Bom Sucesso

“Eu acho o deslumbre algo meio cafona”, fala Suzana Pires sobre o ego no meio artístico

Atriz irá interpretar Virgínia Alcântara em Bom Sucesso

Publicado em 01/10/2019

Com mais de 20 anos na TV, cinema e teatro, a atriz e autora de novelas, Suzana Pires, encara mais um novo desafio na dramaturgia: interpretar a atriz Virgínia Alcântara, de Bom Sucesso.

Prestes a se juntar com a atriz Ingrid Guimarães em cena, Suzana Pires fala com exclusividade ao Observatório da Televisão sobre o seu novo papel na trama das sete, confessa que faz terapia, revela que sofreu preconceito ao virar dramaturga e conta sobre suas inspirações para criar suas histórias.

Confira a entrevista:

Como tem sido ficar com este cabelo curto?

Eu fiz para um filme, gostei muito e resolvi ficar com ele para minha vida. Passei anos com o cabelo muito comprido e quando fui chamada para entrar em Bom Sucesso, o cabelo tinha tudo a ver com a personagem, então acabou ficando.

Como será sua personagem na novela?

Não estava prevista. Eu gosto muito de novela e nos últimos três anos eu estava me dedicando apenas a escrever, então pintou um espaço na agenda aqui na Globo para eu poder entrar em uma novela. A Rosane [Svartman] já é uma pessoa muito próxima, uma mentora que eu me inspiro muito, aí conversamos e eu meio que me ofereci. Disse ‘não tem nada para eu fazer lá? Posso passar correndo atrás’ (ri muito) e eu adoro esta novela, estou acompanhando. Acho tão legal quando nossas amigas estão fazendo sucesso… Eu queria estar perto da Rosane, da Ingrid [Guimarães] e dois dias depois ela e o Paulo [Halm] me disseram ‘a gente já escreveu’. Eu entro na novela, fico um período e provavelmente volto. Farei parte do núcleo da Ingrid, do Rafael Infante e do Lucinho [Mauro Filho]. A gente já tem um jogo de muito tempo, então está sendo muito ótimo.

Você faz falta na televisão…

Obrigada! Eu fico muito grata porque eu escuto muito isso. Fico muito grata pelas pessoas não se esquecerem de mim (risos) e elas me dizem ‘eu sei que você está sem fazer novela porque você dirige, produz, mas faz falta. As pessoas sabem que eu faço outras coisas dentro da TV, mas fico feliz que elas sentem minha falta e ter espaço para voltar. Também sinto muita falta.

Conte um pouco sobre a personagem.

A Virgínia Alcântara, assim como a Silvana Nolasco, é uma atriz, mas é de um outro extremo. A Silvana é mais celebridade enquanto que a Virgínia é mais do teatro, complexa. As duas são mulheres que se acham estrelas, mas a Virgínia é do tipo que se acha mais cabeça. Esse jogo ficou engraçado. É uma relação de amor e ódio entre duas atrizes. Vai ser divertido. A gente já fez um grande sucesso juntas no cinema, somos amigas há muitos anos, então o jogo é rápido. Até quando tem de improvisar um pouquinho tudo é muito natural. Quando você tem um jogo com uma colega, é como descer para o play e a brincadeira rola muito bem com uma criança. É a mesma coisa. Quando você tem isso desenvolvido, você gosta de brincar junto. Eu vim correndo porque eu gosto muito deles. É um astral muito bem.

E você estava assistindo?

Sim, eu até tuitava ‘Fabíula, a Sheron está te traindo’. Bem a cara de espectador. Até o público achava que eu já estava na novela, mas eu estava só assistindo. Era público! A trama toca em um tema delicado que é incentivo à leitura, tem uma mulher protagonista que é realmente real. A Grazi está fazendo muito bem e a novela já me encantou desde o início. É tipo férias! É sério, é suave. O dia a dia de uma autora é muito diferente. Vir gravar é renovar os ares e voltar a criar com mais gás.

Você chegou a fazer uma preparação da personagem?

Fiz. Essa relação de amor e ódio de duas atrizes é algo muito anos 1950, sabe? É uma relação engraçada que não existe mais hoje em dia. Hoje como o feminismo, como mulheres, a gente tenta evitar esta situação de competição, mas essas duas ainda não entenderam isso. Elas estão longe de entender o que é uma consciência atualizada (se tivessem também não daria para fazer a piada. Rs). Assisti cenas da Jayne Mansfield que era assim e da Joan Crawford, dos anos 1940 e 1950.

A Virgínia é uma atriz cheia de ego, uma coisa meio anos 1950, mas como não deixar o ego estourar?

Terapia, meu amor. Eu acho deslumbre algo meio cafona. Ninguém é melhor do que ninguém. Acho que todo mundo está aqui vivendo coisas que nem imaginamos, então temos de ter respeito pelas pessoas. Nunca gostei. As poucas vezes que me vi perto disso, eu já não gostei, fiz uma piada comigo mesma para não acreditar tanto. Acho que o maior perigo desta profissão é se perder na vaidade. Ninguém melhor. Todo mundo me pergunta como começa um curso de teatro e eu sempre digo ‘comece com uma terapia’.

Quantas vezes você faz terapia?

Uma vez por semana só, mas já fiz três! Não tenho a menor vergonha de contar isso.

Você chegou a sofrer um pré-conceito por “virar” uma dramaturga, né?

Sim, vocês me conhecem há um tempão, sabem como eu sou, a gente tem um trabalho que nos alimentamos do trabalho um do outro e a gente sabe o que vai acontecer! Eu não tenho treta se um cara [jornalista] quiser escrever [críticas], tudo bem. Se tiver algo que me acrescente, eu vou ouvir. Acho que nunca tive medo e me arrisquei. É por isso que eu vou em frente. Para você se arriscar, você pode fracassar e ele pode te dar uma couraça. Depois você vai conseguir chegar no coração das pessoas. Esse é o meu objetivo como atriz e como autora. Eu tenho que estar com este canal muito limpo e, para isso, eu não sou treteira. Vou escrever meu trabalho e se alguém tiver uma crítica muito boa, eu vou ouvir. Se eu percebo que é uma crítica do despeito, do humano, eu dispenso.

O Silvio de Abreu falou que você é uma das crias dele. É como um Oscar, né?

Um Oscar pesado! (risos) Vem uma pressão junto. O trabalho da autoria é muito complexo. Quem me ensinou a escrever foi o Walter Negrão. Trabalhei com ele por muitos anos. Eu aprendi com uma pessoa que praticamente inventou isso, criei minha maneira de fazer, sempre me senti valorizada nas duas funções e nunca uma pessoa da executiva me perguntou o que eu queria. A postura sempre organizar as prioridades e fizemos isso juntos. Eu sempre senti que eu tinha uma empresa que me apoiava a ser o máximo que eu pudesse.

E é mais uma mulher, né?

Ser mais uma mulher, para mim, é ainda mais importante do que ser eu ali.

A novela é uma obra aberta. Se rolar de sua personagem ficar, você continua?

Eu fico! Se continuar, o que pode acontecer, não será uma personagem que grava todos os dias e isso dá um frescor maior. Eu posso voltar a me organizar com isso. Eu precisava desses três somente como autora.

Mas você não abre mais mão do ofício de autora, né?

Não, impossível. Nem o mercado abriria. Tenho um projeto, mas é algo que só a Globo pode divulgar. Ano que vem tem um filme chamado De Perto Ela Não é Normal, que é adaptação da minha peça para o cinema, com um elenco maravilhoso: Angélica, Heloísa Périssé, Ivete Sangalo, Gaby Amarantos e todas vieram como atrizes, se prepararam, já tinham visto a peça, são minhas amigas e vieram com vontade de fazer aquilo dar certo, sabe? A Ingrid não pôde fazer, mas tem uma participação especial hilária. Vocês vão gostar.

Neste novo projeto você está em parceria com alguém?

Estou sozinha. É um período de desenvolvimento, de entender como é a minha voz, qual é minha pegada… Quando o Negrão ficou doente em Sol Nascente, fui eu que toquei com o Julio, então agora é o exercício da minha voz como autora. Se ficar bom, ótimo, se ficar ruim a gente volta e escreve de novo… É uma carreira de longo prazo e eu ainda sou muito nova.

Você não tem medo de se arriscar?

Não. Às vezes eu ouço ‘como essa mulher não tem medo de fazer isso? Como ela consegue’. Eu realmente me arrisco e não tenho medo disso. Se eu errar, posso pagar um micão. Eu dou minha cara a tapa, mas o farei depois de ter estudado muito.

Sol Nascente foi sua cara a tapa, teve um probleminha e você teve muito sucesso, inclusive em Portugal.

Sim, fez muito sucesso lá. Tive muita sorte ali porque tinha como diretor o Leonardo Nogueira, marido da Giovanna [Antonelli], que é muito meu amigo, então era um grupo que todo mundo queria desse muito certo, diante de um problema que era muito sério. O Negrão ficou doente e o meu pai também adoeceu na mesma semana. Foi um período muito louco. Tive de lidar com tudo isso. Então ali foi uma prova para mim de que tudo poderia dar errado, mas eu poderia fazer dar certo. Assumi o meu lado vulnerável, fiquei sem meus dois pais: um era o meu mestre e o outro era meu pai com quem eu me dou muito bem. De repente um caiu para um lado e o outro caiu do outro. Hoje os dois estão ótimos, mas foi um desafio. Em nenhum momento eu fingi que estava tudo bem. Eu estava em carne viva, mas gostei que passou, a novela se recuperou, os dois ficaram bem e tudo ficou bem.

É mais difícil ser uma atriz dramaturga, com muitos amigos atores?

Não… Não rola pedido de vagas. A gente está dentro de uma empresa e existem várias instâncias para um elenco ser aprovado, a empresa que manda. Posso dar um palpite, indicar alguém, mas é um processo. Como eu conheço muito bem o set, sou uma pessoa dali, na hora de escrever isso facilita tanto para o diretor quanto para o elenco. Eu tenho uma vivência nisso aqui. Quando eu vinha ao set de Sol Nascente, eu sabia qual era a angústia. Nenhuma autor pergunta isso ao autor então gera uma angústia. Você se torna uma ponte dos dois lados. Você tem um domínio melhor do tabuleiro e do que é fazer televisão. E assim a banda toca. Estou louca para uma outra atriz que escreva novela. Não é legal estar neste lugar sozinha.

Tem alguém que escreve também?

A Heloísa Périssé também escreve, mas não novela. A gente já conversou sobre isso. Tem muitas atrizes que escrevem, eu as incentivo e elas fazem o mesmo. Neste dia a dia da trama aberta não… Minha vida rumou para este lado.

Quem vem primeiro: a atriz ou autora?

Acho que a autora.

A Globo está começando as novelas com 60 capítulos de frente. Existe uma angústia para escrever tudo…

E depois mudar? Eu já fiz isso. Não dá angústia… É outra coisa. É sentar e escrever! Eu tenho uma equipe.

De onde vêm suas inspirações?

De tudo! De gente e de entender o mundo. A minha formação é de entender fenômenos. É isso que eu faço. A gente tem de entender o que está acontecendo, para onde está indo, para criar os personagens.

Você gosta de andar de metrô?

Adoro! Tem dias que eu dou uma causada, as pessoas me amam e em outros as pessoas ficam me ilhando de rabo de olho. É maravilhoso! Eu não deixo de ir ao mercado, fazer feira, pegar metrô… Esses dias fui ao nordeste, conversei com todo mundo: desde o vendedor de rede ao dono de hotel. Tem de estar perto de gente. É bom para criar repertório.

Viajar também ajuda, né?

Sim, inclusive um filme eu gravei em Cuiabá, no Mato Grosso do Sul. Então para o ano que vem tem dois filmes: De Perto Ela Não é Normal e Eva, rodado em Cuiabá, que é um drama. Neste eu trabalho como atriz.

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