Mãe de três filhos, Mariana Kotscho fala de nova fase de programa na Cultura: “Muitas dicas pra facilitar o dia a dia”

Publicado em 08/05/2017

Há oito anos à frente do Papo de Mãe, atração inicialmente exibida pela TV Brasil, a jornalista e apresentadora Mariana Kotscho é um exemplo de como a maternidade transforma não só a vida pessoal, mas também a profissional de muitas mulheres.

Mariana trilhava uma carreira estável como repórter da TV Globo por quase 12 anos, e a rotina puxada com plantões e horários diferentes a cada dia fizeram com que ela tomasse uma decisão: pedir demissão e ir em busca de novos caminhos no jornalismo e continuar dando conta da maternidade.

Ao lado de sua colega de trabalho e amiga pessoal, Roberta Manreza, Kotscho criou o Papo de Mãe, programa que aborda os mais variados assuntos sobre maternidade. Em nova fase, a atração passa a ter outro nome, Momento Papo de Mãe, ser diária e exibida três vezes ao dia pela TV Cultura, às 8h, 11h45 e 17h45.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Mariana revela curiosidades sobre o programa, conta novidades da estreia e os resultados alcançados por conta de um tema abordado, crianças desaparecidas: “Dois dias depois chegou um e-mail. Era do interior do Ceará com informações de uma das desaparecidas. Mãe e filha se reencontraram onze anos depois”, comemora a apresentadora que também é filha de um jornalista, Ricardo Kostho, comentarista de política da Record News.

Confira:

Durante alguns anos você trabalhou como repórter da TV Globo, SBT e Record. Por que optou por apresentar um programa que tem como tema principal a maternidade?

Durante os 12 anos em que fui repórter da TV Globo, entrevistei muitas mães por todo o Brasil.  Conheci famílias de diversas classes sociais, com muitas realidades. E neste período também tive meus três filhos. Com praticamente três bebês, a rotina de repórter de rua (com horários malucos e plantões) se tornou incompatível com a rotina de mãe. Passei pelo dilema pelo qual passam muitas mulheres entre priorizar carreira ou maternidade.

Na época, em 2007, quando meu caçula ainda era bebê, decidi pedir demissão da TV Globo. Foi difícil porque adorava meu trabalho. Só que eu não queria (nem podia) parar. Queria seguir com o jornalismo, senti que podia continuar na profissão, mas mudar um pouco os rumos. Encontrar um caminho em que pudesse trabalhar e ter tempo para meus filhos.

Como estava muito envolvida com o tema da maternidade e várias amigas da redação, como Ananda Apple, Sandra Annenberg e Rosangela Santos, tinham tido filhos na mesma época, eu pensava: “junte duas ou mais mães e vira um papo de mãe”. Minha amiga de infância e também jornalista, Roberta Manreza, estava na TV Globo também e tinha uma filha da idade da minha mais velha. Nos unimos com esta ideia de juntar jornalismo e maternidade e criamos o Programa Papo de Mãe.

Meu objetivo era tratar de um assunto interessante pra mim e com o qual eu pudesse ajudar outras famílias. Quem tem filhos tem dúvidas, angustias, dilemas e precisa dividir tudo isso com alguém. O programa promove essa troca de experiências e presta um serviço, levando para todos o debate e a informação – com a orientação de especialistas renomados em diversas áreas.

Já são mais de oito anos à frente da atração. O que mudou ao longo desses anos no conceito maternidade e/ou novas famílias?

O primeiro programa foi ao ar dia 21 de setembro de 2009 pela TV Brasil e nunca mais saiu do ar. Está na TV Cultura desde o começo de 2016. Foi sempre um programa semanal, com uma hora de duração. Descobrimos que o telespectador se sente respeitado quando você pega um tema e se aprofunda. Isso vai contra até o que a gente escuta por aí. Dizem que as pessoas só querem “coisas curtas”, “superficiais”. Não é verdade. Quando se trata de um filho você quer saber mais, falar mais e mais. Muita gente reclama que o programa acaba passando “muito rápido”, apesar de ter uma hora. Acho que se deixassem a gente poderia ficar falando horas e horas. O assunto nunca acaba. Quem já participou de uma gravação sabe disso.

Em oito anos foi possível a gente notar uma transformação das famílias, sim. Antes as mães diziam “meu marido ajuda”, hoje elas já mudaram o discurso para “nós dividimos as tarefas”. As mães passaram a se cobrar menos e não tentam mais ser perfeitas em tudo, mas fazer o que é possível. Mesmo assim ainda lidam muito com o sentimento de culpa.

Não apenas as mães participam do Papo. Pais sempre participam. Avós, parentes e amigos também se envolvem. E hoje a sociedade começa a aceitar melhor as “famílias diferentes”: com pais gays, pais separados ou outros formatos. Porém, preconceito é algo que ainda precisamos quebrar em vários casos. Outro tema que ganhou mais espaço foi o da inclusão; assunto extremamente necessário, inclusive, para quebrar esses preconceitos. Não podemos mais aceitar, por exemplo, que usem certos termos que ofendam o outro. Como “ah, aqui ninguém é autista pra viver isolado”. Quem diz isso parou para pensar nas crianças autistas? E nas suas mães ou pais? Não é uma questão de ser “politicamente correto”, mas “humanamente justo”. É uma questão de respeito. Um dos assuntos que mais preocupam os pais é a relação dos filhos com eletrônicos e redes sociais. Muitas dúvidas, muita coisa a aprender e ser discutida. Uma preocupação dos pais desta geração, algo que meus pais não viveram.

Apresentar um programa sobre saúde e comportamento em um país com altos níveis de desigualdade traz grande responsabilidade, mas levar informação de qualidade para as mais variadas regiões também é motivo de comemoração. Como analisa esse contexto? 

Nós falamos no programa sobre a saúde, a educação e o comportamento dos filhos em todas as idades. Mesmo com tanta informação por aí, os pais querem informação de confiança, com credibilidade. Querem participar da conversa. Por isso nosso programa é feito também com a participação dos telespectadores que nos escrevem mandando perguntas e sugerindo temas. Criar um filho é um desafio diário.

Com o programa nós conseguimos chegar a todos os cantos do país e nosso objetivo é falar com pais e mães de diferentes classes sociais, com realidades diferentes, na tentativa de levar informação relevante e de qualidade para todos. Uma pessoa bem informada sabe mais dos seus direitos para lutar por eles. Uma mãe ou um pai com dúvidas, se sente amparada/o. Com a troca de experiências ninguém se sente sozinho. Nossa ideia não é ditar regras, mas mostrar caminhos, possibilidades. Nem sempre o que funciona numa casa vai funcionar em outra.

O programa já trouxe resultados que fazem valer nosso trabalho. No programa com mães de filhos desaparecidos, por exemplo, mostramos algumas fotos de crianças desaparecidas. Dois dias depois chegou um e-mail pra gente. Era do interior do Ceará com informações de uma das desaparecidas. Mãe e filha se reencontraram onze anos depois.

O retorno do público pelas redes sociais e audiência explica o sucesso da atração? 

Em oito anos, o Papo de Mãe foi criando uma “rede”. Recebemos e-mails e mensagens via redes sociais de gente do Brasil todo e também de fora do país. Enquanto foi ao ar pela TV Brasil, o programa era exibido em países de língua portuguesa. Além disso, muita gente nos acompanha também pela internet ou Youtube. Hoje em dia é assim: você tem que estar em todas as mídias.

Uma das coisas que mais gosto de fazer é responder pessoalmente a quem nos escreve. Às vezes não dou conta, meu dia precisava ter umas 48 horas. Mas a gente valoriza muito esta participação, fazendo as perguntas no programa ou lendo comentários, mandando beijos. É como se todos participassem do papo ali com a gente.

Já teve mãe que escreveu: – “Estava grávida quando comecei a acompanhar o programa. Hoje meu filho tem sete anos e são vocês que me ajudam a educá-lo”. Isso nos dá uma responsabilidade gigante. Eu sempre digo que não tenho receitas nem resposta pra tudo.

As dificuldades e dúvidas que as outras mães têm, eu tenho também. Tem muita coisa linda na teoria que é uma dificuldade colocar em prática. Eu também aprendo muito com os programas e com os telespectadores. Vários já tentaram me ajudar, por exemplo, a conseguir fazer meu filho comer fruta. Nada deu certo até hoje. Mas continuo tentando! As redes sociais nos aproximam do público. É uma troca maravilhosa.

Ser mãe de três filhos certamente faz de você um case para o programa, não?

Eu acabo contando muitas histórias minhas, o que é natural. O programa é uma troca, um papo. As coisas que acontecem na minha casa acontecem nas outras casas também e é isso que faz com que quem tem filhos se identifique. Porque tem coisa que você acha que só acontece com você e com mais ninguém. Ao descobrir que aquilo é mais comum, isso ajuda.

Eu costumava pensar que na casa dos outros tudo funcionava. Enquanto na minha era uma luta pra mandar pro banho ou uma guerra pra fazer dormir cedo, tinha a impressão de que em outros lares era só mandar pro banho ou dormir que tudo funcionava. Daí, ao contar como é sua realidade, descobre que a dos outros não tem nada de perfeita. Isso dá um alívio.

As pessoas costumam me perguntar: Como você dá conta de trabalho e três filhos? E eu digo: mas eu não dou conta! Agora mesmo, sabe o que aconteceu? Estava respondendo a essa entrevista e tocou meu telefone. Era minha filha. Me esqueci da hora e não fui pegá-la no Inglês. Olha o diálogo:

-Mãe, cadê você?
-Filha, te esqueci no inglês! To respondendo uma entrevista e perdi a hora. Desta vez ela disse “relaxa”.

Acho que já conhece a mãe que tem. Meu marido (que é o padrasto) viu meu desespero e disse para eu continuar aqui que ele iria buscá-la.

Mariana posa ao lado dos filhos Laura, (14), Isabel (11) e André (9). (Divulgação)
Mariana posa ao lado dos filhos Laura 14 Isabel 11 e André 9 Divulgação

Então, mãe de três é assim. Ou pelo menos eu sou: mãetorista, que, às vezes, esquece o filho na escola, que já chegou ao dentista um dia antes da consulta marcada, que outras vezes deu o cano no dentista, que se atrapalha um pouco, vive pra cima e pra baixo, dá uns chiliques e conta com a ajuda de quem quiser ajudar. E sempre que posso, ajudo outras mães. Esta cumplicidade é fundamental para darmos conta. O lado bom, eu acho, é que meus filhos dizem que eu sou divertida. Já é alguma coisa.

Tem alguma experiência que gostaria de compartilhar? São três crianças. É verdade que com o primeiro os cuidados são redobrados, já em relação aos demais há uma “acomodação”?

Eu não tive muito tempo para isso porque veio um atrás do outro. Nasceu a Laura, dois anos e dez meses depois a Isabel e um ano e três meses depois o André. Costumo dizer que o terceiro veio de brinde. Claro que com o primeiro você tem mais tempo, inevitável dar mais atenção. O primeiro também tem mais fotos reveladas. Tenho que confessar que Laura tem uns dez álbuns. Isabel uns 5 e o André…. no máximo 2. O fato é que a filha 1 acha que você dá mais atenção pra filha 2 que acha que você mima o filho 3 que acha que você prefere a 1.

No fundo estão todos certos. Mas eu me considero uma mãe preocupada e chiliquenta. Dureza é que quando dou chilique eles acabam rindo da minha cara. Ter filhos é uma grande aventura.

O que mudou no seu comportamento ou até na criação dos seus filhos por conta do programa?

Meus filhos cresceram junto com o Papo de Mãe. Costumo dizer que o programa é meu quarto filho. Defendo com unhas e dentes e não deixo ninguém falar mal dele. No cenário tem um espaço pra crianças, onde podem ficar os filhos dos convidados e de quem trabalha ali, como a Roberta Manreza e eu. Nos primeiros, o André era um bebê.

No primeiro programa que foi ao ar, tem ele dormindo num cantinho do cenário. Hoje ele só quer saber de futebol, lego, minecraft. Claro que me “aproveito” do programa em causa própria e tiro muitas dúvidas minhas, que também são as dúvidas de outras famílias. Então tudo se mistura um pouco. Minha vida e o programa.

Além disso, eu e a Roberta somos amigas desde os sete anos. Estamos com 44. Já viramos irmãs. A gente trabalha junto e convive muito, nos ajudamos bastante no trabalho e na vida. Acho que o público gosta dessa nossa parceria e percebe uma cumplicidade genuína na nossa amizade, algo raro hoje em dia. Fazemos um trabalho com dedicação. Quando isso é verdadeiro, as pessoas sentem.

Suas amigas tiram dúvidas com você por conta dos temas que aborda?

Elas comigo e eu com elas. Muitos papos me inspiram para programas futuros. Acho que como tenho muita informação, já tratei de todos os assuntos, acabo dando uma de conselheira. Mas procuro não ser chata e intrometida, apenas quando me pedem. Falar é comigo mesmo. Falo pelos cotovelos. Tenho que me controlar. O que faço é tomar cuidado para não parecer que estou ditando regras. Quando tenho algo a dizer, comento que tal assunto foi falado em algum programa ou cito a dica de algum especialista. Eu sou uma mãe, jornalista, que em oito anos aprendeu demais fazendo o Papo de Mãe. Mas não sou médica, nem educadora, nem psicóloga. Para isso contamos com uma rede de especialistas/colaboradores muito competente.

Você divide a atração com outra jornalista. Como é feita a seleção de pautas? Como dividem as pautas entre vocês, apresentadoras?

Como eu disse, eu e a Roberta Manreza somos como irmãs. Estamos nesta, juntas, desde o começo. Tivemos a ideia, criamos o nome, batalhamos muito para tudo dar certo (e continuamos batalhando). Profissionalmente nós nos completamos. Nenhuma das duas daria conta sozinha. Não é só o programa na TV, tem o site, as redes sociais, novos projetos. E temos nossos filhos.

Mariana e Roberta nos bastidores do novo programa da TV Cultura (Foto Nadja Kouchi/TV Cultura)
Mariana e Roberta nos bastidores do novo programa da TV Cultura Foto Nadja KouchiTV Cultura

A gente costuma se falar todos os dias o dia inteiro por whatsapp trocando ideias para programas, personagens, fazendo textos. Na TV Cultura fazemos reuniões de pauta uma vez por semana. Quando o tema são os filhos, assunto nunca falta. Temos uma lista interminável. Um mesmo tema sempre pode voltar com uma outra abordagem. Então, a gente avalia os temas mais do momento. Agora temos um novo desafio, que é um programa diário.

Nesta temporada serão 170 episódios de 15 minutos de duração. Existe a possibilidade de retomar o Papo de Mãe com até uma hora de duração voltado para questões de todas as idades?

O programa Papo de Mãe com uma hora de duração está no ar aos sábados na TV Cultura, que vem reprisando os programas que foram ao ar na TV Brasil. Nesta segunda, dia 08, a gente estreia o Momento Papo de Mãe. Diário. A ideia é voltar a gravar os semanais inéditos ainda este ano, com um novo formato. Para toda a família e falando dos filhos de todas as idades. Costumo dizer que todos se identificam com o programa. Porque você pode não ser pai, nem mãe, nem avó, nem tia. Mas filho todo mundo é.

Por que apostar em um formato de 15 minutos, diário e com foco nos primeiros anos da infância?

O novo programa Momento Papo de Mãe vem com um novo formato e de cara nova. Aliás, o cenário novo ficou lindo. Nós estávamos há quase oito anos com o mesmo formato e havíamos mudado o cenário apenas uma vez. Chegou a hora de renovar. As grávidas e mães/pais com bebês e crianças pequenas têm muitas dúvidas. Se forem pais de primeira viagem então, é um mundo novo. Os programas diários com 15 minutos são pontuais e com muitas dicas pra facilitar o dia a dia. A gente sempre recebe uma mãe ou pai (ou o casal) que pode levar o filho/a e um especialista. Os primeiros programas, por exemplo, vão dar dicas sobre amamentação, banho, uso ou não de chupetas, hora do parto e por aí vai. Procuramos falar de saúde, comportamento, educação, desenvolvimento. Mas como sabemos que os filhos crescem e os pais terão novos questionamentos, não vamos abandonar esses pais. O programa semanal continua no ar e em breve virá também com inéditos e de cara nova.

Nesses oitos anos certamente há uma história curiosa envolvendo pais e filhos, não? 

Uma vez a gente decidiu fazer um programa sobre filhos quarentões que ainda moram com os pais. Então ligamos para uma senhora:

– Você gostaria de participar de uma gravação do Papo de Mãe?
– Eu? Eu não, meus filhos já são grandes.
– Mas a senhora deixou de ser mãe?

Resumindo: ela participou e adorou. Mãe é mãe pra sempre, assim como pai é pai pra sempre. E a relação com os filhos trará sempre muito papo para todos.

Uma das próximas convidadas da atração é a apresentadora do Bem Estar, Mariana Ferrão:

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