Giullia Buscacio defende postura de sua personagem em Novo Mundo: “Jacira já era feminista”

Publicado em 18/05/2017

Giullia Buscacio mal terminou as gravações de Velho Chico e recebeu a notícia que interpretaria a índia Jacira em Novo Mundo, substituindo Yanna Lavigne que precisou abandonar o papel ao descobrir a gravidez. A jovem atriz conversou com o Observatório da Televisão e contou sobre os desafios de interpretar a personagem tão diferente.

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Interpretando essa personagem você acaba ficando bem exposta. Foi um susto pra você?

Foi um susto mas eu sabia que como que ela era uma índia e seria uma novela de época, fiz questão de não pensar nisso para não me atrapalhar de forma nenhuma. Mesmo eu ficando com o corpo muito exposto, tento não pensar nisso para não sair do foco principal que é a atuação. Como eu já era magrinha, não encanei com o corpo.

Como as pessoas estão vendo esse romance entre Jacira e Piatã?

As pessoas estão adorando. O pessoal vem falar comigo dizendo que estava ansioso por esse encontro, porque ambos estavam buscando um lugar diferente daqueles que eles pertenciam e eles se complementaram.

E as mulheres estão se identificando com a postura da personagem?

Sim, as mulheres vem falar comigo que a Jacira já era feminista desde aquela época, porque ela questiona as regras dos homens poderem lutar e fazerem coisas que ela não pode. Ela faz isso sem ter ideia que ela está sendo revolucionária e quando o Piatã chega e diz que ela pode fazer essas coisas e mesmo assim estar com ele, ela se sente

Você se considera feminista?

Me considero sim. Feminista é quem acredita na igualdade de gênero e eu acredito.

A coloração que você usa na pele é feita como?

É uma tinta guache. Chego pouco mais de 1 hora antes e eles me pintam com essa tinta que dura o dia inteiro. O problema é que ela sai na água, então quando tem cenas de água, precisa reforçar com outro tipo de tinta. Na verdade demora mais pra tirar do que pra colocar. E já me pintei de jenipapo também que são as pinturas que ela tem no corpo, e não sai de jeito nenhum. As pinturas feitas com jenipapo duram cerca de 15 dias.

Qual sua ligação com a personagem?

Estou me achando mais envolvida no universo indígena. Tenho ido a rituais e procuro saber mais sobre a cultura e ver de perto porque estou vivendo esse momento.

Houve uma preparação para viver a personagem?

Fomos a uma aldeia, ficamos três dias lá, e foi importante ver o que os índios comem, o que fazem, tivemos contato com as crianças, com o cacique. Existe uma união e uma confiança muito grande entre eles. Voltei da viagem toda pintada, pois eles me pintaram e parecia tatuagem de tão forte que ela. Hoje em dia muita coisa mudou, assim como nós, eles também evoluíram, usam tecnologia, usam celular. Um índio lá me disse que nós não usamos as mesmas roupas que Dom Pedro usava, logo eles também não precisariam andar para sempre de tanga porque não invalidaria o origem e a cultura deles. Eles não estão parados no tempo.

Onde fica esta aldeia?

Em Marabá, no Pará.

Vocês foram batizados lá?

Sim, eu fui batizada e me deram um nome indígena: Parritati que significa braço forte. Combina um pouco com a Jacira.

E como foi a experiência?

A gente chegou lá e eles estavam de luto porque o cacique havia morrido, e quando chegamos lá o filho dele já havia se tornado cacique. Como estavam de luto eles não podiam se pintar, porque estavam vivendo aquela dor. Eles pintaram a gente mas não pintaram a si próprios.

O que te surpreendeu mais?

Eu acho que o que a gente aprende na escola é tão pouco pelo que eles são. Saí de lá querendo conhecer mais porque é uma cultura tão rica, de tantos ensinamentos e eu saí com a sensação de que eu sabia muito pouco.

Você tem essa consciência de estar aprendendo mas a importancia que tem esse tipo de história para o público?

Sim, eu tenho noção desse papel que a arte desempenha das pessoas olharem e buscarem informação, e procurarem saber mais. Muitos jovens que me acompanham desde Velho Chico estão podendo aprender sobre o povo indígena até porque estamos tratando com muito respeito, sem inventar nem fazer caricatura de nada. E faz parte do nosso trabalho estar ligado nisso e poder ajudar de alguma forma

Você já teve retorno das comunidades indigenas sobre o seu trabalho?

Sim. Incrível como tem meninas indigenas que me mandam mensagem no Instagram. As vezes elas dizem “Oi, eu sou da aldeia que você foi”, porque lá eles têm acesso à tudo, eles evoluíram assim como nós, mas eles continuam tendo os rituais deles, a família e uma forma diferente de encarar uma série de coisas pelo costume.

O que elas dizem nessas mensagens?

Elas agradecem, se reconhecem na novela, e fico feliz em saber que elas acham que estão sendo bem retratadas, porque talvez não seja comum o índio ser retratado de forma fiel.

Esse papel chegou para você no susto depois da gravidez da Yanna Lavigne. Como consegue administrar o seu tempo e até mesmo curtir a fama?

Foi realmente muito rápido. Quando percebi, eu já estava na preparação mas isso me ajudou. Eu acredito que se a Yanna ficou grávida era o momento dela de curtir essa gravidez e era o meu momento de estar ali naquela aldeia, vivendo esse universo indígena que me conquistou. Eu não tenho muita noção dessa questão da fama, eu me acho reservada até por isso não vou a muitos eventos. Como emendei uma novela na outra, o tempo que não estou me doando para o trabalho eu tenho necessidade de estudar, e me alimentar disso.

Onde você encontra esse equilíbrio?

Na Família. Acho que ter um lugar para voltar quando acaba essa imersão toda é muito importante porque a gente mergulha num processo que é muito intenso.

A Jacira te exigiu um preparo físico. Como você encara essas cenas?

Quando eu lia as cenas escritas “Jacira sobe em árvore”, “Jacira pula”, pensei “e agora?” (risos), aí entrei no crossfit e isso me ajudou muito, agora infelizmente eu parei porque o tempo é curto com as gravações da novela, mas foi muito importante. Agora eu já pulo, já subo em árvore e a direção fica feliz por não precisar de dublê pra fazer por mim. (risos). Arco e flecha também tive aula com um índio.

Você tem feito personagens bem específicas. Você acha que você conseguiria depois de duas novelas fazer facilmente uma personagem urbana?

Eu to fazendo coisas muito diferentes né? Eu passei do Nordeste pros índios, e até brincamos outro dia que se eu fosse fazer uma personagem urbana eu poderia me soltar mais porque os índios são muito contidos mas eu tenho facilidade em me adaptar.

Como tem sido a experiência com o Rodrigo Simas?

Trocar com o Rodrigo tem sido incrível. Ele é generoso, um menino do bem, e temos uma energia parecida. Está sendo prazeroso viver esse casal, porque temos um relacionamento bom fora da cena e isso reflete dentro da cena. Eu acabei substituindo a cunhada dele que vim a conhecer depois.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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