Entrevista exclusiva

Gláucia Santiago explica ida para ESPN: “Se eu deixasse passar, talvez não arriscasse depois”

Gláucia Santiago trocou a Globo pela ESPN em setembro

Publicado em 13/12/2019

Quando o Observatório da Televisão noticiou em primeira-mão que Gláucia Santiago trocou a Globo pela ESPN Brasil, muita gente achou que aquilo era inacreditável. Gláucia era uma das principais repórteres da Globo, setorista do Santos…. Como ela faria aquela troca? Gláucia explicou em entrevista a este mesmo espaço que noticiou o seu novo passo. E curiosamente, foi a primeira conversa desde que chegou na ESPN.

“Eu acho que foi um desafio e um momento diferente na minha carreira. Claro, tava muito bem, tinha chegado fazia um ano e meio em Santos. Mas foi uma decisão muito pensada. O que me chamou a atenção foi ter uma nova oportunidade na carreira. Eu já estou no mercado faz 10 anos, não sou mais uma menina, apesar de ser nova (risos). Estou com quase 34 anos. Pra mim, essa oportunidade seria agora. Talvez, se eu deixasse passar essa chance de vir para a ESPN, eu não arriscaria algo diferente”, explicou Gláucia ao Observatório da Televisão.

Mas já na televisão, Gláucia mostrou o seu potencial. Pegou a camisa 10 e a faixa, e tem sido elogiada por colegas e telespectadores nas redes sociais. Também foi a única mulher que apresentou o Bola de Prata 50, a tradicional premiação do futebol brasileiro organizada pela emissora esportiva da Disney. O bom desempenho tem explicação.

“Eu gostava do que fazia, da reportagem, mas eu gosto muito de ser apresentadora. Lá no início da minha carreira, eu tinha sido apresentadora. Isso em São Carlos. Eu acumulava a reportagem e a apresentação, porque era uma emissora pequena. Então era uma coisa que eu gostava, e o projeto da ESPN me chamou muito a atenção. Uma marca mundialmente conhecida, um programa de três horas, ao vivo… Foi uma proposta muito legal e me pareceu o momento ideal para ter esse momento na carreira”, conta a jornalista.

“Passou muito rápido, estou na ESPN faz dois meses e nem parece”, diz Gláucia Santiago

Gláucia Santiago, Bruno Vicari e Luciano Amaral apresentando o Bola de Prata 50 na ESPN Brasil (Foto: Guido Bompan)
Gláucia Santiago Bruno Vicari e Luciano Amaral apresentando o Bola de Prata 50 na ESPN Brasil Foto Guido Bompan

Chegando na emissora no fim de setembro, Gláucia tem dois meses e meio de emissora, mas nem parece. A ideia é que ela está faz muito tempo no canal. “Isso ajudou bastante. Passou rápido, já estou aqui faz dois meses. Isso foi muito legal. O pessoal que eu trabalho diretamente, ou não… Todo mundo me abraçou muito. Eu acho que isso é muito bom, quando você se sente acolhido, bem recebido, a chegada é muito melhor”, confessa Gláucia.

Trabalhando na maioria da carreira em afiliadas da Globo, Gláucia Santiago falou da realidade de seu antigo trabalho e as diferenças em trabalhar em uma grande emissora e em uma afiliada: “Minha formação é de afiliadas da Globo, então é uma realidade bem diferente daqui. A afiliada ela trabalha com jornalismo diário, minha formação não foi apenas com Esporte. Tinha dia que eu ia para a rua e fazia um treino e um policial. Aqui, a gente respira Esporte. É o nosso assunto o dia inteiro. É o que a gente só fala. Na afiliada, você não consegue focar em sua coisa, pela equipe ser menor”.

Porque trabalhar com Esporte? Sua ligação com isso vem desde pequena. E ela praticava, aproveitando a sua alta estatura: “Eu sempre gostei de Esporte. Cresci indo para ginásio. Sempre tive o hábito de ver programas esportivos, mesas redondas de domingo à noite. Como atleta, uma zero à esquerda (risos). Futebol, quando era criança, eu ouvi que mulher não jogava futebol. O que eu joguei melhor foi basquete, porque me aproveitava da altura. Mas o resto, era muito ruim. Tentaram balé, sapateado, mas fui um fracasso (risos)”.

“Ainda é muito difícil”, diz Gláucia Santiago sobre espaço feminino no Jornalismo Esportivo

A evolução é notória. Mas as mulheres ainda passam dificuldades no Jornalismo Esportivo. Gláucia exemplifica essa dificuldade com experiências desagradáveis que passou na cobertura de campo. Do Twitter, por exemplo, ela saiu por conta das ofensas.

“Temos mulheres em posição de destaque, mas ainda é muito difícil. Você ainda ouve muita coisa, você ainda passa por muita coisa. Se eu fazer qualquer coisinha errada, falando um dado errado, ouve muita coisa. Sempre tem aquele “tá vendo? é mulher”. É uma coisa que incomoda tanto. Meu Twitter, por exemplo. Ele está fechado e eu não sei se volto a abrir ele tão já. Acho que vou fazer isso logo, mas nos últimos meses eu ouvi tanta coisa… As pessoas se sentem no direito de te agredir só por ser mulher. Me falaram que eu só estava vindo para a ESPN, por ser mulher. ‘Ai, essa ditadura feminista na TV, ninguém aguenta mais’. Eu cheguei a ler isso. A gente sabe do nosso trabalho, da nossa competência. Uma coisa é você discordar. Mas as pessoas te julgarem, te agredirem, não é justo”, conta.

Um exemplo do que ela passou no campo foi contado por Gláucia: “Eu já chorei saindo do estádio de algo que eu ouvi. Teve uma coisa que aconteceu no interior: estava eu, o câmera e o auxiliar. Eles eram os mais velhos de casa e eram como pais para mim. Quando saímos do estádio, torcedores falaram coisas muito baixas para mim. Eu queria responder na hora, e os meus colegas que eram como pais para mim, não deixavam. Eu chorei no carro para eles e perguntei se precisava passar por aquilo para trabalhar. Com o tempo, com a maturidade, a gente vai lidando. Mas ler essas coisas me abalaram”.

Gláucia Santiago por Gláucia Santiago

Gláucia Santiago no estúdio do SportsCenter, da ESPN Brasil (Divulgação)
Gláucia Santiago no estúdio do SportsCenter da ESPN Brasil Divulgação

Perguntada como ela mesma se define, Gláucia foi sincera. “Eu sou uma pessoa bastante otimista. Sonhadora… Batalhadora… E eu gosto do que faço. Eu não meço esforços para estar bem. Eu sou uma pessoa bem teimosa também. (risos) Na verdade, eu não sou teimosa. Sou uma pessoa insistente e persistente. Eu sou uma pessoa muito alegre, faço muitas brincadeiras, com todo mundo. Tento levar as coisas com mais alegria possível”, concluiu.

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