Éramos Seis

“Karine tem um caráter arriscado”, avalia Mayana Neiva

Atriz vem dando o que falar nas cenas com Nícolas Prattes

Publicado em 03/03/2020

Mayana Neiva não é o tipo da atriz que precisa se esforçar muito para roubar a cena na telinha. Seja por sua beleza exuberante ou pela densidade rara que imprime às suas personagens, a pernambucana de 36 anos é uma figura que dificilmente passa despercebida pelo espectador – e em Éramos Seis não tem sido diferente.

A própria Mayana enxerga como uma mulher à frente do próprio tempo sua personagem na história, Karine – que deixou de lado a estabilidade do casamento com Assad (Werner Schünneman) para viver a paixão proibida por Alfredo (Nícolas Prattes). “Ela é uma mulher bem atípica para os anos 1930, é o mínimo que eu posso lhe dizer! Ela é voluntariosa, ela faz o que ela quer… Toca o terror nessa história, onde as mulheres são mais tranquilas”, observa.

Confira a entrevista completa com esta grande artista.

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – Como está sendo para você a experiência de atuar em Éramos Seis?

MAYANA NEIVA – Essa novela é muito bem executada, muito bem cuidada. É o remake de um clássico, mas com um cuidado supermoderno, em termos de câmera, de escolhas de ângulo e de atuação também. Tem um figurino lindo! Toda a construção da época é muito bem cuidada. Entrega um trabalho muito bem finalizado, de que a gente tem bastante orgulho.

Como tem sido viver a Karine?

[risos] Ela é uma mulher bem atípica para os anos 1930, é o mínimo que eu posso lhe dizer! Ela é voluntariosa, ela faz o que ela quer… Toca o terror nessa história, onde as mulheres são mais tranquilas. A Karine é mais ‘acelerada’.

Você acha que ela está com o Assad por amor ou somente por interesse?

No começo eu achava que era por amor. Acho que ela tem sim um desejo de ser amada, de ser reconhecida. Mas eu senti que ela investiu muito no casamento e aos poucos foi sentindo a diferença de idade pesar entre eles… E ela está viva, ela quer viver uma história! Aí acabou se apaixonando pelo Alfredo… Acho que tem uma mistura de um monte de químicas aí nessa trama da Karine.

Mas o Alfredo não quer nada com nada…

É, o Alfredo quer é ir pro mundo! [risos] Acho que ela não esperava ser pega por esse sentimento. Acho que ela estava muito ‘no controle’, e o Alfredo começa a descontrolá-la um pouco nessa reta final… Mexe muito com ela. Acho que ela se apaixona mesmo por ele, e o fato de ele a ter abandonado deixa a Karine meio desestabilizada. E todo esse controle que ela tinha antes ela deve ir perdendo agora no final da trama.

Como o público nas ruas reage em relação à Karine, sobretudo após a traição?

As pessoas falam, né? [risos] Mas eu acho que uma novela é feita pra isso, né? Pra mexer com as pessoas. E a Karine tem mesmo um caráter… ‘arriscado’. [risos]

Resta saber o que o Werner tem ouvido falar sobre o ‘chifre’…

Coitado, gente! O Werner é um querido! A gente tem um clima muito bom aqui. A Rayssa [Bratillieri, intérprete de Soraia] e o Werner são companheiros muito queridos.

E o lado madrasta dela? O que você acha a respeito?

É, novela tem essa coisa de ser meio um jogo de futebol, né? A bola vai pra um lado, depois vai pro outro… No começo, a Karine fazia de tudo pra pertencer – acho que o grande desejo dela é pertencer àquela família. Então ela fazia de tudo pra agradar a Soraia… E, de uma hora pra outra, como o Alfredo vai tirando o chão dela, ela vai agora ficar com ódio dessa família. Vai começar a surgir algo ruim da parte dela em relação à família do Alfredo, e aí começa a desenhar essa parte da dramaturgia que vai chegar pro final [da novela].

O que você imagina que seria legal acontecer com a Karine no final da novela?

Ela é tão diferente de mim… A gente sempre quer que o personagem aprenda alguma coisa porque tem uma visão moral. Mas tem algumas pessoas que vêm com um desenho de caráter totalmente diferente, né? Um caráter ‘arriscado’! [risos] Vai fazer o quê? Eu acho que ela é ousada, faz o que quer. Principalmente pra aquela época, o segundo casamento era uma coisa muito ‘diferente’, difícil de acontecer. Até eu me lembro que, quando era criança, a pessoa se casava de novo e era aquela coisa… Hoje já é mais comum, mas ao mesmo tempo as relações são muito mais líquidas, se trocam mais rápido. Nos anos 30, você se casar de novo, ser madrasta era outra coisa… O nosso núcleo discute também essa questão, de um segundo casamento e desses conflitos aí que não são poucos.

A Karine aconselha bastante a Soraia…

Ela acha que sabe tudo, é estrategista! Ela sente um certo prazer em dizer ‘olha, Soraia, eu sei disso, sou mais experiente que você, vou te ensinar o caminho das pedras…’ Porque, na época, o poder era dado à mulher através do casamento – uma coisa muito questionável e bem interessante de ser discutido, porque, graças a Deus, nós já passamos disso! [risos] Mas, antes, o posicionamento da mulher na sociedade era dado através do casamento. Nosso núcleo também discute esse conflito.

As pessoas, quando falam sobre a Karine e o Alfredo, o que dizem? Têm te repreendido ou têm te incentivado a ficar com o ‘novinho’?

Uma parte das pessoas vê que ela estava um pouco frustrada no casamento, o Assad dormia na sala e tal… Ela queria muito viver! Então muita gente incentivava, enquanto outro grupo dizia ‘mas não traia seu marido!’ [risos] O público está meio dividido. Mas acho que novela é pra isso mesmo. E tem personagens que vêm pra contestar a lógica da história, pra trazer um movimento, uma loucura, uma coisa que não é tão certinha assim.

Você acredita que hoje as pessoas não julgam tanto ao ver uma mulher traindo – mesmo que seja numa novela ambientada nos anos 1930?

Com certeza! O machismo existe, né? Eu não sou a favor [da atitude da personagem]. Como falei, a Karine tem o caráter bem ‘arriscado’, e eu me vejo muito diferente dela. [risos] Jamais aconselharia, por exemplo, a minha sobrinha a dar em cima de um cara que tem noiva. Eu sou bem assim, ‘da meditação’, e acho que tudo o que a gente faz volta pra gente. Mas a Karina, ela tem esse fogo mesmo, tem zero preocupação. Está ali pra tocar o terror, pra fazer o que ela quer. Isso naquela época, pra mim, faz dela meio à frente do tempo, porque as mulheres [nos anos 30] eram muito contidas, repreendidas pela cultura. Já a Karine tem uma coisa de sobrevivente mesmo.

Ela faz isso porque se sente bem fazendo ou porque tem alguma maldade?

Não acho que tenha maldade. Acho que ela faz as coisas porque… Falta noção! [risos]

Você que a Karine jogaria o casamento para o alto a fim de viver essa paixão com o Alfredo?

Eu acho que ela realmente se apaixonou pelo Alfredo, e que esse sentimento e o fato de ele a ter deixado começa a ‘contaminar’ toda a história dela nessa reta final. Eu, como pessoa, desaprovo isso [a traição], mas entendo que naquele momento a Karine precisava de uma fagulha de vida, e o Alfredo era isso. A saída dele vai deflagrar sim uma série de coisas, e ela vai ficar mais descontrolada, acredito.

Você se identifica com a sua personagem no sentido de ela oferecer conselhos, dar uma ‘palavrinha amiga’?

Cara, vou falar… A Karine é totalmente diferente de mim, e não estou dizendo que sou uma pessoa boa não… [risos] Mas tem personagens que desafiam a sua lógica. Até pra mim, às vezes, construir um personagem assim… É muito diferente, mas é bom também, porque te dá outros recursos, né? Outros pontos de partida que não o seu psicológico. Porque, se você julgar, você não faz. Então você tem que se divertir – ‘qual é a onda dessa pessoa [personagem]?’ Creio que a gente, na arte, trabalha com essa amplidão, não no julgamento. Isso faz com que a gente aceite, expanda, viva mais, sem questionar tanto as coisas. Sobre a questão de dar conselhos… Acho que sou mais de dar amor, acolher, ‘vamos lá em casa tomar um chá’… Taurina, né? [risos]

Você acha que um casamento sobrevive sem fogo, sem adrenalina?

Esse é um ponto profundo… [risos] Eu acho que casamento é uma coisa muito complexa. Por ser um projeto de longo prazo, ele tem vários ciclos, né? E é super importante ter confiança, e ser ardente também – mas isso muda com o tempo. É importante a gente entender que tem ciclos, e entender o que você precisa fazer a cada tempo pra reativar esse amor, esse calor. No caso do Assad e da Karine, acho que eles foram muito cada um pra um lado, eles não se procuraram mais. Na narrativa, ela até procurou bastante por ele, mas o fato é que chegou um momento em que as vidas dos dois andavam muito separadas.

Além de Éramos Seis, você também está no ar na TV paga com Rotas do Ódio – numa personagem bem mais densa, completamente diferente da Karine. O que você mais gosta de fazer: série ou novela?

Gosto muito dos dois. Na verdade, é a história de cada personagem que te chama. Essa versatilidade ajuda a gente a crescer. Eu amo Rotas do Ódio, porque acredito muito na mensagem que ela traz. Uma mensagem de tolerância, de diversidade, acolhimento de diferenças… E traz esse tema também da imigração, que é um tema atual. Fala também de como são políticos os nossos pequenos atos – de comprar uma roupa numa loja mais barata, sem saber que o negócio é sustentado por trabalho escravo. É uma série com uma mensagem muito importante, para além do meu trabalho como atriz. É uma série que eu amo fazer. A novela é outra brincadeira – uma brincadeira que envolve mais pessoas, extremamente dinâmica. Quando você fecha uma novela, você não tem ideia do que vai acontecer na sua vida, a verdade é essa! [risos] Porque cada bloco tem um desenrolar e o seu personagem ocupa um lugar narrativo diferente, conforme a história vai mudando. Você não tem um arco fechado. Isso também te faz crescer muito, por outras razões – e às vezes você também encontra personagens que te incentivam muito, te trazem outras mensagens. Às vezes só o próprio exercício dessa gincana, que é a novela, já é por si só muito interessante. Existem diretores – como o Carlinhos [Carlos Araújo, diretor artístico de Éramos Seis], por exemplo – que são diretores muito delicados, muito cuidadosos, e é muito especial isso, principalmente em uma coisa industrial como novela.

O que você vai fazer depois que concluir Éramos Seis?

Vou estrear agora a quarta temporada de Rotas do Ódio, dia 18 de março, no canal Universal. Depois vou estrear um filme que fiz com o Lázaro Ramos, que se chama O Silêncio da Chuva, é do Daniel Filho. Aí tem a estreia de um filme que fiz na Argentina, chamado Água Salvaje (Água Selvagem). E vou fazer ainda um longa-metragem produzido em Curitiba, assim que terminar a novela. No dia em que a novela acabar já vou pra Curitiba. Tem também um show em que vou cantar uma banda, algo que adoro fazer… Vai ser no dia 19 de março, no Sesc Pompeia, em São Paulo. É uma banda de resgate da cultura latino-americana, então as músicas são bem do cancioneiro latino-americano, algo que eu amo! A banda se chama Kimbará.

Onde é que você acha tanta energia para fazer tudo isso?

[risos] Acho que é preciso encontrar um espaço de silêncio. Meditação, por exemplo, é básico, pra você ter um espaço pra você, longe de todas as narrativas que a gente inventa pra nossa vida, dos papéis… Meditação, ioga, suar um pouquinho, ser feliz, se alimentar bem…

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

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