Clarissa Pinheiro comenta parceria com Alexandre Nero em Onde Nascem Os Fortes: “Está sendo uma aula”

Publicado em 30/01/2018

A próxima supersérie da Globo, Onde Nascem os Fortes só estreia em Abril, mas o Observatório da Televisão bateu um papo com alguns dos atores que irão estrelar a trama que terá direção de José Luiz Villamarin, entre eles Clarissa Pinheiro. A pernambucana que interpretou a recatada Irene na série Justiça, dessa vez dará vida à Gilvânia, uma caminhoneira que é o braço direto do patrão, Pedro Gouveia, personagem de Alexandre Nero. Durante a conversa, ela deu detalhes sobre sua personagem, seu processo de construção, e sobre as gravações na Paraíba. Confira:

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Quem é a Clarissa Pinheiro?

“Eu sou uma pernambucana, morando no Rio (de Janeiro) há sete anos e sou atriz. Durante esse tempo venho me reciclando e o Rio de Janeiro abriu muitas oportunidades para mim. Uma atriz sempre em construção, sempre disposta a trabalhar em novos personagens e em novos desafios.”

Como surgiu a oportunidade para interpretar a Gilvânia em Onde Nascem os Fortes?

“Foi um convite. Eu posso dizer que foi um dos primeiros convites que aconteceram na minha trajetória, porque a gente passa por muitos testes de elenco. A Gilvânia foi um presente que o Villamarim me deu. E vamos nessa! Vamos encarar essa Gilvânia com todo carinho do mundo.”

Qual a personalidade dessa personagem?

“A Gilvânia é bem leve, bem engraçadinha na verdade (risos). Ela tem uma característica de que mesmo com essa dureza, essa coisa seca do sertão, ela vem com um respiro, uma gota d’água. Talvez para trazer um pouco de humor, não desrespeitando a dor, mas tentando olhar a vida de uma forma mais serena. Eu acho que nas brincadeiras dela, nas piadas e nas tiradas que ela adora ter, ela tira um pouco o padrão desse estado de tanta seriedade, de tanta preocupação.”

E ela é cúmplice das armações do empresário Pedro Gouveia, interpretado pelo Alexandre Nero?

“Ela é muito agradecida ao patrão que tem. Na trajetória dela, ela deve muito ao que o Pedro proporcionou a ela. É como se ela fosse um cão de guarda dele. A Gilvânia tem uma arma, não necessariamente usa, mas tem o porte da arma. Talvez não concorde com tudo, mas primeiramente ela está lá para defender o patrão.”

Houve uma preparação especial para você manusear a arma?

“Teve um laboratório sim. A gente fez aulas de tiro para poder ter uma noção boa até de como pegar em uma arma. Apesar de ser festim, tem um sopapo da arma e tudo mais. É legal! No começo, eu fechava o olho quando vinha o sopapo da arma. Tudo isso é muito importante, você tentar retratar da forma mais fiel uma pessoa que já convive com aquilo, e esse laboratório foi muito legal.”

A sua personagem vai se apaixonar por alguém?

“A Gilvânia, vamos dizer que ela é muito saidinha. Ela gosta bastante de paquerar. Não vou dizer que ela vai se apaixonar por alguém, talvez por várias pessoas (risos).”

E como é para você dar vida a uma personagem homossexual?

“Para mim, é uma honra por poder num momento desse que a gente está levantando tanto essa questão e tentando quebrar tanto preconceito, ter ainda dentro desse cenário tão machista, que seria do sertão brabo, uma figura homossexual. Eu acho que é tão rico, da gente tocar nessa questão. Eu me sinto honrada de fazer esse papel.”

Como será a criação da personagem dentro desse cenário de sertão? Ela vai ser feminina?

“A gente está tentando com o figurino suavizar a personagem. Porque o cenário é duro. Ela trabalha dirigindo carros grandes e tudo mais, então, ela precisa de uma calça jeans, ela precisa de uma bota, mas ela também tem o estilo dela. Ela tem uma coisa mais puxada para testosterona e mais exacerbada, mas também tem seus truques e o seu charme feminino, que ela usa na hora certa. Talvez pelo meu tom de voz, meu jeito de sentar, eu sempre fui muito moleca, e não foi tão difícil tentar aproximar de coisas minhas. E aí dar o toque da Gilvânia, esse elemento mais masculino, mas sem perder, justamente, uma doçura e uma sensibilidade feminina, que é perceber toda aquela angustia que os personagens que estão ao redor dela vivem.”

Esse cabelo raspado faz parte da personagem? Você já tinha usado o cabelo desse jeito? Está gostando?

“Faz parte da personagem. Nunca tinha usado o cabelo assim. Eu estou adorando, nesse verão então, eu estou bem livre (risos). É muito bom!”

Você ficou surpresa ao saber que a Gilvânia seria uma motorista?

“Eu fiquei muito feliz com o convite de fazer uma motorista, porque, modéstia a parte, eu adoro dirigir, e dirijo muito bem. Acho que não tem essa comparação de dirigir muito mais que homem. Existem pessoas que dirigem bem e dirigem mal, mas às vezes a mulher é colocada como se nunca soubesse dirigir. A Gilvânia vem para mostrar isso, e está sendo muito legal retratar essa força feminina.”

Você mudou ou acrescentou alguma coisa no sotaque por causa da personagem?

“Na verdade, eu só soltei o freio de mão (risos). Eu vim para o Rio de Janeiro, muito com a preocupação de, talvez, dar uma neutralizada para não ficar estereotipada como a nordestina, mas, eu acho que está tendo um movimento interessante de respeitar a diversidade. Temos pessoas em todas as cidades, no Rio e em São Paulo, muito mais, de vários lugares do Brasil. Em alguns trabalhos que fiz, eu tive que às vezes tentar neutralizar, fechar uma palavra ou outra, e com esse sertão brabo, dá até para carregar um pouco mais.”

Você é casada?

“Eu sou casada e sou bem feliz com a pessoa que estou. O Rafael Machado é um grande parceiro e muito vezes ele faz até o trabalho de bater o texto comigo. Ele é diretor e ator também. O meu irmão mora em Recife, então, eu estou sempre indo para lá.”

Você já tinha tido contato com essa paisagem do sertão? Que emoções esse cenário despertou em você?

“Eu já conhecia o Vale do Catimbau, em Pernambuco. O Vale também tem essas paisagens muito áridas, muito pesada, mas eu passei pouco tempo lá. É diferente você acordar com aquela luz, com aquele clima. Eu pude conviver mais com as pessoas de lá que têm uma alegria e uma força de vida, mesmo diante de tanta dificuldade, de água que falta e tudo mais. É uma paisagem bonita, mesmo dolorida.”

E como está sendo essa parceria com o Alexandre Nero? É a primeira vez de vocês dois juntos em cena?

“Está sendo ótimo. É a primeira vez que eu trabalho com o Alexandre Nero, e a gente fica sempre na expectativa no começo de ver que vai contracenar com pessoas como o Alexandre Nero, Patrícia Pillar, Debora Bloch e com o grande elenco que está aí. Eu acho normal, no começo, a gente não tem tanta intimidade, tentar entender como o outro funciona, e a aprende a convivência, no decorrer das gravações, vai criando cada vez mais essa liga. E como qualquer convivência, você vai ficando mais à vontade e isso vai também refletindo no trabalho. Eu o acho um parceiro ótimo, divertido e um cara muito focado, muito pronto. Está sendo uma aula.”

É o seu segundo trabalho com o diretor José Luiz Villamarim. Você ficou lisonjeada ao receber o convite dele?

“Demais! Em Justiça, já tinha sido uma experiência incrível, de um voto de confiança para estar em um elenco fixo. O Zé é um cara muito humano, muito sensível. Ele sabe o nome de todo mundo da equipe, ele faz questão de falar, tem um respeito pelo trabalho de cada um, não só pelo trabalho do ator, não só pelo fotógrafo que está ali com ele. Então, assim, ele deixa você muito à vontade, talvez até para colocar cacos e coisas, ele deixa você criar. Em Justiça, eu tive poucas oportunidades de ser dirigida por ele, porque são vários diretores, agora, está sendo um banho, aulas e mais aulas com ele. Ele sabe o que quer, é muito pronto no que ele quer dizer.”

Justiça foi uma produção que marcou muito o público. E agora, as pessoas vão te ver interpretando uma personagem completamente oposta à Irene, né?

“Ela era uma evangélica, toda religiosa, sonhava em casar. Já Gilvânia gosta da farra, quer pegar. Mas o legal são esses pulos que a gente dá, de diferentes tipos de visão, de mundo, de ações para com o outro. Pensar em Irene agindo e tendo que se impor da forma que a Gilvânia tem que se impor naquele sertão, seria até interessante.”

Você adquiriu trejeitos em função dessa nova personagem?

“Eu uso um anel da personagem no dedo. E fica comigo. Eu acabo girando ele o tempo todo no dedo.”

Causou estranheza de início em usar esses anéis grandes?

“Muito! E esse anel é um pouco frouxo, então, ele fica meio que vivo aqui na minha mão. A gente criou aqui essa relação, a Gilvânia, eu e ele, a gente fica aqui nessa brincadeira. É como eu falei, eu acho que ela tem muita coisa parecida comigo. Eu acho que nesse caso, eu estou emprestando muito dos meus trejeitos para ela. Talvez, eu ainda não perceba no dia a dia, quando eu estiver vendo ela na TV, eu perceba mais.”

A Globo está investindo nesse formato de supersérie. A rotina de produção está mais intensa?

“É bem uma doideira. As cenas externas estão sendo feitas no sertão e depois a gente volta para gravar as internas aqui, e essas coisas às vezes deixam a gente um pouco confuso. Para mim, está sendo legal e diferente, o volume maior de capítulos. É diferente de Justiça, para essa, a duração, os encontros e tudo mais, mas no final é uma boa história que a gente quer contar. Seja em formato de 20 capítulos ou 52 capítulos, o importante é que todo mundo seja de alguma forma tocado pela história.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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