José Mayer explica por qual motivo não integrou primeira fase de A Lei do Amor: “Queriam que eu fizesse”

Publicado em 10/10/2016

Em entrevista, José Mayer fala de seu antagonista em A Lei do Amor, nova novela das nove, da TV Globo.

Com Tião, o veterano deixa os mocinhos de lado e interpreta um vilão vingativo, que tem como alvo Mág (Vera Holtz).

Confira o papo:

O que as pessoas querem assistir no horário nobre?

“É difícil responder a essa pergunta. Mas eu acho que vai dar tudo certo com ‘A Lei do Amor’. Recentemente, eu fiz o musical ‘Kiss me, Kate’, que fez um grande sucesso. A peça foi inspirada em ‘A Megera Domada’, de William Shakespeare. Mesmo sendo Shakespeare, eu não podia saber que ia dar certo. Se ia cair no gosto popular. E foi o que aconteceu. Deu certo. Suponho que vai acontecer o mesmo com essa novela.”

O que é a lei do amor para você?

“A lei do amor para mim é o Tião Bezerra. O ator tem de uma história de 150 capítulos, uma visão muito fatiada, muito pequena em relação ao todo. A obra em si. Uma novela é uma obra imensa. É a maior obra de ficção que a gente pode consumir no Brasil. E o ator tem aquela visão fragmentada do próprio personagem. A minha expectativa em relação a essa novela, é a mesma expectativa que eu tenho em relação ao Tião Bezerra. A chance de mostrar um vilão não maniqueísta. Um vilão com feição humana. Um vilão que pode se perder na multidão entre as pessoas normais e comuns.”

Qual é o perfil psicológico do personagem?

“Eu conheço o Tião do que eu fiz até agora. Eu já gravei 22 capítulos. Na minha visão, é um homem vitorioso, nascido da carência de tudo. Da carência amorosa, não teve o amor da mãe, foi rejeitado na sua primeira experiência amorosa. E ele construiu a partir dai um império. Ele é um homem de profundo controle. Além de ser muito racional. Muito racional. E, ao lado disso, extremamente amoroso. Ele tem um grande amor pela família. Não necessariamente correspondido. A mulher (Helô) dele é difícil, vai trair ele com o Pedro. Serei um corno bem racional (risos). O que é exemplar em se tratando de Brasil, hoje, né? Ser traído e administrar a traição de uma maneira civilizada. Pelo menos nos 22 capítulos.”

De onde vem a sua inspiração para criar os personagens?

“No texto! O texto é a minha grande inspiração. A fonte é a criação literária do autor. Ela é a primeira inspiração. Em cima disso vêm as parcerias, os atores com quem você contracena, as propostas de direção, e aí em diante. A gente vai mudando. Mas essencialmente a gente é o que é e ponto. O material interno de cada um, é um material característico próprio. Não muda muito não. Não é isso? Do (Antônio) Fagundes você espera uma criação ‘Fagundiana’, do Lima Duarte você espera uma criação ‘Duartiana’, do (Zé) Mayer, uma criação ‘Mayense’. Os comediantes em si, se inspiram em vizinhos e tudo mais para fazer uma imitação. Os atores de minha ‘laia’, criam com um universo próprio, interno. Eu não busco modelos externos não. Eu não sou muito bom em composição.”

Qual é o gostinho de fazer o seu primeiro vilão na TV?

“É um gostinho muito Ômega 3, porque é muito texto. Muito texto e eu já estava um pouco desacostumado em relação a isso. Minha técnica é o famoso Ômega 3. Peixes bons, sardinhas, etc. E muito trabalho. Eu acho todos os atores que eu admiro e todas as atrizes que eu admiro, são incrivelmente devotados ao trabalho. Muito dedicados ao trabalho. Penso em Marília Pêra, penso em Fernanda Montenegro, penso em Paulo José, são os meus grandes modelos. Gente que trabalha muito, muito, muito. Não ficam na dependência só da inspiração. É um grande esforço. É uma carpintaria mesmo. É uma grande inspiração.”

Como foi dividir o personagem com outro ator?

“Foi uma indicação minha. Queriam que eu fizesse a primeira e a segunda fase. Eu disse: ‘olha, não vai funcionar’. Eu acho que não seria interessante. Eu acho que o rejuvenescimento fica meio estranho. Eu sou mais velho que o Reynaldo Gianecchini, e eu merecia um intérprete jovem (risos). Eu pedi à direção que fizesse um Tião Bezerra jovem. Não comigo, e sim com um ator mais jovem. No meu caso, Thiago Martins. Achei que foi ótimo. Eu acho que o Thiago tem a ver comigo. Ele é um ator inteligente. A gente se encontrou. A gente definiu determinados caminhos e colocamos essa humanização do vilão como uma proposta comum aos dois. Acho que ele realizou isso bem. Embora com poucas cenas. São só 5 capítulos. E eu continuo.”

E a fama de pegador?

“A fama de pegador já era. Olha pra mim cara, eu já sou um velhote. Não é? A função da sedução é mais ligada à juventude. Mesmo! Não tenha dúvida disso. Eu adorarei se os escritores continuarem escrevendo boa dramaturgia e acontecimentos amorosos na vida de atores maduros. É possível! Eu acho que atores maduros e atrizes maduras podem fazer trabalhos magníficos. Vejamos Sônia Braga, que está iluminada em ‘Aquarius’. Eu nunca vi Sônia Braga tão deslumbrante como ela está nesse filme. Ela está maravilhosa.”

Se você pudesse se transformar em algo por um dia, o que seria?

“Eu nunca pensei nessa parada. Certamente eu gostaria de ser uma mulher linda e bem amada. Qualquer uma.”

Você se acha bonito?

“Não! Eu me acho bom ator. Não me acho gostoso. Quando eu me olho no espelho eu sempre falo: ‘você conseguiu como?’. Eu me acho bom ator. Eu sou ator há muitos anos. Desde muito cedo. Meu primeiro ano de universidade eu comecei a fazer teatro, e é muita estrada. Então, talvez pela pratica. A arte ficou impregnada na minha pele, no meu corpo.”

Faltava um vilão para completar essa galeria de bons personagens?

“Faltava um vilão. A minha carreira ficou um pouco confinada aos tipos galãs e afins.”

André RomanoENTREVISTA REALIZADA PELO JORNALISTA ANDRÉ ROMANO

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