“Na rua me chamam de ladrão da lava jato”, afirma Mauricio Machado, de A Lei do Amor

Publicado em 20/12/2016

Que tal interpretar um político corrupto na principal novela das 21h? Essa é a missão do ator Mauricio Machado. Em A Lei do Amor, ele dá vida ao deputado Arlindo Nacib.

O personagem faz uma dobradinha com Otávio Augusto, o senador Ventura. Juntos, eles estão envolvidos em esquemas de corrupção.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Mauricio fala sobre o seu personagem e a reação do público: Na rua já me chamaram de corrupto, de ladrão da lava jato.

Além da novela, Mauricio é responsável por contar a história de grandes atrizes da dramaturgia brasileira em uma série de encontros no Teatro J. Safra. Já passaram por lá Nicette Bruno, Eva Wilma, Walderez de Barros, Ana Lucia Torre e Beatriz Segall.

Confira:

Como se preparou para o papel?

O arsenal de material está bem farto neste momento político brasileiro. Talvez nem tenhamos a dimensão para entendermos que estamos presenciando o momento mais importante da história política brasileira. Me interei tanto quanto pude acompanhando de perto o processo de impeachment, assino a dois jornais, vi muita Globonews, e a TV Senado. Percebendo a canastrice, a desfaçatez, o descaramento desses homens que regem nosso país. Se fosse me espelhar integralmente naquilo tudo que vi e percebi deles, certamente seria acusado de estar caricaturando meu personagem. Neste caso, a realidade superou o realismo da ficção. Fui para o caminho da frieza, a calma e a tranquilidade que os mais corruptos imprimem. Foi uma boa fonte de inspiração. Visitei também a Câmara dos Vereadores em SP para conhecer um pouco do dia a dia desses políticos. O mais difícil foi esse exercício de interpretação do mínimo, da contenção e economia. Isso foi delicioso, e acho que consegui

O que mais tem feito: lido os jornais ou o roteiro da novela? Afinal, as histórias estão muito parecidas com tudo o que está acontecendo na política atual.

Tenho lido os roteiros da novela, que são uma delícia. E fico impressionado com tanto talento, criatividade e como um autor de televisão precisa ter fôlego para colocar história, em seis capítulos semanais, mais de 100 capítulos. Se pensarmos em conteúdo, cada capítulo escrito representa uma peça de teatro. Nossa! Leio regularmente dois jornais impressos por dia, adoro os canais de notícias da TV, leio e respondo meus mails, que são em média 700 e-mails por dia (de diferentes assuntos que encampo), e me esforço para ler algum livro, nessa loucura toda.

Como tem sido a relação das pessoas nas ruas?

Tenho recebido muitos elogios à novela de um modo geral. Na rua já me chamaram de corrupto, de ladrão da lava jato. Ouço sempre que é um dos núcleos preferidos da trama, porque representa bem a lambança toda do que está rolando e com doses de humor. Acompanho quando posso o termômetro pelas redes sociais, e no Twitter leio muito que é o que muita gente mais gosta. Me alegro claro com isso. Mas, devo partilhar essa repercussão com o texto da equipe de autores, que faz um paralelo com o momento atual de forma leve. E a parceria com Otávio Augusto, que dá o tempero do humor, e é um ator brilhante. Procuro como seu parceiro dar o equilíbrio, e um tom mais misterioso, sério e “deslavado” para essa dupla de gangsters.

<em> <em>Mauricio é um dos destaques da trama das 21h Vinicius Bertoli<em>

A trama foi adiada justamente para não bater de frente com o atual momento político, mas as investigações da Lava Jato estão aí. Como uma novela pode ajudar o público a entender determinados acontecimentos?

Através da arte, se conecta mentes, sensações, emoções, aspirações, desejos, e também informação. O papel de uma novela no país-continente chamado Brasil é de suma importância. Os autores de TV no Brasil são artistas informados, inteligentes e com uma bagagem cultural e intelectual enormes. Eles sabem do compromisso e responsabilidade que têm nas mãos, tendo em vista um país de cultura, informação e educação medíocres. E tudo isso acaba refletindo nas sérias e drásticas consequências nas nossas vidas, como começamos duramente a pagar pelo preço.

Como é contracenar com o Otávio Augusto?

Otávio é um ator que acompanho há muito tempo no teatro e que tive a honra de assistir a dezenas de trabalhos seus, e claro da TV. É daqueles atores cheios de recursos, que empregam personalidade e carimbo forte às suas criações que se distanciam umas das outras. Um ator que se apodera do texto com inteligência incrível de humor. É um colega disponível sempre, divertido, generoso, gentil, parceiraço. Adoro ouvir suas histórias. Juro, não poderia ter sido melhor!!!

Em uma das cenas, o seu personagem é flagrado num momento de intimidade com uma amiga. É complicado realizar cenas como esta? Até que o ponto a vida íntima de um politico pode ou não ser investigada?

Cenas assim são tranquilas para mim. Fazem parte do meu ofício, e estou sempre disponível para o que personagem solicite. O desconforto maior é quando não há intimidade com a parceira de cena. A vida de todo e qualquer homem político tem por obrigação de seu exercício ser transparente, e se necessário for… investigada!

Delação premiada é o que a gente mais lê, escuta e vê pela imprensa. E a personagem da Isabela é quem acaba escutando toda a conversa que você teve com outros políticos. Você tem coragem de defender seu personagem?

Nenhuma! Defendo como intérprete apenas e dou vida a ele. Somente. Seus atos são repudiáveis.

Como produtor cultural você tem feito um trabalho muito importante: reconhecer e homenagear a trajetória de atrizes como Nicette Bruno, Eva Wilma, Walderez de Barros, Ana Lucia Torre, entre outras. Por que realizou este projeto? Pretende continuar?

Não só produzi o evento mas a pesquisa da vida delas é minha, o roteiro, a apresentação, condução, intermediação e direção do evento. Dá um trabalho enorme tudo isso!! A ideia do projeto é do meu sócio, Eduardo Figueiredo. Topei no ato, porque somos um país sem memória, sem lembrança, americanamente imediatista, que renega seu passado, histórias e cultura própria. Muito me espanta a todo tempo que jovens atores sequer saibam quem são figuras importantíssimas de nossa área, que se hoje eles querem ser atores e tem alguma condição de trabalho devem as conquistas desses grandes desbravadores do nosso teatro no Brasil, em tempos de pioneirismo, ditadura e adversidades. Adoraria continuar mas confesso que dá um desânimo não ter apoio de nenhum investidor, bancar tudo isso para além de tudo a imprensa não prestigiar. E, pior, os jovens alunos e nenhuma escola de teatro apoiar e não obrigar seus alunos a ouvirem uma aula master de Beatriz Segall, Eva Wilma, Walderez de Barros, etc. Pode haver aula melhor?? Duvido.

Como produtor o que pretende para 2017?

Bom, estou neste momento desesperado correndo contra o tempo para o fim de 2016, fechamento de Imposto de Renda das empresas, ver se alguma se sensibiliza com a cultura nacional no que tange o teatro.

Se o país está num momento complicado, na U.T.I em sua economia, podem imaginar como isso se reflete na cultura que sempre esteve um utilíssimo plano? Pois é.

Tenho seis projetos. E todos eles aptos a qualquer momento receber patrocinador, e todos eles com todas as leis de incentivo aprovadas.

Estou há cinco anos tentando produzir uma mega produção, um projeto meu com o diretor Ulysses Cruz, a primeira montagem mundial de um filme clássico do cinema alemão de Fritz Lang, M, O Vampiro de Düsseldorf, que farei como ator também ao lado de Stênio Garcia e mais treze atores. Mais O Veneno do Teatro, texto encenado em mais de 82 países, que trarei o diretor da montagem estreada na Espanha e que percorreu todos os países do mundo de língua hispânica; este texto tem mais de 60 prêmios por todo o mundo, e o farei como Ator. O infantil Rapunzel, de Walcyr Carrasco, a comédia Procuro o Homem de Minha Vida – Marido, já tive!, um best seller Argentino. E já garantido para 2017 a comédia O Gatão de Meia Idade, famoso quadrinho do cartunista Miguel Paiva, enfim no teatro. A peça Um beijo em Franz Kafka, de Sergio Roveri, em que farei como ator, e viverei o próprio Kafka. Em 2017 rodaremos Mulheres Alteradas, comédia que produzi e que esteve por mais de cinco anos em cartaz pelo Brasil, e que co-produzo com a O2 Filmes. E produziremos a série para TV 100 Dicas para Arranjar Namorado, que havia produzido no teatro e que agora vira série para a TV.

No mais, continuo cuidando da gestão de meu teatro: o Teatro J. Safra, e escolhendo a dedo os projetos que lá se apresentam.

Espero fazer novos trabalhos para a TV na sequência, e que surjam muitos convites para cinema.

E procurando um novo texto solo para encenar em 2018. Fui tão feliz atuando por três anos em meu solo, com essa autonomia de saber que depende só de mim encená-lo. E por mim ficava em cartaz de segunda a segunda.

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