“Estou preparado para entregar meu corpo e minha alma para esse personagem”, diz José Fidalgo sobre Constantino de Deus Salve o Rei

Publicado em 17/12/2017

Fazendo sua estreia em novelas brasileiras, José Fidalgo será Constantino em Deus Salve o Rei, próxima novela das 19h. Na trama ele viverá um vilão que acabará se apaixonando pela perigosa princesa Catarina (Bruna Marquezine). O ator conversou com nossa reportagem durante o evento de lançamento da novela e falou sobre as diferenças de produção de telenovelas no Brasil e em Portugal, sobre seu desejo de construir uma sólida carreira internacional, e sobre sua parceria com Marquezine em cena. Confira:

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Como está a expectativa para estrear a sua primeira novela no Brasil? Você se sente privilegiado?

Eu nunca falo muito da expectativa, eu deixo isso sempre para os resultados. Mas que eu me sinto privilegiado fazendo essa novela? Com certeza! Eu acredito que estou entrando em um novo início para a TV Globo, pelo menos na forma como a gente tem vivido essa novela. Basta entrar aqui para ter noção de que é uma coisa grande, tem os estúdios, algo que a Globo está habituada a construir há muitos anos, mas essa é de uma forma diferente, porque tem efeito especial, tem a magnitude que você não vê quando está gravando, não vê essa dimensão. Então, depois desse trabalho, de nós termos vistos pequenos clipes que já estão completos e editados, é um privilégio, é emocionante.

É diferente das produções realizadas em Portugal?

Não que seja diferente, é que vocês aqui estão trabalhando para um produto que é visto por 150 milhões de pessoas pelo menos. Nós em Portugal trabalhamos para um universo de um milhão e meio ou dois, e dois já é uma festa. É óbvio que a dimensão do produto tem que ser comparada a massa crítica que vê esse produto. Então, você não tem dinheiro e nem lógica de fazer algo assim tão grande, é uma despesa enorme, e no Brasil é bom porque, não só no Brasil, mas o mundo inteiro vê o produto brasileiro, então é normal haver esse tipo de investimento. Agora, a mão de obra dobra, o produto técnico, os atores, e eu acho que somos tão bons, porque a formação a gente vai tendo sempre ao mesmo lado. A gente viaja para Nova York, Paris, Londres, e a técnica faz o mesmo, vai buscar uma especialidade fora do Brasil para ver que novas técnicas estão acontecendo. Isso é bom em qualquer lado do mundo, a grande diferença é o brinquedo que vocês têm. Trabalhar nessa estrutura é um privilégio.

O seu sotaque está bem brando. Você está fazendo aulas com profissionais para conseguir deixar o sotaque assim?

Eu tenho uma professora de fonética, que é a Leila. A grande batalha tem sido com ela, depois é durante o dia a dia falando com todos vocês e, principalmente, mais que falar é escutar. Em primeiro lugar, o segredo de qualquer pessoa é saber ouvir. Para o ator isso é primordial, a maior ferramenta que tem. Se você souber ouvir, tiver um bom ouvido, você pode apanhar o que seja. Nesse caso, você apanhar a música que o brasileiro tem, e que nós portugueses estamos habituados há trintas anos, porque consumimos produtos brasileiros, seja televisivo, seja ligado a própria arte, música, cinema, a gente consome muito isso. Então, já gera esse hábito de ouvir o brasileiro e de brincar com essas palavras. Chegando aqui, é só botar de uma forma mais profissional para que vocês consigam entender aquilo que eu digo, mas na maneira do Constantino.

Você já pensava em vir para o Brasil?

Eu como ator tenho sempre o objetivo de tornar a minha carreira internacional. O Brasil era um sonho por causa disso mesmo, porque a gente está habituado a ver novela brasileira, filmes brasileiros, a música. Então, é como eu estar em um filme, como se estivesse vivendo um sonho, mas estou nele, é real.

Você curtiu esse visual? Esse cabelo é extensão?

Em várias fases da minha vida, eu tive cabelo muito comprido, meu mesmo, agora é a primeira vez que eu estou colocando extensão. Fora essa extensão, tem mais cabelo que eu coloco para o Constantino e mais dreads. É muita coisa.

Já se acostumou com esses apliques?

É novo para mim. Eu tenho extensão no cabelo todo, então, é um pouco novo. Saber lidar com isso é um processo de dia a dia, mas eu estou curtindo, estou gostando.

Como você foi convidado para participar de Deus Salve o Rei

Foi através de um processo chamado Passaporte, em que diretores de casting e diretores de uma forma geral viajam pelo mundo tendo várias reuniões com alguns atores de cada país, e acontece em Portugal. Falei com o André Reis, e mais duas pessoas, eles perguntaram sobre as minhas ambições, o que eu queria em relação ao Brasil e eu falei. Daí se passaram dois meses, eu tinha acabado de fazer uma novela em Portugal e estava de férias, e surgiu o convite para fazer esse personagem.

Dá para perceber que você está um pouco rouco. Essa rouquidão é de tanto falar ou já natural?

Ela é minha (riso).

O seu personagem é um vilão? Você vai defender ou dizer que ele é mesmo um vilão?

A única coisa que defendo nos personagens que faço é a suposta integridade deles ou não. Esse cara é íntegro, mas no que se diz respeito a honra da luta, porque ele é um guerreiro. Então, a forma mais básica que eu tenho de falar do Constantino é que se esse cara tiver que morrer, ele morre de frente, morre de pé, no sentido figurativo, entende? É isso que eu defendo nele, mas ele é mau.

Ele é meio o Aquiles?

Eu acho que sim. Ele pode ser um pouco Aquiles, mas eu não posso falar do calcanhar dele porque ele já encontrou esse calcanhar.

Seria o amor da personagem da Bruna Marquezine, a princesa Catarina?

Ele já encontrou esse calcanhar.

Como está essa parceria com a Bruna Marquezine? Vocês já se conheciam?

Eu conheci a Bruna aqui e estou feliz de trabalhar com ela, porque, como qualquer ator, nós temos a função de dar brilho à cena. E a Bruna é uma grande atriz com um imenso talento, então, ela está muito disponível para que essa novela seja um sucesso e para que a personagem dela seja um sucesso também.

Você está com medo das críticas? O público vai te conhecer agora, né?

O ator tem sempre medo de críticas. Que venha o primeiro ator que diga que não, que nos atire a primeira pedra. O ser humano fica sempre mais atento ao que há de mal nele, às críticas negativas. Enquanto ator, você tem que ter uma personalidade bastante forte para poder superar isso, mas principalmente aprender, saber filtrar o que de mal nos foi dito para saber se pode mudar alguma coisa para se transformar em bom. Mas você também não pode agradar toda gente, então, o seu trabalho é dar sangue, suor e lágrimas, como eu costumo dizer.

Você parece muito dedicado ao seu trabalho e também muito reservado a sua vida pessoal. Só que junto com o bônus, vem o ônus, inclusive a exposição. Você está preparado para isso?

Eu vou tentar lidar da melhor forma possível com isso. Eu acredito que há sempre em última instância uma linha que se chama respeito. Enquanto essa linha não for ultrapassada, eu estou tranquilo, eu falo com quem quer falar comigo e respondo as perguntas da forma que eu acredito que devo responder. Então, enquanto essa linha não for ultrapassada, a gente brinca um com o outro.

Você tem um site, né?

Se chama Crônicas de Fidalgo. É um nome um pouco presunçoso, entende? Mas em reunião, as pessoas que trabalham comigo acabaram com a opinião de que: “a história é sua, a aventura é sua”. Então acabou por ficar o meu nome, mas o objetivo é de encontrar pessoas que tenham uma história a contar, uma coisa a dizer, uma coisa diferente e que te alguma forma possa abrir a mente do mundo que vivemos hoje em dia, que está muito cúprico. Ou seja, está muito ligado a um só objetivo e a gente nem sabe que objetivo é esse, então, eu acredito que como figura pública, se assim pode me caracterizar, acabo com esse objetivo de abrir mentes nas pessoas. Não quer dizer que eu já tenha feito isso, mas esse é o objetivo.

Você está preparado para o assédio da mulherada?

Eu estou preparado para entregar o meu corpo e minha alma para esse personagem, todo o resto é uma consequência que eu vou tentar lidar da melhor forma possível.

Como é para você trabalhar em uma novela medieval? Aqui no Brasil a gente já teve Que Rei Sou Eu?, e foi um sucesso tremendo..

É um privilégio entrar em uma nova etapa da Globo. Essa novela não representa só Deus Salve o Rei, acho que tudo que foi criado para essa novela representa futuros projetos para a Globo, e isso não sou eu que digo, você ouviu o Fabrício (diretor) falar. Então, está sendo um privilegio porque eu estou marcando meu nome na história da Globo nessa nova etapa. Fora isso, tem o prazer enorme em fazer o Constantino. Eles estão dando as ferramentas a qualquer momento, está sendo ótimo.

Como está sendo dar vida ao personagem?

Era um objetivo trabalhar na Globo, recebi esse desafio e vim na cara e na coragem. Estudei os personagens, vi os prós e os contras. Não tinha como dizer não, depois de eu encarar tudo e saber que estava acontecendo, não tinha como dizer não.

Você tem um objetivo como o do ator Ricardo Pereira de se fixar aqui no Brasil? Ele veio, casou, não tem mais sotaque. A gente nem sabe se ele é português ou brasileiro..

Em relação ao Ricardo eu não sei, eu sei que eu sou português. Mas eu tenho o objetivo de trabalhar aqui no Brasil e em Portugal. Meu país é Portugal, a minha casa, o meu quartel general é em Portugal. Agora, eu não posso te dizer: “desta água eu nunca beberei”. Posso dizer com toda certeza que eu tenho muita vontade de depois dessa novela, apesar de já ter um filme e uma novela para fazer lá, de voltar para o Brasil e abraçar outro projeto. Uma vez que vim, eu não quero sair, mas eu tenho que ligar essa ponte.

A Bruna Marquezine falou que é legal as pessoas acreditarem nesse casal Catarina e Constantino, comprarem que vocês estão realmente juntos, mas na verdade não estão na vida real. Você também acha isso positivo?

Essa é uma opinião que me põe em uma parte que eu não emito publicamente, porque eu acho, sinceramente, que o que você tem que fazer enquanto ator é se entregar ao personagem. O ator tem uma formação que vai de encontro a uma pessoa nova, entregando ou emprestando o seu corpo e a sua mente, é nisso que eu me baseio para construir esse personagem. Quando você tem atores, como no caso da Bruna, que são grandes, e ela tem um talento enorme, e que estão disponíveis para encontrar personagens novos,  é ótimo. Nós temos um elenco ótimo nesse sentido, nós temos um grupo de atores super consagrados em São Paulo, e que estão trabalhando no Rio de Janeiro, gente que veio do teatro, então, isso traz uma onda muito boa para a novela. Uma aprendizagem, uma forma que toda a gente mistura, ensina ao outro e aprende, é uma troca de experiência muito boa nesse sentido.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano. 

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