Helena

“Estamos construindo Helena capítulo a capítulo”, diz Flávia Alessandra sobre mistérios da personagem

Atriz é só elogios para a parceira de cena, Juliana Paiva

Publicado em 28/02/2020

Interpretar a Helena, de Salve-se Quem Puder, tem sido todo um desafio para Flávia Alessandra. A atriz considera que, em mais de 30 anos de carreira, jamais construiu um personagem com tantas possibilidades como a mãe de Luna (Juliana Paiva).

Quando eu recebi esse papel, o grande desafio pra mim era esse: eu não saber o passado dessa mulher. Estou vivendo com o público, dia após dia, a descoberta das informações sobre a Helena“, explica a bela.

As teorias criadas pelos fãs da trama, inclusive, tem sido de grande ajuda para a composição do papel. “Adoro tudo o que as pessoas mandam em termos de possibilidades, porque tem caminhos que eu nem imagino. Eles acabam me ajudando e me alimentando com outras possibilidades“, considera.

Confira a entrevista completa.

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – Você está cada vez mais bonita! O que está achando do look da sua atual personagem? Está curtindo?

FLÁVIA ALESSANDRA – Estou curtindo muito. Primeiro porque acho que é um cabelo que tem muito a ver com a Helena. Quando li a sinopse, de cara já visualizei ela desse jeito. Depois, quando fui fazer as provas de figurinos, as ideias bateram e eu fiquei super empolgada. Inclusive, recebi uma notícias esses dias que me deixou muito feliz: a maior parte das buscas que existem hoje envolvendo meu nome é por causa do cabelo! Olha que incrível, gente! É uma nova era na mulherada, porque mulher de cabelo curto era uma coisa tão distante da gente, da mulher brasileira… Fiquei superenvaidecida quando soube.

É bacana quando você vira moda, né?

Muito! Ainda mais quando você não só vira moda, mas vira referência dessa nova libertação feminina – porque o ‘não-cabelo’ é quase uma libertação mesma do nosso ser, de fato! Pra nós, mulheres que levamos uma vida inteira de cabelão, uma vez que você tem o cabelo curto você vê o contraste de vida, de ‘trabalheira’, de tempo que é… Então é algo muito novo eu estar vendo as mulheres compartilhando e também tomando esse coragem – porque é uma coragem sim a gente tirar aquele cabelo todo que envolve a gente. É uma coragem muito boa, muito libertadora.

Agora vamos falar da Helena. Que mulher misteriosa, não?

Sim! Eu adoro me alimentar das teorias [em torno da personagem]. Quando eu recebi esse papel, o grande desafio pra mim era esse: eu não saber o passado dessa mulher, e o segredo dela é ter abandonado uma filha – o que, pra mim, é quase injustificável. Meu Deus, como uma mãe faz isso? Então pra mim foi muito desafiador fazer a Helena, e ao mesmo tempo depois foi se tornando muito estimulante, porque, em 31 anos [de carreira], eu nunca fiz uma personagem assim. Eu estou vivendo com o público, dia após dia, a descoberta das informações [sobre Helena]. É claro que eu fico sabendo um pouco antes, conforme vou recebendo os capítulos – mas mesmo ali não tem tanta conteúdo ‘a mais’ pra gente entender o porquê dessa mulher. E, com Twitter, hoje em dia é uma loucura… Porque se criam várias teorias, e eu vou me alimentando de todas elas pra estar ali, contracenando com a Ju [a atriz Juliana Paiva], tomando cuidado pra não dar a mais ou de forma errada algo que eu possa entregar antes do tempo – entende o que eu quero dizer? Uma reação, uma atitude com ela… Fica tudo ali num limiar, que é mais um sentimento incompreensível do que qualquer outra coisa. É um grande desafio. Eu preciso de uma concentração muito grande quando estou em cenas com a Ju ou falando sobre o passado.

O que você, Flávia, imagina que essa mulher fez pra largar o marido e a filha? Qual a sua própria teoria?

Eu sei que isso já era uma vontade da Helena e do Mário (Murilo Rosa), de vencer, de atravessar a fronteira e viver nos Estados Unidos… Eles já falavam disso lá atrás. Agora, o que realmente aconteceu… Tem uma teoria que eu ouvi agora de que ela talvez nem tenha saído [do país] é mais uma possibilidade.

O Hugo (Leopoldo Pacheco), atual marido da Helena, acoberta esse segredo junto com ela, não?

Sim! Eu acho que ele a acobertou, ou protegeu, ou se aproveitou de um momento de fragilidade daquela mulher – “eu resolvo pra você e aqui estarei”. Eu acho que ele a ama muito, realmente, mas a Helena eu não sei se o ama… Tanto é que eu e o Leopoldo ainda não tivemos cena de beijo – afinal, o beijo é um indicador de reciprocidade no amor. É tudo muito sutil. Eu ainda não tive beijo com ele, ainda não falei ‘eu te amo’ pra ele, sendo que ele já me falou… São sutilezas que a gente tem que tomar cuidado.

A Luna sabe que a Helena é mãe dela, mas a Helena… Acha mesmo que ela não reconheceu a filha?

Acredito que sim. Uma criança de 4 anos [idade com que Luna foi abandonada] pra 20 anos pode mudar muito. Então eu não sei se ela reconheceu essa filha. Pode ser que sim, mas eu não sei.

Você acha que a Helena pode chegar ao ponto de virar uma vilã?

Eu acho que sim. Acho que ela pode sim vir a ser uma vilã. Até por isso, eu tomo cuidado nas cenas pra ser amorosa, mas não ser melosa com os filhos do Hugo. Por mais que eu seja amorosa com os enteados, eu continuo sendo aquela mulher firme, forte, pra justamente deixar uma possibilidade se eu vier a ser uma vilã também. Até porque uma vilã tem todas as suas facetas também. Pode ser amorosa de um lado e ser uma grande filha da mãe de um outro lado. A gente também tem essa sutileza quando eu me relaciono com os enteados.

Você esperava essa reação tão indignada do público em relação ao fato de a Helena, supostamente, não ter reconhecido a filha?

Pois é… Eu até falei: “gente, ela não maltratou [a Luna], ela apenas não reconheceu!” Na verdade, ou ela não reconheceu ou ela na verdade está tentando proteger essa pessoa e afastando-a logo dali. Mas, de fato, eu achei incrível a resposta do público. Entendo isso como uma consequência do sucesso da novela, é claro, e também da liga que eu e a Ju temos. Mas é isso: se é pra odiar, que odeie; se é pra comprar, que compre! É o que a gente quer mesmo. Até porque vai que essa mulher é uma vilã de fato?

Você já ouviu algum impropério, algum comentário mais maldoso em relação à sua personagem?

Ouvi vários sim, e eu também os absorvo. Até porque pode ser que eles tenham razão. [risos]

O Daniel Ortiz, autor da novela, te deu alguma dica de onde ele pretende levar essa personagem? Se é que ele sabe…

O Daniel sabe sim. Na verdade, ele me contou alguns caminhos do que não fazer. Mas, mesmo assim, eu continuo com uma gama de possibilidades do que pode ser.

A sua filha Olívia, de 8 anos, já assiste à novela?

Assiste sim! É a primeira vez desde Eta Mundo Bom! (2016), que era uma novela deliciosa, que a Olívia está acompanhando uma novela minha de novo. É muito legal, porque há muito tempo eu não via essa geração mais novinha acompanhando uma novela. A gente sabe que hoje, com YouTube, as séries, a galera se dissipou de uma forma que essa geração da Óli já não era mais seguidora das novelas. Tanto que esses dias, quando eu fui buscá-la na escola, as menininhas ficaram alvoroçadas, conversando entre si… E eu já pensei: “olha, elas estão assistindo à novela!”

Como ela reage à sua personagem?

A Olívia tem convicção, ela me diz: “Mãe, você é do bem. Você é boa”. Aí a Giulia [Costa, 20 anos, filha mais velha de Flávia] fala pra ela: “Olívia, não vai contando com isso não! Porque quando a mamãe fez a Cristina [de Alma Gêmea, em 2005], eu tinha uns 5 anos e sofria muito na escola, porque todas as crianças falavam que a mamãe era má e eu tinha que ficar justificando que ela não era má.” [risos] Aí a Olívia fica meio insegura – será que é, será que não…

A Olívia já demonstra algum interesse pela carreira artística?

Eu não sei o que ela vai ser… Acho que lá em casa todo mundo é artista. Ela toca, canta… Agora me dirige também [risos]… São várias vertentes. Ela quer ter um hotel pra cachorros, isso eu sei. A vida inteira ela fala isso. Mas não sei… Acho que ela tem a alma de artista também, mas vai se descobrir aos poucos.

O que você acha do figurino da Helena? Você usaria ele no dia a dia?

É mais clássico, né? Ela é uma mulher mais clássica. Não é a ‘essência Flávia’ – acho que não sou tão clássica como ela. O cabelo dela, por exemplo, eu amo, mas eu não uso o cabelo assim, todo arrumadinho. Eu coloco ele desarrumado, desgrenhado, coisa que a Helena não usaria. Mas, mesmo assim, eu acho lindo o figurino dela.

Você acredita que o figurino contribui para o mistério em torno da personagem?

Sim. A Helena é quase um papel em branco, que a gente está preenchendo capítulo após capítulo. Tem até algumas situações que eu me questiono e até divido com a Ju. Por exemplo: por que no começo da novela, durante o furacão, em momento algum ela se preocupou com a Luna? Porque ela acha que eles não estão mais no México, que eles atravessaram [a fronteira]? Ela só sofreu com o Teo (Felipe Simas)! Eu me pergunto todas essas coisinhas e vou ligando todos esses pontinhos. A gente está descobrindo mesmo [a personagem], o Daniel [Ortiz] é danado!

Você e a Juliana já haviam interpretado mãe e filha em outra novela, Além do Horizonte (2013). Isso ajudou na química entre vocês no trabalho atual?

Sim. A gente lá atrás bateu uma bola muito boa como mãe e filha. A gente ali já era muito próxima. Eu conheço ‘tempinhos’ da Ju, conheço reações, olhares dela… Facilita muito o nosso entrosamento. Mas tem um outro lado que também é muito bom – com o Felipe [Simas], por exemplo, eu nunca tinha trabalhado. Felipe é um outro lugar de interpretação que já me faz baixar mais o tom, me coloca em outro lugar. Já o Leo [Leopoldo Pacheco] tem umas reações inusitadas, que me deixam sempre em alerta para o que pode vir. É bom também, porque eu nunca havia contracenado com ele. Eu imagino um caminho, quando eu vejo o Leo está fazendo outro. Ele me surpreende.

Você já parou para imaginar qual será a reação da Helena quando descobrir que a Luna/Fiona é a filha dela?

Caramba, eu não consigo imaginar! Porque tem tantas possibilidades dentro da minha cabeça – a de ela já saber que a Luna era a filha, ou não; ela achar que a filha tinha morrido, ou não; ela ter mandado matar a própria filha, ou não; ela ser do bem, ela ser do mal. Não, não parei pra pensar ainda. Por isso adoro tudo o que as pessoas mandam em termos de possibilidades, porque tem caminho que eu nem imagino. As pessoas [telespectadores] acabam me ajudando e me alimentando com outras possibilidades.

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

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