“Minha contribuição para a dramaturgia de novela foi ter feito a união da realidade com a ficção”, diz Gloria Perez

Publicado em 29/03/2017

A carreira da escritora Gloria Perez é marcada por inúmeros trabalhos na TV Globo, onde começou ainda no final dos anos 70 ao escrever a sinopse do seriado Malu Mulher. Suas tramas possuem como mote central temas sociais como doação de órgãos, clonagem humana, religião, sexualidade, violência doméstica, entre outros.

Formada em história pela UFRJ, Perez chegou a cursar filosofia e direito ainda em Brasília. Uma das autoras de maior sucesso do Brasil, Gloria ganhou das mãos de Janete Clair a chance que tanto precisava: ser colaboradora de uma das maiores novelistas da TV.

No próxima segunda, 03/04, às 21h, a TV Globo traz mais uma trama recheada de temas sociais e polêmicos como a transexualidade, o vício em jogos de azar e amores compulsivos. A Força do Querer certamente vai movimentar os lares, os jantares entre amigos e, é claro, a imprensa.

O Observatório da Televisão aproveitou a deixa e bateu um papo com a escritora que assinou Partido Alto, Barriga de Aluguel, De Corpo e Alma, Explode Coração, Pecado Capital (remake), O Clone, Caminho das Índias e por último Salve Jorge, além das minisséries e séries Desejo, Hilda Furacão, Amazônia e Dupla Identidade.

Confira: 

O que te move a escrever histórias em que o protagonismo feminino é o tema central?

Eu sempre coloquei mulheres em destaque. Até porque a vivência que você tem pelo fato de ser mulher te ajuda a compreender muito bem o universo feminino e as dificuldades desse universo.

As minhas protagonistas nunca foram submissas. Sempre foram pessoas que reverteram situações, enfrentaram desafios grandes, que não se subordinaram às regras vigentes. Eu venho fazendo isso há muito tempo: mostrando a mulher ativa, a mulher atuante, sendo sujeito de sua própria história.

Como analisa o impacto que seus trabalhos vem desempenhando ao longo dos anos quando se trata de mudanças de comportamento e a contribuição social que cada um provoca? 

Acho que a minha contribuição para a dramaturgia de novela foi ter feito a união da realidade com a ficção. E fiz isso através do lançamento de várias campanhas que tiveram um alcance social bastante grande.

Desde as primeiras novelas, ao perceber o alcance que as novelas tinham de levantar grandes discussões no país inteiro, achei pouco que essas discussões se resumissem em com quem vai acabar o protagonista; quem vai ficar com quem. Pensei, bom, a gente pode curtir isso, discutir isso, mas pode também aproveitar esse espaço e alcance das novelas para trazer à discussão temas de interesse social. Já abordei vários deles… temas que resultaram em campanhas até muito bem-sucedidas. Para citar alguns: crianças desaparecidas, dependentes químicos, deficientes visuais, transplante de coração, clonagem humana… O Clone, por exemplo, aconteceu na época da ovelha Dolly. Porque quando você escreve uma novela é um jeito de você refletir sobre aquele tema que você está escrevendo. É por isso eu não te cansa tanto. Se você escreve sobre algo que te interessa e você quer refletir sobre aquele assunto a novela também é uma forma de reflexão e de dividir o que você pensa a respeito daquele tema. A medida que você escreve, você reflete sobre aquele assunto. Reflete e compartilha essa reflexão e recebe a resposta sobre essa reflexão que vem do público. É o retratar da realidade. Você conta uma história, que é de ficção, onde você procura envolver as pessoas emocionalmente através de grandes amores, de pintar os grandes desejos, de mostrar dança, costumes, você procura encantar. É por isso que eu escolho sempre esses temas, que são sempre temas do momento, aqueles que estão muito presentes e, às vezes, a gente ainda nem tomou uma consciência de que eles estão ali. Mas eles estão.

Qual foi o tema que mais mexeu com você?

Não tenho um específico. Todos foram muito marcantes e importantes no momento em que foram abordados. Tenho um carinho especial pela campanha das “Crianças Desaparecidas”, que mesmo muito tempo depois de ter sido abordada na novela, foi algo que perdurou e permaneceu integrada à sociedade.

O que podemos esperar de A Força do Querer levando em conta o tema central?

Mais uma vez eu estou falando de tolerância. Se você observar todos os meus trabalhos têm uma palavra, o que tem mais relevância, é sempre essa visão de que o mundo é muito maior do que o nosso umbigo. Eu já trabalhei em cima dessa ideia de várias maneiras, mostrando a sua relação com o outro que é diferente de você. Seja porque pertence a outra cultura, se veste diferente de você, tem costumes diferentes, ou porque é um gay, um trans, ou porque pensa de uma forma que você não pensa. É sempre essa relação entre o eu e o outro que me interessa.

É disso que vamos falar em A Força do Querer: de vontade, de quereres. Numa época em que o advento da internet, a expansão das mídias sociais está pondo na mão de cada pessoa um “microfone”, isso exacerbou de uma forma muito grande a vontade de impor o seu querer em relação ao outro em muitos aspectos.

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