Diretor de Novo Mundo explica escalação de britânico para cenas de ação: “Resultado incrível”

Publicado em 22/03/2017

O diretor artístico Vinícius Coimbra, que assina ‘Novo Mundo’, está há 18 anos na Globo, e trabalhou em minisséries e novelas como ‘Sabor da Paixão’ (2002), ‘Celebridade’ (2003), ‘JK’ (2006), ‘O Profeta’ (2006), ‘Três Irmãs’ (2008), ‘Queridos Amigos’ (2008). Ao lado de Dennis Carvalho, assinou a direção-geral das novelas ‘Insensato Coração’ (2011), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, e ‘Lado a Lado’ (2012), de João Ximenes Braga e Cláudia Lage, que ganhou o Emmy Internacional de melhor telenovela (2013). O diretor também comandou a 21ª temporada de ‘Malhação’ (2013). Em 2015, lançou dois filmes: “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, vencedor do prêmio de melhor filme no Festival do Rio e “A Floresta que se Move”, com Ana Paula Arósio e Gabriel Braga Nunes no elenco. Como diretor artístico assinou recentemente a minissérie ‘Ligações Perigosas’ (2016) e a novela ‘Liberdade, Liberdade’ (2016).

Confira entrevista:

O elenco de ‘Novo Mundo’ passou por uma preparação intensa, bem antes das gravações começarem. Como foi esse processo?
Os atores fizeram aulas de equitação, violino, culinária, espada, o que acho absolutamente necessário. O processo da busca pelos personagens é muito importante: é preciso entender como eles pensam, falam, reagem. Pra isso, contamos muito com a parceria de preparadoras de elenco e de prosódia, pois a maioria dos personagens terá sotaque. Os atores foram absorvidos e, cada vez mais estimulados, foram se abrindo, se entregando e estudando com disciplina. Vi, nas gravações, que a gente chegou onde queria com cada um deles e estou muito feliz com o resultado. O público vai ver esses atores de um jeito diferente, vai demorar a perceber quem são, em alguns casos.

Como foi a escalação do elenco?
Fechei os nomes junto com a Thereza (Falcão) e o Alessandro (Marson), autores da novela. Pensamos bastante na idade real daqueles personagens. Muitos deles fazem parte da nossa história. Com 22 anos a pessoa pensa de um jeito diferente do que com 35. Tem um ímpeto, liberdade e coragem. Acho que esse temperamento de Dom Pedro, por exemplo, de ser capaz de fazer a independência do Brasil, tem a ver um pouco com a idade, com o que eles passaram na época. Mudar isso seria mudar um pouco a história.

Como você pretende levar essa riqueza de informações históricas para as telas? Quais os principais elementos da direção para criar uma estética realista do Brasil de 1817 a 1821?
Partimos de ilustrações do centro da cidade do Rio de Janeiro, mas me baseei mais no que lemos do que no que vimos. Sabemos que o Rio de Janeiro estava falido, e o Brasil, com problemas financeiros, por isso, vamos retratar um Rio de Janeiro não tão glamoroso assim. As roupas são desgastadas, tanto da realeza quanto dos funcionários. Queremos mostrar como Dom Pedro se vestia de forma rústica, simples. Não era um príncipe o tempo todo. Em uma cidade que não tinha esgoto encanado, os escravos carregavam os dejetos pela rua. Não tinha ar condicionado, as pessoas suavam muito. Não tinha como você ficar cuidando do cabelo o tempo todo. Sempre terá um fio solto. Você imagina o que isso resulta na imagem? Estamos em busca disso, acho que pode interessar às pessoas.

Como tem sido a parceria com os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson?
É a primeira vez que trabalhamos juntos. Eu conhecia a obra deles, o trabalho em outras novelas. Foi uma surpresa maravilhosa. Thereza e Alessandro são muito abertos ao diálogo. A história é muito boa, e a parceria está bacana.

Quais os diferenciais do trabalho de fotografia e iluminação em ‘Novo Mundo’?
Na fotografia, estou me inspirando muito nas pinturas de Jean-Baptiste Debret, bem coloridas, mas com um tom pastel e mais frio. Em vez de trabalharmos com uma luz mais quente, vamos trabalhar com uma mais fria e usar filtros difusores, como se tivesse sempre um véu na frente da câmera que diminui o contraste da imagem. Me inspirei nele porque trouxe para o trabalho muita coisa bonita de figurino, cor, ações, o que as pessoas faziam na rua. Isso tudo para mim é fotografia.

Que desafios você encontrou durante o trabalho na produção da novela?
Nossa cidade cenográfica era um desafio. Como reproduzir o centro do Rio? Com prédios de três andares, grandes, e o Paço Imperial, que é enorme. Foi um desafio artístico. Como você acredita que aquilo é o centro do Rio se o centro original era muito maior? Mas conseguimos. Estamos com uma cidade linda! Temos um cenógrafo muito talentoso, o Paulo Renato, que sempre supera as expectativas.

Além da cidade cenográfica, como foi a construção do navio onde se passam as cenas dos primeiros capítulos nos Estúdios Globo? Como foram as gravações?
Essa nau é a primeira embarcação construída dentro dos Estúdios Globo e um grande diferencial da novela. É um cenário que vai virar três: o navio de carga que leva a personagem Elvira, da Ingrid Guimarães; o barco pirata do Fred Sem Alma, do Leopoldo Pacheco, que o personagem Joaquim (Chay Suede) também frequenta e, no maior número de cenas, a caravela real que traz a princesa Leopoldina (Letícia Colin). A apresentação dos personagens principais no início da trama vai acontecer toda nesse barco. Haverá uma invasão pirata, muitas lutas. Para essas cenas de ação, contamos com a colaboração do diretor britânico Andy Armstrong, que nos ajudou no processo de gravação e nos ensaios. O resultado está incrível!

Como surgiu a ideia de convidá-lo para o projeto? De que forma ele colaborou com as gravações?
Já fiz muitas cenas de ação na vida e achava que podia melhorar, chamando alguém com a expertise dos filmes de Hollywood. O Lucas Zardo, nosso gerente de produção, fez uma pesquisa bacana e descobriu que a família Armstrong é muito respeitada nesse quesito nos Estados Unidos. Andy veio e trabalhou ao lado do diretor Guto Botelho que está à frente das cenas de ação na embarcação. Foi uma grata surpresa. Ele dialogou muito com a gente. Entendeu as nossas limitações e, principalmente, elogiou muito a nossa capacidade e a nossa infraestrutura, segundo ele “de altíssima qualidade em todos os departamentos”. Ele sugeriu métodos para termos um resultado mais impactante no vídeo.

Você já dirigiu algumas produções de época. Tem um sabor diferente fazer novela de época?
Pra mim é o melhor dos sabores. Costumo falar que novela de época é como se fosse uma tela em branco: você pode pintar do jeito que quiser. Mesmo as gravuras, as pinturas da época são versões do que aconteceu de fato. Os pintores também pintavam com a ótica que às vezes era encomendada, um pouco romantizada. A gente estuda essas gravuras, os livros e, a partir dessas informações, cria o nosso quadro. Pra mim é maravilhoso escolher a cor que o personagem vai usar, a cor do cenário dele.

O que o público pode esperar de ‘Novo Mundo’?
‘Novo Mundo’ é uma novela muito ousada, uma superprodução. As pessoas vão se surpreender muito com uma produção desse tamanho, sobre essa época, no horário das seis. Espero que se encantem com a tribo indígena que apresentaremos, com os navios, com o Paço Imperial. São cenários grandes, figurinos maravilhosos. A gente tem um elenco muito talentoso que está adequado aos personagens. Espero que o público possa enriquecer o conhecimento sobre essa parte da história do Brasil. O que a gente vive hoje em dia está muito ligado à época da independência. É a gênesis do Brasil esse momento que ‘Novo Mundo’ aborda.

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