“Ele é bem embasado, sólido”, revela Fábio Assunção sobre seu personagem em Onde Nascem os Fortes

Publicado em 17/04/2018

Juiz da cidade de Sertão e principal opositor do empresário Pedro Gouveia (Alexandre Nero). Este é Ramiro, interpretado por Fábio Assunção em Onde Nascem os Fortes. O homem que tem a frieza como uma das de suas marcas, não aceita o fato do rival ser o homem mais poderoso financeiramente do local e mantém uma rixa com ele, acirrada pela chegada de Cássia (Patrícia Pillar), mulher em busca de respostas devido ao filho desaparecido. Fábio Assunção conversou com nossa reportagem e falou sobre os bastidores da trama, seu personagem e sua relação com o filho, Ramirinho (Jesuíta Barbosa):

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Como é o Ramiro?

“Ele é uma figura fria. A série tem muitas coisas humanas e emocionantes, mas o Ramiro é bem racional, tem essa temperatura mais fria mesmo. É um trabalho diferente, de ir tirando essa humanidade.

E o visual, já se acostumou?

“A gente estava pensando em algo que tivesse a ver com sertão e o poder, aí eu fui deixando a barba crescer e a gente comprou essa ideia junto com o figurino. Acho que o Ramiro está em outra época, ele é quase uma figura de época, é interessante.”

A relação dele com o filho parece ser bem difícil…

“Ele não tem essa releitura de mundo, que é o que a gente está fazendo, vendo o mundo de outra forma. Ele está lá atrás, ele é fascista e conservador, um cara que manipula.”

Com essa imersão toda, como é que você está fazendo? Trouxe seus filhos para o sertão?

“É a sexta vez que eu estou vindo para cá. Eu fico duas semanas, depois volto. A Alice (Wegmann) fica mais, a equipe… Agora eu já estou na segunda semana aqui, mas já fiquei 15 dias, 20, 4. Consigo ir e vir.”

Você fica mais relaxado aqui?

“Não, para a vida ficar normal basta um sinal de wi-fi (risos). Se você tiver em São Paulo, sem sinal, a vida fica uma desgraça (risos). Eu não acho que aqui é um lugar zen, budista, eu acho que aqui é um lugar de força, de um povo sagaz. É uma resistência, uma luta morar em lugar que não chovia há sete anos. Eu não acho que aqui é um lugar de monges. A gente vê a força da natureza, encontra os animais. É impressionante como a falta produz o grande aproveitamento de qualquer coisa. Tudo que parece faltar no sertão, quando aparece, é valorizado, respeitado, e vivido. A gente está num lugar sagrado e as pessoas são reflexo disso, elas falam, contam histórias. Tem uma família aqui que tem mais de 100 membros, imaginem o que não tem de Nelson Rodrigues nisso… Aqui não é um lugar para acordar, o sertão tem essa potência com wi-fi (risos). Acho que todo mundo sentiu isso, se você prestar atenção vai começar a ver coisas que não vê nas outras cidades. Eu era uma criança que escovava os dentes com a torneira aberta, a água não era uma questão. E aqui tem uma valorização da água, é só prestar atenção.”

Como está sendo a troca nos bastidores?

“É uma galera massa, só talento. Todo mundo tem muito respeito por todo mundo, é uma coisa bem interessante.”

O Ramiro é um cara com muitas inimizades…

“É, ele é difícil. Eu não posso dar spoiler (risos). Ele tem o exercício de poder, quer investir nesse business.”

O Ramiro quer que o filho seja um reflexo dele?

“Talvez sim. Ele é um cara conservador, autoritário, homofóbico, e confrontar essa libertação do filho dele é muito doloroso. Eu não sei se ele quer exatamente que o filho seja igual a ele, mas sei que ele é dessa turma que odeia as diferenças. É complicado, uma relação bem ruidosa.”

Essa série tem emoções muito fortes. Como é, para você, fazer essas cenas?

“Para mim, é difícil fazer um personagem que tem uma visão de mundo diferente da minha. Fazer um cara que represente esse retrocesso é mais ou menos dizer o que eu penso pelo avesso. Eu defendo o Ramiro, eu compro o personagem porque ele é bem embasado, é sólido. Mas é difícil trabalhar com essa frieza, essa solidão.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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