Dennys Motta fala sobre o sucesso do Encrenca: “Os Trapalhões foram nossa maior inspiração”

Publicado em 27/06/2018

Desde 2014 no ar, o Encrenca garantiu audiência expressiva para a RedeTV! nos últimos meses.  O programa chegou a ocupar o terceiro lugar no ranking das emissoras abertas de televisão. Apresentada por Tatola Godas, Dennys Motta,  Ângelo Campos e Ricardinho Mendonça, a atração reúne humor descompromissado, além de informar o telespectador.

Em conversa com o Observatório da Televisão, Dennys Motta falou sobre a crescente audiência, o investimento recebido pelo programa, além de citar a grande sacada da direção de investir em quadros curtos, comparados à velocidade com que se utiliza o celular. Durante o bate papo ele falou ainda sobre o programa não ser unicamente sobre exibir vídeos de “zap”, como muitos acreditam. Confira:

Leia também: Sidney Sampaio posa nu e exibe boa forma

O Encrenca tem vários apresentadores. Como vocês se dividem e sabem o tempo que cada um vai falar?

Somos quatro apresentadores e não existe uma divisão de tempo entre nós. O grande diferencial é que somos muito amigos. Conheço alguns deles há 20 anos. Temos um olhar, um encaixe de time que a amizade trouxe. Quando se está numa roda de amigos, a gente sabe quando o outro vai parar para que a gente fale. O Tatola é um cara que está há 30 anos no rádio, tem mais experiência e toma a frente da apresentação. Ele faz merchans, abre o programa, mas é algo natural, e não estipulado. Ele é o cara mais gabaritado para fazer isso. Não existe determinação nem por nossa parte, nem por parte da direção de determinada pessoa falar mais ou menos.

Feedback da RedeTV!

O programa vai fazer 4 anos no ar. Qual é o feedback da RedeTV! em relação ao programa?

Estreamos na Copa do Mundo de 2014, e faremos 4 anos no ar essa semana. O maior investimento da RedeTV! foi nos dar oportunidade. Quando o Marcelo De Carvalho nos chamou para conversar e perguntou se tínhamos intenção de apresentar um programa de TV, dissemos que já havíamos pensado. Ele nos deu um horário ao vivo, num domingo à noite, confiando na gente, então esse foi o maior investimento. Ao longo desses 4 anos, a emissora teve paciência e confiança que daríamos um bom resultado e isso aconteceu. Em relação a investimento de grana, o programa hoje é um programa que se paga, dá lucro dentro da grade, mas está bom assim. Tivemos nosso contrato renovado antecipadamente até 2022, que foi um grande reconhecimento.

Encrenca por trás das câmeras

Como é a mecânica do programa por trás das câmeras?

Temos reunião semanalmente, para discutir o que aconteceu no programa de domingo, e podemos assim levar novas ideias para o programa seguinte. Temos tudo o que precisamos da RedeTV!. É uma emissora enxuta, e temos um programa enxuto, mas muito eficiente. É um modelo novo de situação. Todo mundo vai fazendo o que dá. Você, jornalista, tem a oportunidade de trabalhar em um veículo grande, e caso você não tivesse, faria o seu blog por exemplo, com pouco investimento. É isso o que a gente faz. Às vezes as pessoas observam as coisas de modo antigo. Talvez a matéria prima seja barata, mas tudo o que está sendo feito é muito bem pensado.

Não existe mais na televisão aquela coisa de elencos milionários e plateias gigantes, porque o mundo está caminhando para outro lado. O Silvio Santos, por exemplo que é um gênio, o programa dele com toda sua estrutura deve ter cerca de 8 câmeras, no máximo 3 editores, e 5 roteiristas. Eu tenho no Brasil 209 milhões de cinegrafistas, 209 milhões de editores, 209 milhões de roteiristas. O que cabe à gente é fazer curadoria disso e colocar no ar. Muito do que a gente produz, vem justamente do que está acontecendo no mundo hoje. Nosso programa tem cerca de 40 quadros, e produzimos isso de forma rápida, de forma que você vai assistir e não vai mudar de canal. A gente se preocupa com isso.

Construção dos quadros


Mesmo com todos os quadros de humor, o programa consegue além de tudo passar informação de forma rápida…

O programa é todo no formato de um celular, tudo muito curto. Digo que temos o jornal mais rápido do Brasil. 90% de coisas que o Fantástico mostra, eu mostro antes, e gravado por um celular, porque eu não tenho um cinegrafista para mandar. Tivemos há pouco tempo a situação do vulcão que entrou em erupção e nós mostramos isso, o Fantástico foi lá, mas teve como mandar um cinegrafista, mostrar a lava, levou para o instituto da Nasa para analisar, etc. Óbvio que eles têm essa condição, mas eu levei essa mesma notícia para o telespectador. No dia seguinte, os caras no bandejão, provavelmente vão conversar sobre o assunto, mas um viu no Fantástico e o outro viu no Encrenca. O que assiste nosso programa não vai ficar desinformado. O [quadro] Zap é um refresco, um divertimento de um monte de coisa que a gente fala ali.

Muita gente acaba acreditando que no programa só tem o quadro do Zap, até porque não existe uma chamada antes de cada quadro. Vocês já se preocuparam em informar ao público dos produtos diferentes que existem dentro do mesmo programa?

A gente já se preocupou mais com isso, em falar que não somos um programa de Zap, mas será que é o certo? Será que a palavra ‘Zap’ não resume um monte de coisa?  O conceito de Zap é que a gente criou um mantra ali. Aquilo ali nada mais é que o mesmo efeito que tem na musiquinha do plantão da Globo, que quando você ouve, já quer sair correndo para ver o que aconteceu.

Conteúdo do programa

Como você diferencia o conteúdo do programa?

No mundo inteiro, tudo é um Zap. Você não tem paciência de ouvir música longa, ver um vídeo grande por exemplo. As pessoas fazem muita coisa ao mesmo tempo, e o conceito de Zap é esse.  No quadro É Incrível, a gente mostra a mesma coisa que o Tadeu Schmidt mostra no Fantástico no quadro Detetive Virtual. Então a diferença é o jeito de embalar aquilo, mas as pessoas estão trabalhando com o mesmo conteúdo, só que levamos isso para o público de forma mais veloz.

Trajetória


Você acredita que o programa cresceu em audiência sobretudo após o principal concorrente de vocês, o Pânico na Band, sair do ar?

No Encrenca, não fazemos apenas humor. O público se diverte, se informa, chora, assiste com os filhos. Estamos estudando nossos concorrentes. Você falou que nosso principal concorrente saiu do ar, talvez ele já tenha sido nosso principal concorrente algum dia. Hoje nossos principais concorrentes são os programas da Record e SBT principalmente. Há 3 semanas estamos beliscando a Record na audiência. Essa semana ficamos em terceiro lugar por alguns minutos, o que para a gente é ótimo, porque antes a gente sequer ganhava da Band.

Quando a gente conseguia alcançar a Band, ficávamos felizes, e hoje nossa próxima meta é alcançar a Record. Isso não é por acaso, a gente estuda o comportamento das outras emissoras. O nosso diretor é um estudioso disso aí, não é um aventureiro. Ele já dirigiu Pânico lá atrás, foi para a Globo fazer Casseta & Planeta, voltou para a RedeTV!, e ganhou esse cargo de superintendência da TV por mérito dele. Os donos da RedeTV! viram que ele é um cara que estuda, mapeia o problema. A gente está buscando o terceiro lugar, numa TV que é mais frágil na audiência. Somos o quarto lugar há 2 anos.

Comparação com Pânico

O programa de vocês lembra muito a trajetória do Pânico quando começou na RedeTV. Vocês temem algum desgaste pelo tempo?

Acho que sim. Toda miss deixa de ser coroada uma hora. Se você trouxer um amadurecimento junto com quem está com você, existe uma tolerância e você vai renovando essa história. Por que o Silvio Santos está aí até hoje? porque ele foi envelhecendo junto com o público dele e no meio do caminho achou uma forma de trazer gente nova. Estamos começando agora, então nosso público ainda está novo. Conforme formos percebendo que o público está se afastando, iremos buscar uma forma de trazer a renovação para ele. Não sei se te dizer agora, mas esse momento vai chegar, e vamos ter que manter isso de alguma forma.

Sucesso na RedeTV!


Como é a sensação do sucesso?

O mais novo do elenco sou eu, que tenho 40 anos, e ninguém está deslumbrado com o sucesso. Vimos que isso é um trabalho. Quando você tem 20 anos, no máximo 30, você fica “caralho, somos foda”. Esse deslumbre faz a gente não enxergar os problemas e querer trabalhar menos, mas aqui trabalhamos muito. Estamos descobrindo muita coisa agora. A gente trabalha todo dia na rádio, vamos para a RedeTV! quatro vezes por semana, fora o domingo que apresentamos ao vivo. Não estamos lá passeando, estamos num momento de trabalhar. Esse negócio do desgaste, a gente se preocupa, mas estamos atentos.

Dennys Motta nega que Pânico tenha sido inspiração para o Encrenca


Qual a principal fonte de inspiração para o formato do Encrenca?

Do Pânico a gente não pegou nada. Fomos muito comparados a eles porque viemos do rádio, no mesmo horário, mesmo diretor, muitas coisas parecidas, mas optamos por um caminho que era a família. Os Trapalhões foram nossa maior inspiração, porque dava 7 da noite no domingo, e era o que assistíamos. Nossa maior busca foi ter o que os trapalhões tinham, que era reunir todo mundo para conversar, debater as coisas, e tivemos essa experiência na rua, no dia a dia. A gente encontra famílias que assistem juntas, e percebemos que conseguimos o que gostaríamos, passando desde a avó até os netos.

Como vocês chegaram nesse formato do Zap?

Ali foi feeling do que está acontecendo no momento. Fazemos muita reunião e todos participam, de diretores a estagiários, porque estão todos vivendo no mesmo mundo. O que é importante para o cara lá talvez seja para mim. A coisa foi sendo discutida, e um dia surgiu.

Eu fazia um quadro lá atrás que funcionava assim: Fazia uma pergunta a alguém na rua, fingia que não gostava da resposta, oferecia dinheiro para a pessoa mudar a sua resposta, e testava se ela iria aceitar. E ali já fazíamos tudo curtinho, eram 2 minutos no máximo. Percebemos que a velocidade não chateava ninguém. E o que é o mais próximo disso no nosso dia a dia? O celular. O Donald Trump por exemplo governa o planeta através do Twitter. Toda família tem celulares atualmente. As pessoas deixam de almoçar, mas não esquecem de carregar o celular. Então, vou trabalhar para quem usa fax ou para quem usa Whatsapp? Esse foi nosso pensamento.

Notícias

Vocês pretendem dar mais destaque para essas notícias de maneiras diferentes?

A gente fez isso pensando nesse público que queria ficar informado no que está acontecendo, mas não temos a estrutura que os caras do jornalismo de outras emissoras têm. Pegamos tudo que é notícia, fazemos uma curadoria do que é relevante, e falamos sobre. Claro que queremos atingir quem assiste Fantástico e Record no mesmo horário, e passamos a notícia como uma pessoa normal. Na hora que a gente comenta, fazemos isso como cidadãos e não como donos da verdade.

Quais seus planos pessoais?

Meu plano é o que está acontecendo agora. Não penso em nada além do que está acontecendo agora. Somos muito unidos no programa e respeitamos muito uns aos outros. Não tenho intenção de abandonar a TV ou o programa, e digo isso por todos. Estamos muito confortáveis naquilo o que estamos fazendo. A busca é diária para crescer e trabalhar. Pelo menos até 2022 é o que eu vou fazer, e feliz.

Novidades no Encrenca

O público pode esperar novidades do programa?

Todo domingo estreamos alguma coisa. Não somos um programa de temporada, e sim um programa cíclico. Sempre trazemos novidades! A Dança do Peru está fazendo muito sucesso ultimamente, a molecada gosta e faz um mês que está no ar. Temos quadros que as pessoas participam e ganham grana, e somos o programa que mais recebe participação do público. Chegamos a receber cerca de 2 mil vídeos por programa. O público não quer apenas ganhar dinheiro, ele quer se ver na TV.

Muitas pessoas assistem ao programa com o telefone na mão não é?

Eu preciso que a audiência do Encrenca assista ao programa com o celular na mão, porque se ele ver alguma coisa interessante, nos mandar na hora. Quando passa alguma coisa na TV, você na hora tuíta não é? Eu faço isso vendo novela.

Vocês tem gravado com pessoas anônimas. Vocês pretendem dar espaço a celebridades?

As celebridades que se aproximam de nós, recebemos bem, inclusive já gravamos com algumas, mas a maioria não quer falar com a gente porque acha que só exibimos zap, mas não nos incomodamos em ser vistos dessa maneira. A gente prefere seguir nossa história, pegar o pessoal na rua e transformar em nosso elenco. Eu acho que se surgir a oportunidade de gravar com famosos, a gente traz para dentro. Acredito que se a audiência não está mudando de canal é porque estamos fazendo certo.

* Entrevista feita pelo jornalista Paulo Henrique Lima

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade