Isis Valverde conta que já ficou com raiva de Ritinha, sua personagem em A Força do Querer

Publicado em 15/09/2017

Isis Valverde é só sorrisos com sua personagem Ritinha, sucesso na novela A Força do Querer. Entrando na reta final da novela, a atriz falou em entrevista sobre o sucesso da trama de Gloria Perez, a repercussão nas ruas, e sobre uma faceta sua desconhecida do grande público: a de escritora. A moça está escrevendo um livro que será lançado em 2018, com textos e poemas que  ela escreve desde os seus 20 anos de idade. Confira a entrevista completa:

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O que você pode adiantar para a gente sobre a nova fase da Ritinha em A Força do Querer?

Gente, não posso contar muita coisa não, senão a Gloria (Perez) me mata (risos). A história vai ter um retorno para explicar algumas coisas em relação ao Zeca (Marco Pigossi) e Ruy (Fiuk), a profecia do índio, o afogamento deles, e sobre essa mulher que se esconde no mar. Engraçado que tem uma frase que ela falou para a Marilda uma vez assim: ‘Minha mãe tá vindo?; Vou me esconder no mar’. Quem é que se esconde no mar, gente? Só pode ser uma sereia mesmo.

Ela tem aquele encantamento por aqueles dois homens. E para a gente que assiste parece que ela tem muito a ver com a água, né?

Ela tem! Eu acredito que ela tem um mistério oculto, algo que a gente não sabe ainda, algo que só a Gloria sabe.

O público também não vê a hora do Zeca saber que é o pai biológico do Ruyzinho, não é ?

Eu acho que foi muito inconsequente da parte dela não contar ao Zeca que ele tem um filho. Ela não pensou muito no outro, foi muito egocêntrica. Ela é assim, sereia, não tem como ir contra a natureza dela.

Da outra vez que conversamos, você disse que ela não gostava de ninguém…

Eu disse que ela gosta, mas não aprendeu o que é o amor ainda. Amor é abdicar de várias coisas da sua vida pelo outro, amar o outro como a si mesmo e ela não faz isso, porque ela é uma sereia, que não tem esse tipo de regra, vivência e vontade. O que achei legal numa cena que fizemos, que ela disse a seguinte frase: “Zeca e Ruy não tô nem aí, só me importo com meu aquário e com meu filho”, então acho que vocês vão ficar com pena dela nos próximos capítulos, porque ela ama o filho. É o amor mais visceral que a personagem tem. Se a relação que ela tem com essa criança for interrompida, ela vai sofrer muito.

Qual fim você daria para a Ritinha?

Não tenho a menor ideia. Não sei o que está passando na cabeça da Gloria, mas eu adoro ler os capítulos. A trama está bem ágil, e o público ainda vai levar alguns sustos.

Você realmente tinha medo do mar e superou isso?

Tinha medo de onda. Tenho problema com aquele negócio vindo pra cima de mim, não gosto.

A personagem é muito escapista, e um pouco manipuladora. Você também a enxerga assim?

As sereias são manipuladoras. Eu estudei muito. Faço um trabalho antes (da estreia) de cada personagem meu, de estudo da psiqué daquela personagem, e eu levantei tudo sobre quem era a Ritinha, como ela reagiria em relação a isso ou aquilo. Eu também converso com Gloria, que é uma pessoa muito fofa. Ela é incrível, que escreve uma novela sozinha, dá conta disso tudo e ainda me atende.

Você liga para ela para dizer que não está gostando de algo?

Não. Eu falo com ela porque preciso saber detalhes que me façam entender a personagem. O bom de ser afinado com o autor é que você entende o que ele quer. Quando o autor escreve uma coisa e o ator executa de forma diferente, o personagem acaba não dando certo, e vocês já devem ter visto isso. Nessa novela, a autora vai junto, e faz questão de escrever rubricas pra gente. Ela conduz muito bem. Teve uma cena que a Ritinha prometeu ao Zeca que falaria para a Jeiza (Paolla Oliveira) o que aconteceu, ela falou, e avisou ao Zeca dizendo: “contei tudinho”, aí tive dúvidas de como eu falaria isso, e a Gloria me disse: “Tudinho para a Ritinha, é tudo o que ela disse que iria contar, e não exatamente tudo o que aconteceu como o Zeca entendeu”, então é esse tipo de coisa que falo com ela.

Você considera a Ritinha infantil?

Não acho ela infantil. Acho que ela enxerga as coisas de forma diferente dos outros. Achei linda uma frase que ela falou para a Ivana: “A vida é simples, vocês é que complicam”. Para ela, só importa viver a vida hoje, sem se importar com o dia de amanhã.

Para a Isis a vida é simples?

Não! A gente vive numa sociedade, temos pessoas em volta da gente, temos relações, e precisamos entender o outro lado, e para a Ritinha não existe isso.

Nos últimos capítulos ela tem parecido meio malvadinha…

É que ela mente, mas eu a enxergo como um ser mitológico. Se você entender que ela é uma sereia, vai passar a entender suas atitudes. Imagina a cagada que seria se a gente vivesse pelo impulso? Não estar com vontade de trabalhar e simplesmente não ir, marcar com um amigo e não aparecer porque esqueceu, estar namorando e querer dar um beijo em alguém que achou bonito. Olha o fuá que ia virar nossa vida. A Ritinha é tão impulsiva que faz isso e se ferra, mas ela não deseja o mal das pessoas. Ela perdeu o cara que ela amava e que cresceu com ela por causa de um impulso, e isso faz com que duvidem do caráter dela. E se acontece uma coisa ruim com ela, na manhã seguinte ela está lá dançando carimbó, porque ela só se importa com o hoje. Tem coisa que ela faz que todo mundo queria fazer também (risos). Tanto que ela acha que o filho é só dela, porque ela pariu e alimentou, então é dela. Costumo dizer que é o Fantástico Mundo de Ritinha.

O que você achou mais louco desse mundo?

Ela não entende ser bígama. Ela sabe que as pessoas não aceitam, mas ela não entende o motivo. Se ela não está dormindo com os dois, por que as pessoas estão achando ruim dela estar casada no papel duas vezes?

O que você acha mais insano nesse mundo da Ritinha?

Uma coisa que acho louco, é ela não falar para o Zeca que é o pai do menino. Ela fica triste, mas engole aquilo, porque na cabeça dela o passado já foi e não tem conserto. Para mim, como atriz, isso foi muito pesado, porque ela foi inconsequente. Outra coisa do mundo dela que não gosto também, é essa mentirada dela, que Zeca anda armado e tudo mais. Vê se isso é coisa de falar para os outros? Nisso tenho raiva dela. E a Marilda (Dandara Mariana) a ajuda a mentir.

Como foi a reação nas ruas diante da cena da Ritinha batendo na Irene?

Teve gente que falou que ela apanhou muito, teve gente que falou que ela tinha que apanhar mais, gente que disse que a Joyce tinha que ter batido mais. Agressão realmente não é legal, nem fazer justiça com as próprias mãos, mas naquele caso, a Ritinha entendeu como uma proteção à sogra dela.

Ela é faladeira, né?

Ela fala muitas coisas. Ela fala as coisas e as pessoas não acreditam. Ela fala que é sereia e as pessoas falam: “aham”, ela diz para o Ruy que vai largar ele, e ele não acredita.

Em algum momento da sua vida você acreditou em sereia?

Eu tinha uma paixão por contar histórias, gosto de conversar com as pessoas e sempre gostei. Quando criança era muito chato brincar comigo, era de índio, de sereia. Lembra do coração do Oceano do Titanic? Eu inventei que eu tinha aquele colar, comprei um bem vagabundo e comecei a dizer que eu era a Sereia Coração do Oceano, e na minha cabeça eu tinha até o olho azul, igual o colar.

Quem estava com você nessa maluquice?

Algumas amigas que eu chantageava dizendo: ‘Se não brincar comigo, não faço seu dever de casa’, porque eu era dessas que trocava as coisas para fazer o dever dos outros. Eu queria criar história, e as pessoas não compravam a ideia. E eu queria amarrar as pernas das amigas e jogar na piscina, para elas nadarem que nem sereia.

Que tipo de reação do público nas ruas te assusta?

O público me reconhecer não me assusta, mas ultimamente tenho levado muito susto com “égua”. O pessoal chega e grita: “égua”, e eu dou um pulo. É engraçado. Incrível como as pessoas começam diálogo sobre a novela em qualquer lugar. Minha prima me contou que estava na fila do supermercado e todas as pessoas começaram a discutir sobre a trama, daí a gente percebe a força de uma novela. Só pra ter ideia, quase não me chamam mais de Isis, só de Ritinha.

E o coração em relação ao carinho do público, como fica?

Derretendo. Fico muito feliz.

Você leva o vocabulário dela para a vida?

Direto. Claro que coisas como “lasquei-me”, não, mas de vez em quando solto um “égua”; ou um “Vou nada”. Outro dia eu até falei alguma coisa com meu namorado e ele disse: ‘Essa não é minha namorada não’. Desde que estou com ele, ele já me viu fazer 3 personagens, e ele percebe a energia diferente de cada uma delas. Tem atores que levam o personagem para casa, atores que ficam com os tiques do personagem também.

A gente percebe que você está bem mais segura, mais madura. Não é isso?

A gente tem que aprender a evoluir na vida. As coisas que vamos vivendo na nossa vida servem para carimbar a gente mesmo, tipo: “passou por aqui”, e você vai levando para a vida, e a personagem tem muito isso. Viu ela chorando e pedindo perdão ao Zeca por causa do caminhão? Foi lindo. Acho que a vida traz muito aprendizado e temos que aprender a ver, e confiar no sexto sentido. Estou lendo um livro chamado A Ciranda das Mulheres Sábias, e o livro fala sobre o sexto sentido das mulheres, e que todas as mulheres têm mulheres ocultas dentro de si. Por mais que você corte, amasse, pise, sempre vai ter uma mulher oculta para reerguer essa mulher, e acho que a vida traz isso, surpresas. Tem aquela coisa dentro da gente que faz a gente florescer de novo, mais jovem, mais forte, mais inteira.

O seu encontro com o André foi um encontro de almas?

Você está querendo tirar alguma coisa de mim, né? Foi um bom encontro da minha vida. Um encontro que eu esperava há anos.

Como você leva a vida? É parecida com a Ritinha?

A Ritinha faz (ser impulsiva), mas ela faz demais, porque agride pessoas que não precisavam passar por isso, pelo medo dela de se ferrar ou só pensar no que ela quer e no que ela gosta. O que trago da minha família e dos meus pais é que tenho que querer ser alguém que eu desejo, que eu almejo sem passar por cima de ninguém, ou tramar contra quem esteja no meu caminho. Se você sai derrubando as coisas, lá na frente tudo isso vai atrapalhar sua passagem.

No que você se identifica com a Ritinha?

A alegria de estar viva. Eu sofri uma situação que eu poderia não estar aqui conversando com você, e quando se passa por algo assim, você tem uma visão da vida como um presente e eu acho que a Ritinha mesmo nunca tendo passado por isso, ela vê a vida como um presente. É bonito de ver como ela floresce na novela, ela está viva, pulsando.

Você está falando do seu acidente de carro?

Sim.

E você vive um dia de cada vez hoje?

Queria eu, mas a gente acaba caindo no automático às vezes. Todos os dias eu me lembro de fazer isso, e acho que todos nós deveríamos fazer isso.

Você sentiu o carinho do povo orando por você?

Senti. Foi incrível, as pessoas vinham e me abraçavam, algumas choravam.

E sobre o livro que você está escrevendo…

O meu livro já está pronto, mas sou péssima. Quem ia fazer o prefácio do meu livro era o Jorge Moreno Bastos, e estávamos guardando essa história e até mesmo ele ter ido embora (faleceu recentemente) me deixou com mais vontade de lançar o livro, por ser ele a pessoa que mais me apoiava. Ele leu muitos textos meus e agora esse prefácio vai ficar vazio. Eu não quero que ninguém escreva, porque era dele. É um livro de contos poéticos, poesias pequenas e muito pessoais minhas. Escrevo desde os 20 anos de idade, então são textos antigos.

Seu livro já tem nome?

Tem, mas ainda não tenho certeza.

Logo após o seu acidente, você disse que faria um livro contando a experiência. Tem algum texto falando sobre isso?

Tem uns textos bonitos ali das situações e pessoas que passaram pela minha vida. Foi doloroso mexer nessas lembranças, chorei muito. Por outro lado, tiveram textos que me fizeram rir, com divagações. Eu continuo escrevendo, escrevo no celular e passo para um arquivo. Preciso de alguém para revisar tudo, porque tenho textos enormes.

Depois da novela já tem algum projeto?

Cinema, eu acho.

Depois de passar por tudo isso, o que é a vida para você?

A vida é um presente meu amor, maravilhoso. E saúde que é a coisa mais importante.

*Entrevista realizada pela jornalista Núcia Ferreira

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