“Em todo folhetim, o vilão é um co-autor, escreve junto com a gente”, explica João Emanuel Carneiro sobre a trama de Segundo Sol

Publicado em 17/05/2018

João Emanuel Carneiro é o responsável por escrever Segundo Sol, a atual novela das 21h da Globo. Autor de diversos sucessos como Da Cor do Pecado, A Favorita, e Avenida Brasil, ele conversou com o Observatório da Televisão durante a festa de lançamento da nova trama, e contou sobre sua rotina, sua inspiração para criar a história de Luzia (Giovanna Antonelli), e relatou ainda gostar bastante de A Regra do Jogo, sua novela exibida em 2015.

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Você escreve sobre seres humanos como ninguém. No filme Central do Brasil, sabemos que existe um dedo seu na criação da personagem da Fernanda Montenegro. Como é para você falar sobre o ser humano?

“Eu acho que meus personagens têm esses vários lados contrastantes. Aqui o Beto Falcão (Emilio Dantas) que é um cantor de axé, comete um erro humano, afinal para salvar a família, ele mente que morreu, porque a fama dele se dá com a morte. Eu gosto de lidar com essa zona cinza do nosso livre arbítrio. Até que ponto aquela mulher que escrevia cartas na Central do Brasil, gostava ou não e deu um deslize?”

Você se inspirou em alguma coisa especifica para escolher o tema da segunda chance?

“A ideia inicial é uma família que foi destruída, estilhaçada e aí essa mulher quer reconstruir essa família, pegar os caquinhos do que já foi uma família um dia. E quem é esse homem? Quem é essa mulher? Quem é esse cantor de axé? Ele vem com a história dele e aí você vai juntando. Essa novela é um novelo mesmo, você vai juntando vários pedaços.”

Mas teve alguma inspiração de alguma cena que você tenha visto, de alguma situação que você tenha passado ou alguma coisa assim?

“Para a história do Beto Falcão tem um pouco a ver com o que aconteceu com o Michael Jackson. Li que ele faturou mais na semana que morreu do que uns dez anos antes, mas também vários outros artistas passaram a ficar mais conhecidos com a morte.”

A gente observa no seu texto que você não subestima a inteligência do telespectador. Como é para você levar uma trama até o final?

“Eu sou muito inquieto, eu gosto de quebrar o meu próprio brinquedo e remontar ele.”

De onde vem essas inspirações?

“Da nossa vida, dos livros que você leu.”

Qual a fórmula do sucesso?

“Não existe. Ela não existe mesmo. Cada novela é como se fosse a primeira. Você tem um frio na barriga e não é uma coisa garantida de forma nenhuma.”

Mas que trunfos você busca ter para fazer sucesso?

“Eu acho que se você pensa em fazer sucesso só pelo sucesso, isso já é um fim e você não consegue fazer uma história. Tem que fazer uma coisa que você queira falar, que você goste.”

Na coletiva o Chay falou que ficou impressionado, porque você é o autor favorito dele e no primeiro encontro com você, você falou que era um só e nem sabia se escrevia como gostaria, para a galera ficar livre em fazer interferências no texto e também disse que além de tudo você é muito humilde.

“Eu acho que novela é muito texto, como se fosse uma enciclopédia britânica inteira distribuída para os atores. Naturalmente se você ensaia, se cabe mais na boca de alguém uma fala de um outro jeito, é melhor que fale do jeito dele.”

Você não tem ciúme do texto?

“Não, não tenho. Acho que é a novela um work in progress mesmo.”

E como é que é seu dia a dia escrevendo?

“Eu escrevo doze horas por dia de domingo a domingo. Trabalho muito, novela é uma vida de renúncia, da vida pessoal.”

Você concedeu uma entrevista em que falou que os vilões são os seus co-autores. Como é isso?

“Em todo folhetim, o vilão é um co-autor, escreve junto com a gente. O autor está na figura do vilão, porque ele é quem propõe a ação, propõe o tempo todo a história que vai adiante.”

Muita gente disse que essa será a novela da Deborah Secco. A Karola foi pensada para ela?

“Não, quando eu começo a escrever os personagens, eles não têm uma cara, vão tendo depois.”

João você teve um sucesso atrás do outro na sua carreira. Na coletiva você falou que seu medo maior é de ser chato. Você acha que em A Regra do Jogo, por exemplo, você foi um pouco chato?

“Não, eu não acho. O medo de ser chato me acompanha desde sempre.”

Todas as suas novelas foram um mega hit, mas A Regra do Jogo não foi o que você esperava?

“Foi. Eu gosto de A Regra do Jogo. Ela não foi uma novela tão popular e nem fez tanto sucesso, mas eu gosto dela, a acho uma novela interessante.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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