Lucy Ramos fala sobre advogada durona vivida em O Tempo Não Para: “Exige muito das pessoas”

Publicado em 26/07/2018

A partir do dia 31 de julho, o público irá conhecer Vanda Lorde, personagem de Lucy Ramos em O Tempo Não Para, nova novela das 19h da Globo. A moça será uma advogada exigente que assume o cargo de diretora jurídica na SamVita, empresa do jovem Samuca (Nicolas Prattes). Osso duro de roer, ela é conhecida por todos como Vandeca Pitbull.

Ao Observatório da Televisão, Lucy conversou sobre a personalidade de sua nova personagem e os mistérios que podem estar por trás dela, incluindo uma possível criação paterna. Com um visual novo, a atriz também falou sobre como é ser referência para quem está passando pela fase de transição capilar. “As meninas sofrem muito, mas eu falo que a transição vem junto com uma mudança interior”. Confira:

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Como será a sua personagem?

O nome dela é Vanda Lorde, apelidada por Vandeca Pitbull. Imagina o que vem pela frente, né…. É uma advogada, diretora jurídica de uma empresa chamada SamVita. É uma personagem muito forte, onde ela trabalha num meio muito masculino. Ela trabalhou muito, tem muita força e exige muito das pessoas. Por isso o apelido dela é Vandeca Pitbull. É um meio muito masculino e ela é uma mulher negra, exercendo essa profissão. É uma personagem muito bacana e instigante.

Lucy Ramos fala da relação de sua personagens com os protagonistas

Qual será a relação dela com a história dos congelados?

Ela trabalha na empresa SamVita, que é a empresa do Samuca (Nicolas Prattes). Então ela que resolve todos os problemas, todos os pepinos. Tudo passa por ela. Por enquanto é isso que a gente sabe.

A maioria dos personagens terá uma dose de humor. Com a Vanda vai ser diferente?

Não, por enquanto ela é essa seriedade. Mas o que eu sei é que ela não é só isso. A gente não tem a outra parte da Vanda. Ela tem esse apelido de Vandeca Pitbull, mas ela pode ser qualquer outra coisa além disso. O diretor sempre fala: ‘ela não é só isso. Ela não é esse monstrinho todo’. Ela é um personagem completamente diferente do que eu já fiz. Todos os personagens que eu já fiz eram dóceis, coitadinhas.

Referências

Onde você buscou referências para viver essa personagem?

Eu estou fazendo fono, tenho a preparadora. Encontrei uma Vanda da vida real. Ela chama Analu Nogueira, uma advogada, negra, diretora jurídica de uma empresa. Ela está com 40 anos agora, mas começou com 16. Então ela já passou por milhões de coisas. Eu pego muita coisa da vida real dela. Ela é durona também com os funcionários.

E ela falou que quando começou estagiando, a chefe dela era durona, então ela passou a ser durona também. Aí eu falei que podia ser porque a minha estagiaria é a Paulina, a Carol Macedo, e eu sou muito durona com ela. Então é muito parecido. É legal quando você se inspira com uma pessoa real, você vê que tudo o que faz acontece mesmo.

Essa característica durona pode ser pelo fato de trabalhar em um meio masculino?

Sim. E por ser mulher se virando ali, e vai saber a vida dela. Se ela teve uma vida dura. Ela foi criada por quem? Eu creio que ela foi criada pelo pai, e ele falando que para sobreviver nesse meio ela tinha que ser forte. Não podia ser mulherzinha ou qualquer coisa do tipo. Então, eu criei toda uma estrutura para que ela tivesse lógica na dureza dela.

Trajetória como atriz

Como você tem visto sua caminhada como atriz? Quantos anos você tem de carreira.

Mais de dez anos de carreira. Eu acho que as coisas acontecem no momento que tem que acontecer. Acho que as coisas estão caminhando muito bacana. Profissionalmente está havendo um crescimento. Claro que, por mim, eu seria a Vanda Lorde. Trabalharia 24 horas por dia. Mas a nossa profissão tem esse tempo, tem que ter muita paciência. É sempre trabalhar, sempre ficar a atentar e de olho em tudo. Nunca estacionar, porque se a gente estaciona tudo para.

Como você vê a questão da representatividade ao mostrar que uma mulher negra pode viver um personagem bem-sucedido?

Não é mimimi falar disso. A gente precisa falar cada vez mais. E as coisas, Graças a Deus, estão mudando. As pessoas estão mudando seus pensamentos porque está se falando disso, porque se a gente não fala disso se esquece. As pessoas acham que está tudo bem, tudo certo. O Mario Teixeira é maravilhoso. Já é a segunda novela que eu faço dele. Na primeira, eu fiz uma psicóloga, um personagem muito importante. E agora estou fazendo uma advogada.

Ele pensa em colocar os negros numa posição de normal, dando poder a eles, não só colocando como inferiores. É muito legal o Mario porque ele pensa sempre nisso. Eu acho importante falar, estar ali, ver. É importante ter essa mulher forte no poder, comandando outras pessoas também, em um posto masculino provando que pode sim ter e existe. Eu vi uma pessoa real. Existe, pode e tem! Então por que não escrever sobre? Por que não colocar ali?

Preconceito

Você sofreu algum tipo de preconceito para conquistar o seu espaço? Precisou lutar muito?

Eu acho que diariamente a gente luta. Diariamente a gente está conquistando o nosso espaço. Eu tive uma criação muito boa. De uma certa forma inocente, mas muito boa. Onde a gente não olha as pessoas pela cor ou porque é gorda, magra, japonesa e, sim, pelo sentimento e pelo o que as pessoas são. Eu enxergo a vida assim, então foi mais fácil para mim. Eu acho que essa forma tão inocente que a minha mãe me criou foi boa para mim.

E depois que você tem esse conhecimento, por estar num lugar público, você vê a importância que tem também. Não é só você mundo. Você tem que dar exemplo para outras meninas, tem que incentivar, tem que inspirar, tem que trabalhar também a autoestima. Você passa a pensar diferente, passa a estudar sobre também.

Eu estou lendo um livro muito importante, chamado Um Defeito de Cor, que é um livro que tem 947 páginas. É um romance, mas que fala sobre a história de uma africana que veio para o Brasil em 1800 e tantos lá atrás. É um romance que fala muito sobre a cultura do negro, como ele se descobriu no Brasil, fatos históricos.

Exigências como Vanda

Esse livro é ambientado no mesmo período em que a novela?

A novela fala de 1886 e o livro fala ainda um pouquinho antes. Quando os portugueses chegaram, toda a guerra, toda a invasão dos escravos. Enfim, é muito coisa. É muito importante até para nós que somos negros entender isso. É muito importante ler, estudar para poder falar com propriedade. Senão, você fica falando o que todo mundo está falando e nem sabe.

Você é exigente no trabalho como a Vanda?

Eu sou muito exige. Eu sou exigente comigo e com quem trabalha comigo. Direto eu ouço: ‘nossa, Lucy, você é muito exige’. A gente tem que ser. Se não for assim, vai levar as coisas de qualquer jeito. Não pode! Isso é uma coisa em que sou muito parecida com a Vanda.

Você mudou o visual para a personagem?

Mudei. Quando eu fui gravar, me olhei no espelho e falei: ‘hum, agora eu estou me identificando com esse visual’. Demora um pouco, eu fiquei muito tempo com o outro visual. Para chegar nesse e entender, demora.

Cachos

Estamos em uma fase onde as meninas estão passando pela transição capilar e assumindo seus cachos. Como você lida com isso?

As meninas me têm como referência. Eu tenho até o Segundo as Cacheadas no Instagram, que eu resolvi fazer como uma forma de atender todos os pedidos. É muito sofrimento, muita aceitação. Durante anos disseram que ser cacheada era feito, não era legal, era marginalizado. E agora, graças a Deus, a gente está nesse momento de transição mesmo, não só no cabelo. Mas de conhecimento, pensamento. Transição em vários outros sentidos, além do cabelo.

É um momento muito bacana das pessoas se reconhecerem, se entenderem e se aceitarem na aparência que são. Você vai passar a vida inteira tentando ser algo que não é? É muito melhor se aceitar e entender o que você é. As meninas sofrem muito, mas eu falo que a transição vem junto com uma mudança interior. Não é só exterior.

Transição capilar

Como é ser referência de um movimento como esse da transição capilar?

Eu sei que elas me têm como referência, mas eu sempre me coloco no lugar de que não sei de tudo. Não sei de nada, eu sei das minhas experiências. Eu passo as minhas experiências para elas e quero que elas passem as delas para mim também para trocarmos. Tanto que no Segundo as Cacheadas eu deixo claro que é um espaço de troca, de compartilhamento. Não é de “eu sei tudo. Eu sou a senhora da razão”. Não, eu não sei de nada. A gente compartilha.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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