“Essa família vai ter que virar uma família de verdade”, adianta Caco Ciocler sobre seu núcleo em Segundo Sol

Publicado em 13/06/2018

Em Segundo Sol, atual novela das 21h escrita por João Emanuel Carneiro, Caco Ciocler vive o arquiteto Edgar. Fraco, e destratado por toda a família, inclusive sendo visto por seu pai como um homem limitado, ele conquista cada vez mais a torcida do público, sobretudo no que diz respeito ao carinho que nutre pela filha adotiva Manuela, vivida por Luisa Arraes.

Em conversa com o Observatório da Televisão durante um evento nos Estúdios Globo, o ator falou sobre seu personagem, sua mudança física para interpretá-lo, além de se dizer impressionado com a reação do público a uma brincadeira feita por ele e por Giovanna Antonelli em cena. Confira o bate papo:

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Como está sendo a novela para você?

“Está ótima por vários motivos. Eu já sabia que fazer uma novela do João Emanuel Carneiro seria uma experiência incrível e está sendo. Os personagens são muito complexos, e falando sobre o meu, cada novo bloco que chega é como se fosse peças que temos que ir montando, num processo que nos deixa atentos o tempo inteiro. Tem uma coisa muito nova para mim que são as redes sociais, e estou muito impressionado com a repercussão imediata das coisas.”

Inclusive aquela cena do seu personagem que vazou na rede…

“Inclusive isso. Hoje em dia, nós atores entendemos como o público reage quase que de forma imediata. Houve até uma história com a Giovanna Antonelli, na primeira cena em que nossos personagens se encontravam. Eu pensei que o Edgar, vendo aquela mulher com aquela calça, aquela máscara, ele é um mulherengo, e daria uma paquerada nela. Combinei com a Giovanna e isso virou uma coisa enorme, de gente torcendo e shippando. Não que não acontecesse antes, mas agora ficamos sabemos muito rápido. Eu tinha uma preocupação muito grande com o Edgar porque ele foi ficando um bobão na presença do pai, e eu tinha medo de as pessoas tratarem ele como se ele não fosse cativante. Eu queria que as pessoas sentissem pena dele, entendessem o motivo de ele ser assim, e torcessem por ele, e isso está começando a acontecer agora. Estou feliz.”

O interessante é ver o amor que ele sente pela Manuela. Por que você acha que ele tem mais carinho por ela do que pela outra filha?

“O João já deu uma dica numa cena em que a Rochelle (Giovanna Lancelotti) fala que o Edgar já foi um viciado, que passou por algo semelhante à Manuela (Luisa Arraes), o que é um ponto de ligação muito forte entre os dois e acaba sendo um ponto de ligação com a Luzia. Daquela família, ele é o pai amoroso da filha dela, e com isso acabamos formando uma família, e talvez a torcida do público seja um pouco por isso.”

Por ser uma obra aberta, você acha possível formar esse casal entre Edgar e Luzia?

“Eu passei por isso uma vez em América. Meu personagem era um dos três namorados da Sol (Deborah Secco), e a ideia inicial era a personagem ficar com o Tião (Murilo Benício), e ela acabou ficando com o Ed, meu personagem. Em Segundo Sol, que eu saiba, não estava sequer previsto. É possível por ser uma obra aberta, mas sei que o João tomou tanto susto quanto a gente com essa reação do público, mas o que ele vai fazer com isso, eu não sei, porque teria que mexer em muita coisa na história.”

Você acha que algo pode literalmente mudar? Afinal, a novela é extremamente ágil.

“O João é muito rápido, acontece muita coisa nessa novela, e é impressionante. Estamos na terceira semana da novela e muita coisa já aconteceu. A ideia era o Edgar ir e voltar com a Cacau (Fabiula Nascimento) que é a irmã da Luzia, mas sei que o público hoje em dia tem muita força, que isso é dito nas reuniões, então talvez tenha se aberto uma possibilidade que ele (autor) não tinha pensado.”

Como é a relação dele com a Karen?

“A história que a gente sabe é que ela trabalhava numa agência de viagens, o Edgar era um perdido, provavelmente drogado, nunca tinha trabalhado. O pai mandou ele viajar para se reabilitar, ele foi até uma agência de viagens, gostou dela e falou: ‘Estou indo sozinho, vem comigo’. É uma relação estranha, mas não sei se na alta sociedade é assim, posso estar sendo preconceituoso e falando besteira, mas os casamentos nas oligarquias são mantidos porque há muita coisa em jogo. Tem a questão social, financeira. Se separar é uma questão para quem tem muito dinheiro. Edgar e Karen (Maria Luisa Mendonça) se gostam em algum lugar, mas não é uma grande paixão.”

Fora que ele acabou tendo um caso com a Cacau, e repetindo exatamente o que o pai fez no passado…

“Tem uma repetição de padrão, o pai gostava da mulher, mas teve um caso da empregada, e isso foi aceito. O Edgar é filho da empregada, mas não sabe disso ainda. Quando definiram para mim o personagem, disseram: ‘Caco, ele tem uma alma boa, mas só faz besteira’, então é um personagem que vai errar muito e espero que aprender muito. Ele está começando a querer não ser tão submisso.”

No início da história ele parecia meio mau caráter…

“Ele era, tinha 30 anos de idade. Tinha uma competição com aquele irmão mesmo ele não sabendo que era irmão, era uma coisa mais moleca.”

E como é para ele esse reencontro com a Cacau?

“Ele não viu mais a Cacau. Reencontrou, tentou pedir desculpas, mas não recomeçou uma história com ela. Esse encontro com ela não está escrito ainda, então nem sei para onde vai. A ideia era formar um triângulo com o Roberval (Fabrício Boliveira), mas é um personagem esquisito, que ninguém sabe ainda qual é a dele, e não sei como o João vai me colocar nesse vértice.”

Daqui a pouco o Edgar pode estar com a Luzia também…

“Não sei. Ela nem ficou balançada. Os personagens tiveram três encontros super fortuitos. O único que falamos ‘vamos botar um negocinho’, foi no primeiro, porque o Edgar vendo uma mulher com calça de couro, máscara de couro, não iria resistir.”

Como foi para você entrar nesse universo da Bahia?

“Essa era uma preocupação de todos nós, até porque sou muito – cuidado, falei isso numa entrevista, e entenderam mal – não que não existam pessoas brancas, mas em tonalidade sou muito branquinho de não tomar sol, e questionei ‘Como uma pessoa dessa vive na Bahia?’, e a primeira resposta que tive da direção da novela foi que eles foram para Salvador, frequentaram a oligarquia baiana, que é extremamente branca, faz questão de ser branca, faz questão de disfarçar o sotaque, infelizmente. Os filhos todos estudam fora do país, então me disseram que esse núcleo era propositadamente branco, preconceituoso e o sotaque é muito leve por eles fazerem questão de esconder.”

Tem alguma gíria que você pegou?

“O que acho muito lindo é eles falarem ‘meu pai’, ‘minha mãe’, nunca falam só ‘pai’, ou ‘mãe’, e isso gera um tipo de aconchego.”

Como está a questão do assédio porque nas redes sociais? Estão elogiando muito sua forma física.

“Isso foi outra loucura na minha vida, assim como essa história da Giovanna. O João quando me ligou contando do personagem, explicou tudo e no final da conversa disse: ‘O Dennis quer que você emagreça um pouco, nem acho que precisa, mas ele quer’. Na leitura de texto, o Dennis falou: ‘Cara, dá uma emagrecida’, logo pensei ‘Opa, estão querendo me dizer alguma coisa’. Quando entendi que o personagem tinha duas fases, e na primeira ele era um playboy que não trabalhava, pensei que ele deveria malhar, e quis fazer isso para entrar nessa energia, e depois relaxar de novo na segunda fase até para ter uma diferença. Comecei, fui para um personal, e falei que eu tinha três semanas para mudar de corpo. Inicialmente ele falou: ‘Você está louco, mas vamos lá’. Me levou numa médica, que mudou minha alimentação, me deu complemento. Malhei muito, todos os dias, e essas três semanas viraram dois meses porque mudaram o cronograma de gravações, e com isso eu consegui uma super mudança. Eu estava muito forte na primeira fase, nem estou mais. Essa energia de academia me ajudou em relação ao Edgar, porque é um lugar muito vaidoso, para onde você olha, tem espelho. Ou você se vê ou vê alguém. E isso faço questão de contar, porque na leitura, vi que o Edgar era destratado por todo mundo e imaginei que ele teria uma autoestima baixa. Me perguntei como esse cara conseguiria dar em cima da Cacau, e se dar bem, e fiz a leitura nesse tom. Quando acabou a leitura, a Fabiula (Nascimento) me chamou e disse: ‘A Cacau precisa se apaixonar pelo Edgar e assim não vai dar. Mude essa energia senão você não vai ter para onde ir’. Eu argumentei: ‘Mas é um personagem que todo mundo pisa’, e ela me disse: ‘Conheço gente que tem a autoestima tão baixa, que usa uma carcaça oposta para viver’, e me deu exemplos, até de pessoas que conheço (risos). Então eu devo a ela essa transformação.”

E a sua autoestima ficou melhor com as mudanças no corpo?

“Acaba ficando porque realmente mudam os hormônios, seu humor, você fica mais confiante com a vida. Muda sua disposição.”

Você emagreceu muito?

“Muito! Na balança não foram tantos quilos, foram 5 ou 6, mas eu ganhei muito músculo. Transformei muita gordura em músculo, e muito rápido. Comecei até a ficar incomodado com isso, porque só falavam disso. Eu tenho uma carreira de 30 anos, pensei ‘não é possível que agora a sunga, a barriga, a cueca, vão ser maiores que a carreira’. Mas a dimensão já mudou graças ao João, por causa dessas cenas mais fortes que foram ao ar.”

A sua vaidade mudou?

“Vou ser muito sincero com você. Antes de me preparar para Segundo Sol, as pessoas estavam me achando um pouco largado, até porque eu vinha de um personagem em Novo Mundo, que precisava parecer mais velho que eu, e sempre quis ser mais velho do que sou, e Luisa (namorada) sempre me falava: ‘Caco, para com isso. Por que você quer sempre imprimir essa energia?’, e ela me disse que as pessoas acharam que eu estava acabado. Aos 47 anos, eu ainda sou capaz de em nome de um personagem acessar essa energia e tocar as pessoas, e isso me envaidece. Não é só ficar forte, é uma energia que você trabalha em nome do personagem. Mexe no meu ego como ator. Claro que teve uma fase que raspei o peito, porque imaginei que o Edgar não teria pelos no peito, que parei no espelho e pensei ‘olha só’. Você se vê mudando. Teve uma fase assim, mas isso é um holograma, se eu acreditar nisso, estou perdido.”

Mas sua namorada gostou?

“Gostou, mas ela já está com saudade do barbudo gordinho (risos).”

Você também para ajudar você posta fotos na academia, e ganhou até o apelido de vovô sarado.

“Não sou contra falarem (risos). É, teve a coisa do vovô. Muita coisa aconteceu junto. Estou curtindo minha fase avô menos do que eu gostaria porque ela mora em São Paulo, e só tem duas semanas que vida. É maravilhoso ser avô, os bebês são coisas encantadoras, sou capaz de ficar olhando para ela horas a fio, e outra, ver meu filho exercendo função paterna é muito maluco. Quando meu filho nasceu, eu também era muito jovem como ele é hoje e as pessoas ficavam querendo me ensinar muito o que e como eu deveria fazer, o que eu achava um saco.”

Mas ele tira dúvidas com você?

“Algumas coisas. Ele veio com um papo muito louco que alguém falou que não era bom o bebê tomar vacinas. Quando a pediatra foi em casa, eu perguntei para ela na frente dele e ela respondeu ‘Tem que dar’.”

Quem tem neto, diz que neto é melhor que filho…

“Claro que é melhor. Quando meu filho chorava, eu ficava aflito me sentindo de alguma forma responsável. Agora com meu neto, se está chorando e não dou conta, entrego aos pais.”

Que tipo de avô você acha que vai ser?

“Não sei. Eu escrevi um livro no final do ano passado sobre isso, porque a maior referência afetiva que tenho na vida é meu avô, e na história que escrevi, acabo o livro eu virando avô, mesmo sem saber que isso realmente iria acontecer. Meu filho me contou que eu seria avô no dia do lançamento do livro.”

Sobre o seu livro, aqui no Brasil as pessoas ainda têm muito preconceito. O ator tem que ser só ator e não pode escrever um livro, o escritor tem que ser só escritor, e você de certa forma quebrou isso…

“É o que eu chamo de gavetinha. A gente está cada vez mais burro e gavetinha. Quem é de esquerda, não pode ter opinião de direita, quem é engraçado não pode fazer filme sério, tudo está assim, um saco. Outras pessoas já tinham quebrado isso, a Fernanda Torres, escreve muito bem dentre outros, mas fiquei surpreso porque é um jorro. Não tinha consciência que eu tinha um estilo, e percebi que tenho uma maneira própria de escrever.”

E você ainda está na mesma dieta que estava?

“O meu sonho era ‘Segunda fase, relaxe’, mas não foi o que aconteceu, porque o Dennis falou ‘mantenha’, minha namorada falou ‘mantenha’,  então mantive, mas não estou no mesmo pique. Dei uma murchada, já estou comendo coisas que antes eu não comia, por exemplo, já não consigo mais resistir a uma pizza no domingo, ou se vou a uma festa e não tem algo que posso comer, eu como um bolo, um doce, um brigadeiro, bebo de vez em quando. Continuo na academia, mas agora três vezes por semana, estou mais preguiçoso, me sentindo pesado.”

Como está sendo a troca com a Claudia Di Moura?

“Ela é um sonho de pessoa e de atriz, e acho que teremos muitas coisas ainda, porque ela é mãe do meu personagem. Imagino o que virá pela frente quando o Edgar descobrir. Já estamos tentando colocar uma certa afetividade entre os dois. Estou cercado graças a Deus por gênias. Maria Luisa Mendonça, Fabiula, Giovanna, as duas filhas… Já tem gente pedindo encontro meu com a Deborah Secco também, mas ainda não tive nenhuma cena com ela. Todo mundo deve falar isso, mas é muito ruim você contracenar com pessoas que não contracenam e essas pessoas que estão comigo, jogam, porque nem tudo vem escrito. A dimensão do personagem quem dá é o ator. Estou felicíssimo de ser filho da Claudinha”.

Com a falência da família vai ter uma mudança. O que muda?

“Imagine essa família sem dinheiro? Passada a fase do susto e do desespero vai acontecer uma coisa bonita, e essa família vai ter que virar uma família de verdade. Vou dar uma dica: não esqueça do Roberval. É uma história muito bonita também. Fico imaginando esse cara que cresceu nessa casa, vendo o amigo de infância ter tudo o que ele não tinha, e depois descobrir que teria direito a tudo aquilo e por uma questão de cor não teve acesso a nada. A porradaria toda entre os dois não foi por causa de uma mulher, são 500 anos de história naquele soco que o Roberval deu no Edgar. A vingança dele não é uma vingança só pela vingança. O João Emanuel falou que esse é o segundo sol, todos vão ter oportunidade de crescimento.”

Nosso país ainda é repleto de inúmeros tipos de preconceito. Você tenta conversar sobre isso com seu filho e se preocupa com o mundo em que sua neta viverá?

Sendo sincero, claro que sim. Brasil inclusive é o país que mais mata LGBT no mundo, e o número de jovens negros presos é assustador por conta do preconceito, mas pensando no mundo, o que estamos vivendo agora é uma reação reacionária porque tivemos grandes conquistas. Começou uma explosão de liberdade mundial em vários países, coisas que antes eram impensáveis, e agora começamos uma reação babaca e desesperada, de uma gente ainda antiga que não entendeu o mundo novo. Essas pessoas vão morrer antes da gente, e de novo vamos voltar para a balança. O Brasil é infelizmente atrasado nesse aspecto, é muito tradicionalista, demora para entender, mas com a internet, o mundo está ficando uma coisa só, e creio que daqui a pouco isso chega aqui.

Está chegando a Copa do Mundo. Você tem alguma copa inesquecível?

“A última. O 7 a 1 virou o nosso World Trade Center (risos). Sempre pergunto às pessoas ‘Onde você estava no World Trade Center?’, e agora pergunto ‘Onde você estava no 7 a 1?’. Eu por exemplo, estava com minha namorada na casa de um casal de amigas dela, com várias pessoas, e lembro que tomamos o primeiro gol, e um galera saiu para fumar, e quando voltaram, disseram: ‘Nossa, mas não param mais de passar o replay’, mas não era replay, uma coisa impressionante. Deu uma vergonha. A outra copa eu estava gravando A Cura, e parávamos para assistir.”

O seu personagem mexe com o preconceito de certa forma. Tivemos recentemente uma polêmica porque o público foi contra a escolha de uma atriz para viver Ivone Lara por não ser tão escura. Como você vê isso como artista?

O maior susto que tive e maior aprendizado em relação a isso foi com uma atriz de São Paulo chamada Georgette Fadel, que fez um espetáculo onde ela falava o texto de uma negra, e ela mesmo sendo militante do movimento, foi severamente atacada. Ela nos ensinou uma coisa muito bonita, ela chamou aquelas pessoas para uma conversa. Acho que estamos num grande momento de escuta, e isso aprendo muito com Luisa que é feminista, e diz: “Caco, tudo o que estamos pedindo é que vocês nos deixem falar, não é hora de vocês falarem, e sim de ouvirem o que temos a dizer”. Não é só a questão dela, são 500 anos de história, e eles estão cansados de muitas coisas, porque passam por coisas que nós brancos não passamos, e a gente não sabe o que é isso.

Como foi interpretar um homem tão violento em Carcereiros?

“Era um personagem completamente diferente, eu estava fisicamente diferente, era uma outra energia, porque o Belmonte (diretor da série) tem essa coisa de chamar atores não óbvios. E ele me disse: ‘Caco, estou te chamando porque esse personagem é violento e você é uma pessoa pacífica, tranquila’, então é de propósito. Foi um exercício muito legal de mexer com isso. O bastão que eu batia era de plástico, mas mesmo assim dava uma pena.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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