Eliane Giardini interpreta Nádia em O Outro Lado do Paraíso. A personagem que na trama de Walcyr Carrasco, se acha acima das demais pessoas, vive uma relação conturbada com filho, devido ao romance dele com a empregada. A atriz bateu um papo com o Observatório da Televisão e revelou que não consegue defender sua personagem, e que deseja que ela seja presa.
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Sua personagem é bem cruel, né?
Ela é o egoísmo em pessoa. Barra pesada.Não diria nem que é uma vilã, porque para fazer maldade é preciso uma inteligência que ela não tem. Ela é uma pessoa absolutamente inconsciente. Uma dondoca que acha que é superior porque é casada com um juiz e acha que tem praticamente um foro privilegiado.
Não tem nem como defender a personagem, né?
Não, porque é uma personagem, graças a Deus estou bem longe dela, então não chega a me contaminar. Mas é difícil vestir um personagem que é tudo que você não quer para sua vida ou sequer perto de você. Nunca tive essa experiência na minha vida. Sempre fiz personagens pelos quais me apaixono, que defendo. A Nádia eu quero que vá para a cadeia. Como é que uma pessoa pode ser assim, porque tem muita gente assim. Não é uma criação do Walcyr. Espero que de alguma forma as pessoas vendo isso percebam e se identifiquem e descartem essas posturas e atitudes fora do tempo.
Ela é tudo de mais terrível, né?
Ela é racista, classista, fofoqueira, tudo o que você quiser. Manda e demanda, é uma inconsequente. Não é uma visão deturpada, mas uma pessoa que é fruto de uma política, de uma sociedade. As pessoas quando têm dinheiro e não têm consciência é o pior que pode haver. Espero reflexão.
Como vai ser em relação ao preconceito?
No meu texto mesmo tem um filho que se apaixonada pela empregada, a Erika Januza, essa deusa, que eu vou maltratar em cena e o outro que tem um pouco mais de consciência, que fica falando “Isso vai dar cadeia, mãe, você não pode fazer isso, você é preconceituosa”. E ela responde: “Eu, preconceituosa? Eu só não quero que meu filho case com uma preta. Eu sou ótima generosa, trato bem.” Ela é totalmente inconsciente.
Isso é bem real, né?
Claro que é! Conheço várias casos.
Você tem raiva da personagem?
Não tenho ódio, assim como você vestir a pele de um bandido em cena, vou tentar entender essa mulher de alguma forma para humaniza-la. Não posso ficar criticando o personagem, sem saber a humanidade dela, onde reside… Inconsciência tem cura. Composição a gente vai indo, vai descobrindo, trazendo algumas coisas, fazendo algumas pesquisas no Village Mall (risos).
Ela mescla um pouco com o humor, né?
Ela tem o dramático, mas o tom de humor. A família toda. Ela e o marido tem algumas fantasias e tal. Não sei se isso piora ou melhora a situação. Juro por Deus, é uma incógnita. Não sei o que vai rolar. Perversa inclusive. Às vezes ela se fantasia de empregada para o marido.
Você é uma mulher bem a frente de seu tempo, né?
Acho que é uma coisa da minha geração, sou uma representante, havia vida após os 40, aos 50 e aos 60, está tudo muito ligado. Quantas mulheres não voltaram a trabalhar, estudar? Hoje a gente vê que as mulheres estão avançando em todos os níveis. Estão ganhando muito terreno.
O país é bem racista, né?
O nosso país é muito racista e muito violento, ao contrário do que se fala que o brasileiro é um povo muito cordial. É violento sim. O número de assassinatos de trans e tal. A gente vive um momento de reeducação. O mundo está mudando e a gente tem que seguir essa onda. É claro que a gente foi criado dentro de um mundo preconceituoso, mas estamos nos educando para sair dele. Não quero apanhar na rua. Não quero que as pessoas confundam as coisas a esse ponto. A nossa novela é um cardápio recheado de mazelas humanas, entendeu, tudo o que você puder imaginar a nossa novela vai abordar. É importante martelar. Precisam desse aval do mundo glamouroso da televisão, não gente, isso é real, como a novela das oito – serviço social da novela.
É mais fácil ser a vilã ou a mocinha?
Não sei se é difícil ou mais fácil, vamos surfar numa onda alta, acredito muito na potência do Walcyr, é um grande comunicador. Esse é terceiro trabalho que faço com ele seguido. Nunca tinha trabalhado. Nesse contrato novo, de três em três anos, tenho três Walcyr. Êta Mundo Bom foi um fenômeno e Verdades, um espetáculo. Espero que seja um sucesso. (Ela bate na madeira.). É isso.
Você está mais magra, né?
Eu não sei. É que eu fico mais gorda no vídeo. Aí todo mundo que me vê pessoalmente acha que eu emagreci. Tenho o rosto muito redondo e ainda sou pequena. Fiquei loira, coisa que não esperava na minha vida a essa altura do campeonato.
Entrevista feita pelo jornalista André Romano