Joana Borges, a Verena de Malhação, revela receber mensagens de jovens que já sofreram assédio

Publicado em 07/04/2018

Responsável por viver a jovem Verena de Malhação – Vidas Brasileiras, Joana Borges falou em entrevista ao Observatório da Televisão sobre a experiência de ser uma das protagonistas do folhetim e de como está sendo a repercussão da personagem, vítima de assédio cometido por um dos professores da escola onde estuda.

Como está sendo a repercussão da sua personagem?

Olha, eu acho que está bem legal. Tenho recebido muitas mensagens de fãs, de meninas que se identificaram com a Verena e estão gostando de como esse tema está sendo abordado. Eu estou bem feliz.

Você tem ouvido comentário nas ruas?

Vou confessar que não tem rolado muito isso, acho que é porque eu fico aqui na Globo de segunda a sábado e aos domingo entro na minha ‘caverninha’ (risos).

Teve um momento que o público ficou em dúvida, pensou que a Verena que inventava a história do assédio. O que essa personagem representa para você?

Difícil falar isso sinteticamente. Eu tive o maior cuidado para fazer aquela versão do Breno (Marcelo Argenta) parecer verídica. O caráter da Verena é outro, completamente diferente, aquilo foi só uma versão. Acho que quem está acompanhando a ‘Malhação’ desde o início e conhece a Verena direitinho, não ficou em dúvida. Quem viu só por acaso os capítulos mais recentes é que ficou com aquela pulga atrás da orelha. A Verena é muito doce, romântica e focada nos objetivos dela.

Em alguns momentos a Verena gerou comentários na escola por causa das roupas curtas…

É, eu acho que a mulher tende a pensar no que foi que ela fez para provocar tal atitude. Por existir toda essa polêmica envolvendo as roupas curtas da Verena, ela mesma começou a se perguntar se a culpa era mesmo dela, começou a se cobrir um pouco mais. Isso acontece muito com vítimas de assédio. Eu acho que esse assunto é de extrema relevância e a gente teve muito cuidado para passar isso da maneira mais verdadeira possível, com muito cuidado, pois esse assunto precisa ser falado e alguns mitos desvendados. Teve até um museu da Alemanha, recentemente, que fez uma exposição mostrando como vítimas de estupro se vestiam na hora em que foram abusadas e muitas não estavam com roupas curtas. É um mito achar que a roupa provoca essa atitude. O caráter é da pessoa e ninguém pode fazer com que isso mude. É uma ignorância achar que uma roupa pode fazer isso.

E agora, a vida da Verena segue normal?

As coisas vão se acalmar. Não é algo muito repentino, isso ainda vai mexer com ela por um tempo, mas ela volta a estudar, a vida segue e outros conflitos vão aparecer.

Você recebeu muitas mensagens de meninas que já passaram por isso?

Eu tenho recebido muitas mensagens de garotas que já sofreram assédio de professores ou até mesmo de pessoas próximas, como membros da família. Eu fico muito feliz de saber que essas pessoas estão se identificando e gostando da forma como o assunto está sendo abordado. Algumas pessoas ficam meio inseguras por termos mostrado a versão do Breno, mas isso só foi mostrado porque é como realmente acontece, o agressor tende a criar uma versão e acaba acreditando naquilo. Por isso que ela apareceu ali, por isso que a gente mostrou a Verena. Eu fico muito feliz de saber que essas meninas podem se abrir comigo. Eu tento ter muito cuidado ao responder porque acho que todos os casos me sensibilizaram de alguma forma. Ninguém contou detalhes, mas teve uma mulher de uns 30 anos que chegou a dizer que foi abusada por um professor quando tinha 16 anos, que é a idade da Verena. Até hoje ela guarda isso para ela. É muito triste ouvir isso.

O que você acha das mulheres que passam pela mesma situação que a Verena passou e não denunciam?

Eu nunca sofri um assédio tão forte, nunca cheguei a ser assediada fisicamente ou encurralada como foi o caso da Verena. Nós, mulheres, sempre passamos por isso na rua e eu fico com muito medo de sair à noite. Essa questão de denunciar é muito delicada, difícil de julgar porque é um constrangimento e uma dor muito grande dependendo de como aquilo acontece e bate na gente, ainda mais sendo uma adolescente de 15 ou 16 anos. A vida sexual para a Verena é algo completamente novo e inusitado. A Verena não consegue contar nem para a mãe dela, que é a pessoa mais próxima, então como contar isso para um delegado? O ideal, claro, é que as vítimas denunciem e se sintam protegidas depois disso, mas não é bem assim que acontece. Eu consigo compreender quem não denuncia.

Como você acha que a dramaturgia pode contribuir para o assédio ser debatido?

Eu acho que a dramaturgia já está contribuindo. Quando ela mostra o sofrimento da Verena, a forma como aquilo mudou a rotina dela, os sonhos e a mudança de foco, a dramaturgia já está contribuindo. Só de estarmos falando disso, dando voz para essas meninas em escala nacional, já é uma forma de refletir e dar visibilidade para esse tema.

Não é o caso do Breno (Marcelo Argenta), mas já aconteceu de inocentes serem vítimas da vingança de garotas. Qual foi o cuidado que vocês tiveram para não ter esses “justiceiros” na novela?

Essa é uma questão também muito delicada. Toda a trama da Verena, na verdade, é complicada. A gente tem que ter muito cuidado para não apontar alguém sem ter provas, sem ouvir o lado da outra pessoa. No caso da novela, a Verena fala o lado dela e o professor o dele. O diretor até acha que ela está exagerando, mas eles checam todas as câmeras de segurança antes de suspender o professor. Não foi nada leviano, é o tanto que eles olham vários ângulos da câmera para confirmar. Tudo é assistido minuciosamente e esse é o ponto positivo da nossa história. Houve uma pesquisa, todo um histórico do professor foi levado em consideração.

Como você mesma falou, existe muito assédio nas ruas. Você consegue ver uma luz no fim do túnel para esse problema?

 Acho que essa geração está debatendo mais sobre esse tema. Eu sou muito positiva em relação a isso, acho que a gente está debatendo muito mais, lendo e se informando. Na temporada anterior, a gente viu o primeiro beijo homossexual numa Malhação, teve a questão do transgênero abordada em A Força do Querer… Enfim, o fato de esses temas estarem presentes no entretenimento, numa escala nacional, é um ponto positivo porque está gerando o debate. Eu acho que as mulheres das próximas gerações passarão menos por isso. Ainda há desigualdade, a gente sabe, mas as coisas estão mandando. Na minha própria casa, o meu pai cozinha muito mais que a minha mãe.

Uma coisa que está rolando muito são as fake news e você é uma jornalista. Como vê tudo isso?

Seria muito maravilhoso se a gente tivesse mais de uma mídia disponível, que a gente não escutasse sempre uma única voz. É importante ler mais de um jornal, mais de uma revista, ver opiniões diferentes para conseguir formar a nossa própria opinião. Os jornais são muito editados, tudo é pensado, então se a gente puder pegar tudo isso e formar a nossa própria opinião, será uma maravilha. A verdade é muito relativa e só se informando e lendo muito sobre um fato é que a gente consegue estar bem informado para descredibilizar as fake news porque elas continuarão existindo, não tem jeito. O que muda é a forma como elas vão chegar para a gente. Eu fico triste com essas notícias. Às vezes, você fala tanta coisa legal numa entrevista e o repórter pega bem aquela frase que está fora do contexto e coloca no título, que é o que mais chama atenção. Tem tanta coisa mais legal e interessante que poderia ser falado, afinal quem deu a entrevista perdeu o tempo dela ali para falar algo. Seria maravilhoso se aparecesse sempre o que a gente falou, da forma que a gente falou.

Como a Verena volta aos treinos?

Ela volta aos pouquinhos, fazendo acompanhamento psicológico porque o assédio mexeu muito com ela. A Gabi (Camila Morgado), como sempre, vai ficar ali dando apoio.

Ela vai ter medo de sexo depois de tudo isso que aconteceu?

Eu não sei, essa questão ainda não chegou para a gente. Mas isso acabou de acontecer em O Outro Lado do Paraíso e eu acho que a Malhação vai ter um cuidado para não repetir a mesma história. Eu acho que é possível, deve ter alguma coisa próxima disso.

Você fez Rock Story, depois entrou em Deus Salve o Rei e agora está em Malhação. Como foi emendar esses trabalhos?

Eu não gosto de ficar parada. Eu fiquei um tempinho entre o final de Rock Story e Deus Salve o Rei e quando rolou o convite para fazer a Tila, em Deus Salve o Rei, eu não pensei duas vezes. Eu nunca tinha feito uma novela de época, principalmente medieval. Sou apaixonada por aquelas roupas. Logo depois veio a Verena, e eu pretendo continuar nesse ritmo.

Em Rock Story, você tinha uma personagem pequena, que acabou crescendo por causa do seu talento…

Eu lembro que na época eu recebi uma sinopse pequena, com um resuminho, falando que a personagem era namorada do JF e que ia ficar com Nicolau no final. Era isso. Eu não sabia quem era a Luana, até demorei um pouco para construir. Ao longo da trama, a Maria Helena (autora) foi dando informações e eu fui pescando para ir formando o caráter da Luana. No meio da trama, lembro que teve um bloco cheio de Luana. Ela começou a ter sua trama própria e eu agarrei aquilo com unhas e dentes, a minha intenção era pegar aquilo que eu tinha e arrasar.

Você sente saudade do jornalismo?

Olha, eu vejo o jornalismo com muito carinho. Apesar de não estar trabalhando como jornalista, tudo o que eu aprendi na faculdade está comigo. Eu leio jornal, revista, vejo noticiário, e isso permanece comigo. Eu adoro escrever, leio muito, sou crítica à beça, até mesmo chata com algumas coisas (risos). Eu não descarto o jornalismo, é uma profissão que eu gosto e admiro muito.

Se alguém pedisse para você escolher entre ser repórter do Jornal Nacional ou mocinha da novela das 21h, o que você escolheria?

Seria mocinha, é claro (risos). Que  venham muitas mocinhas! Eu quero atuar, não consigo pensar em outra coisa agora.

Suas personagens anteriores cozinhavam. Você também leva jeito para a cozinha?

Meu pai faz uma moqueca maravilhosa, sempre que eu vou para lá, ele faz. A minha mãe faz um bacalhau incrível, e eu não sou uma boa pessoa na cozinha. Só como e lavo louça, ajudo nesse sentido. É claro que eu sei algumas coisas básicas porque saí de casa cedo, mas não sei nada muito elaborado.

Você tem ido para Vitória?

Não, tem muito tempo que eu não vou para Vitória. No Natal, eu fui para Fundão, que é um município em que a minha família toda nasceu. Para Vitória, mesmo, faz tempo que não vou.

Quando você não está gravando, o que faz no tempo livre?

Eu procuro estar com pessoas que me acrescenta, me fazem bem. Eu malho um pouquinho para manter. Gostava muito de correr, agora dei uma parada. Gosto de ler e ir para a praia também.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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