Murilo Rosa fala sobre Jorge, seu personagem em Orgulho e Paixão, e admite: “Estava morrendo de saudade de fazer uma novela de época”

Publicado em 06/03/2018

Em Orgulho e Paixão, próxima trama das 18h da Rede Globo, Murilo Rosa interpretará Jorge, um advogado bonitão e gentil que não saberá lidar com seus sentimentos amorosos. Casado com Amélia (Letícia Persíles), o rapaz se vê completamente apaixonado por Ema (Agatha Moreira), uma linda jovem que acredita no amor e no casamento. Ao Observatório da Televisão, Murilo falou sobre as características desse novo personagem, sobre os amores da vida real e sobre voltar a atuar em uma novela de época. Completando 25 anos de carreira, o galã também revelou que em breve estreará o espetáculo musical Entusiasmo, onde canta as trilhas sonoras que fizeram parte das histórias do seus antigos personagens. Confira:

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Conta como vai ser o Jorge, esse homem que não consegue expressar seus sentimentos amorosos?

“O Jorge tem um senso de honra tão grande que impede ele de falar abertamente ‘eu te amo’. Também não é tão simples assim, porque ele está apaixonado por uma menina que ele viu crescer e que é filha do amigo dele, porque ele é o advogado da família, e da maioria das famílias daquela região. Então assim, ele vive numa situação: em que momento essa amizade se transformou, realmente, num amor? Em que momento ele pode assumir isso claramente para ela? Ele tenta falar, mas sempre trava, e ela parece que não entende. Será que não entende? Então, fica sempre essa coisa no amor, até a hora que ele decide ir para São Paulo. Ela empurra a Amélia (Letícia Persíles) para ele, e acaba voltando para São Paulo, que é a casa dele, onde ele mora, e tem ali o primeiro embate entre eles. E o interessante é que ela também, dentro da pureza dela e preocupada com o casamento das outras pessoas, acaba esquecendo o seu próprio sentimento. De repente, ela se toca que está envolvida, mas como é o primeiro amor, ela não sabe lidar com isso. Resumindo: na verdade, é uma história de amor numa época em que as pessoas não estavam tão bem resolvidas na hora de ‘eu te amo’. Eu lembro, quando tinha 17 anos, para falar ‘eu te amo’ para minha namorada, não era tão simples, demorava. O ‘eu te amo’ tinha um valor. Eu sempre brinco que o Jorge com 40 anos, parece a minha primeira história de amor quando eu tinha 16 anos. Aquele frescor, quando acaba a relação, parece que o mundo vai acabar, aquela coisa adolescente. Então, o Jorge, apesar de ser um homem resolvido, maduro e bem-sucedido na profissão, no amor é uma criança.”

O Jorge vai ter dois amores na trama?

“Ele é apaixonado pela Ema (Agatha Moreira), super apaixonado. Viu a Ema crescer. Para ele é complicado porque ele tem 40 e poucos anos, ela tem 20 e poucos anos, e é filha do amigo dele. Como ela está casando todo mundo, tem uma hora que, dentro dessa amizade, ela não percebe que gosta dele e empurra uma outra pessoa para ele. Ele não consegue entender, mas ela vai empurrando. Vai ter uma hora que ele fala: ‘opa! Já que você empurrou, deixa eu ver’. Só que vai virar um drama lá na frente, apesar da novela ser uma comédia, uma novela muito leve, romântica. Esse núcleo vai ser responsável por um drama, porque a Amélia vai ficar doente e com a honradez dele, ele não vai se separar dela. A família da Ema vai perder tudo, ela vai trabalhar na casa dele, vai cuidar e vai ser um triângulo muito próximo. Eu acho que a Amélia vai descobrir que ela (Ema) gosta dele e que ele gosta dela. Ela vai entender esse amor, mas isso aí, é lá na frente. Eu acho que essa novela e essas relações mostram que por mais que a gente se modernize, por mais que o tempo passe, o grande amor sempre faz você tremer. Seja hoje, há cem anos, na época do meu pai e da minha mãe. O amor, a paixão vai mexer com você, mesmo se você for um cara para frente, ou uma menina supermoderna.”

Você é um cara que se vê em um casamento duradouro?

“Total. Eu estou casado há treze anos, com a Fernanda. Com dois filhos. A gente casou pensando nisso. Se bem que a gente não fica pensando lá na frente, a gente está pensando hoje, assim, mas eu sou um cara meio que educado, mesmo que inconscientemente para uma relação longa. Eu me vejo com os meus filhos e com a Fernanda daqui há 50 anos.”

Vocês estavam morando em Nova York, né?

“A gente passou uma temporada. A Fernanda morou 10 anos em Nova York, então, quando começamos a namorar, passávamos algumas temporadas lá. E já passamos várias, a última foi em 2015, e ficamos seis meses. Só que eu ficava lá e cá. Ela ficou com os meninos e por causa do trabalho, eu ficava indo e voltando. Passamos uma temporada em Paris também e agora, quem sabe, vamos conhecer Portugal.”

Qual aprendizado você adquire com essas viagens?

“Eu acho que é sempre bom você viajar, ainda mais para uma relação é sempre bom estar viajando. A minha relação com a Fernanda foi sempre com ela em Nova York, eu no Brasil, e a gente se encontrando pelo mundo. A gente se acostumou um pouco com isso, a gente gosta dessas aventuras. Claro, quando eu estou fazendo uma novela a nossa base é o Rio de Janeiro, mas eu tenho residência também lá fora. Quando dá, a gente dá uma escapadinha.”

Você se identifica com essa personalidade tão sensível do Jorge?

“Talvez na honestidade. O Jorge é um cara honesto, e eu sou um cara honesto também. Quando ele ama, ama para valer, e eu também. A diferença são as épocas. Eu acho que eu sou bem diferente, quando estou apaixonado, eu vou em frente, preciso conquistar e concretizar que isso aconteça. O Jorge parece que tem 16 anos, ele não consegue (expor sentimentos). Tem uma hora que ela (Ema) para na frente e fala: ‘diz!’. E ele não consegue dizer que a ama.”

A relação de amizade que o Jorge tem com a família da Ema, é um dos fatores que o impede de se declarar?

“Também. É um pouco de tudo, é um pouco da relação familiar. É tudo!”

O contexto machista da época também seria um desses fatores?

“Com certeza. Eu acho que no sentido conservador também. Tem uma cena da novela maravilhosa em que ele chega em casa, ele tem uma empregada e o filho dessa empregada desmontou a casa inteira. Então, ele chega e começa a brincar com os meninos e eles são negros. Hoje ainda existe essa meleca de racismo, imagina naquela época. E ele não faz parte desses caras, ele é um cara totalmente evoluído nesse sentido. Então, ele começa a brincar, para ele não tem diferença, não tem divisão. Nesse sentido, ele é um cara muito bacana, ele não é machista, mas é um cara daquela época. Ele é um cara que vai puxar a cadeira para você sentar, ele é um cara que vai cumprir todos os protocolos de um cavalheiro. Ele é um típico herói romântico, vamos dizer assim. Até no visual dele, ele está sempre de terno, elegante. É um advogado de nome, mas a postura dele é de um cara com honra, correto e que é capaz de dar a sua própria vida para salvar uma outra pessoa que, realmente, ele ache que precisa daquela ajuda naquele momento.”

Você acredita que existe alma gêmea ou vários amores que cultivamos ao longo da vida?

“Eu acho que pode ter vários amores sim. Não necessariamente você precisa ter um amor na sua vida, mas quando você encontra esse amor não precisa ficar com medo de ter esse amor. Às vezes a pessoa já encontrou a pessoa que ela ama e se sente bem, mas às vezes por um obstáculo pequeno aquela relação acaba, e ela, de repente, não vai encontrar mais uma pessoa como aquela. Pode acontecer. Então eu acho que você tem que estar aberto para as suas intuições e sentimentos. Nem a pessoa que fica rodando demais e nem a pessoa que só tem um amor são donas da verdade. Você tem que estar atento para o que é bom para você. Eu tenho uma sobrinha, a Natália, que casou com o primeiro amor dela, ela tem 20 e poucos anos. Foi o primeiro namorado dela e está casada. Daí você fala: ‘poxa, mas você só teve um homem’. OK! Qual o problema? Ela está feliz.”

Então, não tem uma fórmula quando se trata do amor?

“Eu acho assim. Ao mesmo tempo, tem gente que opta por não ter filho, mas é porque isso faz bem. Tem gente que vive com duas pessoas e está tudo certo.”

Para você qual o segredo de um casamento duradouro?

“Eu acho que você não tem que fazer um casamento durar por uma questão de regra. Você tem que estar amando aquela pessoa. Se você não estiver mais feliz, é melhor, obviamente, não estar com a pessoa. Mas não desista tão fácil de uma coisa que foi tão difícil. Não é tão simples encontrar uma pessoa que, realmente, mexa com você. Você pode até encontrar uma pessoa hoje em dia, uma pessoa que transe bem, isso não é difícil. Agora, no contexto geral é diferente. Então, fique atento porque, às vezes, você encontrou e está olhando muito para outros lugares.”

Você tem uma longa história como ator e vários personagens mocinhos no currículo. Fazer um vilão é um desejo?

“Esse ano eu completo 25 anos de carreira. Eu não celebrei nem 10, nem 15 e nem 20, mas os 25 vamos celebrar, porque senão, fica tarde demais (riso). É um ano que tem série. Respondendo à pergunta, na série que estreou agora, é um personagem totalmente em composição, no filme ‘A Comédia Divina’, eu faço o diabo, um personagem em composição. Então, eu já fiz muito (vilão). Na novela, eu venho muito para esse lado romântico, eu gosto e o público gosta. O público se sente bem e gosta de ver assim também, está tudo certo. Em ‘Salve Jorge’,  eu fiz um vilão também. Então, esse ano, já estreou a série ‘Rio Heroes’, de luta, e é incrível, a novela, que é um sonho, e eu estava morrendo de saudade de fazer uma novela de época. Eu ficava brincando com a Ana Paula Ambrósio, disputando quem fez mais novela de época. Como ela agora deu um tempo, eu estou passando (riso). Eu estou muito feliz com essa novela e o personagem apesar de ser romântico, leve, é um personagem difícil, exatamente porque ele não consegue olhar para a pessoa e falar ‘eu te amo’. E o telespectador vai dizer: ‘cara, fala!’. É um personagem difícil de transitar. Tem o espetáculo que eu estou montando chamado ‘Entusiasmo’, que é a palavra que me acompanha nesses 25 anos de carreira. Meu pai moldurou o significado da palavra e me deu de presente, está no meu escritório. Nesse espetáculo, eu canto todas as trilhas sonoras dos meus personagens. É um musical em que eu falo do ator e do personagem, dessa mistura que você não sabe aonde acaba o braço e começa a sua mão, aonde acaba o personagem e começa o ator. Eu tenho personagem que tem as três músicas que eu mais amo na vida que é: Tocando em Frente, Disparada, e Blow In The Wind, do Bob Dylan, então é uma loucura.”

O que te incentivou a montar um musical?

“Eu fui incentivado por um filme que fiz de um cantor, chamado ‘Vazio Coração’. Eu fiz o cantor, cantei nove músicas e falei: ‘caramba!’. Aí a gente foi trabalhando e encontrando motivos para fazer esse espetáculo. Já saiu por aí: ‘Murilo se lança como cantor’. Mentira. Nada disso, é apenas um espetáculo de um ator e que eu vou cantar.”

O que você precisou aprender para dar vida ao Jorge? Dança? Etiqueta?

“Tivemos tudo isso. Mas como eu já fiz muitas vezes essa questão, por exemplo, cavalo eu não precisei fazer. Eu sou criador, a gente tem uma fazenda, então, coisa de cavalo eu não faço mais preparação. O importante é você ir conhecer o cavalo. Fizemos aula de dança, foi muito legal o exercício, e eu já até gravei as cenas. Tivemos aula de etiqueta também, que foi muito bacana. Quando você bota aquela roupa, já te bota numa posição, então, você não pode estar muito empostado e nem muito solto. Você tem que encontrar um meio termo com a posição de sentar, o jeito que cumprimenta a pessoa. É importante relembrar isso tudo, então fizemos sim.”

Você precisou mudar o visual?

“Para a série, eu emagreci 7kg. Para a novela, como é um advogado, eu cortei o cabelo e fiz essa cara limpa, com costeleta, terno. Está um visual mais romântico.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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