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Na TV, a fé e a reinvenção de Renato Lombardi, expoente do jornalismo: “Não dá para ser mais um”

Jornalista fala da adaptação ao novo modelo de trabalho longe do estúdio

Publicado em 21/07/2020

Cumprindo a medida de isolamento social em casa, o jornalista Renato Lombardi, aos 74 anos, afirma não ser nada fácil, pra quem viveu mais de 35 anos como repórter, se adaptar às novas medidas de trabalho.

Expoente do jornalismo impresso e do rádio, onde iniciou aos 19 anos, Lombi – como é carinhosamente chamado – recebeu durante a pandemia a missão de continuar informando o público, ao vivo, mas de uma forma que nunca imaginou. Parte do cotidiano do brasileiro, mas longe dos estúdios da Record TV, agora é ele quem abre as portas de casa ao público, todo dia.

É diferente, mas tenho a mesma vontade e o mesmo entusiasmo. Vivo a notícia. Gosto da adrenalina dos factuais e a vantagem no jornalismo da Record é que cobrimos tudo ao vivo, com links e helicóptero. Mas espero em pouco tempo voltar aos estúdios”, conta ele, que desde o inicio da pandemia está na companhia da namorada, a advogada Mary Verônica.

Renato Lombardi no Balanço Geral (Foto/Edu Moraes)
Renato Lombardi no Balanço Geral (Foto/Edu Moraes)

De entusiasta da tecnologia a assíduo das redes sociais, Lombi se tornou um legítimo “blogueiro”, no melhor estilo Ary Fontoura, Vera Fischer e tantos outros veteranos. Apegado ao seu público, o profissional divide momentos divertidos, viagens memoráveis, registros inusitados e mensagens de fé, que, segundo ele, é um dos estímulos de sua vida.

Meu estímulo diário é a vontade de encarar os fatos e me dedicar ao trabalho. Sempre fiz isso. Sou cristão, acredito em Deus, e a vida me mostrou que a fé é o caminho. Já passei por muitas situações, inclusive com uma séria cirurgia do coração ano passado, e a fé mostrou que supera tudo“, afirma o artista, feliz com os números alcançados também fora da TV, onde movimenta mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, mais de 300 mil na Fan-Page e 5 mil no Facebook.

Renato Lombardi iniciou no jornalismo aos 19 anos de idade (Reprodução: Instagram)
Renato Lombardi iniciou no jornalismo aos 19 anos de idade (Reprodução: Instagram)

Renato Lombardi também fala da relação com a audiência do Balanço Geral, a surpresa com a volta de Reinaldo Gottino ao programa, o futuro do jornalismo na TV brasileira e revela sobre os boatos espalhados por Fabíola Reipert, que garante que Lombi que entra no link de “ceroulão”.

Confira a entrevista na íntegra:

OBSERVATÓRIO DA TV – Após vários anos na TV, considerando esses últimos três na liderança e em um horário em que antes não existiam tantos investimentos como agora, qual é a sua relação com os números de audiência. Existe cobrança neste sentido?

RENATO LOMBARDINão existe cobrança. Nós mesmos é que nos cobramos por um trabalho cada vez melhor. Demoramos alguns anos para conquistarmos uma situação boa junto ao público e continuamos a fazer um trabalho para merecer cada vez mais  este carinho e esta audiência que vem de todas as idades, de adultos a crianças.  

O jornalismo televisivo, ao vivo, passou por uma transformação muito grande. Especialistas apontam que será um dos poucos produtos, junto à teledramaturgia, que se manterão no futuro da TV aberta. Você também acredita nisso?

Sem dúvida. A cada dia o jornalismo na TV se firma. Durante mais de 30 anos trabalhei na mídia impressa e no rádio. E vejo hoje com tristeza os jornais impressos reduzirem seus leitores e suas tiragens e as emissoras de rádio diminuindo seus noticiários.

O jornalismo da TV tem hoje o dinamismo do rádio de alguns anos atrás. Ágil, rápido, opinativo, cobrindo fatos reais, tomando o espaço que o rádio fazia antes. E eu posso dizer com propriedade, porque fui repórter de rádio – ao mesmo tempo do jornal – por 30 anos. Era da Rádio Bandeirantes e cobríamos os assuntos que hoje ficaram com o jornalismo da TV. 

Renato Lombardi ao lado de Gottino e Reipert no Balanço Geral (Divulgação: Record TV)
Renato Lombardi ao lado de Gottino e Reipert no Balanço Geral (Divulgação: Record TV)

Na última vez que nos falamos, em 2018, a sua rotina era bem agitada. Você dormia por volta das 22h30/23h, acordava por volta das 4h30, chegava na emissora às 17h20min e a partir de então iniciava uma maratona de links, mais o Balanço Geral e algumas vezes o Cidade Alerta. Hoje, com todas as mudanças naturais da TV, mais o afastamento das atividades em estúdio e o isolamento, você se sentiu afetado emocionalmente com essa situação? Como está a sua adaptação às medidas de trabalho e a nova rotina?

É diferente você trabalhar na rua, no estúdio, e em casa. Para mim é uma adaptação difícil, mas não impossível. Minha qualidade de vida melhorou desde a chegada do  (Antonio) Guerreiro ao jornalismo da Record TV. Passei a me dedicar mais ao Balanço Geral da tarde.

Tinha pedido, depois de nove anos, para deixar os jornais da manhã e devo a ele esta mudança. Das 4h30 passei a acordar às 7h para estar na TV às 8 e entrar no ar às 11h50min. Mas com a pandemia comecei a trabalhar em casa, desde 17 de março.

É diferente, mas tenho a mesma vontade e o mesmo entusiasmo. Vivo a notícia. Gosto da adrenalina dos factuais e a vantagem no jornalismo da Record é que cobrimos tudo ao vivo, com links e helicóptero. Mas espero em pouco tempo voltar aos estúdios.

Jornalista Renato Lombardi em uma de suas viagens (Reprodução: Instagram)
Jornalista Renato Lombardi em uma de suas viagens (Reprodução: Instagram)

Através das suas redes, vemos que você é um homem de muita fé e pensamentos positivos. Em tempos nos quais milhares de jovens estão convivendo com depressão (o ‘novo’ mal do século), muitos reclamam da vida, outros não são satisfeitos com o que têm, e na contramão disso temos exemplos como você. A sua energia e vitalidade vêm de onde? Isso tem a ver com religião? Qual é o seu maior estímulo diário?

Meu estímulo diário é a vontade de encarar os fatos e me dedicar ao trabalho. Sempre fiz isso. Sou cristão, acredito em Deus, e a vida me mostrou que a fé é o caminho. Já passei por muitas situações, inclusive com uma séria cirurgia do coração ano passado, e a fé mostrou que supera tudo.

Falo sempre para os estudantes de jornalismo quando vou às palestras: não dá para ser mais um. As redações estão cheias de “mais um”. Mas para não ser “mais um” é preciso dedicação, empenho, agilidade. E isto aprendi aos 14 anos quando era office-boy na redação do jornal Última Hora com um repórter chamado Ramão Gomes Portão.

Eu via o agito da redação e aprendi com ele que não dá para nos acomodarmos, que o amanhã é outro dia e outro desafio. Hoje tem a geração do Google e da Internet e muitos jornalistas jovens acham que já sabem tudo e que estão acima de tudo. Sabem nada. A gente está sempre aprendendo. A cada dia enfrentamos fatos novos e devemos estrar preparados. O jornalismo é dinâmico e desafiador. 

Sem querer, você conquistou um espaço importante na vida das pessoas, se tornou companhia e válvula de escape pra muita gente que tem apenas o aparelho de TV para se entreter e informar. Aos poucos, você também migrou para as redes sociais e hoje movimenta mais de um milhão de pessoas somente no Instagram. Qual é a sua relação com a internet, e o que você consome dela? Você é conectado de verdade, ou dá apenas uma passadinha pra ver o que está acontecendo?

Sou conectado. Eu mesmo mexo e acompanho tudo. Tento passar para as pessoas palavras de fé, de esperança, de que enfrentamos muita coisa na vida, mas podemos superá-las. O que percebo é que o respeito pelo próximo, a educação, a confiança, vem sendo a cada dia mais procurados.

Tem muita gente que maltrata as pessoas,  principalmente as mulheres. Elas são ofendidas e eu tento, com frases, pensamentos, dar força a elas. Nos meus comentários nas redes sociais – um milhão no Instagram, mais de 300 mil na Fan-Page, e cinco mil no Facebook -, procuro passar esperança para as pessoas com pensamentos, opiniões, e me surpreendo a cada dia com os  comentários que recebo porque nunca fiz ou faço pensando em alcançar mais seguidores.

Faço para mostrar a elas que existe caminho para a superação para o enfrentamento. Eu passei por muitas situações e segui em frente, jamais pensando em derrota. 

Renato Lombardi tem mais de 30 anos no jornalismo impresso e na rádio (Reprodução: Instagram)
Renato Lombardi tem mais de 30 anos no jornalismo impresso e na rádio (Reprodução: Instagram)

Você é bastante assediado pelo público feminino nas redes. Você esperava esse sucesso ou foi uma surpresa? Como lida com isso?

Jamais pensei que um dia receberia esse carinho do público feminino, de todas as idades, e que seria tão conhecido. Mas devo muito ao Balanço Geral e à Hora da Venenosa. Procuro ser justo, franco, honesto nos meus comentários,  nas minhas opiniões.

Não consigo responder a todos, mas as pessoas podem ter a certeza de que sou eu que escrevo, que repasso, e que procuro em outros autores pensamentos sempre de autoajuda, de esperança, de expectativa, de que nada é impossível, para que venham dias melhores. Eu sou assim.

Sempre fui assim. Sou jornalista há mais de 40 anos e sempre pautei minha vida pela seriedade, pelo jornalismo franco, autêntico, verdadeiro, e nunca pelo sensacionalismo. Foi e é uma surpresa pelo público em quase sua totalidade feminino. Sou muito grato. 

Renato Lombardi posa com a namorada Mary Verônica no Instagram (Reprodução: Instagram)
Renato Lombardi posa com a namorada Mary Verônica no Instagram (Reprodução: Instagram)

E falando de sucesso com as seguidoras, como está o seu relacionamento com sua namorada na pandemia? Vocês conseguem se ver? Você acha difícil lidar com a distância das pessoas queridas nessa pandemia?

Fiquei viúvo faz três anos. Cuidei de minha Adélia, mulher, também jornalista, por 12 anos. Conhecia a Mary Verônica, minha namorada, fazia alguns anos, mas éramos amigos. Após a  morte da minha esposa, fiquei por algum tempo só e vi que era preciso ter uma companhia.

Nos 12 anos da doença –  um AVC hemorrágico que a deixou de cama, em cadeira de rodas e perdeu grande parte da memória -, fiz de tudo para que ela tivesse os cuidados necessários e estive ao lado dela sempre, todos os dias.

Minha namorada foi morar comigo poucos dias antes da pandemia e está ao meu lado todos os dias. Não tenho visto minha irmã Maria Pia, meu irmão Rodolpho e meus sobrinhos, mas falo com eles quase todos os dias por Facetime.

Como você recebeu a notícia da volta do Reinaldo Gottino para o Balanço Geral? Vocês já conseguiram se encontrar pessoalmente?

Foi uma surpresa a volta, como também foi uma surpresa a saída. Em setembro do ano passado sai em férias e estava num navio na Grécia quando uma senhora de Mogi das Cruzes que viajava com o marido, que assiste ao Balanço Geral e me reconheceu, me avisou que havia lido na internet.

Estávamos em alto-mar. Achei que não era verdade. Quando chegamos a Santorini, ilha grega belíssima, no cais, sentei para tomar um suco e recebi o telefonema do diretor do BG, Rafael Perantunes, dizendo que o Gottino tinha saído.

Se me surpreendi com a saída e não acreditei na primeira informação, também não acreditei na informação da volta. Estava em casa já na quarentena quando a Fabíola Reipert, a Venenosa, me mandou uma mensagem. Não acreditei. Confesso que só acreditei quando a própria Fabíola me mandou por WhatsApp o comunicado oficial da Record.

Sou amigo, mas amigo mesmo do Gottino. Conheço a família dele e da Simone, a mulher dele. O pai dele, napolitano como eu, nasceu numa cidade pertinho de onde eu nasci. Eu não imaginava que voltaríamos a trabalhar juntos. Não vi mais o Gottino. Só no dia 8 de julho, no ar, quando voltamos a trabalhar juntos. Ele no estúdio e eu em casa. Estou com muita saudade. 

Fabíola Reipert brinca que você tem apresentado o Balanço Geral de bermuda (o home office permite). E aí, procede? Como é o processo de fazer o link diretamente da sua casa?  

Sabe que eu me preparo como se estivesse no estúdio?  É para não perder o pique, como dizia o saudoso Roberto Avallone. Eu sou assim. As coisas comigo sempre serão sérias. Semana passada ela veio com a história de ceroulão e aí a câmera me pegou de corpo inteiro. Estava pronto, calça, paletó, gravata. Aí ela veio com a história do sapato e era um sapatênis. Adoro a Fabíola. E também ando com saudade dela. A última vez que nos vimos foi no estúdio em 17 de março. 

Sobre a pandemia, quais as suas perspectivas para este segundo semestre que se inicia e o que mais te faz falta neste período?

Como todos os brasileiros, espero que venha a vacina logo e que voltemos à nossa vida normal. E neste isolamento o que me faz falta é me encontrar pessoalmente com meus familiares.

Como você avalia o comportamento do brasileiro diante desta situação de pandemia e isolamento?

Muita gente ainda não acredita que o vírus é sério. Acho que, se o isolamento fosse adotado com mais seriedade por parte da população, estaríamos  numa situação bem melhor.

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