No ar em Tempo de Amar, Walkiria Ribeiro comemora boa fase na carreira

Publicado em 07/01/2018

No ar em Tempo de Amar como Balbina, Walkiria Ribeiro comemora a boa fase. O ano de 2017 foi um divisor de águas para a atriz, como ela mesmo define. Em 2016, ela sofreu com um problema no joelho e a morte do pai, em setembro, mas como depois da tempestade sempre vem a bonança, a artista deu a volta por cima e começou o ano no teatro, com a peça Bruta Flor.

E não demorou para surgirem mais convites. Foi no palco, que encantou o autor da novela Alcides Nogueira e acabou sendo convidada para o papel na trama das 18h da Globo de última hora (o papel seria de Cris Vianna ou de  Débora Nascimento). O convite chegou quando ela gravava a segunda temporada de TOC’s de Dalila, no Multishow.

Em Tempo de Amar, sua personagem foi ama de leite de Celina (Bárbara França) e presa à família de Bernardo (Nelson Freitas) e Alzira (Deborah Evelyn) depois de ser assediada pelo patrão e ter um filho com ele, um segredo que poderá ser revelado na trama.

Leia também: Rafael Zulu define seu personagem Cido em O Outro Lado do Paraíso: “É um cara que brinca com essa bissexualidade dele”

Como está sendo essa fase da Balbina em Tempo de Amar?

Tá sendo muito bacana, a cena do perdão do Bernardo , acho que teve uma humanização, toda essa relação que começou tem a relação de patrão e empregado. A  história é muito feliz em mostrar como e de onde vem esse machismo, tem a relação de patrão e empregado e desde muitos séculos ela é abusiva, sempre foi, desde a época da escravidão, principalmente das mulheres da senzala que eram bonitas, e a gente vem se arrastando com esses maus hábitos que vem se arrastando desde o dia de hoje.

Mas ela não seria exatamente uma escrava, já que nessa época os negros já haviam sido libertados, não é? Como você define essa mulher aprisionada?

Na história dessa casa, falando do meu personagem em específico, a Balbina chega muito jovem na casa.  Tem algumas coisas na novela que foram adaptadas. Ela  foi escrita pra se passar em 1800, e aí foi adaptado para a década de 1930. Ela não foi comprada, mas com certeza ela foi filha de escravos, então todo esse ranço, essa submissão é herança do que ela viveu. Quando ela chega nessa casa ela vem com todo esse vício. E a Alzira quando vem de Portugal para o Rio de Janeiro, ela também vem com esse pedantismo  da época. Essa coisa aristocrática.

Como você define a relação dela com essa casa na atual fase da trama?

Com esse perdão do Bernardo, a história começou a ficar mais humanizada. Dentro da novela tá mostrando também o que de positivo tem nessa relação. De a Balbina ser leal à família, o vínculo da Celina, por exemplo, é muito mais maternal com a Balbina do que com a própria mãe. Então tem uma relação de amor estabelecida ali também. Agora é muito claro e evidente pra mim que tudo isso se suporta ainda mais por conta do filho (Pepito, interpretado por Maicon Rodrigues). É um segredo só dos dois. A gente não sabe como se a Alzira e a Celina souberem disso, como elas vão reagir. Ela tem um filho menor de idade que mora e come nessa casa. Me protejo e como ficamos, a gente vai pra rua? É tudo muito delicado.

O que você espera para o final da Balbina?

Eu espero liberdade, com certeza. Eu acho que a novela representa bem essa luta da mulher ao longo do tempo. Tem a Balbina super submissa, eu acho que ela não é analfabeta, diferente do que acontece com Tiana (Eli Ferreira), empregada do Cássio, ela é analfabeta, ela rejeita aprender. E tem a Nicota (Olívia Araújo), que é independente, dona de uma pensão, sem filho e marido. Essa condição de cada personagem é muito importante. Tem uma generalização, e que me incomoda muito, eu Valquíria, de achar que todos negros eram submissos naquela época. Isso não é uma verdade. Assim como todas as mulheres também não eram. Esse núcleo do Grêmio, que a Celina participa, isso já mostra um movimento da mulher de um modo geral. É muito legal ver como os personagens estão sendo apresentados nessa sociedade de 1930.

Como você vê hoje todo esse preconceito que ainda vem a tona nas redes sociais?

Eu acho que o machismo ele está entranhado nas pessoas e as vezes a gente ouve discursos até de mulheres. É uma coisa muito da sociedade brasileira. A condição do negro, do racismo, eu acho que é um movimento que já vem de antes disso. Mas eu acho que pela primeira vez as pessoas resolveram se manifestar. Eu acho que hoje a gente atua em um movimento muito mais importante, mais do que brigar pelo racismo, pelo direito de ir e vir, pelo direito de respeito, é as pessoas se posicionarem e serem anti racista. Se você é racista e declara isso, eu estou sendo conivente. Eu sou obrigada a me posicionar também. Isso é importante. Mais importante hoje é visualizar e saber quem são essas pessoas.

Você fez algum laboratório ou se inspirou em alguém para viver a Balbina?

Eu acho que esse laboratório eu ainda faço. Quando eu entrei na novela eu entrei uma semana antes de começar as gravações. De cara eu tive uma cena super delicada, a primeira cena com o Nelson, no quarto. E era difícil estabelecer qual era essa relação que ela tinha com o patrão.  Hoje a gente já está mais orgânico, mas no início é complexo. A gente até estabeleceu junto com  o Jaime (Monjardim, diretor) que a gente ia deixar no ar. A única coisa evidente que ela tem dessa relação é essa mágoa, essa angústia de que toda vez que aquele homem chega perto é assustador no sentindo de que ‘meu Deus eu não vou ter o que fazer’. A gente se preocupou em trabalhar esse sentimento naquele momento. E tá claro que ela tem uma mágoa porque esse homem não assume o filho. Nessa época, as mulheres já reivindicavam o seu direito de família. Essa relação que ela tem com o Bernardo, é a mesma relação que a xxxx (Letícia Sabatella) tem com o José Augusto (Tony Ramos).

Como aconteceu o convite para o personagem?

Na verdade, o Alcides (Nogueira, autor da novela) foi assistir minha peça, Bruta Flor, que estava em cartaz em São Paulo, gostou do meu trabalho. Mas eu nem imaginava entrar na novela, que já estava muito bem encaminhada. Na verdade tinha alguém para esse papel, não sei o que aconteceu, e eles pediram para a produtora entrar em contato comigo e pediram pra ver meu trabalho. Foram os quatro dias mais difíceis da minha vida. Eu recebi a ligação na sexta e só tive o retorno na terça-feira seguinte. Foi tenso. Eu tava terminando de gravar TOC’s de Dalila (Multishow) com a Heloísa Pérrissé.

Você fez a série  com um personagem bem diferente. Como foi uma emendar um trabalho no outro?

Isso é ótimo porque você se sente sem fronteiras. A Jussara era uma mulher solar, ela não tinha problema de dinheiro, não tem a questão do racismo, não tinha essa preocupação. Eram pessoas que se conheciam por conta de um distúrbio, que é o toc, e ali se criava uma discussão. Tudo com humor, sem muito peso. Foi engraçado porque a série entrou no ar no Multishow logo depois que a novela estreou então tinham dois personagens completamente diferentes. Eu brinquei na época que queria muito que a Jussara encontrasse a Balbina na rua. A Balbina voltaria outra pra casa. Ia colocar dona Alzira para limpar o rodapé da cozinha.

Você começou na comédia, em A Praça é Nossa.  E depois de vários papeis na dramaturgia voltou a fazer comedia no Multishow. Como foi isso.

Só agora, 14 anos depois, eu voltei a fazer comédia em TOC’s  de Dalila, que foi um convite do diretor (Thiago Teitelroit). Minha primeira cena na vida foi com o (Ronald) Golias. Esse foi o meu berço, Golias, Catifunda, José Loureiro. Trabalhei com o Marcelo Médici, Moacyr Franco, era a nata do humor, e hoje 13 depois, poder trabalhar com a nata do humor brasileiro atual é muito bacana. A base não muda, humor é humor e, qualquer época.

Então você fez teatro, série e a novela?

É,  2017 foi um divisor de águas pra mim. E perdi meu pai em 2016 e minha vida teve um viés muito dramático. Eu também tive um problema no joelho muito sério e que eu demorei a descobrir o que era. Eu parei de dançar, tinha 32 anos de carnaval na Avenida, e foi o primeiro ano que eu fui impedida de dançar. E eu fui convidada para peça Bruta Flor, que tem  uma carga dramática muito grande.  Pela primeira vez eu fui obrigada a ter maturidade, no sentido de saber o que era trabalho e o que era realidade.

O que é mais difícil fazer rir ou fazer chorar.

Você é a terceira pessoa que me pergunta isso em um mês. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso. Como eu comecei nesse ambiente, eu não tinha referência. Meu primeiro trabalho dramático foi Escrava Isaura, na Record. Eu era a mãe da escrava Isaura, era um drama só. E daí pra cá meus trabalhos foram meio tragicomédias. Eu não sei te responder, o que é mais fácil ou mais difícil.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade