Gabriel Sanches comemora seu primeiro papel na TV em Pega Pega: “Realizei um sonho”

Publicado em 01/10/2017

No ar em Pega Pega como Rúbia e Flávio, Gabriel Sanches comemora seu primeiro trabalho em novelas. Na infância ele sonhava em trabalhar na TV e  saiu de Brasília com 17 anos para estudar teatro. Mergulhado nesse universo, o ator construiu  uma carreira nos palcos. O convite para a trama das 19h surgiu inesperadamente e o fez relembrar o sonho de criança. O ator conversou com a equipe do Observatório da Televisão e contou um pouquinho dessa nova fase na carreira.

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Apesar de já ter bagagem como ator, essa é a sua primeira experiência em novela. Como está sendo essa nova experiência na TV?

É verdade, essa é a primeira novela! Quando saí da Brasília com 17 anos pra estudar teatro, descobri um mundo de possibilidades na arte e meu desejo artístico se afastou muito do interesse em fazer televisão. Com essa experiência agora eu me lembrei do sentimento que me moveu lá no passado, quando eu ainda era criança. Eu assistia às novelas e seriados na televisão e sonhava em viver aquilo. Fiz muita dupla sertaneja no quintal da minha avó com meu primo que coincide idade comigo e dizíamos que seríamos atores e cantores. Meu primo de fato foi pra música, eu fui pro teatro. Cheguei a escrever carta para participar da novela Chiquititas quando começaram com o elenco masculino. Eu recriava cenas emblemáticas das novelas em casa. Sonhei em fazer televisão, em ser artista, em fazer capa de revista. Quando comecei a estudar teatro descobri que existe muita coisa a ser feita que não tem a ver com a imagem que vemos através da tela. Estar ali significa comprometimento com um ofício diário de estudo e dedicação. Tive que primeiro entender essa realidade para então me sentir preparado para fazer televisão. Ou seja, o que quero dizer é que hoje percebo que realizei um sonho! Mesmo que hoje eu sonhe muito mais, que queira fazer muito cinema, projetos pessoais e teatro, fazer televisão é a realização de um sonho. Estou muito feliz!

Seu personagem está tendo uma grande visibilidade na trama.  Esperava essa repercussão toda da Rúbia/Flávio?

O convite para a novela veio de surpresa, confesso que desde o princípio eu confiei no que poderia vir de melhor e me dediquei ao máximo. Dou o meu melhor todos os dias, estudo as cenas, converso com diretores e colegas de elenco sobre as relações e potencialidades, estou muito envolvido com tudo. Gosto muito do trabalho que está sendo desenvolvido, gosto da temática, defendo a representatividade envolvida. Além disso, o momento é propício. Estamos, como sociedade, ávidos por inclusão, por respeito, por representação das minorias. Estamos num momento crítico social, político e econômico e é fundamental lembrar da importância do corpo artístico como um corpo político. Desde o começo fiquei completamente tomado e envolvido e me comprometi com o meu melhor. Fico muito feliz porque é uma oportunidade de fazer um trabalho importante como ator e como cidadão responsável.

Fazer uma drag queen na TV é muito diferente de fazer o mesmo tipo no teatro?

É diferente! A drag não é uma criatura que funcione nos limites da aceitação, pelo contrário, a drag trabalha na ruptura, no limiar, na dificuldade. A drag não é do teatro, a drag é uma entidade que vive, que circula. Ela pode frequentar o teatro, claro, mas ela não pertence ao teatro. Ela é uma manifestação muito particular, é como o palhaço. Dizer que o palhaço pertence ao circo é reduzir a potência dessa arte a uma contingência só, muito específica. No teatro ou na TV, ou melhor, numa novela, a personagem é um encontro de muitos criadores. Ela sai da cabeça da autora e tramita por muitas mentes criativas até ganhar vida com nós atores. Por um lado, há uma riqueza colaborativa, por outro uma limitação ao contexto da dramaturgia. A drag abandona parcialmente seu caráter performer-livre quando precisa se adaptar às necessidades de um contexto dramático.

O retorno nas redes sociais é grande? Aumentou o número de seguidores?

Olha, eu não sou muito comprometido com as redes sociais. Digo, não sou compulsivo em publicações e nem consigo acompanhar tudo que rola por lá. Tenho meus perfis online e gosto das redes sociais para me conectar com amigos, informações, acontecimentos e divulgar pensamentos e envolvimentos em performances artísticas. Se outras pessoas quiserem me seguir nas redes para acompanhar minhas publicações, eu gosto, costumo inclusive responder a todos quando possível. Eu sou do toque, sabe, gosto de abraço, de sorriso, de olho-no-olho. Não rejeito de jeito nenhum as redes sociais, mas não consigo me envolver muito mais. Mas os números de seguidores têm aumentado progressivamente sim. E tem sido legal me comunicar com pessoas do Brasil todo por ali. Recebo muito carinho e torcida!

E nas ruas, você é muito abordado? Como as pessoas costumam falar com você em relação ao personagem?

Essa parte eu estou adorando! Gosto de saber o que as pessoas estão pensando nas ruas, gosto dos abraços e sorrisos que troco. Muita gente tem me abordado, principalmente crianças, jovens adolescentes, ou mais velhos e idosos. É isso que me deixa mais empolgado! Olha que legal, uma drag queen conquistou o coração dessas pessoas sem problema! No meio de tanta intolerância, a Rúbia tem conseguido tocar o coração das pessoas e mostrar que o amor e respeito são mais importantes e fazem diferença positiva na nossa vida.

Teve alguma situação curiosa ou engraçada?

Todas as abordagens costumam ser engraçadas porque as pessoas já se aproximam sorrindo. Elas costumam dizer “linda”, “encantadora”, “uma fofa” pra mim, Gabriel, desmontado. E ficam sempre surpresas de me ver falar e não ser a Rúbia. Mas a vez mais curiosa e estranha foi um cidadão que ficou me seguindo até o ponto de ônibus. Quando parei no ponto, ele me esperou virar e exclamou “tinha certeza que era você! Reconheci pelo cabelo.” Então passou o tempo dissertando sobre a importância de uma personagem como a Rúbia na teledramaturgia.

O trabalho na novela ajudou a dar mais visibilidade para seu trabalho no teatro?

O processo de caracterização é longo tanto pra Rúbia quanto pra Sara e acaba não dando tempo de gravar e fazer teatro no mesmo dia. Mas espero que as coisas se ajudem sim em breve! Quero que muito mais pessoas possam assistir ao trabalho de Sara e Nina, tanto o espetáculo teatral Minhas Mulheres Tristes, com colaboração de Miwa Yanagizawa, quanto o show Na Calçada. O que temos feito é marcar eventos semanais quando o roteiro de gravação permite, então a divulgação fica sempre em cima da hora.

Você já disse que leva de quatro a seis horas de caracterização, é isso mesmo? Precisa muita paciência não é?

É possível fazer em menos tempo? É. Mas pra ficar bem feito como tem que ser, o processo precisa levar esse tempo. Não é bem paciência que precisa ter, porque não é um trabalho ocioso, precisa de muita atenção aos detalhes, muita vontade. Mas é diferente fazer o processo de caracterização da Rúbia e o que faço sozinho para criar a Sara. Na novela, eu sento na cadeira e levanto transformada em Rúbia, isso leva menos tempo, tem profissionais diferentes trabalhando no meu rosto e corpo, o tempo reduz muito! Já a Sara é um comprometimento pessoal de ir me transformando aos poucos a cada etapa, isso leva um outro tempo, tem uma outra atenção envolvida, uma riqueza em detalhes que só na relação direta consigo é possível.

Na trama você dá vida à Rúbia e ao Flávio. Como está sendo essa experiência de dois personagens em um só?

Incrível em vários aspectos! Primeiro é um desafio ótimo já na minha primeira novela, o que me faz trabalhar mais e ser mais exigente comigo mesmo. Preciso sempre estar atento, tendo estudado e me preparado bem. Claro que costuma ser bastante cansativo, muitas vezes faço cena de Flávio, Rúbia e show no mesmo dia! É um batidão, mas recompensador quando termino o dia feliz por estar fazendo o que amo. Além disso, posso dar vida a uma personagem tão rica, complexa, com muitas variações de intensidade, o que é excelente pensando na versatilidade do trabalho do ator. E o melhor é poder viver uma história tão próxima do dia-a-dia de uma drag, que se monta, faz show, sai um dia montada pra comprar pão, outro dia vai relaxar à paisana. É ótimo!

O personagem veio justamente quando se está discutindo muito a questão do gênero por causa da Ivana (Carol Duarte) em A Força do Querer. Você acha que esse trabalho ajuda a esclarecer sobre a questão junto ao público?

Temos dois vieses diferentes na abordagem do tema gênero em ambas novelas. Em A Força do Querer existe uma narrativa que explora o tema do gênero e da identidade, uma personagem que vive conflitos em relação ao seu corpo e como se sente, como se vê é como quer ser vista. Ou seja, a trama gera debate e polêmica. Em Pega Pega, a Rúbia é uma personagem aceita desde o princípio, o conflito não está na personagem, mas nos encontros e circunstâncias. A Rúbia é uma persona criada pelo Flávio para interagir com o mundo artisticamente. Ou seja, não há polêmica nas relações ao seu redor por causa do debate sobre gênero. Digamos que em Pega Pega, estamos numa situação ideal, em que não tratamos com preconceito, apenas com desconhecimento. O desconhecido está aí o tempo todo, não é para se temer. Acredito que essa é uma excelente maneira de levar a temática ao público, por um lado, em A Força de Querer, abordando os dramas relacionados ao processo íntimo de Ivana/Ivan, e em Pega Pega, mostrando como é boa e possível a inclusão de pessoas como Rúbia na sociedade.

Tem assistido A Força do Querer?

É muito difícil conseguir acompanhar novelas com o dia-a-dia intenso de gravações como o meu. Tem dias que não consigo acompanhar nem Pega Pega. Tento assistir sempre a Pega Pega para estudar, mas confesso que muitas vezes não dá tempo. A Força do Querer eu procuro assistir cenas e trechos para me manter informado, mas não estou acompanhando tudo não. Uma pena porque sei que está sendo um trabalho incrível pelo que ouço falar!

O que está achando da personagem da Carol Duarte?

Como disse, não tenho assistido a novela na íntegra, mas recentemente, consegui ver cenas da personagem de Carol após o início da readequação de gênero e gostei muito! Achei a Carol formidável e a caracterização também!

Você está no teatro com Minhas Mulheres Tristes e ainda tem o filme Berenice Procura. Conte um pouco desses projetos.

O Minhas Mulheres Tristes é um projeto que está quase chegando a sua versão final. Começou como um show em homenagem às vozes femininas do samba-canção, chamava-se Minhas Mulheres Tristes – uma ode furiosa ao samba-canção e por um acontecimento real ele sofreu uma alteração dramática em sua primeira apresentação. Eu tive um trabalho que mudou de data coincidindo com o dia de estreia do show, então precisamos fazer uma criação na dramaturgia do show na última hora. Percebemos que o que tínhamos era algo diferente de um show e resolvemos investir na dramaturgia. Atualmente estamos na fase de experiências na nove etapa, que se aproxima mais de um espetáculo musical, que pretendemos entra em cartaz ao final da novela. O filme Berenice Procura estreia dia 7 de outubro no Festival do Rio e provavelmente iniciará uma turnê de festivais antes de entrar em cartaz nos cinemas. É um trabalho do qual tenho guardo memórias e aprendizagens lindas. Foi muito especial trabalhar com o Allan Fiterman, diretor do filme!

Você já falou que chegou a ficar 12 horas vivendo como drag queen e que isso chegou a te bagunçar um pouco. Como lida com essa questão atualmente?

Bagunçar não! Vivo sensações que me transformam sem dúvida. E isso é ótimo! Tanto para o meu eu ator quanto para minha vida. Viver tanto tempo como Sara exercitou minhas emoções, me ajudou a viver em empatia cada vez mais. Ser a Sara mexe sem dúvida no meu complexo emocional, e logo no início me fez descobrir muitas sensações novas, me enxergar de outra forma, me sentir bem em outra figura, em outra “pele”.

Tem vontade fazer um personagem distante desse universo?

Olha, a questão não é fazer personagem distante de universo nenhum, não gosto de pensar meu trabalho por rótulos. Quero fazer personagens que me interessem, que desafiem, que me estimulam a criar. Se for muito distante da temática que estou inserido agora ótimo, mas se ainda houver outros personagens que se aproximem desse universo e que venham a interessar, ótimo também.

Se vestir como mulher é mais difícil que se vestir como homem?

Se vestir como mulher é muito mais interessante! A moda oferece muito mais opções! Mas como digo, vestir-se não pode ser tão limitado por questões de gêneros, é bom poder transitar por estilos. Essa história de rótulos “coisa de homem”, “coisa de mulher” é um limitador para a criatividade, para a potencialidade humana.

Ser ator sempre foi sua única opção ou já pensou em seguir outra carreira?

Sou formado também em Português-Literaturas pela UFRJ e estudei Cinema por uma bolsa de estudos no King’s College, em Londres. Mas nunca pensei em seguir outra carreira senão a de ator. Os outros cursos que fiz foram sempre com intenção de agregar possibilidades ao meu desenvolvimento artístico. Fiz Letras pensando no quanto a leitura e a reflexão sobre literatura poderiam me ajudar a enriquecer minha criação como ator. Mas o trabalho de um ator é muito complexo, é difícil tanto no aspecto do desenvolvimento pessoal quanto na construção de uma carreira. Ainda mais no Rio de Janeiro, cidade em que existe uma referência midiática e televisiva muito forte, que a atuação se confunde com a fama. O trabalho do ator não tem nada a ver com fama, com culto à padrões estéticos, com vaidade. Não é mole não!

Como está sendo contracenar com Marcos Caruso, Guilherme Weber e Camila Queiroz?

Acho que tive muita sorte! O Luiz Henrique Rios (diretor) é um líder amoroso, fraterno, ele deve ter pensado no clima do dia-a-dia de gravações quando estava escalando elenco, formando equipe, porque o nosso é excelente, alto-astral, solidário! A Camila é uma parceirona, doce e amável! Já passamos por duas situações de dificuldades juntos para gravar cenas e foi ótimo estar com ela, demos as mãos, olhamos nos olhos um do outro e sabíamos que estávamos juntos para dar conta daquele momento! O Guilherme foi a melhor pessoa para me receber num primeiro trabalho na TV! Além de ser muito culto, educado e ótimo pra bater papo, ele foi o primeiro ator com quem contracenei na novela e foi um deleite. Eu fiz a cena conduzindo a personagem com uma energia mais impetuosa e ele me disse assim “essa é a primeira cena que nossos personagens aparecem juntos, apesar de ser em situação de confronto, a gente precisa mostrar que eles são amigos, que há uma parceria. O que você acha?” Fui ao delírio! Pensei “poxa, estou trabalhando com alguém que se preocupa em contar essa história comigo, na nossa relação, e não de maneira individual”. Isso é a arte do ator, a relação com o outro, a escuta! E o Caruso é outra paixão! Muito ético, profissional e uma super companheiro! Nos divertimos muito juntos na construção dessa relação entre Rúbia e Pedrinho. Ele me perguntou sobre meu ponto de vista nessa relação, conversamos sempre sobre assuntos relacionados à gênero e identidade, falamos sobre preconceito, sobre como contar essa história da forma mais amorosa possível. Não podia estar mais realizado no meio em que trabalho atualmente.

O que o Gabriel gosta de fazer quando não está trabalhando?

Fico cozinhando e comendo! (Risos). Gosto muito de cozinhar e adoro receber amigos. Atualmente, com o corre-corre, não tenho conseguido receber amigos em casa, mas adoro confraternizar e bater-papo. Outra coisa que gosto muito é frequentar feiras gastronômicas, então sempre que posso e sei de alguma, estou lá!

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