Leonardo Bittencourt sobre o Hugo de Malhação: “As besteiras que ele faz são por falta de maturidade”

Publicado em 28/04/2018

Em Malhação: Vidas Brasileiras, Leonardo Bittencourt interpreta Hugo. Considerado vilão por parte do público, o aluno de Gabriela (Camila Morgado) na trama é um pouco machista, além de ter demonstrado clara intolerância a religiões africanas. Em conversa com o Observatório da Televisão, Leonardo falou sobre sua mudança de Manaus para o Rio de Janeiro, e defendeu o personagem dizendo que acredita que Hugo não seja um garoto malvado, e sim imaturo, tendo assim atitudes inconsequentes. Confira o bate papo completo com o ator:

Leia também:  “É um marco da TV brasileira”, afirma André Luiz Miranda sobre Malhação

O que a sua família, lá de Manaus, está achando do seu trabalho?

“Eles estão felizes, muito orgulhosos. Minha mãe manda mensagem todo dia para dizer que está feliz com o resultado e isso me deixa feliz. É lógico que a carreira é uma construção, mas é muito bom poder já dar esse retorno para a minha família.”

Você fez o teste para Malhação outras vezes?

“Para ‘Malhação’ foi a primeira vez, mas eu já tinha feito outros testes para outras coisas e não é que deram errado, me deram aprendizado.”

O que você acha do Hugo?

“Desde que eu peguei o papel, eu pensei que eu deveria representar uma pessoa comum, sem essa de mocinho ou vilão. O Hugo é só um garoto muito novo, inconsequente, que não sabe direito o que está fazendo. Acho que as besteiras que ele faz são por falta de maturidade e a gente vai ter a oportunidade de ver esse menino crescer.”

O Hugo teve um certo preconceito com o candomblé…

“É uma falta de conhecimento, a nosso sociedade é muito conservadora e tem esse tabu com religiões que não são tradicionais. Esse estranhamento é quase natural, muitas coisas a gente aprende por senso comum. O Hugo é uma pessoa que repete, reproduz o que escuta. O Hugo já sofreu bastante nas redes sociais, o que é bom. Isso mostra que as pessoas estão vendo que ele não está certo.”

Nós estamos retrocedendo ou evoluindo?

“Eu acho que é um processo. Eu mesmo já critiquei o politicamente correto e depois entendi que não é isso, existem várias formas de se fazer piada e se divertir. Não é uma questão de evolução ou denegrir quem pensa assim, é entender que tem dois lados.”

Como você era na idade do Hugo?

“A gente sempre se acha maduro com 16 anos (risos). Tudo tem a ver com o lugar que você vive. Eu cresci em Manaus e era diferente daqui. Quando eu percebi que existem várias maneiras de se viver, eu aprendi que não existe certo ou errado. Eu já fui muito inconsequente, mas o Hugo é um pouco mais.”

Você conviveu com pessoas intolerantes?

“A gente tem que olhar para a intolerância com humanidade, muitas vezes a pessoa intolerante não teve culpa de crescer em um lugar que o fizesse pensar assim. Tem gente que repete pensamentos sem nem perceber seus vacilos. Eu, por exemplo, quando fui tirado de um contexto de sociedade, aprendi a ver o diferente. Eu gostaria que todo mundo soubesse que existe o outro lado.”

Você veio para o Rio para fazer Malhação?

“Não. Eu vim para o Rio em 2013 para fazer teatro. Teve um determinado momento da minha vida que eu entendi que queria isso, mas não tinha possibilidade de seguir carreira em Manaus. Por coincidência, meu pai morou junto com a tia do Malvino Salvador e nós entramos em contato com ele pedindo indicação de algum lugar que eu pudesse estudar teatro. Ele me passou e eu conheci o Daniel Rangel lá. Não vim pela fama, isso é uma consequência.”

Quando você decidiu se mudar, teve uma certa resistência da sua família?

“Eu tinha uma vida ok, com faculdade, emprego, carro. Quando falei para a minha mãe que ia morar em outra cidade, ela entrou em choque. Depois, ela percebeu que era o que eu sempre quis e investiu. Desde então, recebo muito apoio. Não é uma profissão fácil.”

Você fez um curso de dublagem para te ajudar a decorar os textos?

“Nunca tive problema para decorar, mas no curso de dublagem a gente olhava o roteiro e tinha o original passando na TV. Você precisa sintonizar o texto com o movimento labial, e esse processo de tentar sincronizar me forçou a decorar mais rápido. Eu não poderia olhar e ler ao mesmo tempo. A dublagem é outra paixão que eu descobri, quero muito trabalhar com isso algum dia.”

Você está preparado para as pedradas por causa do seu personagem?

“É lógico. Na semana que ele forçou a barra com a Verena (Joana Borges), eu recebi muitas mensagens. Eu sei separar as coisas, se as pessoas estão com raiva dele, é sinal que meu trabalho está sendo bem feito.”

Você estudou sobre o candomblé?

“Eu converso bastante com a Luellem de Castro, que é do candomblé. Eu sou católico, acredito em Deus, mas sempre gostei de ouvir sobre costumes e crenças diferentes. Eu aprendi um pouco com ela e o resto eu me deixei levar para aprender com o próprio personagem.”

Você tem medo de se deslumbrar?

“Não. Eu sou muito verdadeiro e sincero, eu sou simples, não vou mudar por causa de um trabalho.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade