axé aqui’; eu só falei ‘eu quero!; Foi assim.”

Fala um pouquinho para a gente sobre essa sua trajetória na música, se o axé em algum momento passou pelos gêneros que você ouvia ou cantava.

“Passou. Todo mundo que frequentou um churrasco em 90, ouviu um axé, não tem muito mistério. Sempre que tinha festinha da escola…”

Coreografia você fazia?

“Não, não chegava a tanto.”

Nem na boquinha da garrafa?

“Não, porque eu era do bullying. Eu ia ver minha galera dançar, tinha festival de dança no Martins, ali em Vila Isabel, e tinha uma galera que arrebentava dançando, até axé inclusive, então, eu ia para ver e rir, ficar fazendo piada.”

Na sua cabeça, você não se sentia seguro para participar?

“Não, minha onda era a zoeira, mas eu ouvia de tudo. Eu descobri vendo o documentário (axé). As músicas vinham rolando, eu sabia cantar e falei: ‘caramba, eu acompanhei sim’. Enfim!”

O que você está achando atualmente dessas músicas que estão surgindo? Desse cenário atual, o que você acha?

“Eu acho ótimo. Curto muito música antiga também, o Rock de sempre.”

Gente morta igual o Beto, você escuta muito?

“Muito! Os mortos são os que deixaram mais saudade.”

Não sei se é impressão minha, mas eu acho que existe um pouco de ‘jeitinho brasileiro’ no seu personagem, no sentido de ele estar acomodado, estar ganhando dinheiro. Então, eu queria saber, se a novela tem uma proposta de trazer um pouco disso, dessa forma do brasileiro lidar com as dificuldades da vida…

“Olha, eu acho que quem pode falar um pouco isso é o João. Porque é tanta coisa que acontece nesse início, que a gente está surfando junto. Eu realmente não sei para onde ele vai com essa história, mas eu acredito que seja muito mais voltado para essa coisa da segunda chance. Todos esses erros que estão sendo apresentados no início, acho que é justamente para a gente achar uma forma, fora do ‘jeitinho brasileiro’, de se encontrar. Porque o grande problema hoje em dia é isso, é interno, está todo mundo sempre falando de um todo e se esquecendo do um.”

Você já teve a segunda chance?

“Eu já, imagina. Ainda mais nos joguinhos de celular, toda hora que você morre, tem um continue (risos). Eu não lembro não, se eu tive a segunda chance.”

Mas você gostaria de ter tido uma segunda chance?

“Para todos os shows que eu perdi na vida. Eu lembro que o meu primo, tipo duas semanas antes dos Mamonas morrerem, ele tinha uns ingressos e aí eu falei: ‘vou não, estou cansado’. É isso..”

Como é a experiência de estar na mesma novela que a Fabiula? Uma grande atriz. Vocês não chegam a contracenar, né? 

“Não, a gente contracena. Inclusive a gente já gravou cena juntos. É uma delícia. Primeiro porque a gente pode estudar em casa, segundo que ela tem uma cabeça fantástica, uma atriz que eu sempre fui muito fã, muito mesmo, achava ela inteligentíssima. Além de tudo, além de estudar e tudo mais, eu tenho as dicas que ela pode me passar, também me meto no trabalho dela e a gente se diverte aí!”

Então, não tem isso de não falar em casa de trabalho?

“Não, não. A gente é doente mental igual.”

Rolou uma lua de mel também na Bahia para aproveitar?

“Foi lua de mel com cachorro e tudo. A gente alugou uma casinha lá em Porto para passar esse tempo, para poder levar o cachorrinho também, ele é um american staffordshire, tipo um pitbulzinho pequeno.”

Daqui a pouco ele está na novela, né? 

“Tomara, porque aí entra o cachê de figuração e vai ser ótimo!”

Vocês compraram ele juntos, como é que foi?

“A gente comprou de um paparazzo na verdade. A gente estava no shopping andando e aí quando a gente olhou se apaixonou.”

Rolou um impacto quando você viu esses fios branquinhos, você já estava preparado, já tinha alguns?

“Eu sou um cara muito otimista. Eu falei: ‘melhor do que careca’. Enfim!”

Lá na época do Rubinho, você falava que tinha tipo um setlist, que você havia preparado para ir entrando no personagem. Quando você vinha para cá, já ouvia e tal. Já tem isso com esse personagem?

“Não, não consegui montar ainda. Eu tenho algumas músicas que eu curto, mas na verdade eu vou montando pela quantidade de vezes que eu ouço aquela música, que ela vai me guiando. Até agora eu tenho pouquíssimas músicas lá. Eu tenho Saulo, obviamente, tenho uma lista enorme de axé no Spotify. Tenho uma também do Davi Moraes, que é o Na Massa, é um disco antigão, acho que é Papo Macaco, se não me engano, que tocava na MTV pra caramba. Eu fui moleque MTV total. Eu me lembrava muito dos rifs de guitarra dele, acho que o Beto bem ou mal também tem um lado Rock in Roll que eu mesmo coloquei por minha conta. Essa música dele Na Massa, me lembra esse lugar entre o axé e o rock in roll da minha época, que eu me sentia confortável.”

Você disse que era bem MTV, já pensou em ser VJ ou não?

“Não, imagina. Eu odeio falar com câmera, odeio não, eu não sei falar.”

Dizem que protagonista toma muito tempo. No tempo que sobra o que você costuma fazer?

“Dormir. Não, mentira. Eu gosto de ver televisão, gosto de desenhar, gosto de não fazer nada, brincar com o cachorro, curtir a Fabíula.”

Você gosta de curtir o Rio também, passear por aqui, fazer caminhada?

“Eu gosto do Rio, o Rio é que não tem gostado muito que as pessoas saiam, então…”

Mudou alguma coisa na sua rotina por conta da violência?

“Não, não mudei não. Porque eu acho que não tem jeito. Eu, quando tinha 15 anos, fui espancado, eu morava ali perto do Salgueiro. Essa história não tem nada ver com o Salgueiro em si. Eu era moleque, morava numa vila e tive uma ‘quizumba’ dessas que toda vila tem, fui defender meu irmão numa briga e tal. E aí a mãe do menino, deu uma grana para uns 15 moleques de rua me bater. Eu lembro que no dia seguinte eu falei: ‘mãe, estou indo brincar’. Igual o Rock Balboa e ela: ‘não, mas’. E eu falei que a mulher não iria pagar duas vezes para os moleques me baterem, eu tinha que viver. Mas eu nunca fui assim, eu fico preocupado, óbvio, e eu sempre fico mais preocupado com os outros do que comigo. Por mim mesmo, eu não mudo muita coisa não.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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