No ar como Miss Celine, Maria Eduarda de Carvalho entrega características da personagem: “Ela me emociona”

Publicado em 11/08/2018

Em Tempo Não Para, Miss Celine é uma das congeladas que ainda estão no Criotec, laboratório especializado em criogenia da cientista Petra (Eva Wilma). Interpretada por Maria Eduarda de Carvalho, a moça vinda do século XIX é discreta, tranquila e preceptora das filhas de Dom Sabino (Edson Celulari).

Sem revelar muitos detalhes ao Observatório da Televisão, a atriz avisou que Miss Celine irá acordar nos próximos capítulos e promete encantar o público com seu jeito ingênuo. Com mais de 20 anos de carreira e um dom natural para o humor, a atriz também falou como a personagem a surpreende emocionalmente e muito mais. Confira:

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Como faz para manter a Miss Celine jovem após 132 anos?

Pois é! Muito congelamento, muito gelo. Essa técnica primorosa que parece que funcionou super bem com essa família inteira. Até o cachorro descongelou intacto. Quer dizer, ainda não, vai descongelar num futuro próximo.

Maria Eduarda de Carvalho fala sobre experiência na trama

Como está sendo integrar o elenco de O Tempo Não Para?

É uma novela muito original, muito bem escrita. Eu acho que tem um humor mais para o sarcasmo, que conversa muito com o tipo de humor que eu gosto de trabalhar. Estou profundamente feliz com esse trabalho porque eu acho que além de um texto bem escrito, de atores que estão trabalhando muito bem, a novela fala de questões muito importantes para serem trabalhadas no dia de hoje.

A questão da escravidão: o que aconteceu? Como foi feita? O preconceito racial, as questões femininas, os abismos sociais que a gente vem mantendo desde aquela época. Ou seja, muita coisa mudou, mas na verdade a gente transformou muito pouco daquela época até os dias de hoje. É uma novela que vai da graça até as questões mais profundas e importantes da gente questionar e trabalhar.

Miss Celine

Quem é a Miss Celine?

Na verdade, é Celine. Miss é senhoria, porque ela é filha de um inglês. Eles a chamam educadamente, cordialmente de miss. Miss Celine é uma personagem sensacional. Eu gravei umas cenas com a Juliana Paiva, que é uma atriz maravilhosa que estou tendo a sorte de estar perto, e pensei o quanto essa personagem me emociona.

O ato de me emocional é geralmente complexo. Eu preciso de muita concentração, de um cantinho escuro. Mas a Miss Celine me traz tantas coisas. Ela é de uma ingenuidade, de uma pureza. Ela tem um encanto pelo novo, uma sede de conhecimento. É tudo tão intenso e profundo que ela me emociona, e quando vejo tenho que me segurar para não estar com os olhos cheios de lágrimas o tempo inteiro. Realmente, é muito arrebatador tudo o que ela me traz.

Você já sabe como a Miss Celine vai reagir ao século XXI após o descongelamento?

Essa que é a graça, a gente ver como cada um vai reagir. O Mario engendrou isso muito bem, por isso é aos poucos. Cada um vai descongelando de uma forma, cada um se relacionando com esse mundo novo de uma maneira diferente. E vamos aguardar a Miss Celine um pouquinho. Daqui a pouco ela vai chegar com tudo.

Permanência de Miss Celine com a família Sabino Machado

Vai demorar para ela acordar nessa nova realidade?

Sai o Menelau (David Junior) e a Cesária (Olívia Araújo). Depois vem a Miss Celine no capítulo 21.

Ela vai permanecer com a família Sabino Machado?

Sim! O Eliseu (Milton Gonçalves) acolhe todos os congelados. No primeiro momento eles ficam sempre juntinhos. Depois que cada um vai tomando seu rumo.

Como foi sua preparação para a personagem?

Tivemos um trabalho muito bacana de preparação de elenco, onde trabalhamos minuciosamente os jeitos da época, os costumes, como eles se portavam, se vestiam, comiam. Eu vi alguns filmes, mas na própria preparação tivemos muito cuidado. E eles vão manter isso nos dias atuais. Essa coisa do gestual, da mãozinha, do recato, de não cruzar as pernas, temos que ficar o tempo todo ligado e não relaxar.

Emoção em cena

Você falou que tem dificuldade para se emocionar em cena. Algum momento da sua carreira faz esse sentimento ser despertado?

Alguns. Aliás, um muito próximo. Eu fiz um filme do Miguel Falabella chamado Veneza, que ainda não estreou. Eu fazia uma personagem que tinha uma participação pontual, mas muito importante. Ela está muito doente e uma das cenas importantíssimas dela é no hospital definhando.

E foi muito desafiador porque eu acho que é mais fácil e tem mais pedal quando você vai acompanhando e vivendo aquela história até chegar no fim da linha dela. E essa não, ela é uma personagem muito efêmera. Tem uma participação rápida e já nesse lugar irreversível, de muita gravidade.

Tem Sete Vidas (2015) e A Vida da Gente (2011) também, que são novelas que eu tenho maior carinho e apreço. Em Sete Vidas eu fazia a Laila. Em A Vida da Gente eu fazia a Nanda, que era uma personagem que tinha muita dificuldade de se ligar afetivamente nas pessoas e se apaixona por um rapaz que era interpretado pelo Marat Descartes, um músico. Em um determinado momento da trama esse rapaz morre e ela tem que lidar com o filho dele. Ela meio que adota aquele menino. E foi também um momento bem complexo para mim.

Atuando com crianças

Há uma técnica para o ator ficar emocionado em cena?

Existem possibilidades que você lança a mão. Na verdade, tem a concentração, o trabalho que você se arma de memórias de sua vida. Mas o que mais me favorece é tentar me emocionar com aquela própria história. Quando não consigo eu lanço mão da minha vida. Mas o mais bacana é quando a gente consegue fazer isso com aquele personagem, com a história que ele está trazendo.

Como é contracenar com as gêmeas Nico (Raphaela Alvittos) e Kiki (Natthalia Gonçalves)?

Um barato, é muito divertido. A gente faz uma farra no camarim. Elas são muito interessadas, estudiosas, inteligentes. Apesar do trabalho e das responsabilidades, elas ainda são crianças. Eu acho isso muito legal. Eu tenho uma filha de oito anos e dou muito valor às crianças que ainda são crianças, apesar dos dias de hoje.

Descobertas dos personagens

Como está sendo ver os congelados tendo contato com coisas novas?

O que eu acho muito legal no olhar dos congelados é que eles têm um olhar meio que de primeira vez para o mundo, que é uma coisa que as crianças carregam. O Manuel de Barros, que é um poeta que eu amo, também traz.

Eu sempre falo que para você conseguir se aventurar, a rever o mundo com um olhar de primeira vez, ou você tem filho ou lê Manuel de Barros e, agora, ou você vê a novela. Eu acho que os congelados também dão essa dimensão para a gente.

Trajetória

Quanto tempo você tem de carreira? Como você analisa sua trajetória?

Eu comecei no teatro com 13 anos, então tenho 23 anos. Hoje, o artista se confunde muito com a pessoa famosa. Ser artista está muito nublado, misturado com essa coisa de alcançar a famosa. Para mim o que é muito importante, desde que me entendo por criança e ia ao teatro, é usar a arte como ferramenta de transformação. Realmente eu acredito nisso.

Para mim a arte é uma possibilidade de você olhar de um outro ponto de vista alguma coisa ou, de repente, com um óculos de poesia que a olho nu não conseguiria ver. Eu me mantenho muito fiel a esse princípio. Há pouco tempo comecei a escrever. Consegui encenar uma peça que escrevei, eu mesma produzi, que fala sobre morte para criança.

Eu tive uma experiência absurda de perder uma irmã e ganhar uma filha num intervalo de um mês. E meio que para dar contar de falar e explicar sobre morte para minha filha, eu comecei a elaborar essa peça. De repente, eu vi que era um assunto que interessava muita gente. Eu venho tentando me manter apesar do Brasil, do nosso governo e da falta total de incentivo à cultura. Ao fato da gente ter um país que ignora a importância da educação e da cultura, eu venho me mantendo fiel a essa missão de mostrar ao meu país que a arte tem uma importância elementar na formação de um indivíduo. Ela não é supérflua. A arte realmente transforma um indivíduo.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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