“Na vida, nada é sempre ferro e fogo”, diz Priscila Menucci sobre o humor envolvendo o nanismo em A Praça é Nossa

Publicado em 07/11/2017

Quem assiste ao humorístico A Praça é Nossa, com certeza já se deparou com a atriz Priscila Menucci brilhando no papel de Dona Nica, uma mulher com nanismo, que brinca com sua baixa estatura. Com 91 cm de altura, Priscila mostra na entrevista a seguir, que é uma mulher independe e extremamente guerreira, pois mata um leão por dia, em relação ao preconceito e as dificuldades que o mundo apresenta para os pequenos. Confira o papo:

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Quem é a Priscila Menucci?

Mulher, mãe, menina, esposa, militante, artista e ainda sonhadora.

Como você descobriu o gosto pela arte?

Foi sem querer. Eu era auxiliar administrativa de RH em uma grande empresa aqui em São Paulo. E um belo dia, em uma festa da empresa, dois anões estavam fazendo a recepção da mesma, e um deles pediu meu telefone para colocar na agência onde eles trabalhavam, alegando não ter mulheres pequenas na área de eventos. Eu pensei que fosse cantada, mais ele insistiu e acabei dando. E não é que na mesma semana me ligaram. E até hoje minha paixão é a arte. Meu primeiro grande trabalho foi no teatro, o musical Mágico de Oz, com direção de Billy Bond. Desse dia em diante nunca mais parei. Graças a Deus!

Como a sua família lidou com o nanismo, assim que você nasceu, já que não tinha nenhum histórico na família?

Foi um choque, pois não tinha nenhum caso de nanismo na família, e eu era a primeira filha do casal, e na época não eram todos que tinham dinheiro para ultrassom. Quem me aceitou de verdade foi a minha avó paterna, pois fui criada por ela. Minha avó, e minha madrinha me ajudaram muito na minha vida.

Você é uma mulher muito à frente de seu tempo.  Não chora as pitangas da vida. E, sim, faz várias limonadas com os limões que a vida colocou em seu caminho. Você sempre foi assim?

Realmente aprendi ser uma mulher à frente do meu tempo, tudo graças a minha avó paterna, pois a cada olhar de indiferença na infância, ela me dizia que eu era igual a todos, nem melhor, ou pior. E que as pessoas me olhavam, pois eu era pequena sim, e lindinha, por isso me olhavam. Hoje dou risada, pois me lembro que as vezes sem eu perceber, ela ficava brava.  Mais ela sempre me dizia isso: ‘filha, você não é, nem menos e nem mais do que seus amigos. Você é igual. E nada lá fora vai ser fácil, pois nada será adaptado para você’. Acho que foi isso que com o passar dos anos me fez ser o que sou hoje. Não ter dó de ser pequena e chorar pelo leite que talvez nem derrame.

Sua casa não é adaptada. Por que você optou por isso? É uma forma de se acostumar com o mundo, já que ele não se adapta para vocês?

Minha casa quase nada é adaptado. As únicas coisas que são adaptadas são os interruptores. Apenas, pois na minha família ninguém é pequeno, não seria legal com eles. E também fui acostumada e criada assim.

O que tira você do sério?

Falta de educação me tira do sério. A falta de amor ao próximo, independente da cor, crédulo, ou características físicas.

Sua personagem em  A Praça é Nossa, eleva a audiência do humorístico. Como você se sente ao levantar de forma bem humorada a bandeira contra o preconceito em relação ao nanismo?

Ainda não me acostumei com esses índices de audiência, que levanto. Mas, o humor mudou em relação às pessoas com nanismo. Pois faço humor, em relação ao nosso tamanho, pois é  desse jeitinho das piadinhas internas com os amigos, a família que não sabemos lidar às vezes, como responder ou guardar para si. Com as piadas do programa vemos o quanto ainda as pessoas não nos conhecem e do que somos capazes. E com o humor eu levo essa mensagem com um jeito menos pesado. Pois na vida nada é sempre a ferro e fogo. Nem sempre as piadas são de todo mal. Saibamos levar a vida mais leve.

Você imaginava que sua personagem fosse fazer tanto sucesso?

Não imaginava esse sucesso.

Quando você está no ar, muitas vezes, o programa fica na frente da Globo. Qual é a sensação que vem? De dever cumprido?

Esse negócio de que quando estou no ar, estou a frente da Globo, a ficha não caiu. Talvez esse jeito de levar o humor diferente, tenha ocasionado isso. Pois o diferente com qualidade de trabalho, como A Praça é Nossa tem, é que deu a parceria certa. Seu Carlos Alberto é uma pessoa maravilhosa para contracenar. E meu parceiro Enio Vivona, nem se fala, ele é de um companheirismo em cena, uma troca muito boa. Só tenho que agradecer.

Falando em representatividade, Juliana Caldas, sua amiga, estreou em O Outro Lado do Paraíso, no papel de Estela, que tem nanismo, e é rejeitada pela mãe. Você acha que uma novela das 21h, da Globo, focando nesse assunto, irá diminuir um pouco o preconceito contra os pessoas com nanismo?

Quando fiquei sabendo que era a Juliana Caldas para nos representar em mais uma jornada, fiquei muito feliz, pois conheço a Jú desde que ela tinha 16 anos, trabalhamos muito juntas, e dividimos esse desejo de fazer novela. Em 2016, fiz meu primeiro papel em uma novela, que foi em Cúmplices de um Resgate,  onde eu interpretava uma jornalista. E me apaixonava por uma pessoa com nanismo. Então, agora vendo a Juliana na novela das 9, é um presente. Tanto pra mim, quanto para ela. E vai ser muito importante para os portadores de nanismo. Vai ser um grande passo para as pessoas começarem a ter o conhecimento sobre o nanismo.

Já é um avanço, né?

Sim, um grande avanço.

É normal a família abandonar o filho por causa de sua condição, ou é coisa de novela?

É comum sim, não que seja normal, pois, a aceitação começa de casa. Algumas famílias por não terem informações, acabam se precipitando e vem o abandono.

Qual é o seu maior sonho?

Meu maior sonho seria um mundo com pessoas mais tolerantes e educadas.

Você gosta de fazer mercado? Tira de letra essas tarefas do dia a dia?

Até gosto de fazer mercado. E hoje em dia tiro de letra. Peço para pegar o que esta no alto e na hora de empacotar que é a questão.

Como é a Priscila mãe?

Priscila Mãe,  nossa, nem sei. Sou companheira quando tenho tempo, mais entre um texto e outro, sempre tenho um tempinho para as lições de casa. Ou uma brincadeira ou um bate papo na madrugada. Sinto falta de estar mais presente. Mais temos que trabalhar. Sou chata, brigo, tem bronca sim. E muito amor. Pois as duas gestações não foram planejadas.

Se você fosse prefeita por um dia.. O que você faria em benefício as pessoas com nanismo?

Nossa, um dia só? Não dá tempo. Tem muita coisa para arrumar, desde de transporte até o lazer. Nada é planejado para nós, pessoas com nanismo. Altura dos pontos de ônibus e dos ônibus, os elevadores dos prédios, tanto novos ou antigos. As lojas precisam padronizar balcões. Nossa, precisaríamos recomeçar.

Deixe um recado para os admiradores do seu trabalho …

Meus amigos, vou continuar levando a alegria a cada um de vocês, pois chega de tristeza. Vamos ser felizes pelo menos uma vez na semana.

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