David Junior se diz surpreso com a repercussão de O Tempo Não Para: “Tem sido até maior do que eu imaginava”

Publicado em 15/10/2018

No ar em O Tempo Não Para, novela das 19h da TV Globo, o ator David Junior interpreta o personagem Menelau, um dos congelados que acordou no século 21. Na trama escrita por Mário Teixeira, Menelau é um dos ex-escravos da família Sabino. Em entrevista ao Observatório da Televisão, David falou sobre estar feliz com o personagem, os elogios que tem recebido por sua interpretação e preconceito. Confira:

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Repercussão

Como está sendo a repercussão do seu personagem e da novela?

Tem sido até maior do que eu imaginava. O núcleo dos congelados, como a gente ficou conhecido, tem tido uma repercussão bem positiva. A dramaturgia em si é bem cirúrgica, as críticas sociais que são feitas, são ainda mais maravilhosas. A gente tem tido um retorno das redes sociais bem positivos, na rua de uma maneira geral também e eu tenho ficado muito feliz com esse retorno positivo. Mas a gente morria de medo, de achar que a galera iria aceitar ou logo depois rejeitar de cara.

E essa aproximação dele com a Cesária?

Ele sempre foi parceiro da Cesária na Fazenda, mas ela trabalhava dentro da Fazenda e ele era o escravo de guarda. Mas isso só se fortaleceu, a gente tem muito isso. Acho que a gente carrega isso de lá até hoje. Eu vejo isso no meu dia a dia, se eu vejo um negro em algum lugar, eu posso não conhecer, mas eu vou cumprimentar. Nós temos esse código que identifica um no outro. Como ele já conhecia e está em um tempo diferente, isso só se fortaleceu.

Preconceito

Tem uma cena no filme “Uma Linda Mulher”, em que uma prostituta vai em uma loja fazer compras e não aceitam. Vai acontecer uma cena muito parecida com você e a Cesária. Como é para você participar de uma cena tão antológica que fala da realidade do negro e do pobre?

Eu já tive várias situações parecidas com essa. Eu hoje ensino as pessoas através do afeto, eu procuro evitar ser combativo, o máximo possível. Porém, é óbvio que se precisar me impor, eu vou me impor. Se eu vejo um segurança me perseguindo, eu vou até ele, pergunto o nome dele, me apresento para ele e digo quem eu sou e se ele está precisando de ajuda. É óbvio que nem todos os casos da para agir dessa maneira, porque depende de como a pessoa vai te receber. Nesse caso da cena, é uma crítica social. A gente precisa ensinar a sociedade a mudar o pensamento, porque às vezes o segurança que anda atrás de mim, ele também é preto e ele já está tão preso a esses estereótipos, que ele nem sabe que está sendo preconceituoso com ele mesmo.

Crítica

Você esperava esse sucesso com a crítica especializada com relação a sua atuação?

Não. A gente trabalha para ter uma aceitação do público, para que o público compre a nossa história e para estar enfim, melhorando cada dia mais. O Menelau é um personagem que eu me apresento de uma maneira melhor, mas também por contar um pouco da história dos meus antepassados. Ao mesmo tempo eu fico muito feliz em contar a história dele e dos meus ancestrais. O momento que a gente vive hoje na sociedade, permite que a gente seja combativo nesse sentido. Eu espero que amanhã ou depois, eu consiga fazer outro personagem, mas que não esteja dentro do estereótipo do negro e que tenha a mesma repercussão negativa.

Você se emociona vendo esses discursos do seu personagem?

Não tem como não se emocionar. Está tudo muito aqui, muito na nossa pele ainda.

Estudos e família

A pesquisa da novela é muito boa e o próprio vocabulário é muito bom, não é?

Isso! Trabalhamos muito antes de começar as gravações, com fono e tudo. E o Mário Teixeira escrevendo é um absurdo.

Como é o carinho da sua família, quando você volta para a sua cidade Natal?

Eu sou muito família, então eu sou suspeito para falar. Porque o tempo que eu posso, eu estou com eles. Mas para mim já é mais que natural porque não mudou. O carinho que a gente tem lá, não mudou porque hoje eu estou na televisão.A minha família é mais o meu refúgio.

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