Amigos da Coluna “Por Trás da Tela”, hoje minha conversa é com uma pessoa fantástica: Oscar Schmidt! Considerado um dos melhores jogadores de basquete de todos os tempos, o “Mão Santa” passou mais de 30 anos na quadra, defendendo, com o número 14, a Seleção Brasileira e clubes nacionais e europeus.
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Natural de Natal, no Rio Grande do Norte, Oscar ocupa o posto de maior cestinha da História, com 49.737 pontos. Seus 2,05 de altura revelam simpatia, dedicação e muito trabalho. Aos 63 anos, é um renomado palestrante, levando sua trajetória de vitórias a milhares de pessoas. As conquistas mais recentes são de saúde: o ex-jogador luta contra um câncer no cérebro desde 2011, e de lá para cá continua vencendo.
Eu tive o privilégio de conversar com o Oscar quando ele ainda estava em quadra. Estou muito honrado por ele aceitar meu convite para essa entrevista agora.
CHRISTIANO BLOTA – Oscar, qual é a sua avaliação sobre a participação do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Tóquio?
OSCAR SCHMIDT – Achei sensacional, demais mesmo. Vibrei muito com o goalball [esporte com bola, praticado por atletas com deficiência visual], um esporte que eu nem conhecia. Vibrei com todo mundo, na verdade, porque o Brasil teve a melhor participação nas Paralimpíadas da História.
CB – Sobre as Olimpíadas, como você avalia a ausência do Brasil no basquete masculino e feminino, que não se classificou para os Jogos?
OS – No Torneio Pré-Olímpico de basquete, eu acredito que a gente ganhou de todo mundo fácil, mas quando chegou na hora que tinha que meter bola, não metemos bola. Faltou arremesso do time do Brasil, e nós perdemos para a Alemanha, que nem é um bicho papão. No feminino foi muito pior, porque nós perdemos para Porto Rico, que é um adversário que a gente estava acostumado a ganhar, mas na “hora H”, nós perdemos. Não deu nem para torcer pelo basquete, porque não foi.
CB – Oscar, eu tive o prazer de te acompanhar como repórter quando você jogou no Flamengo. Reparava no seu comportamento em quadra – vibração, desejo de vencer, garra. Ao mesmo tempo, me lembro das suas declarações de ter treinado arremesso à exaustão. Tudo isso para perguntar: de onde vem tanto amor pelo basquete?
OS – A minha paixão pelo basquete vem porque virou minha profissão. Fui jogador profissional a vida toda, e queria fazer sempre bem. Então, para mim, não tinha dia ruim: era sempre muito arremesso. Fiz muitos arremessos! Até o último dia da minha carreira, fiz muitos arremessos de três pontos, e foi isso que me deu a qualidade e a minha participação na Seleção Brasileira.
CB – Eu te vi como jogador, como comentarista esportivo, como palestrante, na política, em reality show. Qual foi o melhor momento da sua vida?
OS – Bom, sempre nosso melhor momento se vincula à participação na Seleção Brasileira. Aquele Pan-Americano que ninguém acreditava na gente e nós vencemos contra os Estados Unidos. Aquela vitória abriu a porta para os profissionais, porque se eles não botam os profissionais, não iam ganhar mais. Essa é a pura verdade. E nós que abrimos essa porta para a vitória de todo mundo.
A conquista citada por Oscar marcou os Jogos Pan-Americanos de 1987, em Indianápolis, Estados Unidos, quando os brasileiros levaram o ouro numa disputa contra os anfitriões.
CB – Preciso te perguntar: e qual foi o pior momento?
OS – O pior momento também foi na Seleção Brasileira. Depois daquela vitória, a gente tinha moral até para ganhar Olimpíadas. Num jogo decisivo, nas Olimpíadas de 1988, em Seul – onde eu fiz um monte de recordes e foi sensacional –, na “hora H”, contra a União Soviética, eu errei o último arremesso. Sempre lembro daquele arremesso. Meus companheiros fazem questão de falar, quando nos encontramos: “ah, também, fica errando o último arremesso”. E a gente não conseguiu Olimpíadas por culpa minha.
Aquela era a terceira Olimpíada que Oscar defendeu pelo Brasil. Apesar de o basquete brasileiro ter ficado em quinto lugar naquela edição, ele levou para casa o título de cestinha da competição, com 338 pontos, e quebrou – nada mais nada menos que – outros dez recordes olímpicos. Impressionem-se com a lista: melhor média de pontos; mais pontos em uma única edição; mais pontos em um único jogo; mais cestas de 3 pontos em uma edição; mais cestas de 3 pontos em um único jogo; mais cestas de 2 pontos em um único jogo; mais lances livres em uma edição; e mais lances livres em um único jogo.
CB – Oscar, você continua com suas palestras?
OS – Sim, continuo fazendo minhas palestras. Adoro fazer palestra e vivo disso. É uma profissão muito boa, porque eu conto a minha história. E as pessoas, muitas vezes, ficam observando, com o olhão arregalado. Isso é muito gratificante. Talvez por isso eu não sinta falta de jogar basquete, porque eu falo de basquete todos os dias.
E acreditem, amigos leitores, Oscar também é recordista nas palestras que faz: já são mais de 800 palestras e cinco prêmios Top of Mind de Melhor Palestrante.
CB – Oscar, o nome da coluna é “Por Trás da Tela”. O objetivo da minha última pergunta é sempre falar sobre o que se passa nos bastidores de pessoas que aparecem nas telas da TV, do celular, do computador… Quando você não está na ativa, trabalhando, o que gosta de fazer?
OS – Quando não estou fazendo palestras, eu adoro ver esporte, sobretudo futebol americano. Eu sempre assino NFL [National Football League, a liga de futebol americano profissional dos Estados Unidos] e vejo todos os jogos. Torço muito para o Tom Brady, que ganhou de novo. Está ficando monótono esse negócio para o Tom Brady, mas ele é um fenômeno, acompanho muito a carreira dele. E gosto também de ver jogos de futebol, jogos da Seleção Brasileira, sobretudo de basquete. Quando me divirto mais é quando eu vejo as pessoas jogarem. E curto muito a minha aposentadoria.
Oscar, muito obrigado por participar da coluna, a admiração é imensa. Até a próxima!