Cauã Reymond sobre interpretar gêmeos em Dois Irmãos: “Chegou num momento de maturidade”

Publicado em 13/12/2016

Em entrevista, Cauã Reymond conta um pouco de Dois Irmãos, série que estreia em janeiro na TV Globo.

Gravada já há algum tempo, a produção foi engavetada por conta de os protagonistas da obra estarem no ar neste ano com personagens de destaque em outras atrações.
Confira o papo:

Projeto

“‘Dois irmãos’ é um sonho pra mim há mais de dez anos. Então quando eu tive a oportunidade de embarcar nesse projeto, não foi um sofrimento. É claro que sempre que a gente transpõe uma obra para o audiovisual a gente quer ser o mais fiel possível, até por ser uma obra tão premiada como a do Milton (Hatoum, autor) de uma forma que faça jus a tudo que o livro representa. Eu achei que foi uma sorte, eu não pude frequentar a primeira semana de palestras porque eu estava gravando, então eu não conheci o Milton na época. Eu só conheci o Milton na semana passada e fiquei muito feliz quando ele veio falar comigo, me mostrou a capa do livro com minha foto, fez uma dedicatória pra mim, elogiou o meu trabalho. Isso me deu uma sensação de alívio, porque eu achava muito importante conhecer o autor antes de começar o projeto. E a partir do momento que a gente começou os ensaios eu fui de uma completa entrega. Eu vivi dois irmãos em todos os meses seguintes.”

Preparação

“Houve uma preparação especial no galpão onde a gente ensaia todos os produtos do Luiz (Fernando Carvalho, diretor). Foram três meses de preparação com aulas de corpo, de voz, de dança, improvisações. Todo tipo preparação que fosse necessária para o personagem.”

Interpretar gêmeos

“Muita diferença na hora de mudar o cabelo, o visual, questões técnicas. Mas isso também dava a chance de pode me concentrar na hora de fazer cada irmão.”

Dividir o mesmo personagem com outros atores

“Eu pego os gêmeos a partir dos 24 anos e entrego aos 40. Os meninos (Enrico e Lorenzo Rocha) começam e entregam para o Mateus na adolescência e o Matheus (Abreu) me entrega aos 24 anos.”

Processo

“A gente ensaiou sempre junto. Os dois meninos mais jovens chegaram um pouco depois porque foi difícil esse processo para encontrar. Mas eu e o Mateus a gente teve muito tempo juntos e eu acho que isso enriqueceu muito o projeto.”

A Gloria Pires ganhou dobrado para fazer Ruth e Raquel em Mulheres de Areia. Você também tem dois salários?

“Não, só estou ganhando um. Ela é mais inteligente que eu.”

Qual dos dois foi mais difícil fazer?

“Eu não sei dizer. Mas eu gostei de fazer porque são personagens extremamente ricos. Irmãos gêmeos que têm uma conexão muito forte, mas que tomam caminhos na vida muito opostos. É muito engraçado quando gêmeos, no caso deles, eles podem estar distantes, mas se mantém conectados. É como a relação entre mãe e filho que eu como pai não sinto. Eles (mãe e filho) estiveram juntos no mesmo lugar por um tempo. Acho que é por isso que a Zana (Juliana Paes/Eliane Giardini) tem uma relação forte com os filhos.”

E a expectativa para a estreia, já que vocês gravaram em 2015 e só vai ao ar em 2017?

“É muito grande. E é muito emocionante pra mim. E sou apaixonado por esse projeto e quando ele caiu no meu colo eu fiquei lisonjeado de dar vida a esses personagens. Quando eu ganhei o livro da minha mãe, muito antes de saber que seria uma série, eu estava engatinhando ainda na carreira, tinha acabado de fazer ‘Malhação’, mas quando eu li eu tive a intuição de que eu poderia fazer esses dois gêmeos. E quando isso se tornou uma realidade acho que foi um sonho (realizado). E acho que chegou também num momento de maturidade.”

Você pensa em carreira internacional?

“Eu sei que em janeiro eu vou estar em Sundance (Festival de Cinema em Utah, Estados Unidos), que meu filme foi escolhido para representar o Brasil. Se surgir um convite que me faça fazer bons trabalhos fora eu não vejo problema, mas para trabalhar com pessoas que eu não conheço e fazer personagens tão bacanas como eu estou podendo fazer no Brasil eu não vejo sentido.”

Você tem agente lá fora?

“Tenho sim pessoas que me representam. Já chegaram coisas boas numa época que eu estava trabalhando e não podia. A verdade é que nos últimos anos eu fui engatando projetos muito bacanas. E eu sou muito lisonjeado de estar trabalhando com pessoas com quem eu estou trabalhando. ‘Justiça’ pra mim foi um momento muito especial na minha carreira, ‘Amores Roubados’, ‘O Caçador’, agora ‘Dois Irmãos’. Enfim.”

Esses gêmeos têm uma carga dramática muito densa. Você conseguia se desligar do personagem depois de gravar e não levar essa carga para casa?

“Eu tinha certeza quando eu estava fazendo tudo certo, que eu não estava me misturando com eles, e eu acho que eu só fui entender meses depois o quanto esses dois gêmeos estavam dentro de mim.”

Essa relação de incesto que fica no ar, como você construiu?

“Trabalhando essa sensação. Ficando no colo da mamãe. Um dos irmãos trabalha muito essa relação, que é o Omar. Acho quem inicia essa questão é a mãe. Se as pessoas estão preparadas eu não sei, mas acho que a gente está levando essa reflexão. Eu que tenho filho, eu sei que as pessoas nascem com essas características próprias, os pais não têm muito controle sobre isso. No caso desses dois irmãos, eu acho que eles já chegaram diferentes. E a forma como a mãe e o pai conduziram a educação dos dois faz com que aconteça essa tragédia. Pra quem leu o livro sabe.”

André RomanoENTREVISTA REALIZADA PELO JORNALISTA ANDRÉ ROMANO

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